AS MERCADORIAS III

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O processo de troca das mercadorias encerra relações contraditórias e mutuamente exclusivas. O desenvolvimento das mercadorias não suprime essas contradições, mas, gera a forma dentro da qual elas podem se mover. Esse é, em geral, o método com o qual contradições reais se resolvem. É uma contradição, por exemplo, que um corpo caia constantemente em outro e, com a mesma constância, fuja dele. A elipse é uma das formas de movimento em que essa contradição tanto se realiza como se resolve. Na medida em que o processo de troca transfira mercadorias da mão em que elas são não-valores de uso para a mão em que elas são valores de uso, ele é metabolismo social. O produto de uma modalidade útil de trabalho substitui o da outra. Uma vez tendo alcançado o lugar em que serve de valor de uso, a mercadoria cai da esfera de intercâmbio das mercadorias na esfera do consumo. Por isso, a metamorfose das mercadorias media o metabolismo social. A interpretação inteiramente defeituosa dessa mudança de forma, deixando de lado a falta de clareza sobre o próprio conceito do valor, é devida à circunstância de que cada mudança de forma de uma mercadoria se realiza na troca de duas mercadorias: a mercadoria comum e a mercadoria monetária. Atendo-se somente a esse momento material, o intercâmbio de mercadorias por ouro, deixamos de ver o que deve ser visto, isto é, o que ocorre com a forma. Não se percebe que o ouro, como simples mercadoria, não é dinheiro, e que as outras mercadorias em seus preços se relacionam a si mesmas com ouro, como sua própria figura monetária. O processo de intercâmbio das mercadorias se completa, portanto, na seguinte mudança de forma:

Mercadoria A —› Dinheiro —› Mercadoria B
MA
—› D —› MB,

de tal maneira que, MA —› D = salto mortal da Mercadoria A. Neste sentido, a transformação de uma mercadoria em dinheiro acaba sendo, ao mesmo tempo, transformação de dinheiro em mercadoria, isto é, MA —› D, e, concomitantemente, D —› MB, de tal maneira que, D — MB, a compra, é, simultaneamente, a venda MA — D, o que, como agentes da venda nos torna vendedores, e como agentes da compra, compradores. Caso esta transformação falhe, não é a mercadoria que é depenada, mas, sim, o possuidor dela. Presos juntos, juntos enforcados. The course of true love never did run smooth. A jornada de um amor verdadeiro nunca é fácil. A substituição de uma mercadoria por outra mercadoria deixa, ao mesmo tempo, a mercadoria monetária nas mãos de um terceiro. A circulação exsuda, constantemente, dinheiro. Enfim, como mediador da circulação das mercadorias, o dinheiro assume a função do meio circulante. [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria de Karl Marx.]

 

 

Elipse

 

 

Compra , , , doutor,

que ainda dou uma de quebra pro senhor.

Compra hidroxicloroquina, doutor,

que não virarás jacaré, quando o Sol se pôr.

Compra muitas , doutor,

que possuirás um apê no Arpoador.

Compra ações da , doutor,

que logo te chamarão de meu amor.

Compra alguns quitutinhos, doutor,

que cairás nas boas graças da Dona Flor.
(Só não deixes o sacana do Vadinho saber.)

Compra diamantes ensangüentados, doutor,

que entrarás em um obscuro corredor.

Compra umas indulgências, doutor,

que não serás vitimado pelo tentador.

Compra um terço de madrepérola, doutor,

que, com certeza, não virarás alcanfor.

Compra a Água da Vida Eterna, doutor,

que, se fores para o inferno, não sentirás calor.

Compra, já, agora, uma , doutor,

que o negrume se converterá em brancor.

Compra, rapidinho, um , doutor,

que a tua ignorância se tornará incolor.

Compra farinha de qualidade, doutor,

que não passarás por nenhum dissabor.

Compra mil e uma alabardas, doutor,

que vencerás a Batalha de Azamor.

Compra trocentas , doutor,

que abrandarás o teu sexual furor.

Compra o corpo da rapariga, doutor,

que entrarás num depressivo estupor.

Compra o negacionismo alheio, doutor,

que megascópico será o teu fedor.

Compra o canalhismo alheio, doutor,

que protagonizarás um filme de horror.

Compra a antidemocracia alheia, doutor,

que teu Eu Interior se encherá de bolor.

Compra o anti-republicanismo alheio, doutor,

que tua personalidade-alma chorará de pavor.

Compra a antiliberdade alheia, doutor,

que teu Anjo da Presença tremerá de terror.

Compra a separatividade alheia, doutor,

que a Terra inteira lamentará teu desvalor.

Compra um diploma fajuto, doutor,

que o poviléu te chamará de sor.

Compra seja lá o que for, doutor,

que fará desaparecer teu amargor.

Compra miragens e ilusões, doutor,

que terás um buraco negro ao teu dispor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:
Menino das Laranjas
Compositor: Théo de Barros
Interpretação: Elis Regina

Fonte:

http://blognoblat.com.br/radio-noblat/Elis/

 

 

Páginas da Internet consultadas:

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