AS MERCADORIAS XXIX

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

O capital sempre celebrou suas orgias, [e nunca faltou língua-de-sogra!] A liberdade e os direitos dos trabalhadores sempre foram conquistados a conta-gotas, [microgota por microgota.] Em um passado não tão distante, na ferina antropologia capitalista, a idade infantil acabava aos 10 anos ou, quando muito, aos 11. [Mas, às vezes, era menos!] [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria de Karl Marx.]

 

 

Crianças-escravas
(A prostituição infanto-juvenil também é uma forma de escravidão)

 

 

A formulação, o reconhecimento oficial e a proclamação pelo Estado das leis naturais do modo de produção sempre foram o resultado de prolongadas lutas de classes, nas quais o capital nunca se envergonhou em utilizar uma cínica falta de escrúpulos, uma crueldade sem limites e uma energia francamente terrorista. [Se, hoje, a coisa mudou um pouco, não foi sem lutas, sem sangue, sem suor e sem lágimas! E, mesmo assim...] [Ibidem.]

 

 







 

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e tomarei uma libra da tua carne.1

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás a quem reclamar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e nem por 12 receberás.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que respirar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que comer.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que beber.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que vestir.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que calçar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como te alegrar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como sorrir.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como dançar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como cantar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde morar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás como te agasalhar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde te abrigar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e ficarás ao relento e no frio.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde dormir.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde descansar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como folgar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como casar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não constituirás uma família.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como gozar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde viver.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde envelhecer.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás para onde escapar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde rezar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás a quem rogar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que te degradar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que te prostituir.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que, como Jean Valjean2a,
pães furtar para saciar a tua fome,
e conhecerás a ira do
inspetor Javert2b.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e vivo não permanecerás.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás futuro para sonhar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás remédios para tomar.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás razão para existir.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde morrer.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde ser enterrado.

Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e o meu ódio será a tua herança.

 

 

Aqui, quem manda sou.
Escreveu, não leu, o pau comeu.

 

 

Eu sou teu dono e teu patrão,
e tu sempre serás meu escravo.

Eu direi o que podes ou não fazer,
e tu sempre terás que me obedecer.

Com o teu permanente sobretrabalho,
a minha mais-valia estará assegurada.

Eu sou a lei e a ordem, eu sou o senhor;
tu não tens direito a bulhufas.

E a lei que está em vigor é:
trabalhar e se esfalfar até a morte.

Meus direitos senhoriais especiais
não podem ser contestados,
seja por Deus, seja pelo demônio.

O teu sangue me pertencerá ad æternum,
e nem Deus poderá mudar isso.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Na peça The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza), do dramaturgo inglês William Shakespeare – (será ?) – Shylock é um agiota judeu que empresta dinheiro a seu rival cristão, Antônio, impondo como fiança uma libra da carne de Antônio. Quando Antônio, após se ver falido, não consegue pagar o empréstimo, Shylock exige a libra de carne, como vingança por Antônio tê-lo insultado e cuspido anteriormente.

 

 

Shylock Depois do Julgamento (Shylock After the Trial)
(De John Gilbert – fim do século XIX)

 

2a e 2b. Jean Valjean é o protagonista do romance de Victor Hugo Les Misérables (Os Miseráveis), de 1862. A história retrata a luta de 19 anos do personagem para levar uma vida normal, depois de cumprir uma pena de prisão por roubar pão para alimentar os filhos de sua irmã durante um período de depressão econômica e de várias tentativas de escapar da prisão. Valjean também é conhecido no romance como Monsieur Madeleine, Ultime Fauchelevent, Monsieur Leblanc e Urbain Fabre. Já o inspetor Javert é um policial metódico e racionalista ao extremo, que, cego pela lei e pela ordem, dedica a sua vida a combater o crime e a perseguir aqueles que o sentido lato da legislação define como criminosos. Confuso e perdido, aos 52 anos, Javert se suicidou nas águas do Sena. O que este romance nos ensina? Ensina que o fanatismo ideológico, o rigor comportamental e a mania de perfeição acabam levando o pirado à loucura. Há muitos anos, eu conheci um professor de Geometria Descritiva rigorosíssimo, severíssimo e inflexibilíssimo consigo e com todos, para quem tudo era muito perigoso, que, na velhice, embirutou de vez e se tornou pedófilo. Só não foi em cana porque o caso foi abafado, mas, a esposa o deixou imediatamente. Bem, uma ligeira e eventual inconseqüência sadia, como, por exemplo, tirar meleca e comer, faz bem à saúde. Seja como for, precisamos aprender a fazer as coisas da nossa maneira – and more, much more than this, I did it my way – não como querem ou mandam os outros. A nossa saúde físico-mental é-está diretamente dependente de termos sinceros, bons e úteis pensamentos, de sermos diuturnamente misericordiosos, alegres e bem-humorados e de bebermos muita água. Dê uma pesquisada nas propriedades do suco de uva (sem álcool e sem açúcar).

 

 

Jean Valjean como Monsieur Madeleine
(Ilustração de Gustave Brion)

 

 

Javert
(Ilustração de Gustave Brion)

 

Música de fundo:

One Day More (Les Misérables)
Compositor: Claude-Michel Schönberg

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=NPIICfBo_Z4

 

Páginas da Internet consultadas:

https://br.pinterest.com/pin/290834088433727461/

https://tenor.com/

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/01/27/vida-de-boy-
o-corre-dos-garotos-de-programa-no-centro-de-sao-paulo.htm

https://pt.aliexpress.com/item/33033680231.html

https://dev.to/mattjbones/clock-1b40

https://www.theworldweekly.com/

https://br.pinterest.com/pin/482237072597115581/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Valjean

https://pt.wikipedia.org/wiki/Javert

https://pt.wikipedia.org/wiki/Shylock#

 

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