AS MERCADORIAS XXVIII

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Après moi, le déluge!1
Madame de Pompadour
(Pintura de Charles-André van Loo)

 

 

Après moi, le déluge! Esta [foi e ainda] é, [neste século XXI, com raríssimas exceções,] a divisa de todo capitalista e de toda nação capitalista. [Isto significa que, normalmente, só o lucro importa; o restolho é o restolho.] Ainda hoje, o capital não tem a menor consideração pela saúde e pela duração da vida do trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade [e pela legislação] a ter algum tipo de complacência e de condescendência. À queixa sobre degradação física e mental, morte prematura e tortura por sobretrabalho, ele responde: deverá esse tormento nos preocupar, já que ele aumenta o nosso gozo (o lucro)? De modo geral, porém, isso também não depende da boa ou da má vontade do capitalista individual. A livre-concorrência impõe a cada capitalista individualmente, como leis externas inexoráveis, as leis imanentes da produção capitalista. [E os ajustes acabam surgindo, mesmo contra a vontade dos capitalistas. E, às vezes, dá em insolvência, quebra e bancarrota.] [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx.]

 

 

 

 

Transformarei trabalho em mais-trabalho.
Après moi, le déluge!

Transformarei mais-trabalho em desespero sem igual.
Après moi, le déluge!

 

 

 

 

Transformarei vida digna em mais-valia.
Après moi, le déluge!

Transformarei mais-valia em super-mais-valia.
Après moi, le déluge!

Transformarei necessidade em ganho.
Après moi, le déluge!

Transformarei habilidade alheia em proveito e vantagem.
Après moi, le déluge!

Transformarei escravização em lucro.
Après moi, le déluge!

Transformarei esperança em inferno dantiano.
Après moi, le déluge!

 

 

 

 

Transformarei sangue infantil em capital.
Après moi, le déluge!

Transformarei homens livres em escravos.
Après moi, le déluge!

Transformarei meio-dia em meia-noite.
Après moi, le déluge!

Transformarei meia-noite em trevas eternas.
Après moi, le déluge!

Transformarei juventude em velhice prematura.
Après moi, le déluge!

Transformarei saúde em doença degenerativa.
Après moi, le déluge!

Transformarei homens em múmias paralíticas.
Après moi, le déluge!

Transformarei a vida humana em subserviência.
Après moi, le déluge!

Transformarei 8 horas em 12, e, se possível, em 16.
Après moi, le déluge!

Transformarei 5 dias em 6, e, se possível, em 7.
Après moi, le déluge!

Transformarei pobreza e miséria em trabalho forçado.
Après moi, le déluge!

Transformarei trabalho forçado em caixinha da Dona Baratinha.
Après moi, le déluge!

 

Quem quer casar
com a Dona ,
que tem fita no cabelo
e na caixinha?

Quem quer casar
com a Dona ,
que tem ganhame na cachola
e na bolsinha?

Quem quer casar
com a Dona ,
que tem mais-valia no bestunto
e na saquinha?

 

Transformarei trabalho comedido em descomedimento.
Après moi, le déluge!

Transformarei o local de trabalho em 'house of terror'.2
Après moi, le déluge!

Transformarei cada dia de trabalho no dia do Juízo Final.
Après moi, le déluge!

Transformarei liberdade em prisão perpétua.
Après moi, le déluge!

Transformarei eqüidade em iniqüidade.
Après moi, le déluge!

Transformarei fraternidade em separatividade.
Après moi, le déluge!

Transformarei descanso em labor ininterrupto.
Après moi, le déluge!

Transformarei diversão em imbecilização.
Après moi, le déluge!

Transformarei a Floresta Amazônica num deserto tropical.
Après moi, le déluge!

Transformarei as terras indígenas em garimpos ilegais.
Après moi, le déluge!

Transformarei o cuidado com a Natureza em ecocídio.3
Après moi, le déluge!

Transformarei os ambientalistas em cadáveres esquecidos.
Après moi, le déluge!

 

 

Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira
(Vocês não serão esquecidos!)

 

 

Transformarei faina exaustiva em 'roastbeef and pudding'.
Après moi, le déluge!

Transformarei minha avareza em compensação necessária.
Après moi, la Loi Universelle de Cause à Effet!

 

 

 

Simbolicamente

 

 

 

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Notas:

1. Après moi, le déluge! Depois de mim, o dilúvio. Essas palavras teriam sido ditas por Jeanne-Antoinette Poisson, Marquesa de Pompadour (Paris, 29 de dezembro de 1721 – Palácio de Versalhes, 15 de abril de 1764) – mais conhecida como Madame de Pompadour, e que foi uma cortesã francesa e amante do Rei Luís XV, da França, considerada uma das figuras francesas mais emblemáticas do século XVIII – quando alguém da Corte externou a preocupação de que os constantes festins e festividades luxuosos teriam por conseqüência forte aumento da dívida pública da França. Qualquer semelhança com a esculhambação das contas públicas brasileiras (deficit fiscal + dívida bruta) não é mera coincidência! Só que aqui, como regra, não são festins, festividades, folguedos ou banquetes, mas, corrupção, mensalão, petrolão, orçamento secreto, sacanagens orçamentárias, fundão eleitoral e por aí vai. Tudo paguinho pelo contribuinte!!!

2. A house of terror (casa de terror) para os pobres, com a qual ainda sonhava a alma do capital, em 1770, ergueu-se, poucos anos depois, como gigantesca casa de trabalho para os próprios trabalhadores da manufatura. Chamou-se fábrica. E, dessa vez, o ideal empalideceu em face da realidade.

3. Ecocídio é uma expressão que pode ser usada para fazer referência a qualquer destruição em larga escala do meio ambiente ou à sobreexploração de recursos não-renováveis. O termo foi também usado em relação aos danos ambientais devidos à guerra, como por exemplo o uso de desfolhantes na Guerra do Vietnã. Ecocida é também um termo utilizado para uma substância que dizima espécies num ecossistema o suficiente para desestabilizar a sua estrutura e função. Um exemplo pode ser uma alta concentração de um pesticida no meio ambiente devido a um derrame. O teórico e ativista ambiental Patrick Hossay acredita que a espécie humana está a cometer ecocídio, por via dos efeitos da civilização industrial no ambiente global. Já os críticos do ecocídio normalmente dizem que os impactos causados pelos humanos não são suficientemente sérios a ponto de ameaçar a habilidade da Terra para suportar vida complexa. Uma outra definição de ecocídio é aquela em que um organismo destrói outros ecossistemas que o dele próprio (exemplo: cancro). Por exemplo, pode ser dito que durante o Período Pré-câmbrico (período de tempo desde a formação da Terra, há cerca de 4 600 milhões de anos até ao início do Período Cambriano, entre 542 milhões e 488 milhões de anos), as cianobactérias (grupo de bactérias que obtém energia por fotossíntese) cometeram ecocídio sobre a ecologia prevalecente, através da libertação de oxigênio no meio ambiente, de tal maneira que os organismos para os quais o oxigênio era venenoso desapareceram, enquanto as algas e outros organismos se adaptaram. De acordo com esta interpretação, a espécie humana pode estar a cometer ecocídio em vários sistemas ecológicos à volta do mundo, mas, segundo alguns especialistas, a destruição destes ecossistemas menores não tem impacto material na sobrevivência humana. Sob este ponto de vista, segundo eles, o ecocídio pode ser estética e moralmente reprovável, mas, não material e economicamente. Eu não concordo com isso, pois, para mim, qualquer ecocídio é estética, moral e espiritualmente reprovável e passível de futuras compensações. No coração do conceito de ecocídio estão questões práticas e morais, como, por exemplo: estará a atividade humana a destruir sistemas ecológicos que suportam a sua própria sobrevivência? A advogada, escritora e ecologista escocesa Pauline Helène Higgins (Glasgow, 4 de julho de 1968 – Stroud, 21 de abril de 2019), se destacou na luta para transformar o crime de ecocídio em crime internacional contra a paz. Foi descrita pelo The Guardian como uma das figuras mais inspiradoras do movimento verde, isto é, do cuidado com a Natureza. No Brasil, um dos maiores representantes da defesa dos temas socioambientais é o professor e jornalista brasileiro, especializado em jornalismo ambiental, André Trigueiro (Rio de Janeiro, 30 de julho de 1966).

 

 

Pauline Helène Higgins

 

 

Música de fundo:

Dona Baratinha
Interpretação: Patati Patatá

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=Bq7iOIBo6To

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.amazon.com.br/
Mais-Trabalho-Sadi-Dal-Rosso/dp/8575591193

https://www.fundingshield.com/dev-api/

https://br.pinterest.com/pin/647955465122451879/

https://algumashistoriasinfantis.blogspot.com/
2013/03/dona-baratinha.html

https://br.pinterest.com/pin/444871269422217100/

https://vcf.mycareersfuture.gov.sg/vcf

http://tradicionclasica.blogspot.com/

https://stock.adobe.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ecoc%C3%ADdio

https://pt.wikipedia.org/wiki/Madame_de_Pompadour

https://br.pinterest.com/pin/852798879421798738/

https://pt.dreamstime.com/

 

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