O trabalho além de 12 horas tende a minar a saúde do trabalhador, fá-lo envelhecer antes do tempo e morrer prematuramente e, portanto, causa infelicidade às famílias dos trabalhadores, que, no momento em que mais necessitam, são roubadas (are deprived) do cuidado e do apoio do chefe de família. [Este argumento foi usado na Irlanda, por volta de 1860. Quer dizer: mais de 12 horas de trabalho era considerado malsão, deletério e insalubre; 11 horas e cinqüenta e nove minutos de trabalho podia, pois, era considerado aceitável, razoável e plausível. Fossem crianças, fossem adultos.] [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx.]

 

 

 

 

Já aconteceu, em um passado muito próximo, de crianças terem a saúde sacrificada para satisfazer a avareza de seus pais e a sovinice de seus empregadores. Crianças esfarrapadas, meio famintas, totalmente desamparadas e não educadas, com jornadas de trabalho variando entre 12, 14 e 15 horas, com trabalho noturno, refeições irregulares, em regra, no próprio local de trabalho. Com relação a isso, o escritor, poeta e político florentino Dante Alighieri (Florença, entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 d.C. – Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321 d.C.) sentiria ultrapassadas suas fantasias mais cruéis sobre o Inferno. [A Divina Comédia, originalmente Comedìa, de Dante Alighieri, é uma obra Iniciática. Portanto não deve ser lida à letra, isto é, em sentido estrito, literalmente, textualmente.] [Ibidem.]

 

 

Não existe inferno lá nem acolá;
o inferno está em nosso interior.

 

 

Ao capital é indiferente, de início, o caráter técnico do processo de trabalho, do qual se apossa. No começo, ele o toma como o encontra. [Na verdade, o capital é indiferente a tudo; não importa o sofrimento, não importa que a mula manque. Só uma coisa interessa: multiplicar o capital ad infinitum.] [Ibidem.]

 

 

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de desafinação mando fazer um 'bel canto',
e deste 'bel canto' mando fazer uma Maria Callas.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de um retalho mando fazer uma cueca,
e de uma cueca mando fazer um senador.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de um depravado mando fazer um corrupto,
e de um corrupto mando fazer um governador.

 

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da COVID mando fazer Cloroquina,
e da Cloroquina mando fazer um .

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do SARS-CoV-2 mando fazer uma gripezinha,
e da gripezinha mando fazer um resfriadinho.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de tão-somente um contaminado mando fazer muitos,
e de muitos mando fazer uma imunidade de rebanho.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da mando fazer um ,
e de um mando fazer muitos desrespeitos.
(O que eu ganho com isso? Vendo Cloroquina!)

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do ucraniocídio putiniano mando fazer mais bombas,
e de mais bombas mando fazer mais cadáveres.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de um Dom + um Bruno mando fazer uma Amazônia,
e de uma Amazônia mando fazer dois sumiços.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de preto mando fazer branco
e de branco mando fazer furta-cor.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de pequeno mando fazer grande,
e de grande mando fazer gigantesco.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de inútil mando fazer útil,
e de útil mando fazer fora de série.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de uma verdade mando fazer uma mentira,
e de uma mentira mando fazer uma verdade.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de um motivo mando fazer zil câmaras de gás,
e de zil câmaras de gás mando fazer um holocausto.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de um salário de 8 horas mando fazer 12 horas,
e de 12 horas mando fazer 16 horas.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de horas limitadas mando fazer horas ilimitadas,
e de horas ilimitadas mando fazer horas intoleráveis.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da saciedade mando fazer fome,
e da fome mando fazer saciedade.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da alegria mando fazer tristura,
e da tristura mando fazer festa de arromba.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da saúde mando fazer doença,
e da doença mando fazer jazigo.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da existência mando fazer morte,
e da morte mando fazer cemitério.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do pão de cada dia mando fazer fome,
e da fome mando fazer Trabalho de Sísifo.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do paraíso mando fazer um inferno,
e do inferno mando fazer um paraíso.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da esperança mando fazer desespero,
e do desespero mando fazer obediência.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da pobreza mando fazer riqueza,
e da riqueza mando fazer mais-riqueza.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do sobretrabalho mando fazer sobrevalia,
e da sobrevalia mando fazer sobreabundância.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de 1, 2 e 3 mando fazer 10, 20 e 30,
e de 10, 20 e 30 mando fazer 100, 200 e 300.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de mando fazer ,
e de mando fazer o impossível.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de tapioca mando fazer punheta-de-estudante,
e de punheta-de-estudante mando fazer um tabuleiro.

 

 

Tabuleiro da Baiana

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de donzeleta mando fazer mulher-dama,
e de mulher-dama mando fazer marcaureles.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
de marcaureles mando fazer paraíso fiscal,
e de paraíso fiscal mando fazer uma conta numerada.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da liberdade mando fazer dependência,
e da dependência mando fazer ganhunça.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do queixume mando fazer letícia,
e da letícia mando fazer mais-dividendo.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da aurora mando fazer meia-noite,
e da meia-noite mando fazer assombração.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da escravização mando fazer lucro,
e do lucro mando fazer mais-lucro.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da negligência mando fazer adimplência,
e da adimplência mando fazer superfaturamento.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do prejuízo mando fazer proveito,
e do proveito mando fazer mais-proveito.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
da chibata mando fazer capital,
e do capital mando fazer mais-capital.

 

 

 

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas:
do trabalho-não-pago mando fazer usura,
e da usura mando fazer mais-usura.

— Não me importo com o sofrimento alheio,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas.
Seja mula-sem-cabeça, seja burro-sem-rabo,
eu quero mais é escravizar, enricar e rosetar!