AS MERCADORIAS XIX

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A mais-valia que o capital C invariavelmente produz, adiantado no processo de produção ou como valorização do capital adiantado C, se apresenta, de início, como excedente do valor do produto sobre a soma de valor de seus elementos de produção. O capital C se decompõe em duas partes: uma soma de dinheiro c, despendida com os meios de produção, e outra v, despendida com a força de trabalho, de tal sorte que c representa a parte do valor transformada em capital constante, e v a parte que se transforma em capital variável. Originariamente, portanto, o que se tem é: C = c + v. No fim do processo de produção, surge a mercadoria, cujo valor passa a ser c + v + m, de tal maneira que m representa a mais-valia. O capital original C se transformará sempre em C'. A diferença entre ambos é = m, a mais-valia. [Então, se pode perceber que, inevitavelmente, sempre teremos C' = C + m. O grande problema é o tamanho de m.] Como o valor dos elementos de produção é igual ao valor do capital adiantado, é de fato uma tautologia [redundância] dizer que o excedente do valor do produto sobre o valor de seus elementos de produção é igual à valorização do capital adiantado, isto é, é igual à mais-valia produzida. [In: O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de autoria de Karl Marx.] [Há determinadas formas de mais-valias (tidas como qualquer outra coisa, menos como mais-valias) que são, de fato, mais-valias, pois, a um só tempo, são insidiosas, enganadoras, ardilosas, traiçoeiras e pérfidas, como, por exemplo, entre tantas outras, por um mesmo trabalho executado, pagar menos a uma mulher do que a um homem, demitir e contratar um novo funcionário por um salário menor, atrasar a data de pagamento dos funcionários para aplicar o dinheiro no overnight (eu conheci o dono de uma universidade, no Rio de Janeiro, multimilionário, que fez essa indecência obscena por anos), não devolver um troco a maior, bifar as moedas de um ceguinho, afanar a coleta da igreja, vender milagres irrealizáveis, negociar indulgências, ludibriar os velhinhos desamparados, comerciar feijões mágicos inócuos e H2O consagrada que não transubstancia lhufas, burlar os direitos trabalhistas de um empregado doméstico, pedir abatimento sem, de fato, precisar, fazer uso de imperativos hipotéticos para levar vantagem, podendo efetivamente, não ajudar os necessitados e os desprovidos, dar um jeitinho astucioso para tomar o lugar de alguém, fraudar o hidrômetro, adulterar o medidor de energia, comprar produtos piratas ou contrabandeados e todas as diversas formas maquiavélicas de regalias, privilégios e apanágios fedorentos que se possa imaginar, para transformar sacanagem em capital.]

 

 

 

 

A minha mais-valia fez de mim um boa-vida;

a sua foi-é-será servidão, suor e lágrimas.

A cada dia, vou valendo ainda mais;

você, dia-a-dia, vai ficando endividado.

Eu me tornei nobre, dono e senhor;

você sempre será um escravo do tempo.

 

 

 

 

Eu enriqueci;

você empobreceu.

Eu ganhei;

você perdeu.

Eu lucrei;

você teve que declarar falência.

Eu adicionei e multipliquei;

você subtraiu e dividiu.

Eu pago uma fortuna à ;

você, para viver, depende do .

Eu me dei bem;

você se deu mal.

Eu subi na vida;

você quebrou a cara e minguou.

Eu faturei;

você ficou a ver navios.

Eu sou felizardo e vencedor;

você é desgraçado e perdedor.

Eu posto news;

você acredita nelas.

Eu quero, nomeio e mando;

você obedece e é demissível 'ad nutum'1.

Eu moro num triplex em Ipanema;

você mora numa choça em deus-me-livre.

Eu como torradinhas com caviar;

você come farinha com farinha.

Eu bebo champanhota;

você bebe água da chuva.

Eu faço cocô numa necessária de ouro;

o seu cagatório é um penico rachado.

Eu vou viajar de avião para Paris;

você vai a pé para o cornimboque de judas.

Eu passeio em Copacabana;

você se acocora em 'sei-lá-onde'.

Eu tenho um iate igualzinho ao AZZAM;

você atravessa a Baía de barca da Cantareira.

 

 

AZZAM

 


Eu tiro férias na Côte d'Azur;

você se esconde em Saramandaia.

Eu uso Air Jordan Silver Shoes;

você usa chinelo de dedo.

E tenho conta no ;

você tem conta na birosca da dona Chica.

Eu vou ao show do Sting;

você vai ao bate-chinela no cemitério do Odorico.

Eu tenho um Bentley Bacalar;

você anda de trem lotado.

Eu tenho plano de saúde ;

você, quando dá, pega de .

Eu sou amigo do Rei;

você é amigo do Elias Maluco.

Eu almoço no Le Pré-Catelan;

você é azarado e marmiteiro.

Eu me vacino e fico imunizado;

você se vacina e vira .

Eu voto e o meu candidato vence;

você vota e o seu tira o último lugar.

Quando vou a Roma, converso com o Papa;

você papeia à-toa com o bicheiro da esquina.

Eu tenho um baita 'home theater';

você tem um radinho de pilha (sem pilha).

Eu tenho milhares de ações da ;

você tem uma ação ajuizada na 69ª Vara Cível.

Enfim, eu sou bonito, amado e bem casado;

você é um horror, frustrado e mal-amado.

Deus que me perdoe de ser um malfadado assim!

 

 

 

Quem se lembra dos desvalidos do mundo?
Quem se lembra dos famintos do mundo?
Quem se lembra dos sem-nada do mundo?

 

 

 

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Nota:

1. Segundo a advogada e professora de Direito Administrativo e Constitucional Licínia Rossi, exoneração ad nutum [conforme a vontade de, ao arbítrio de, ato revogável pela vontade só de uma das partes] consiste na exoneração do servidor ocupante de cargo em comissão, sem para tanto ser necessária justificativa do porquê da exoneração. Entretanto, se a Administração, mesmo não precisando elencar o motivo da exoneração, o disser, esse motivo passará a integrar o ato. Motivo alegado deve ser verdadeiro e existente, sob pena de comprometer a legalidade do ato (incidência da Teoria dos Motivos Determinantes, [que trata do controle do motivo (ilícito ou imoral) do ato administrativo)].

Fontes:

https://www.dicasconcursos.com/ad-nutum/

https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/3347914
92/o-que-consiste-a-teoria-dos-motivos-determinantes

 

 

 

 

Música de fundo:

Mais Valia
Composição: Denis Floriano
Interpretação: Capitão Nemo

Fonte: https://musio.net.br/capitao-nemo/bon-voyage/mais-valia/

 

Páginas da Internet consultadas:

https://farelosjuridicos.com.br/colunistas/blog/demiss%C
3%A3o-por-justa-causa-posso-recorrer-nesses-casos

https://imagensemoldes.com.br/skull-png/

https://stock.adobe.com/

https://giphy.com/explore/crocadiletears

https://open.spotify.com/album/2juIFvgoT7rnKQbYe5l9K8

https://gifer.com/en/Vqes

https://www.facebook.com/deepujoshi11sep/

 

Direitos autorais:

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