MENTIRAS E MAIS MENTIRAS

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Gonçalves é o Cara!

 

 


Gonçalves, o Sacanocrata Mentiroso
Animação produzida a partir da charge disponibilizada em:
http://rittblog.wordpress.com/

 

 

O casal estava assistindo televisão, à noite. Encafifado, o marido pergunta:

Posso saber por que você está emburrada desde que eu cheguei?

Irada, a mulher responde de pronto:

Hoje, exatamente hoje, completamos 25 anos de casados, e estamos aqui, parados, mudos, em frente à esta televisão... E o pior: vendo essa novela de merda, sem pé nem cabeça!

Meu Deus! Meu bem, eu tive um dia tão estafante que me esqueci completamente! Perdoe-me, minha querida. Vá pôr seu melhor vestido de noite, que vamos sair! Vamos festejar! Você terá uma noite inesquecível! Eu serei o Aristóteles Onassis e você a Jacqueline Kennedy!

Ah, querido, eu sabia que você não era um monstro insensível. Jacqueline? Que romântico!

Na entrada do restaurante, o maître, todo solícito:

Prepare a mesa do senhor Gonçalves.

A mulher:

Parece que eles conhecem você muito bem por aqui, querido.

Ah!, é! Eu costumo vir aqui de vez em quando para almoçar com alguns clientes.

No final do jantar, o marido propõe a ida a uma boîte. Na entrada, há uma fila enorme. O marido diz à mulher que vai arranjar tudo, e se dirige ao porteiro:

Diga aí, Chicão! Como vai essa força?

E o Chicão, responde:

Tá tudo em riba, Sr. Gonçalves. Pode ir entrando. Pro senhor há sempre um lugarzinho.

A mulher só observa; mas começa a achar tudo muito esquisito.

Já dentro da boîte, o dono vem falar com eles:

Boa noite, senhora. Boa noite, Sr. Gonçalves! E diz, logo em seguida: — Liberem já a mesa do senhor Gonçalves!

A mulher, já desconfiada:

Você vem sempre aqui?

Claro que não! O dono é um cliente da firma...

Uma vez na mesa, a garçonete vem e diz: — O de sempre, Sr. Gonçalves?

Enquanto isso, uma gatona, que terminava um striptease em cima do palco, grita: — E a calcinha, vai pra quem, galera?

A boîte, em peso, exclama: — Gonçalves!!! Gonçalves!!! Gonçalves!!!

A esposa, furiosa, sai da boîte, o marido vai atrás e eles entram juntos em um táxi.

O marido tentando apaziguar as coisas:

Querida, não vamos estragar esta noite maravilhosa. 25 anos de casamento é coisa séria. Com certeza eles me confundiram com outro Gonçalves... Vamos, dá um beijinho...

Beijinho é o cacete. Você está pensando que eu sou alguma idiota? Sou dona-de-casa, mas não sou idiota. Canalha!!! Não ouse me me tocar!!! Blá-blá-blá... Eu sou mesmo uma otária!!! Blá-blá-blá... Seu grande filho-da-puta!!! Blá-blá-blá... Jacqueline, ó... Onassis de merda, é o que você é!!! Blá-blá-blá...

Nisso, o motorista do táxi se vira e diz:

Gonça, quer que eu ponha a marafa pra fora da viatura?

Foi a gota d'água. A mulher do Gonça teve uma síncope!

 

 

 

 

 

O Amigo da Onça
Animação produzida a partir da charge disponibilizada em:
http://blogdoleunam.wordpress.com/2010/05/page/19/

 

 

 

de sacanear e de iludir.

Mas, quem bolou isto não foi o Gonça

nem o Amigo da Onça!1

 

que se danem os senões.

Se precisarmos ferir, ferimos numa boa;

no caso, lixe-se a patroa.2

 

Irrefragavelmente, como sói acontecer,

virá a dorzinha de doer.

Mas, a depender do vento e da bujarrona,

a dor será uma dorzona!

 

Aí, choramos, por um milagre suplicamos

e, ajoelhados, oramos.

 

 

 


Latitudes... Longitudes...
Causas... Efeitos...
Defeitos... Virtudes...

 

 

 

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Notas:

1. O Amigo da Onça é um personagem criado por Péricles de Andrade Maranhão (14 de agosto de 1924 – 31 de dezembro de 1961) e publicado em uma charge pela primeira vez na revista O Cruzeiro em 23 de outubro de 1943. Satírico, irônico e crítico de costumes, o Amigo da Onça aparece em diversas ocasiões desmascarando seus interlocutores ou colocando-os nas mais embaraçosas situações. Os diretores da revista O Cruzeiro queriam criar um personagem fixo e já tinham até o nome, adaptado de uma famosa anedota.

Dois caçadores conversam em seu acampamento:

O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente?

Ora, dava um tiro nela.

Mas se você não tivesse nenhuma arma de fogo?

Bom, então eu a matava com o meu facão.

E se você estivesse sem o facão?

Apanhava um pedaço de pau.

E se não tivesse nenhum pedaço de pau?

Subiria na árvore mais próxima!

E se não tivesse nenhuma árvore?

Sairia correndo.

E se você estivesse paralisado pelo medo?

Então, o outro, já irritado, retruca:

Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?

Após a morte do autor, em 1962, o personagem continuou sendo publicado, desenhado pelo cartunista Carlos Estevão (16 de setembro de 1921 – 14 de julho de 1972), até 1972.

Fonte desta nota:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Estev%C3%A3o

2. Acho jeca designar a mulher (esposa) de patroa. Detesto mesmo. Juro que só usei patroa para rimar com boa; prometo não usar nunca mais. Enfim, não há coisa mais ridícula do que dizer: — Quem manda lá em casa é a patroa. Isto é coisa de filho-da-puta ordinário que apronta todas e vem com essa empulhação melíflua para disfarçar. O pior é que há algumas mulheres que, por se acharem as rainhas da cocada preta, acreditam que mandam mesmo. Outras, claro, acreditam por conveniência.

 

 

 

 

Música de fundo:

Boato
Interpretação: Elza Soares
Composição: João Roberto Kelly

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/boato_elza_soares.html