Fragmentos
do Menexeno
—
Sócrates
era um tesourinho!
Quem
faz depender de si mesmo, se não tudo, quase tudo o que contribui
para a sua felicidade, e não se prende a outra pessoa nem
se modifica de acordo com o bom ou o mau êxito da sua conduta,
está, de fato, preparado para a vida; é sábio,
na verdadeira acepção do termo, corajoso e temperante.
A
Democracia é o Governo da elite aprovado pelo povo.
Na
verdade, Menexeno, o mais interessante que nos pode acontecer é
morrer na guerra. Ganha-se uma sepultura bela e grandiosa, por mais
pobre que esteja o morto na hora da morte. Além disso, há
os elogios, por menores que sejam os méritos do morto, pelos
mais sábios da cidade, que não dizem elogios de improviso,
mas elogios preparados, às vezes, com meses de antecedência.
E o modo de elogiar?! Ah! O morto é elogiado pelas qualidades
que tinha e pelas que jamais teve, e com as mais belas palavras,
tão belas que nos enfeitiçam e nos enredam em frases...
Exaltar
feitos passados é ornar com um discurso nu.
A
vida é impossível para o homem que desonra os seus.
Um homem sem honra não será jamais amado, nem entre
os homens, nem entre os deuses, nem antes, nem depois da morte.
Tudo
quanto façam, façam-no com virtude, porque sem virtude
tudo o que se conquiste e tudo o que se faça se transforma
em vergonha e em mal.
A
riqueza para si é como a força física para
o covarde: mais desonra do que glória, porque quanto mais
forte o covarde, mais a força faz visível a covardia.
Dezoito
Nenhuma ciência é
saber separada da justiça e das outras virtudes.
Não
tem honra o filho que não constrói a própria
honra e exaure a honra dos ancestrais. Esta é a lição
dos heróis mortos a ser ensinada aos seus filhos e aos filhos
dos seus filhos, no elogio fúnebre dos heróis mortos.
Deixemos
dormir os mortos e voltemos à vida normal.
Observação:
Platão
(Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.) escreveu mais de
trinta obras. Uma delas é o Menexeno (ou Do
Epitáfio), na qual Platão, pela boca de Sócrates,
condena a retórica vã e os lugares-comuns dos oradores
do seu tempo.
Fontes
de consulta dos fragmentos:
http://www.antiguidadeclassica.com/websi
te/edicoes/quinta_edicao/annachristina.pdf
http://www.scielo.br/pdf/trans/v19/v19a12.pdf
http://www.ifcs.ufrj.br/~afc/2008/CAIA.pdf
http://www.citador.pt/textos/o-sabio-platao