MELISSO DE SAMOS
(Fragmentos e doxografia)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Melisso de Samos

Melisso de Samos

 

 

 

Melisso de Samos (cerca de 470 a.C. morreu em lugar incerto) foi um militar, político, filósofo e poeta grego, tendo sido, provavelmente, discípulo de Parmênides de Eléia (cerca de 530 a.C. 460 a.C.). Pertenceu à Escola Eeleática – Escola que se interessava em examinar comparativamente os valores do conhecimento sensível e do conhecimento racional. O resultado das reflexões dos seus membros é que o único conhecimento válido é aquele fornecido pela razão. Da Escola Eleática, além de Melisso, fizeram parte Xenófanes de Cólofon (cerca de 570 a.C. – 460 a.C.), Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia (cerca de 490/485 a.C.? 430 a.C.?).

 

Pela sua obra, depreende-se que foi mais um polemista e defensor das idéias de Parmênides de Eléia, portanto antipitagórico, e, sobretudo, contra Empédocles (495/490 a.C. 435/430 a.C.). Não se sabe, todavia, como Melisso teria tomado contato com as doutrinas da Escola Ocidental. Tratou de ajustar os extremismos do eleatismo com a Filosofia Jônica (na Escola Jônica, seus membros são designados cosmologistas, já que quase todos eram fisicalistas que tentavam explicar a natureza da matéria), tornando-se responsável pela sistematização desta doutrina, além de mudar alguns pontos de vista, estabelecendo que o ser é ilimitado no tempo, ou seja, eterno. Seu principal poema foi Sobre o Ser ou Sobre a Natureza, do qual se conservaram até nossos dias dez fragmentos.

 

Este estudo reproduz (com pequenas edições) o que há de disponível sobre o pensamento de Melisso de Samos. Se Melisso cometeu equívocos, o que importa? Importa, sim, sobremaneira, que ele pensou. E isto é o bastante porque o pensamento sempre será relativo. Da mesma forma que não há verdade absoluta e definitiva, não há pensamento que não comporte restrição ou reserva nem que seja, portanto, determinativo e invariável. Penso que só o Eterno Ser seja invariável, inabalável e inalterável.

 

 

 

Fragmentos e Doxografia

 

 

 

Sempre foi o que sempre foi e sempre será o que sempre foi, pois, se tivesse sido gerado, antes de ser gerado, necessariamente nada seria. Mas, se nada era, nada poderia ter sido gerado do nada.

 

Não tendo sido gerado, é, sempre foi e sempre será; não teve início e não terá fim. É ilimitado. Pois, se tivesse sido gerado, teria um início e teria um fim. Se, ao contrário, não começou nem chegará a um fim, sempre foi e sempre será; não teve início e não terá fim. Pois, o que não é o todo é impossível que seja sempre.

 

E o que sempre é deve ser também de grandeza ilimitada.

 

Nada do que tem início ou fim é eterno ou ilimitado.

 

Não fosse um, deveria estar limitado por outro.

 

Se fossem dois, não poderiam ser ilimitados, pois se limitariam reciprocamente.

 

Assim, é eterno, ilimitado, uno e homogêneo. Não pode perecer, nem se tornar maior, nem todas estas coisas poderão se transformar, e nem o que era e agora é não se assemelhar.

 

Quando algo muda, o que era perece, e é gerado o que não é.

 

Se é, deve ser um. Se é um, não deve possuir corpo.

 

Se tivesse espessura, também teria partes, e não seria mais um.

 

Se o Ser se divide, se move. E se se move, cessa o seu Ser.

 

O Universo é ilimitado, imóvel, imutável, semelhante a si mesmo, uno e pleno.

 

Não se deve dar explicações definitivas dos Deuses, pois, Eles não podem ser conhecidos.

 

 

 

 

Será que é assim?

 

 

 


As Coisas Moventes no Ser

(Animação meramente pictórica
e, provavelmente, inajustada)

 

 

 

As coisas se movem no Ser;

mas o Ser, em si, é invariável.

Para as coisas, há vir-a-ser;

entretanto, o Ser é inabalável.

 

As coisas foram, são e serão;

o Ser é inalteravelmente Um.

Para as coisas, há sim e não;

para o Ser, nada é incomum.

 

As coisas tendem para o Ser;

o Ser não propende para nada.

As coisas se deslocam no Ser;

já o Ser é a própria Estrada.

 

 

 

Contraditando Melisso:

Invariabilidade, inabalabilidade (estabilidade) e inalterabilidade não significa nem impõe que não haja movimento. Tudo o que existe se move; se o que existe não se movesse, não poderia existir, pois a movimentação vibratória é a base insubstituível da existência das coisas. O que não existe é o nada, que, inexistindo, não pode dar origem a coisa alguma; se o nada existisse, seria alguma coisa, e, se fosse alguma coisa, seria a negação do Ser, pois, se gerasse alguma coisa, só geraria nadas. Já se o Ser, sempre existente, é a própria Estrada, nesta Estrada o Ser tem Sua existência, sendo, por isto mesmo, sempre atraente e movente em Si-mesmo. Logo, um Universo imóvel, como quis Melisso, é uma impossibilidade físico-existencial. Finalmente, afirmei que o Ser não propende para nada. Todavia, se propendesse, só poderia propender para Si-mesmo. Tenhamos sempre em mente que o Ser não faz escolhas e não tem preferências. O Ser é o que é, pois o Ser sempre foi o Ser e, para sempre, será o Ser.

 

Bibliografia:

GERD, A. Bornheim. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1967.

KIRK, G. S. e RAVEN, J. E. Os filósofos pré-socráticos. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.4shared.com/get/DOIm99AB/
BORNHEIM_Gerd_A_Os_Filsofos_Pr.html

http://www.filosofia.com.br/
historia_show.php?id=16

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Melisso_de_Samos

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Escola_ele%C3%A1tica

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Melisso_de_Samos

 

Música de fundo:

Nyxtose choris feggari

Fonte:

http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek