Melisso
de Samos (cerca
de 470
a.C. –
morreu em lugar incerto)
foi um
militar, político, filósofo e poeta grego, tendo sido,
provavelmente, discípulo de Parmênides
de Eléia (cerca de 530 a.C. –
460
a.C.).
Pertenceu à Escola
Eeleática – Escola
que se interessava em examinar comparativamente os valores do conhecimento
sensível e do conhecimento racional. O resultado
das reflexões dos seus membros é que o único
conhecimento válido é aquele fornecido pela razão.
Da Escola Eleática,
além de Melisso, fizeram parte Xenófanes de Cólofon
(cerca de 570 a.C. – 460 a.C.), Parmênides de Eléia e
Zenão de Eléia (cerca de 490/485 a.C.? –
430
a.C.?).
Pela
sua obra, depreende-se que foi mais um polemista e defensor das idéias
de Parmênides de Eléia, portanto antipitagórico, e,
sobretudo, contra Empédocles (495/490 a.C.
– 435/430
a.C.).
Não se sabe, todavia, como Melisso teria tomado contato com as doutrinas
da Escola Ocidental. Tratou de ajustar os extremismos do eleatismo com a
Filosofia Jônica (na
Escola Jônica, seus
membros são designados cosmologistas, já que quase todos eram
fisicalistas que tentavam explicar a natureza da matéria), tornando-se
responsável pela sistematização desta doutrina, além
de mudar alguns pontos de vista, estabelecendo que o ser é ilimitado
no tempo, ou seja, eterno. Seu principal poema foi Sobre o Ser
ou Sobre a Natureza, do qual se conservaram até nossos dias
dez fragmentos.
Este
estudo reproduz (com pequenas edições) o que há de
disponível sobre o pensamento de Melisso de Samos. Se Melisso cometeu
equívocos, o que importa? Importa, sim, sobremaneira, que ele pensou.
E isto é o bastante porque o pensamento sempre será relativo.
Da mesma forma que não há verdade absoluta e definitiva, não
há pensamento que não comporte restrição ou
reserva nem que seja, portanto, determinativo e invariável. Penso
que só o Eterno Ser seja invariável, inabalável e inalterável.
Fragmentos
e Doxografia
Sempre
foi o que sempre foi e sempre será o que sempre foi, pois, se tivesse
sido gerado, antes de ser gerado, necessariamente nada seria. Mas, se nada
era, nada poderia ter sido gerado do nada.
Não
tendo sido gerado, é, sempre foi e sempre será; não
teve início e não terá fim. É ilimitado. Pois,
se tivesse sido gerado, teria um início e teria um fim. Se, ao contrário,
não começou nem chegará a um fim, sempre foi e sempre
será; não teve início e não terá fim.
Pois, o que não é o todo é impossível que seja
sempre.
E
o que sempre é deve ser também de grandeza ilimitada.
Nada
do que tem início ou fim é eterno ou ilimitado.
Não
fosse um, deveria estar limitado por outro.
Se
fossem dois, não poderiam ser ilimitados, pois se limitariam reciprocamente.
Assim,
é eterno, ilimitado, uno e homogêneo. Não pode perecer,
nem se tornar maior, nem todas estas coisas poderão se transformar,
e nem o que era e agora é não se assemelhar.
Quando
algo muda, o que era perece, e é gerado o que não é.
Se
é, deve ser um. Se é um, não deve possuir corpo.
Se
tivesse espessura, também teria partes, e não seria mais
um.
Se
o
Ser se divide, se move. E se se move, cessa o seu Ser.
O
Universo é ilimitado, imóvel, imutável, semelhante
a si mesmo, uno e pleno.
Não
se deve dar explicações definitivas dos Deuses, pois, Eles
não podem ser conhecidos.
Será
que é assim?
As Coisas Moventes no Ser
(Animação
meramente pictórica
e, provavelmente, inajustada)
As
coisas se movem no Ser;
mas
o Ser, em si, é invariável.
Para
as coisas, há vir-a-ser;
entretanto,
o Ser é inabalável.
As
coisas foram, são e serão;
o
Ser é inalteravelmente Um.
Para
as coisas, há sim e não;
para
o Ser, nada é incomum.
As
coisas tendem para o Ser;
o
Ser não propende para nada.
As
coisas se deslocam no Ser;
já
o Ser é a própria Estrada.