MELANIE KLEIN
(Reflexões)

 

 

 

Melanie Klein

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo da Pesquisa

 

 

 

Esta pesquisa está centrada nas reflexões da psicanalista Melanie Klein, cuja teoria, segundo Joanna Wilheim, gravita em torno da noção da parelha-parental-em-coito-sádico-unida, em função de cuja existência se estruturam todas as psicopatologias, isto é, modificações do modo de vida, do comportamento e da personalidade de um indivíduo, que se desviam da norma e/ou ocasionam sofrimento e são tidas como expressão de doenças mentais.

 

O fato indiscutível é que, como explica Joanna Wilheim em seus escritos, qualquer experiência ocorrida no feto, desde a formação de cada uma de suas células, fica retida em uma matriz básica inconsciente na memória celular. Assim, desde os primórdios da vida intra-uterina, o feto já pode perceber o som, engolir, sonhar, reconhecer a voz da mãe, e, em conseqüência, expressar estados emocionais de agrado e desagrado.

 

Portanto, da mesma forma que devemos ter o máximo cuidado com nossas atitudes e com o que dizemos perto de uma pessoa falecida, que de morta não tem nada, precisamos estar absolutamente atentos com o nosso comportamento durante a gestação. O que for gravado na memória do feto produzirá conseqüências em toda a sua vida futura.

 

 

 

 

 

 

Breve Biografia de Melanie

 

 

 

Melanie Klein (Viena, 30 de março de 1882 – Londres, 22 de setembro de 1960) foi uma das maiores psicanalistas da história. Seguidora de Freud, com genialidade e amor à verdade erigiu uma escola com pensamentos próprios e distintos. Uma amiga, quando Klein, em 1935, insistia que era uma freudiana, discordou, dizendo: — agora já é tarde; você é uma Kleiniana. Seja como for, Melanie Klein é considerada como uma psicoterapeuta pós-freudiana.

 

São três os pilares fundamentais da Teoria Kleiniana. Primeiramente, existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isto, os objetos, as pessoas e as situações adquirem um colorido todo especial. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido como seio bom, quando amamenta, quanto é percebido como seio mau, quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja. Como é impossível satisfazer a todos os desejos da criança, invariavelmente ela possui os dois registros deste seio: um bom e um mau. Este conceito também é muito importante no estudo da formação dos símbolos e no desenvolvimento intelectual.

 

Em segundo lugar, Melanie Klein admitia que os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida fosse um filme em branco e preto: ou se ama ou se odeia. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o seio bom e odeia o seio mau. O problema é que na fantasia da criança, o seio mau, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e pela destrutividade direcionados a ele. Este medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória. Quando estamos diante de um perigo, como, por exemplo, quando caminhando em um parque e nos defrontamos com uma cobra, temos o instinto de fugir. Esta reação diante do perigo é chamada em Psicanálise de defesa. O conjunto da ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de posição esquizo-paranóide.

 

Enfim, com o desenvolvimento, o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora, nesta fase, o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Este temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de ansiedade depressiva. O conjunto da ansiedade depressiva e as respectivas defesas do ego é chamado por Klein de posição depressiva.

 

O conceito de posições é muito importante na Escola Kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. Neste sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase genital), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico do que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não nega esta divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista na Psicanálise.

 

Aliás, é esta palavra que distingue o pensamento kleiniano do freudiano. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizo-paranóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e termina com a morte. Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressões são analisados a partir destas duas posições. Por isto, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso equacionar as ansiedades depressivas e as ansiedades persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Em outras palavras: não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não forem trabalhados os processos que levaram seus surgimentos (ansiedade persecutória e ansiedade depressiva).

 

Na primavera de 1960, Melanie Klein ficou anêmica. Foi operada de um câncer do cólon em setembro. Morreu aos 78 anos, no dia 22 de setembro. Seu corpo foi cremado.

 

 

 

Reflexões Kleinianas

 

 

 

Desde o início da vida existem relações de objeto.

 

 

 

 

Quando as ansiedades persecutória e depressiva e a culpa diminuem, há menos premência a repetir antigos padrões.

 

O complexo de Édipo1 pode ser claramente observado em crianças de três, quatro ou cinco anos de idade. Este complexo existe, no entanto, muito mais cedo, e está enraizado nas primeiras suspeitas que o bebê tem de que o pai tira dele o amor e a atenção da mãe. Há grandes diferenças entre o complexo de Édipo da menina e o do menino, que eu caracterizarei dizendo apenas que enquanto o menino, em seu desenvolvimento genital, retorna ao seu objeto original, a mãe, e, portanto, busca objetos femininos, com conseqüentes ciúmes em relação ao pai e aos homens em geral, a menina deve, em alguma medida, se afastar da mãe e encontrar o objeto de seus desejos no pai e, mais tarde, em outros homens. Fiz esta exposição, no entanto, em uma forma demasiado simplificada, porque o menino se sente atraído pelo pai e se identifica com ele e, portanto, um elemento de homossexualidade faz parte do desenvolvimento normal. O mesmo se aplica à menina, para quem a relação com a mãe e com as mulheres em geral nunca perde a importância. O Complexo de Édipo, assim, não é apenas uma questão de sentimentos de ódio e rivalidade dirigidos a um dos pais e amor dirigido ao outro: sentimentos de amor e o sentimento de culpa também entram em conexão com o progenitor rival. Assim, muitas emoções conflitantes centram-se no Complexo de Édipo.

 

A imagem que você projetar de si no espelho é a mesma que os outros estão vendo. Agora sorria e perceba como tudo se transforma à sua volta.

 

O que faz com que alguém se torne atraente e popular não é a aparência, acredite. É a auto-estima.

 

Na gratificação alucinatória, ocorrem dois processos interligados: a evocação onipotente do objeto e situações ideais e o igualmente onipotente aniquilamento do mau objeto persecutório e da situação dolorosa. Estes processos se baseiam na divisão do objeto e do ego.

 

Informação é resistência ao choque. Informe-se.

 

 

 

 

Com a repressão moderada, o inconsciente e o consciente têm mais possibilidades de se manterem 'porosos' em suas relações mútuas e, portanto, aos impulsos e seus derivativos, e é permitido, em certa medida, emergirem repetidas vezes do inconsciente e se sujeitarem a um processo de seleção e rejeição pelo ego. A escolha dos impulsos, das fantasias e dos pensamentos que têm que ser reprimidos depende da crescente capacidade do ego para aceitar os padrões dos objetos externos.

 

O segredo da vida é, acima de qualquer coisa, procurar evoluir, pois tudo tem dois lados e um porquê!

 

 

 

 

Mesmo que uma flor morra, outra nascerá no lugar. Embora não seja igual, ela exalará o mesmo odor.

 

Os outros vêem você como você se vê.

 

Meu trabalho psicanalítico me convenceu de que quando na mente do bebê os conflitos entre amor e ódio surgem, os medos de perder o ser amado se tornam ativos.

 

A cura da neurose infantil é a melhor profilaxia contra a neurose do adulto.

 

O jogo é uma realização de desejo.

Em minha experiência, aparece nas crianças uma plena neurose de transferência, de maneira análoga como surge nos adultos. Quando analiso crianças, observo que seus sintomas mudam, que se acentuam ou diminuem de acordo com a situação analítica. Observo nelas a ab-reação de afetos em estreita conexão com o progresso do trabalho em relação a mim. Observo que surge angústia e que as reações da criança são resolvidas no terreno analítico. Pais que observam seus filhos cuidadosamente e com freqüência me contam que se surpreendem ao ver reaparecer hábitos que haviam desaparecido há muito tempo. Não encontrei crianças que expressem suas reações quando estão em sua casa da mesma maneira que quando estão comigo: em sua maior parte reservam a descarga para a sessão analítica. Certamente, ocorre que, às vezes, quando estão emergindo violentamente afetos muito poderosos, algo da perturbação se torna chamativo para os que rodeiam a criança, mas isto só é temporário e tampouco pode ser evitado na análise de adultos.

 

Acredito que o ego seja incapaz de dividir objetos – internos e externos – sem que haja uma correspondente divisão ocorrendo dentro do ego.

 

Se extinguirmos o método freudiano de respeitar o ambiente analítico e respondermos ao material da criança com interpretações, prescindindo de toda a medida pedagógica, a situação analítica se estabelece igual (ou melhor) que no adulto, e a neurose de transferência, que constitui o âmbito natural de nosso trabalho, se desenvolve plenamente.

 

É uma parte essencial do trabalho interpretativo se manter em sintonia com flutuações entre o amor e o ódio, ou seja, entre a felicidade e a satisfação, de um lado, e a ansiedade persecutória e a depressão, de outro.

 

A identificação projetiva se liga aos processos de desenvolvimento que surgem durante os três ou quatro primeiros meses de vida (a posição esquizo-paranóide) quando a divisão está no seu máximo e predomina a ansiedade persecutória. O ego está ainda, em grande parte, não-integrado e, por conseguinte, passível de dividir a si, a suas emoções e a seus objetos internos e externos, embora a divisão seja também uma das defesas fundamentais contra a ansiedade persecutória. Outras defesas oriundas neste estágio são a idealização, a negação e o controle onipotente dos objetos internos e externos. A identificação pela projeção implica uma combinação de expelir partes do eu e de projetá-las sobre outra pessoa (ou melhor) dentro dela. Tais processos apresentam muitas ramificações e influenciam fundamentalmente as relações de objeto.

 

As variações na intensidade dos fatores constitucionais acham-se ligadas à preponderância de um ou outro dos instintos na fusão dos instintos de vida e de morte postulada por Freud. Acredito existir uma vinculação entre esta preponderância de um ou outro dos instintos e a força ou debilidade do ego.

 

A ameaça de aniquilamento pelo instinto de morte dentro é a ansiedade primordial. É o ego que, a serviço do instinto de vida – possivelmente chamado mesmo à atividade pelo instinto de vida – desvia, até certo ponto, esta ameaça para fora. Esta defesa fundamental contra o instinto de morte foi atribuída por Freud ao organismo, enquanto que eu considero tal processo como a atividade principal do ego.

 

Embora em várias proporções, há sempre uma interação dos impulsos libidinais e agressivos, correspondendo à fusão dos instintos de vida e de morte.

 

O predomínio dos sentimentos de frustração ou de gratificação nas relações do bebê com o seio é, sem dúvida, largamente influenciado, num sentido ou em outro, pelas circunstâncias externas, mas também restam poucas dúvidas de que os fatores constitucionais, influenciando desde o princípio o robustecimento do ego, têm de ser levados na devida conta. Fiz antes a sugestão de que a capacidade do ego para suportar a ansiedade e a tensão, e, portanto, numa certa medida, para tolerar a frustração, é um fator constitucional. Esta maior capacidade inata para suportar a ansiedade parece depender, basicamente, da prevalência da libido sobre os impulsos agressivos, quer dizer, do papel que o instinto de vida desempenha, desde o princípio, na fusão dos dois instintos.

 

O seio 'bom' que amamenta e inicia a relação amorosa com a mãe é o representante do instinto de vida, sendo também sentido como a primeira manifestação da criatividade.

 

Tudo é possível.

 

 

 

 

A inveja contribui para as dificuldades do bebê em construir seu objeto bom, porque ele sente que a gratificação de que se viu privado foi guardada para si mesmo pelo seio que o frustrou.

 

A inveja é o sentimento irado de que outra pessoa possui e desfruta de algo desejável, sendo o impulso invejoso tirá-lo dela ou espoliá-la.

 

A inveja inconsciente se manifesta no início da infância como inveja primária.

 

Conjuntamente com as experiências felizes, ressentimentos inevitáveis reforçam o conflito inato entre o amor e o ódio, ou na verdade, basicamente, entre os instintos de vida e de morte, resultando na sensação de existirem um seio bom e um seio mau. Em conseqüência disto, a mais primitiva vida emocional se caracteriza por uma sensação de perda e recuperação do objeto bom. Ao falar de um conflito inato entre o amor e o ódio, estou subentendendo que a capacidade tanto para o amor quanto para os impulsos destrutivos é, até certo ponto, constitucional, embora variando individualmente em intensidade e interatuando, desde o início, com as condições externas.

 

Além das experiências de gratificação e frustração derivadas de fatores externos, uma série de processos endopsíquicos – primordialmente, a introjeção e a projeção – contribui para a relação dupla com o primeiro objeto. O bebê projeta os seus impulsos de amor e os atribui ao seio gratificador (bom), assim como projeta os seus impulsos destrutivos e os atribui ao seio frustrador (mau). Simultaneamente, pela introjeção, um bom seio e um mau seio são estabelecidos dentro do bebê. Assim, a imagem do objeto, externo e internalizado, é distorcida na mente infantil pelas suas fantasias, que estão vinculadas à projeção de seus impulsos sobre o objeto. O seio bom – externo e interno – converte-se no protótipo de todos os objetos prestimosos e gratificadores; o seio mau é protótipo de todos os objetos persecutórios internos e externos.

 

A projeção de sentimentos de amor – subjacente no processo de associação da libido ao objeto – é uma precondição para encontrar um bom objeto. A introjeção de um bom objeto estimula a projeção de bons sentimentos, e isto, por sua vez fortalece, pela reintrojeção, o sentimento de posse de um bom objeto interno. À projeção do eu-mau no objeto e no mundo externo corresponde a projeção de boas partes do eu ou de todo o eu-bom. A reintrojeção do bom objeto e do eu-bom reduz a ansiedade persecutória. Assim, a relação com o mundo interno e externo melhora simultaneamente, e o ego ganha em vigor e em integração.

 

No que diz respeito ao ego, o excessivo destaque e expulsão no mundo externo de partes do eu o enfraquece consideravelmente, pois o componente agressivo dos sentimentos e da personalidade está intimamente associado, na mente, com o poder, a potência, a força, o conhecimento e muitas outras qualidades desejadas.

 

Estes processos, presentes desde o início da vida, podem ser considerados de acordo com as seguintes formulações: a) um ego que tem alguns rudimentos de integração e coesão e progride cada vez mais nesta direção. Desempenha também, desde o começo da vida pós-natal, algumas funções fundamentais; assim, usa os processos de divisão e de inibição dos desejos instintivos como defesas contra a ansiedade persecutória – que é sentida pelo ego desde o nascimento; b) relações objetais, que são modeladas pela libido e agressão, pelo amor e o ódio, e impregnadas, por uma parte, de ansiedade persecutória e, por outra parte, pelo seu corolário, a reafirmação onipotente e tranqüilizadora que deriva da idealização do objeto; e c) introjeção e projeção, vinculadas à vida de fantasia do bebê e a todas as suas emoções; conseqüentemente, objetos internalizados de boa e má natureza, que dão início ao superego.

 

Todos estes desenvolvimentos estão refletidos na relação do bebê com a mãe (e, em certa medida, com o pai e outras pessoas). A relação com a mãe como pessoa, que se desenvolveu gradualmente enquanto o seio ainda figurava como o principal objeto, torna-se, agora, mais completamente estabelecida, e a identificação com ela ganha em vigor quando a criança pode perceber e introjetar a mãe como uma pessoa (ou, por outras palavras, como um 'objeto completo').

 

A formação de símbolo começa tão cedo quanto as relações objetais, e distúrbios na relação com objeto se refletem em distúrbios na formação de símbolo.

 

O impulso para realizar reparações pode ser considerado uma conseqüência da mais profunda percepção da realidade psíquica e de uma síntese crescente, pois revela uma reação mais realista aos sentimentos de pesar, culpa e medo de perda resultantes da agressão contra o objeto amado. Como o impulso para reparar ou proteger o objeto danificado abre o caminho para relações objetais e sublimações mais satisfatórias, incrementa, por sua vez, a síntese e contribui para a integração do ego.

 

A ansiedade relacionada com a mãe internalizada que se sente ter sido danificada, estar sofrendo, em perigo de aniquilamento ou já aniquilada e perdida para sempre, leva a uma identificação mais forte com o objeto lesado. Esta identificação reforça, ao mesmo tempo, o impulso reparador e as tentativas do ego para inibir os impulsos agressivos. Contudo, se o ego for incapaz de enfrentar as múltiplas e severas situações de ansiedade que surgem neste estágio – um fracasso determinado por fatores internos, assim como por experiências externas – poderá, então, ocorrer uma forte regressão da posição depressiva para a anterior posição esquizo-paranóide.

 

Cheguei à conclusão de que o amor e o ódio para com a mãe estão vinculados à capacidade da criança, em idade muito tenra, de projetar todas as suas emoções sobre ela, tornando-a, assim, tanto um objeto bom como perigoso. A introjeção e a projeção, no entanto, embora tenham raízes na infância, não são apenas processos infantis. Constituem parte das fantasias da criança, que segundo me parece também operam desde o começo e ajudam a plasmar sua impressão do ambiente; e pela introjeção este quadro modificado do mundo externo influencia o que se passa em sua mente. Deste modo, estrutura-se um mundo interno que é, em parte, reflexo do externo, isto é: o duplo processo de introjeção e de projeção para a interação entre os fatores externos e internos. Esta interação continua através de cada estágio da vida. Da mesma forma, a introjeção e a projeção prosseguem pela vida afora, e se modificam no curso da maturação; mas nunca perdem sua importância na relação do indivíduo para com o mundo que o cerca. Mesmo no adulto, portanto, o julgamento de realidade jamais está inteiramente isento da influência de seu mundo interno.

 

 

 

 

Uma das características das relações esquizóides é um acentuado artificialismo e falta de espontaneidade, a par de um grave distúrbio do sentimento do eu ou da relação com o eu. Por outras palavras: a realidade psíquica e a relação com a realidade externa estão extremamente perturbadas.

 

Uma das muitas experiências interessantes e surpreendentes na análise de crianças é encontrar em crianças muito jovens a capacidade de percepção que, muitas vezes, é muito maior do que a dos adultos.

 

Sentimentos de amor e gratidão surgem direta e espontaneamente no bebê em resposta ao amor e cuidado de sua mãe.

 

A própria experiência de sentimentos depressivos tem, por seu turno, o efeito de provocar a integração do ego, visto facilitar uma crescente compreensão da realidade psíquica e a melhor percepção do mundo externo, assim como a síntese cada vez maior entre as situações internas e externas.

 

À medida que o ego vai evoluindo, se estabelece, gradualmente, a partir desta realidade irreal, uma verdadeira relação com a realidade. Por conseguinte, o desenvolvimento do ego e a relação com a realidade dependerão do grau de capacidade do ego, numa etapa muito recuada, para tolerar a pressão das primeiras situações de ansiedade.

 

Os processos de síntese operam em toda a extensão das relações objetais internas e externas. Compreendem os aspectos contrastantes dos objetos internalizados (início do superego), por uma parte, e dos objetos externos, por outra; mas o ego também é impelido a diminuir a discrepância entre as figuras internas e externas. Em conjunto com estes processos sintéticos, registram-se novos passos na integração do ego, o que resulta em uma coerência maior entre as partes destacadas do ego. Todos estes processos de integração e síntese fazem que o conflito entre amor e ódio atinja sua plena força. A conseqüente ansiedade depressiva e os sentimentos de culpa alteram-se não só em quantidade, mas, também, em qualidade. A ambivalência é agora experimentada, de modo predominante, em relação a um objeto completo. Os passos de integração e síntese descritos resultam em uma capacidade maior do ego em reconhecer a realidade psíquica cada vez mais pungente.

 

Como, fundamentalmente, a tendência reparadora deriva do instinto de vida, traz consigo fantasias e desejos libidinais. Esta tendência participa em todas as sublimações e, deste estágio em diante, constituirá sempre o grande meio pelo qual a depressão é mantida sob controle e diminuída. Além disso, essa atitude mais realista em face da frustração – o que implica que o medo persecutório respeitante aos objetos internos e externos diminuiu – acarreta uma capacidade maior de restabelecimento, quando a experiência de frustração já não se faz sentir. Por outras palavras, a crescente adaptação à realidade – associada às mudanças na ação da introjeção e projeção – resulta em uma relação mais segura com os mundos interno e externo, o que acarreta uma diminuição da ambivalência e e da agressão, possibilitando aos impulsos reparadores que desempenhem seu papel.

 

A natureza das fantasias inconscientes e o modo como elas estão relacionadas com a realidade externa determinam o funcionamento psíquico do indivíduo. No funcionamento psíquico, as relações com os objetos externos são mediadas pelas fantasias inconscientes, que dão origem aos objetos internos. Portanto, relações e objetos (ou situações externas) não devem ser simplesmente traduzidas em relações internas.

 

A introjeção e a projeção funcionam desde o começo da vida pós-natal como uma das atividades mais primitivas do ego, que, a meu, ver opera a partir do nascimento. Considerada sob este ângulo, a introjeção significa que o mundo externo, seu impacto, as situações que a criancinha vive e os objetos que ela encontra são experimentados não só como externos, mas são recebidos dentro do eu e se tornam parte da vida interna dela. A vida interna não pode ser avaliada mesmo no adulto sem estes acréscimos à personalidade que se originam da introjeção contínua.

 

O ego existe e opera desde o nascimento, e tem a importante tarefa de se defender contra a ansiedade suscitada pela luta interna.

 

A projeção consiste na capacidade de a criança atribuir a outras pessoas à sua volta sentimentos de diversos tipos, predominantemente o amor e o ódio, sentimentos que, na realidade, são dela, pois derivam da projeção de suas emoções nos outros, principalmente na mãe. Tais processos fazem parte das fantasias do bebê, e levam à formação de um mundo interno, que é parcialmente um reflexo do mundo externo. Neste sentido, os processos de introjeção e projeção contribuem para a interação entre fatores internos e externos, e devem ser considerados como fantasias inconscientes.

 

Os precursores do superego – camadas mais profundas do inconsciente – se organizam desde o nascimento. O objeto não seria sentido como parte da mente, no sentido que aprendemos do superego, como a voz dos pais dentro da mente da pessoa. Este conceito de superego só seria encontrado nas camadas mais superficiais do inconsciente. No entanto, em camadas mais profundas, o objeto interno é sentido como um ser físico, ou, ainda, como uma multidão de seres, que, com todas suas atividades amistosas e hostis, têm abrigo dentro do corpo da pessoa.

 

A criança, muito antes dos quatro ou cinco anos de idade, sofre de fobias. A criança, desde os primeiros meses de vida, demonstra estar à mercê de ansiedades persecutórias, que encontram expressão nas fobias arcaicas.

 

O ambiente tem efeitos extremamente importantes na tenra infância e na infância posterior; mas daí não se pode concluir que, sem um ambiente mau, não existiriam fantasias e ansiedades agressivas e persecutórias.

 

Os processos mentais nascem do inconsciente, a partir das necessidades instintuais. As fantasias são, portanto, expressões mentais dos instintos – uma representação psíquica dos instintos libidinais e destrutivos. Neste sentido, a atividade do fantasiar tem suas raízes nas pulsões, da qual é um corolário.

 

Se encaramos nosso mundo adulto do ponto de vista de suas raízes na infância, ganhamos uma compreensão interna ('insight') da maneira pela qual nossa mente, nossos hábitos e nossos conceitos se estruturaram a partir das fantasias e emoções da mais tenra infância até as manifestações adultas mais complexas e elaboradas. Há mais uma conclusão a ser inferida, ou seja, de que nada que alguma vez existiu no inconsciente perde inteiramente sua influência sobre a personalidade.2 (Grifo meu).

 

As experiências externas são de suprema importância durante a vida. Contudo, muito depende, mesmo na criancinha, das maneiras pelas quais ela vai interpretar e assimilar as influências externas; e isto depende em grande parte da intensidade com que atuam os impulsos destrutivos e as ansiedades persecutórias e depressivas.

 

Ao considerar, do ponto de vista psicanalítico, o comportamento das pessoas no seu ambiente social, é necessário investigar como o indivíduo se desenvolveu desde a infância até a maturidade. Um grupo – seja pequeno, seja grande – consta de indivíduos em um relacionamento recíproco; e, portanto, a compreensão da personalidade é o fundamental para compreender a vida social. (Grifo meu).

 

 

 

 

Na medida que a idealização deriva da necessidade de ser protegido contra os objetos perseguidores, a idealização é um método de defesa contra a ansiedade.

 

É em fantasia que o bebê divide o objeto e o eu, mas o efeito desta fantasia é bastante real, pois conduz a sentimentos e relações (e, mais tarde, a processos de pensamentos) que estão, de fato, desligados uns dos outros.

 

A solidão, como toda estrutura do inconsciente formada no psiquismo, é um resultado freqüente de estruturas vividas nas socializações primária e secundária do indivíduo. O que está na origem da solidão são os seis primeiros meses de vida da criança.

 

Esquizofrenia = divisão.

 

Um fator de desenvolvimento de importância básica é a capacidade do ego prematuro de tolerar a ansiedade.

 

A ansiedade se origina da agressão.

 

O ego tem ainda um outro meio de controlar aqueles impulsos destrutivos que ainda permanecem no organismo. Pode mobilizar uma parte deles como uma defesa contra a outra parte. Deste modo, o id sofrerá uma cisão que é o primeiro passo na formação das inibições pulsionais e do superego.

 

Se uma pessoa normal for posta sob uma grave pressão interna ou externa, ou se ela adoece ou falha de algum modo, podemos observar nela a operação plena e direta das suas situações de ansiedade mais profundas.

 

Introjeções simultâneas de objetos que, de fato, têm uma boa disposição operam em direção oposta e diminuem a força do medo das imagos aterrorizadoras.

 

As tendências destrutivas, cujo objeto é o útero, também são dirigidas com toda a sua intensidade sádico-oral e sádico-anal contra o pênis do pai que estaria localizado lá dentro.

 

A pulsão epistemofílica e o desejo de se apossar do objeto estão intimamente ligados desde muito cedo.

 

As fantasias da menina, em que tenta destruir ambos os pais por inveja e ódio, são a origem do seu mais profundo sentimento de culpa, e, ao mesmo tempo, formam a base das suas mais esmagadoras situações de perigo.3

 

No estágio mais arcaico do desenvolvimento do indivíduo, seu ego não está suficientemente apto a tolerar sua ansiedade pulsional e o medo que sente dos objetos internalizados, e tenta se proteger em parte por meio da escotomização e da negação da realidade psíquica.

 

As angústias mais arcaicas são as angústias de aniquilamento.

 

Nenhum sofrimento infligido por fontes externas pode ser tão grande quanto aquele infligido em fantasia por um medo contínuo e avassalador de danos e perigos internos.

 

O medo mais profundo da menina é o de ter o interior do seu corpo assaltado e destruído.

 

O instinto de destruição, sendo dirigido contra o organismo, é um perigo para o ego. A meu ver, é este perigo que o indivíduo sente sob a forma de angústia. Portanto, a angústia nasce da agressividade.

 

A ansiedade evocada na criança pelas suas moções pulsionais destrutivas faz-se sentir no ego em duas direções. Em primeiro lugar, implica o aniquilamento de seu próprio corpo por seus impulsos destrutivos, o que constitui um medo de seu perigo pulsional interno. Em segundo lugar, focaliza seus medos quanto a seu objeto externo, contra quem são dirigidos seus sentimentos sádicos, como uma fonte de perigo. A este respeito, pareceria que a criança reage ao intolerável medo dos perigos pulsionais transferindo o impacto maciço dos perigos pulsionais para o seu objeto, transformando, deste modo, perigos internos em perigos externos.

 

A formação do sentimento de culpa é uma conseqüência direta das pulsões sádico-destrutivas acompanhada das fantasias inconscientes de ter atacado e danificado objetos de que se necessita. O que permite sentir a culpa depressiva é o reconhecimento da diferença entre o sujeito e o objeto.

 

À medida que a integração dos objetos progride, sentimentos tanto de natureza destrutiva quanto amorosa são experimentados por um mesmo objeto, e isto dá origem a profundos e perturbadores conflitos na mente da criança.

 

A posição esquizo-paranóide, na evolução emocional, tende a predominar nos primeiros três a cinco meses, e a posição depressiva posteriormente.

 

A ansiedade mais profunda sentida pelas meninas é o desejo sádico, originário dos primeiros estágios do conflito Edipiano, de roubar o conteúdo do corpo da mãe, ou seja, o pênis do pai.

 

O desenho e a pintura são meios usados para restaurar as pessoas.

 

A ansiedade, que é proeminentemente uma agência inibidora no desenvolvimento do indivíduo, é, ao mesmo tempo, um fator de importância fundamental na promoção do crescimento de ego e da vida sexual.

 

À medida que a relação com a realidade avança, a criança faz uso crescente das relações com seus objetos, e suas várias atividades e sublimações são um auxílio contra o medo do superego e dos impulsos destrutivos. Meu ponto de partida foi que a ansiedade estimula o desenvolvimento do ego.

 

 

 

O Rir e o Chorar

 

 

 

O que faz chorar pode fazer rir;

o que faz rir pode fazer chorar.

O que não podemos é sucumbir

por haver o alegrar e o entristar.

 

É tanto o rir quanto o chorar

que, a todos, faz andar e subir.

Logo, choramingar e praguejar

são duas bostas; a saída é rir.

 

que necessita ser restaurada.

jamais descortinará a Estrada.

 

 

 





______

Notas:

1. Segundo Sigmund Freud (1856 – 1939), o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância, quando se dá, então, conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. O conceito foi descrito por Freud e recebeu a designação de complexo por Carl Jung (1875 1961), que desenvolveu semelhantemente o conceito de Complexo de Electra (atitude que implica uma identificação tão completa com a mãe que a filha deseja, inconscientemente, eliminá-la e possuir o pai).

2. O que esta informação pode interessar particularmente aos místicos e espiritualistas? Simplesmente que não podemos nos desligar do nosso passado (próximo ou remoto) nem apagar nossos pecados. Que nos envergonhemos, tudo bem; mas que nos deixemos dominar e abater por um sentimento misto de nulidade e culpa pelo que fizemos de desconcertado não auxiliará em nada nossa reintegração universal. Os sentimentos de nulidade e de culpa produzem apenas uma espécie de inibição ou impedimento para seguirmos em frente. De uma forma ou de outra, devemos compreender isto: pecamos e transgredimos porque éramos ignorantes; continuamos a pecar e a não cumprir porque somos ignorantes; e continuaremos a pecar e a infringir até que deixemos de ser ignorantes. O que não podemos é desistir de melhorar e de tentar compreender para nos libertarmos. Enfim, eventuais lembranças dolorosas de violações cometidas são ótimas; humildam-nos e nos alertam para não as repetir. Agora, reflita comigo: já pensou se nos lembrássemos de todas as barbaridades que fizemos em encarnações passadas? Por isto, ninguém deve se meter a revisitar o passado longínquo, se não estiver perfeitamente estruturado para fazê-lo. Isto é tão temerário quanto bulir com Kundalini – o Poder Espiritual primordial que jaz adormecido no Múládhára Chakra, o centro de força situado próximo à base da coluna e aos órgãos genitais – sem saber o que está fazendo. E, quanto a isto, como 99,99% das pessoas não sabem o que estão fazendo, o melhor é deixar Kundalini quietinha. Quando (e se) chegar a Hora, Ela certamente subirá!

3. Neste mundo, nunca o ódio dissipará o ódio. Só o amor dissipa o ódio. (o Senhor Buddha).

 

Páginas da Internet consultadas:

http://lyricsdog.eu/s/happy
%20face%20animated

http://www.amazing-animations.com/
animated-babies.php

http://leomachadot.blogspot.com/
2010/04/o-feto-nao-e-uma-coisa.html

http://books.google.com.br/

http://www.fepal.org/nuevo/
images/stories/Ferreira-Abrao.pdf

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0
103-58352007000200011&script=sci_arttext

http://rgirola.sites.uol.com.br/
Fantasia.htm#_ftnref4

http://www.hcnet.usp.br/ipq/
revista/vol29/n5/256.html

http://psy.dmu.ac.uk/drhiles/
ENVYpaper.htm

http://thinkexist.com/quotes/melanie_klein/

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/m/melanie_klein.html

http://psicanalisekleiniana.vilabol.uol.com.br/
cronologia.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Melanie_Klein

http://www.sedes.org.br/Departamentos/
Formacao_Psicanalise/angustia_superego.htm

http://www.eca.usp.br/nucleos/filocom/ae9.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Kundalini

http://www.verarita.psc.br/
portugues.php?id=autocita4

http://www.psiqweb.med.br/site/?area
=NO/LerNoticia&idNoticia=238

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S
1413-072002000100002&script=sci_arttext

http://pt.shvoong.com/social-sciences/
psychology/1674276-quem-foi-melanie-klein/

http://www.apsicanalise.com/blog-grandes-
autores-da-psicanalise/76-melanie-klein.html

http://serbaunix.blogspot.com/2010/11/top
-14-most-beautiful-parks-in-world.html

http://litinerance.com/2011/09/28/complexo
-de-dipo-menino-e-menina-melanie-klein/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_%C3%89dipo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_Electra

 

Música de fundo:

Canto Chorado
Composição: Billy Blanco
Interpretação: Os Originais Do Samba

Fonte:

http://www.4shared.com/get/YN1MPuBi/
Os_Originais_Do_Samba_-_Canto_.html