A METAFÍSICA CARTESIANA
(Cogito, ergo sum)

 

 

 

René Descartes
(É melhor ter os olhos fechados,
sem jamais tentar abri-los,
do que viver sem filosofar.
)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Para ficarmos um pouquinho mais pobres em nossa insabidade e um tantinho mais ricos em justo conhecimento, hoje, estudaremos juntos a Metafísica Cartesiana, ampliada na obra Meditações Metafísicas, que, às vezes, aparece traduzida como Meditações Sobre a Filosofia Primeira – e que tem como subtítulo nas quais são Demonstradas a Existência de Deus e a Distinção Real entre a Mente e o Corpo – escrita e publicada por René Descartes, pela primeira vez, em 1641. A obra é composta por seis meditações, nas quais o autor põe em dúvida toda crença que não seja absolutamente certa, real, factível, e, a partir daí, procura estabelecer o que é possível ser sabido com segurança.1 Entretanto, respeitando Descartes, penso que, salvo melhor juízo, tentar demonstrar a existência de Deus, mais do que inócuo, seja impossível. E mais: qual Deus alguém provaria que existe? Há tantos... Mas, como especulação filosófica, até admito que seja um exercício interessante, mas tentar demonstrar a existência de Deus, seja lá por que meios, é semelhante a tentar provar que a quadratura do círculo é possível, servindo-se somente de uma régua e um compasso em um número finito de etapas. Em 1882, o matemático alemão Ferdinand Lindemann (1852 – 1939) provou que é um número transcendente, isto é, não existe um polinômio com coeficientes inteiros ou racionais, não todos nulos, dos quais seja uma raiz. Como resultado disto, é impossível exprimir com um número finito de números inteiros, de frações racionais ou suas raízes. Logo, é tão impossível construir, somente com uma régua e um compasso, um quadrado cuja área seja rigorosamente igual à área de um determinado círculo, quanto tentar demonstrar a existência de Deus. Todavia, se tal demonstração for real e metafisicamente possível, ela só se efetivará em nosso Coração, e só terá validade para nós, neste caso, individualmente. Há coisas que são mesmo intransferíveis!

 

Antes de prosseguir, preciso alertar que nada há de original neste estudo de extratos editados (em alguns casos). É, basicamente, uma coletânea de migalhas garimpadas na obra em apreço, e digitadas através do recurso computacional Ctrl c —› Ctrl v. Em textos como este, costumo dar esta informação para que eu não seja malevolamente acusado de plágio ou de mau-caratismo. Enquanto eu estiver vivo, o que me move e sempre me moverá é, entre outras coisas que estudo e publico, apresentar para reflexão assuntos diversos e temas contemporâneos que considero importantes para a compreensão da vida – caminho insubstituível para o conseguimento da Libertação (para a Eterna Vida) – de tal sorte a minimizar as infirmidades e as ignorâncias de todos nós que lutamos bravamente para compreender e que desejamos honradamente nos alforriar. Como sempre tenho o cuidado de citar as fontes consultadas – mesmo, em muitos casos, nos textos divulgados, sem seguir fielmente a metodologia científica tradicional – não me preocupo em copiar editando (quando sei que está correto) o que outros autores escreveram, como é o caso, por exemplo, dos dois próximos parágrafos (transcritos, mas editados).

 

Nas Meditações Metafísicas, Descartes expõe sua doutrina sobre as questões de Deus e da alma de modo mais amplo e completo do que no Discurso do Método (Cogito, ergo sum: Penso, logo existo; Dubito, ergo cogito, ergo sum: Duvido, logo penso, logo existo; Puisque je doute, je pense; puisque je pense, j'existe: Uma vez que eu duvido, eu penso; uma vez que eu penso, eu existo), no qual se contentou em expor apenas alguns princípios preliminares do seu pensamento, entretanto tendo admitido nas suas Meditações que o método não é novo, pois nada é mais velho do que a verdade. As Meditações Metafísicas foram escritas com uma profundidade sistematicamente filosófica, isto porque foram destinadas aos filósofos e aos teólogos, e basicamente a eles, não ao público em geral.

 

O fato é que as Meditações Metafísicas exerceram uma influência decisiva no pensamento ocidental, pois, não só introduziram um novo critério para avaliar (o que era considerado) a verdade, se insurgindo contra a pretensão e a autoridade da velha tradição e a ranhetice e a chatice do mofado costume, colocando a razão no centro da intuição da vida, mas, também, examinando judiciosamente alguns dos mais importantes problemas da Metafísica, para os quais nem sempre era possível propor soluções. Seja como for, as Meditações Metafísicas foram um fermento ativo para o pensamento filosófico posterior, suscitando adeptos e adversários ardorosos.

 

Em uma passagem da Segunda Meditação, afirma Descartes: Convenci-me de que não existe nada no mundo, nem céu, nem Terra, nem mente, nem corpo. Isto implica que também eu não exista? Não. Se existe algo de que eu esteja realmente convencido é de minha própria existência. Mas existe um enganador de poder e astúcia supremos, que está deliberada e constantemente me confundindo. Neste caso, e mesmo que o enganador me confunda, sem dúvida eu também devo existir… A proposição 'eu sou', 'eu existo', deve ser necessariamente verdadeira para que eu possa expressá-la ou para que algo confunda minha mente.

 

Enfim, como este estudo, que muito prazer me deu em fazer, está arrumado sob a forma de fragmentos (algumas vezes editados, outras ampliados com exemplos, dos quais, de ambos, somos todos livres para concordar ou discordar), para ler a obra completa original (que, como advertiu Descartes, para que seja compreendida, exige que o espírito esteja liberto de preconceitos, e que logre se desprender com facilidade de todo o consórcio com os sentidos), traduzida pelo intelectual e pensador português António Sérgio de Sousa (Damão, 3 de setembro de 1883 – Lisboa, 24 de janeiro de 1969), por favor, baixe o arquivo no endereço:

http://www.4shared.com/get/UQsA0S9-/
meditaes_metafsicas_-_Ren_Desc.html

 

 

 

Breve Biografia de Descartes

 

 

 

René Descartes
(Verificar –› Analisar –› Sintetizar –› Enumerar)

 

 

 

Exotericamente católico, mas, esotericamente um Iniciado Rosacruz, René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) – o primeiro pensador moderno – foi um filósofo, físico e matemático francês. Durante a Idade Moderna também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Durante a Revolução Francesa (conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França), seus restos foram desenterrados para irem para o Panthéon, ao lado de outros grandes pensadores franceses. A vila no Vale Loire, onde ele nasceu, foi renomeada La Haye-Descartes.

 

Descartes notabilizou-se, sobretudo, por seu trabalho revolucionário na Filosofia e na Ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da Álgebra com a Geometria, fato que gerou a Geometria Analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome (Sistema de Coordenadas no Plano Cartesiano ou Espaço Cartesiano ou Plano Cartesiano). Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.

 

 

Sistema de Coordenadas no Plano Cartesiano

 

 

 

Sistema de Coordenadas no Plano Cartesiano

 

 

Descartes, por vezes chamado de o Fundador da Filosofia Moderna e o Pai da Matemática Moderna, é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores. Boa parte da Filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o Racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto – o Empirismo, com o filósofo inglês e ideólogo do Liberalismo John Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 – Harlow, 28 de outubro de 1704) e o filósofo, historiador e ensaísta escocês David Hume (Edimburgo, 7 de maio de 1711 – Edimburgo, 25 de agosto de 1776).

 

Em 1667, dezessete anos depois de sua morte, a Igreja Católica Romana colocou as obras cartesianas no Index Librorum Prohibitorum, Índice de Livros Proibidos (lista embolorada, ultrapassada e desgastada de livros perniciosos e publicações proibidas), criado em 1559, no Concílio de Trento (1545 – 1563), tendo a administração da lista (sempre ampliada) ficado sob a tutela da Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício, que existiu entre 1542 e 1965. Ora, um homem livre como Descartes, que baseava suas especulações filosóficas em verdades racionais, claras, cristalinas e livres, não poderia agradar a quem queria meter na goela dos outros o céu, o inferno, o purgatório, o limbo, os pecados mortais e veniais, a excomungação, as indulgências parciais e plenárias, enfim, todo um sistema arbitrário e atrabiliário que tinha como ponto de referência a Terra, o autoritarismo eclesiástico e, principalmente, os argumentos ad ignorantiam (adequado à ignorância da pessoa com quem se discute), ad hominem (que apela para os sentimentos e não para a razão) e baculino (que despreza a razão e emprega a força). Bolas! Quatro séculos se passaram e a psicopatia/esquizofrenia mau-caratista inquisitorial católica não adiantou nada. René Descartes continua vivo entre nós, mas o tribunal inquisitivo do diabólico ofício morreu e virou pó e fumaça.

 

Bem lá longe, no meio do raio que o parta, onde o Universo finge que faz a curva, todos os inquisidores de antanho, neurastênicos, monocórdicos, mentalmente dissociados, extremamente egocentrados, lambuzões e outras tantas coisonas coisonérrimas mais, que me absterei de enumarar – entra dia, sai dia – repetida e desentoadamente, cantam e dançam de marré, marré, marré, mas Tomás de Torquemada, o inquisidor-geral dos Reinos de Castela e Aragão no século XV – coitado! – não consegue estabelecer vínculo com ninguém, pois, quando lhe perguntam que ofício dais a ela, Tomás, com aquele orgulhozinho padresco e inquisitorial, do qual não se livra nem a marretada, sempre responde: — Oooh! Dou ofício de inquisidora! Giovana, que está ali só para dar uma mãozinha, sempre responde, admoestando:

 

Se manque, ó Torquemada;

este ofício não me agrada!

Isto é coisa que se ofereça?

Tá com bosta na cabeça?

 

Mas Tomás nunca perdeu a pose (pelo menos, até ontem):

 

Bosta não, ó senhora;

na cabeça, só Glostora.

Eu fui feliz, joliz e beliz;

não me pejo do que fiz.

 

Mas, de Giovana, é sempre o último versinho:

 

Para daqui se livrar,

você terá que se pejar

e, um dia, se comover,

se almejar reconviver!


 

 

Index Librorum Prohibitorum

Index Librorum Prohibitorum

 

 

 

Migalhas Metafísicas Cartesianas

 

 

 

Sempre considerei que os problemas de Deus e da alma devem ser demonstrados mais pela Filosofia do que pela Teologia, pois, se bem que nos baste a nós fiéis o crer pela Fé que existe um Deus e que a alma humana não morre com o corpo, parece impossível, no entanto, persuadir os infiéis de qualquer religião, e até, outrossim, de qualquer virtude, se não provarmos primeiro estas duas coisas pelos meios da razão natural.

 

Tudo o que é possível saber sobre Deus é demonstrável por meio de razões que se podem achar no nosso espírito.

 

O espírito humano, refletindo sobre si mesmo, se reconhece como uma coisa pensante.

 

Tenho em mim a idéia de uma coisa mais perfeita... Esta idéia, com efeito, ou pode ser tomada materialmente por uma operação do meu intelecto, e, neste sentido, não se pode dizer que é mais perfeita do que eu; ou ser tomada objetivamente pela coisa representada por esta operação do meu espírito, a qual, se bem que se suponha que não existe fora do meu entendimento, pode, no entanto, ser mais perfeita do que eu, em razão da sua essência.

 

 

A Essência de Todos Nós

 

 

O juízo de muitas pessoas é tão infirme e desarrazoado, que se deixam persuadir mais facilmente por quaisquer primeiras opiniões, do que por uma refutação destas opiniões que seja sólida e verdadeira...

 

Para impugnar a existência de Deus, os ateus alegam sempre que supõem em Deus afecções humanas, ou atribuem aos nossos espíritos tanta força e sabedoria, que podem determinar e compreender o que Deus pode e deve fazer.

 

Deus é um ser infinito e incompreensível.

 

Para compreender a Metafísica, é necessário libertar o espírito tanto do consórcio com as coisas sensíveis como de toda a espécie de preconceitos.

 

Geralmente, devemos duvidar de todas as coisas, e particularmente das coisas materiais. Pelo menos, enquanto não tivermos nas ciências outros fundamentos além dos que, até o presente, temos tido.

 

A desordem produz a incerteza.

 

 

Desordem Ilusória

 

 

Para estabelecer alguma coisa constante nas ciências, cumpre que rejeitemos, uma vez na vida, todas as nossas antigas opiniões... Não há, efetivamente, coisa alguma da qual não possamos, de certa maneira, duvidar. Portanto, para que os reparos que viermos a fazer possam produzir algum proveito, não devemos nos limitar a considerar como duvidosas as nossas antigas opiniões, mas, supor também que elas são falsas.

 

As coisas que nos são representadas no sono não são absolutamente imaginárias.

 

Aquilo que assenta sobre opiniões falsas e sobre princípios inseguros tem de ser, por necessidade, duvidoso e incerto.

 

A destruição de antigas opiniões e a compreensão libertadora só poderão advir se o espírito estiver em pacífica solidão e se for exonerado de qualquer preconceito e de qualquer paixão.

 

Não chegaremos a uma má conclusão, se dissermos que a Física, a Astronomia, a Medicina e todas as outras demais ciências que dependem da consideração das coisas complexas são muito duvidosas e muito incertas. Mas, concluiremos bem se admitirmos que a Aritmética, a Geometria e as outras ciências da mesma espécie, as quais tratam unicamente de coisas muito simples e gerais, têm algo certo e indubitável.

 

 

Coisas Indubitáveis

 

 

Estejamos acordados ou a dormir, dois e três serão sempre cinco, e um quadrado sempre terá quatro lados. Portanto, não parece possível que verdades tão claras, tão evidentes, possam dar azo a qualquer suspeita de falsidade ou de incerteza.

 

Há muito, tenho no meu espírito a opinião de que há um Deus que tem todo poder e que me fez e criou assim como sou. Ora, como posso eu saber se não Ele dispôs as coisas de tal maneira que não haja Terra, nem céu, e nenhum corpo extenso, nenhuma figura, nenhuma grandeza, nenhum lugar, mas que eu tenha, apesar disto, a impressão da existência destas coisas todas, e que todas me pareçam não existir, senão da maneira como eu as vejo? Quem me diz que Ele não faz com que eu me iluda, sempre que adiciono dois e três ou conto os lados de um quadrado? Mas, talvez, Deus não tivesse querido que eu fosse enganado de tal maneira, pois que O dizem soberanamente bom. Todavia, se repugnasse à Sua Vontade me haver feito de tal feitio que eu me iludisse constantemente, parece que Lhe seria também contrário permitir que me enganasse algumas vezes; e não posso, no entanto, duvidar de que Ele permite.

 

Enganar-se é imperfeição.

 

Em tudo o que acreditei ser verdadeiro, não há nada de que não possa duvidar de qualquer forma. De maneira que, de hoje em diante, deverei me esquivar de dar crédito ao que antes acreditei como sendo verdadeiro, se quiser achar nas ciências alguma coisa assegurada e certa.

 

Temos (e teremos sempre) muito mais razão para acreditar nas ordinárias opiniões antigas do que para negá-las. Por isto é que elas reaparecem com freqüência nos nossos pensamentos.

 

Devemos cuidar e nos esforçar para não nos afastarmos do caminho reto que leve ao conhecimento da Verdade, [ainda que ela seja sempre relativa].

 

Nunca a desconfiança deverá ser excessiva. Com efeito, não se trata apenas de proceder, mas de conhecer e de meditar. E, se não estiver ao nosso alcance atingir o conhecimento de Verdade alguma, estará, pelo menos, no nosso poder a suspensão do nosso juízo.2

 

Não dar crença à menor falsidade e preparar bem o próprio espírito contra as malas-artes do trapaceiro é laborioso e é penoso. Insensivelmente, sinto arrastar-me uma certa preguiça para o modo de proceder da vida ordinária. E, tal como um escravo que lograsse no sono o gozo de uma liberdade imaginária, e que temesse o instante do despertar quando ele começasse a formar suspeitas de que a sua liberdade era apenas sonho, conspirando por isso com ilusões tão gratas para que elas o enganassem durante mais tempo, assim eu recaio insensivelmente nas minhas antigas opiniões, e receio acordar desta modorra, por temer que as vigílias laboriosas que se seguiriam a tal repouso, em vez de me trazerem qualquer luz no conhecimento da Verdade, não fossem, afinal, suficientes para desfazer as trevas de dificuldades que se resolveram no que aí ficou.

 

Cumpre rejeitar as coisas em que exista a menor dúvida, até que se tenha encontrado qualquer coisa que seja certa. Será conseguir muito, se pudermos encontrar uma só coisa que seja certa.

 

Enquanto duvidamos de tudo, não poderemos duvidar de que existimos, e de que a proposição eu existo é necessariamente verdadeira. E, estando certos de que existimos, cumpre examinar o que somos. Para isto, deveremos examinamos o que outrora supusemos ser. (Grifo meu).

 

Na realidade, não somos nada de aquilo que outrora supusemos ser, senão, precisamente, uma coisa que pensa. Assim, nada do que se pode compreender pela imaginação pertence ao conhecimento de nós próprios – que vem a ser uma coisa que pensa.

 

 

O Ser que Pensa

 

 

O espírito é por nós mais distintamente conhecido do que qualquer outra coisa; nada, pois, é mais fácil de conhecer do que o nosso espírito.3

 

É certíssimo que nada há no mundo que seja certo [e definitivo]. Arquimedes,4 para tirar a Terra de onde se encontra e para a transportar para outro sítio, não pedia mais do que um ponto fixo; e eu, neste caso, altas esperanças poderei conceber se achar por fortuna uma só coisa que seja certa e inconcussa.

 

Há, porém, um ilusor mentiroso, muito poderoso e muito astuto, que me engana constantemente. Se assim é, não cabe, pois, dúvida de que eu existo, se ele me engana; e engane-me ele o mais que puder, nunca conseguirá que eu nada seja, enquanto eu penso que algo sou. A proposição eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo no meu espírito... Entretanto, importa que eu me acautele com o maior empenho para que não tome como sendo eu uma coisa qualquer que não sou eu, e, assim, não me engane em tal conhecimento, que afirmo ser mais certo e mais evidente do que todos aqueles que já tive outrora. Só deverá ficar, precisamente, o que for certo e inabalável. (Grifo meu).

 

Ao afirmarmos que um homem é um animal racional é necessário investigar o que é um animal; depois, o que é racional.5

 

O pensar existe. O pensar é um atributo que me pertence. Só ele não pode se separar de mim. Isto é certo: Eu sou, eu existo... Sou uma coisa, pois, verdadeira; uma coisa existente. Mas que coisa? (Grifo do autor).

 

Sei já, com certeza, que existo de fato, e, ao mesmo tempo, sei que é possível que as imagens não passem de sonhos ou de quimeras, e não só elas, mas tudo em geral que se refere ao corpo... Percebo manifestamente que nada do que compreendo pela imaginação pertence ao conhecimento que tenho de mim. Portanto, me cumpre desviar o meu espírito de tal maneira de conceber, para que logre conhecer distintamente a sua própria natureza. Enfim, que sou, pois? Uma coisa pensante, isto é, uma coisa que duvida, que percebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que tem sensações.

 

É um vagabundo este meu intelecto. O devaneio apraz-lhe; não se compadece de ser retido nos justos limites do verdadeiro.

 

Suponhamos que enxergo, pela janela, uns homens que passam naquela rua. Olhando para eles, não posso deixar de dizer que vejo homens. No entanto, o que vejo eu da janela, senão só capas e chapéus, que, acaso, poderiam cobrir manequins, que por meio de molas se deslocassem? Mas, ajuízo que são homens, formulo o juízo de que são homens, e assim, compreendo, pelo poder judicatório do meu intelecto – do meu espírito – o que cria ver por meio dos olhos. E assim, se do fato de ver os homens tiro a conclusão que os homens existem, com bem mais evidência devo tirar a conclusão que existo eu.

 

Ainda que haja erros nos juízos, nada pode ser concebido sem que seja por meio de um espírito humano.

 

Desprendendo-nos dos sentidos, muito claramente nos conhecemos como sendo uma coisa que pensa.

 

Não tínhamos idéias claras e distintas de muitas coisas que viemos a reconhecer serem muito incertas, depois de as termos tido outrora como muito certas.

 

Para examinar a verdade ou o erro dos pensamentos convém dividi-los em certos gêneros, e passar a considerar em quais destes gêneros há propriamente verdade ou erro.

 

Nossos pensamentos são constituídos ou de idéias, ou de afecções ou de juízos. As idéias e as afecções, tomadas em si mesmas, não são falsas, mas sucede haver erro em muitos juízos... O principal erro, o mais ordinário, que nos juízos pode ocorrer, consiste em ajuizarmos que aquelas idéias que se encontram no espírito são semelhantes ou conformes às coisas que se acham fora de nós, pois é certo que, se considerássemos as idéias como sendo certos modos do nosso pensamento, sem as querer referir a uma coisa externa, dificilmente estas idéias nos dariam qualquer ocasião de cair em erro. Enfim, quanto às idéias, precisamos saber que umas são inatas em todos nós, ou seja, nasceram conosco; outras são adventícias e vieram de fora; outras, finalmente, foram feitas e inventadas por nós. Portanto, por exemplo, lembremos que o Sol – a estrela central do Sistema Solar – pode parecer bem pequeno, mas, efetivamente, é gigantesco, possuindo, em relação à Terra, massa 332.900 vezes maior e volume 1.300.000 vezes maior que o do nosso planeta. O fato de o Sol parecer tão pequeno é porque a distância da Terra ao Sol é de cerca de 150 milhões de quilômetros. Assim, auxiliados pela Astronomia, nossa razão nos leva a crer que a imagem que emana imediatamente da aparência do Sol é aquela que menos a ele se assemelha.

 

Toda a causa eficiente tem tanta perfeição quanto o seu efeito.

 

A perfeição objetiva de uma idéia deve existir formalmente ou eminentemente na sua causa... Se temos alguma idéia cuja perfeição objetiva não esteja em nós – nem formalmente, nem eminentemente – há, pois, fora de nós alguma coisa que é a sua causa. Mas, a idéia que temos de Deus não pode vir de nós, e, portanto, há um Deus.

 

Não somos a causa de nós próprios. Ainda que supuséssemos ter existido sempre, a natureza e a duração da nossa vida prova que há uma causa que nos faz persistir. Esta causa é diferente de nós mesmos, sendo impossível que não seja Deus. Nisto consiste o soberano bem.

 

Agora, fecharei os olhos, obturarei os ouvidos, subtrair-me-ei aos sentidos, apagarei do meu pensamento todas as imagens das coisas corpóreas e tê-las-ei como inanes e como falsas. E, assim, conversando a sós com a minha pessoa e considerando só o meu interior, procurarei me tornar, pouco a pouco, mais conhecido de mim próprio e mais familiar comigo mesmo.6 (Grifo meu).

 

Ainda que as coisas que eu imagino e aquelas de que tenho sensações não existam, talvez, fora de mim, eu estou seguro, apesar disto, de que estas maneiras de pensar – a que chamo imaginações e sensações – residem e se encontram realmente em mim, enquanto maneiras de pensar.7

 

Tudo aquilo que concebo claríssima e distintissimamente é necessariamente verdadeiro.

 

Engane-me quem puder, mas não poderá fazer que eu nada seja, enquanto penso que algo sou. Ou que, algum dia, seja verdade que eu não tenha existido nunca, sendo verdade que existo agora. Ou que a soma de dois e três dê mais ou menos que o número cinco. Ou outras coisas semelhantes, as quais eu vejo clarissimamente não poderem ser senão como as penso.

 

Aquelas idéias que apresentarem substâncias serão algo mais e conterão em si, por assim dizer, maior realidade objetiva (isto é: participarão, por representação, de mais graus de ser ou de perfeição), do que as idéias que representam modos ou acidentes. E, enfim, a idéia pela qual eu concebo Deus – soberano, eterno, imutável, infinito, onisciente, onipotente e criador de tudo o que fora Dele existe8 – conterá, por sua vez, maior realidade objetiva do que aquelas que representam substâncias finitas.

 

Deve haver tanta realidade na causa eficiente como no seu efeito. Pois, de onde onde tirar o efeito a realidade que possui, senão da sua causa? E como poderia esta lhe comunicar, se, em si mesma, não a tivesse?

 

A idéia não pode tirar do nada a sua origem. A idéia existe no intelecto, sim, como imagem ou como painel, que pode decair facilmente da perfeição da coisa de onde foi tirada, mas coisa alguma pode ser mais perfeita (ou conter algo mais perfeito) do que a própria perfeição.9

 

Só nos juízos se pode achar a falsidade propriamente dita ou formal. Pode, no entanto, haver nas idéias certa falsidade material, a saber, quando representam o que nada é como se fosse qualquer coisa. Por exemplo: as idéias de frio e de calor são tão pouco claras e tão pouco distintas, que não posso dizer, afinal, se o frio é tão-só privação de calor ou se o calor é apenas privação de frio, ou se ambos são qualidades reais, ou se nem frio nem calor são coisas reais. E, sendo as idéias como que imagens, e sempre nos parecendo representar qualquer coisa, se, de fato, o frio for privação de calor, e só isto, a idéia que o representa como sendo algo poderá, com justiça, ser chamada falsa, e assim as restantes.

 

Se bem que eu tenha a idéia de substância, pelo fato de que sou uma substância, não teria, contudo, a de uma substância infinita – eu que sou finito – se ela não houvesse sido posta em mim por uma substância verdadeiramente infinita. E assim, na substância infinita há mais realidade do que na finita, e, portanto, de certo modo, tenho a idéia do infinito anteriormente à do finito, isto é, a idéia de Deus anteriormente à de mim próprio, que sou finito e imperfeito. Enfim, como poderia ser possível que me fosse dado conhecer que duvido, que desejo, isto é, que me falta qualquer coisa, que não sou, pois, perfeito, se acaso não tivesse no meu espírito a idéia e um ser mais perfeito do que eu, por comparação com o qual eu viesse a conhecer os meus defeitos? Tudo o que o meu intelecto pode pensar clara e distintamente como real e verdadeiro, e como incluindo quaisquer perfeições, se acha contido na idéia de Deus. E não deixa isto de ser verdadeiro, ainda que eu não compreenda o infinito e que exista em Deus uma infinidade de coisas que eu não posso compreender, nem, talvez, atingir pelo pensamento, pois é da natureza do infinito que o não logre perceber o meu espírito, sendo finito. Basta só que eu entenda isto, e que formule o juízo de que todas as coisas que concebo clarissimamente, que sei que comportam qualquer perfeição, e muitas acaso que de todo ignoro, estão em Deus formal ou eminentemente, para que a idéia que de Deus eu tenho seja, de fato, a mais verdadeira, a mais clara e a mais distinta de todas que existem no meu intelecto.

 

Talvez, porém, seja eu mais alguma coisa do que imagino, e, talvez, as perfeições que atribuo a Deus se achem todas em potência no meu próprio ser, se bem que se não produzam por enquanto e que não se manifestem por suas ações. Com efeito, estou tendo a experiência de que o meu conhecimento se vai aumentando e aperfeiçoando, e não vejo o que obste a que mais e mais ele se amplie assim, até o infinito, nem porque, estando assim acrescido e aperfeiçoado, eu não poderia alcançar, por ele, as outras perfeições da natureza divina, nem, enfim, porque seria que o poder que existe em mim para a aquisição de tais perfeições, se é certo que o tenho atualmente, não seria suficiente para dar origem às idéias que lhe dizem respeito.

 

Em Deus, nada existe só em potência; tudo está em ato efetivamente.

 

Deus é o autor da minha existência.

 

Uma substância, para que conserve a sua existência em todos os momentos em que perdura, tem necessidade daquele mesmo poder, daquela mesma ação, que seriam necessárias para a produzir e criar, se acaso não existisse ainda. De maneira que a luz natural nos faz ver aqui com a maior clareza que a criação e a conservação diferem somente no nosso pensar, mas não em si.

 

Será assim o conceito cartesiano de criação?

 

 

Eu sou uma coisa pensante, e tenho em mim certa idéia de Deus, a causa que me produziu – qualquer que ela seja – deverá ser também uma coisa pensante, e deverá ter, outrossim, a idéia de todas as perfeições que atribuo a Deus.

 

Tendo Deus a virtude de por Si existir, terá também o poder de possuir em ato as perfeições cuja idéia contiver em Si... A unidade, a simplicidade e a inseparabilidade de quanto em Deus existe são perfeições que concebo Nele.

 

O meu espírito é única coisa que eu tomo como sendo realmente eu próprio.

 

A existência de Deus se demonstra à evidência pelo simples fato de que eu existo e de que, além disto, existe em mim a idéia de um ser sumamente perfeito.

 

A idéia de Deus nasceu comigo, me é inata, como a idéia de mim próprio me é também inata.

 

Quando reflito sobre mim próprio, não só percebo que sou coisa imperfeita, incompleta, dependente de outrem, que tende e aspira indefinidamente a algo de maior e de melhor do que eu, mas percebo, também e ao mesmo tempo, que um outro ser do qual eu dependo possua estas coisas a que eu aspiro, e cujas idéias encontro em mim, e as possua, não indefinidamente e só em potência, mas que goze delas atualmente, efetivamente e infinitamente. E assim, este ser é Deus.

 

Só depois de havermos desprendido o espírito das coisas sensíveis é que o poderemos dirigir para as cousas inteligíveis.

 

Sendo o erro uma falta, uma carência ou um defeito, basta ser finito para poder errar.10

 

O erro não é somente um defeito, mas a privação de qualquer perfeição.

 

Nem o intelecto nem a vontade são, por si mesmos, causas dos nossos erros. Nossos erros derivam do mau uso da nossa liberdade, pois que da grande clareza no intelecto resulta grande determinação na vontade. Mas, ainda que haja conhecimento no intelecto, a vontade se manterá indiferente, se este conhecimento não for perfeito. Assim, não é e não há imperfeição em Deus por nos haver concedido a liberdade; a imperfeição está em nós se e quando usamos mal esta mesma liberdade.

 

Exatamente me dei conta de como sabemos pouquíssimo...

 

Quando penso que eu duvido, isto é, que sou algo incompleto e dependente, a idéia de um ser completo e independente (isto é, de Deus) apresenta-se-me ao meu espírito com clareza igual.

 

Quando busco a causa dos meus erros, noto que ao meu pensar se não apresenta unicamente uma real e positiva idéia de Deus ou de um ser sumamente perfeito, mas, também, por assim dizer, uma certa idéia negativa do que está afastado infinitamente de toda a espécie de perfeição. Assim, reconheço que o erro, enquanto erro, não é coisa real e dependente de Deus, mas, tão-só uma falta minha, tão-só um defeito meu.

 

Não posso, sem temeridade, investigar quais sejam os fins de Deus.

 

Eu existo, colocado no mundo, como fazendo parte da universalidade dos seres.

 

Se sempre soubéssemos de maneira clara e indubitável onde está a Verdade e onde está o bem, nunca teríamos de deliberar sobre o nosso juízo e a nossa escolha. E assim, seríamos inteiramente livres!

 

De onde, então, é que, pois, nascem os nossos erros? Nascem de que, como a vontade é mais ampla que o entendimento, não a contemos nos mesmos limites e a estendemos às coisas que nós não percebemos. E como a estas últimas é ela indiferente, com muita facilidade se transvia a vontade e escolhe o falso pelo verdadeiro, o mal pelo bem; e de aí procede que erramos e pecamos.

 

O conhecimento do intelecto deve sempre preceder a determinação da vontade.

 

Está nisto a perfeição principal do homem: adquirir o hábito de não errar; descobrir a causa do erro e da falsidade. Devemos, portanto, fixar nossa atenção naquelas causas que perfeitamente concebemos, separando-as de todas as outras que concebemos obscura e confusamente.11

 

A existência de Deus não pode ser separada da sua essência, mais do que da existência de um triângulo retilíneo a igualdade dos três ângulos a dois retos.12

 

Só o que concebemos clara e distintamente poderá nos persuadir de maneira completa. Não poderá haver engano naqueles juízos cujas razões conhecemos clara e distintamente.13

 

Há um Deus e todas as coisas dependem Dele. Esta é a Ciência certa e verdadeira. A certeza e a verdade de toda a Ciência só dependem do conhecimento do verdadeiro Deus.

 

Há diferença entre imaginação14 e pura intelecção. Todavia, podemos adquirir o conhecimento claro e distinto das coisas que ainda concebemos confusamente, pois a imaginação é, afinal, uma aplicação da faculdade de conhecer o objeto que intimamente lhe é presente, e, portanto, inescusavelmente existe.

 

Para imaginar, precisamos de uma particular contenção do espírito, da qual, porém, não fazemos uso para conceber ou compreender; e esta particular contenção de espírito manifesta a diferença que de fato existe entre a imaginação e a intelecção (ou concepção pura).

 

Tudo o que a Natureza nos ensina contém alguma verdade, ainda que nos enganemos, no entanto, com alguma freqüência, nas coisas a que a própria Natureza nos impele diretamente.

 

Há uma grande diferença entre o corpo e o espírito, a saber: o corpo, por sua natureza, é sempre divisível, ao passo que o espírito, pelo contrário, é inteiramente indivisível.

 

A natureza humana, apesar da suma bondade de Deus, não pode deixar de algumas vezes se mostrar falível e enganadora, enquanto composta de espírito e corpo.

 

Muitas vezes, pelas necessidades da nossa vida, somos levados a escolher e a determinar, sem que tenhamos tido o indispensável vagar para examinar as coisas escolhidas e determinadas cuidadosamente. E assim, a vida do homem está sujeita a errar freqüentes vezes no que respeita às cousas particulares, o que obriga a reconhecer, em suma, a infirmidade da natureza humana.

 

Apesar de tudo, seja lá como for, devemos confessar e reconhecer a infirmidade da nossa natureza.

 

 

 

Infirmidade –› Compreensibilidade

 

 

 

Só Mais Uma Coisinha:

 

 

Eu sou pobre, pobre, pobre,

mas deixei de ser desnobre.

Para me livrar, eu me aplico,

e não dou bola para ser rico.

 

O que pode valer a riqueza,

se, na alma, há só baixeza?

Ora Bolas! Miserê não é pior

do que, por burla, virar sinór.

 

Oh!, vidas ensangüentadas!

Manquem-se, ó torquemadas!

Só a Humilìtas poderá instruir;

é hoje que se constrói o devir.

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Aqui, talvez fosse melhor ter escrito estabelecer o que é possível ser sabido com relativa segurança, pois, na verdade, tudo é passível de ser atualizado. Não podemos sequer ter certeza absoluta de que dois mais três é igual a cinco. Mas, com isto, não estou querendo dizer que dois mais três possa ser igual a quatro ou a seis; apenas estou reiterando que todas as verdades (que admitimos como verdades) são relativas.

2. Suspensão do juízo – também conhecida pelo termo grego epoché ou epokhé – significa 'colocar entre parênteses'. É a atitude de não aceitar nem negar uma determinada proposição ou juízo. Opõe-se ao dogmatismo, em que se aceita uma proposição obscura. A suspensão do juízo caracterizava a atitude dos céticos gregos, especialmente do filósofo grego e primeiro filósofo cético Pirro de Élis (c. 360 a.C. – c. 270 a.C.). Para os céticos, a epoché era a única atitude capaz de levar à imperturbabilidade. Eles afirmavam que duvidar do caráter bom ou mau de todas as coisas leva o indivíduo a não querer nem rejeitar coisa alguma, tornando-se imperturbável. Na Filosofia Moderna, especialmente na obra de Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de abril de 1859 – Friburgo, 26 de abril de 1938) e outros fenomenologistas, o termo epoché adquire um significado diferente. Ao invés de efetivamente chegar a negar a existência, a epoché fenomenológica implica a 'contemplação desinteressada' de quaisquer interesses naturais na existência. Em outras palavras, a suspensão de juízo fenomenológica não põe em dúvida a existência, mas se abstém de emitir juízos sobre ela. Husserl conclui que os fenômenos são incompreensíveis. A forma como ele resolveu este problema foi afirmar que os fenômenos podem ser intuídos, ou seja, a essência fica somente no campo sensorial. Sendo assim, ela é pré-reflexiva e se dá no irracional. Portanto, para compreendê-los temos que fazer a epoché, que nada mais é do que deixar de lado o racional, os julgamentos e os [pré-]conceitos. Com isto, ele reafirmou que a realidade é subjetiva.

3. Descartes fez esta afirmação (fora dos limites cabíveis porque foi generalizada) simplesmente porque era um Iniciado. Só a Iniciação vai abrindo as portas que velam a Compreensão. A Teologia e a Filosofia ajudam, mas não Libertam. A fé amortece, mas não esclarece.

4. Arquimedes de Siracusa (Siracusa, 287 a.C. – 212 a.C.) foi um matemático, físico, engenheiro, inventor, e astrônomo grego. Arquimedes é geralmente considerado o maior matemático da Antigüidade e um dos maiores de todos os tempos. Entre suas contribuições à Física, está a fundação da Hidrostática e da Estática, tendo descoberto a Lei do Empuxo e a Lei da Alavanca, além de muitas outras. Ele inventou ainda vários tipos de máquinas para uso militar e civil, incluindo armas de cerco e a bomba de parafuso que leva seu nome. Experimentos modernos testaram alegações de que, para defender sua cidade, Arquimedes projetou máquinas capazes de levantar navios inimigos para fora da água e colocar navios em chamas usando um conjunto de espelhos. Durante o Cerco à Siracusa pela República Romana (214 a 212 a.C.), Arquimedes foi morto por um soldado romano, mesmo após os soldados terem recebido ordens para que não o ferissem, devido a admiração que os líderes romanos tinham por ele. Anos depois, Marco Túlio Cícero (Arpino, 3 de janeiro de 106 a.C. – Formia, 7 de dezembro de 43 a.C.) descreveu sua visita ao túmulo de Arquimedes, que era encimado por uma esfera inscrita em um cilindro. Arquimedes tinha provado que a esfera tem dois terços do volume e da área da superfície do cilindro a ela circunscrito (incluindo as bases do último), e considerou esta como a maior de suas realizações matemáticas. É de Arquimedes a famosa frase: Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo. Arquimedes também ensinou: Brincar é condição fundamental para ser sério.

5. No Catecismo da Igreja Católica está afirmado: Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para se condenar de imediato para sempre. Não vou analisar esta sentença, que é absurda da primeira palavra à última, mas, cartesianamente, pergunto: qual o significado de para sempre? Posso descartesianamente exagerar e até me equivocar, mas penso que para sempre, em perpétuo movimento, só haja o próprio Universo, pois a energia universal mantenedora do Universo, desde sempre existente, não foi criada nem poderá destruída. Logo, se admitirmos que para sempre seja sinônimo de estaticidade, imobilidade, pois nada mudaria a partir de então, para sempre é uma contradição teológica, que só cabe no Catecismo como argumento ab absurdo. Assim é a fé, um castelo gigantesco erigido sobre absurdos, o que não justifica a razão, que, muitas vezes, pratica absurdos piores e mais constrangedores, como é o caso, por exemplo, da razão de Estado, que, quando invocada pelo Governo estabelecido, coloca seu interesse particular acima do interesse geral.

 

Castelo de Absurdos

 

5. Na verdade, este é um exercício místico-iniciático que todos nós deveríamos tentar fazer de vez em quando.

7. São exatamente as maneiras de pensar – cousismos – que, geralmente, nos aprisionam em ilusões, que sempre geram mais ilusões. A libertação das ilusões advém exatamente de nos conhecermos a nós próprios o melhor possível. Daí, a famosa frase Conhece-te a ti mesmo, que, segundo a tradição, é um aforismo grego que estaria inscrito nos pórticos do Oráculo de Delfos, originariamente de Pítia, em Delfos, na Antiga Grécia. Segundo algumas fontes, a frase é atribuída à primeira pitonisa deste oráculo, Femonoe. Conhece-te a ti mesmo é a pedra-angular da Filosofia de Sócrates e do seu método – conhecido como maiêutica (que significa parto das idéias), cujo objetivo era levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, ou seja, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida, de tal modo que as idéias fossem paridas no curso do diálogo – e é repetidamente citado pelo filósofo nos relatos de Platão. Enfim, o oráculo do templo teria proclamado Sócrates o homem mais sábio na Grécia, ao que Sócrates teria respondido com a célebre frase: — Só sei que nada sei.

8. Aqui, digamos assim, Descartes usou um modo particular de licença poética, pois, se Deus existe, e, em virtude de Sua onipotência, tudo criou, como poderia haver alguma coisa que não estivesse em Deus ou que estivesse fora do Seu divino abraço? Bem, eu não admito nem concordo com isto, pois, como já argumentei e afirmei inúmeras vezes, para que houvesse criação, seria preciso que as coisas criadas (por um Deus) fossem criadas a partir de uma espécie de nada. Mas, como o nada nunca existiu, não existe e não poderá existir como puro nada, o que foi, é e será inexistente não pôde, pode ou poderá dar existência ao que quer que seja, nem se fantasmagoricamente imaginássemos que antes do nada havia um outro nada, e, assim, sucessivamente, por retrospecção, até o primeiro nada... que, afinal, teria de derivar de um outro inexistente nada. Ora, este raciocínio-entendimento é válido também para a idéia de Deus, pois como poderia um Deus ter Se criado a Si mesmo? Do nada? Na verdade, a História nos ensina que, desde sempre, os deuses foram criados pelo homem, e, em nome deles, barbaridades e massacres foram (e continuam a ser) perpetrados. E o pior de todos os deuses criados pelo homem sempre foi o deus-guerra-vendetta-dinheiro. Enfim, quanto à toda esta especulação, o próprio Descartes afirmou: E daí se segue, não somente que o nada não pode produzir algo, mas, também, que aquilo que é mais perfeito (isto é, que mais realidade contém em si) não pode ser seqüência ou dependência de algo menos perfeito. [E aqui, mais uma vez, argumento: supondo que um nada pudesse existir, sendo ele, presumida, mas possivelmente menos perfeito do que a coisa criada, como este nada poderia produzir concertadamente uma coisa mais perfeita do que ele? Resposta: não poderia.]. Continua Descartes: E esta verdade não é só evidente naqueles efeitos que têm a realidade a que se chama formal ou atual, mas, particularmente, naquelas idéias onde só se considera realidade a que se chama objetiva. Por exemplo: a pedra, que não existe ainda, não poderá começar a existir agora, se não for produzida por qualquer coisa que, em si, não contenha formalmente ou eminentemente tudo o que entra na composição da pedra (isto é, por algo que não contenha em si as mesmas coisas ou outras coisas mais excelentes do que aquelas que existem na própria pedra). E também, por outro lado, o calor não pode ser produzido em qualquer sujeito que não o contenha, a não ser por coisa que seja ou de ordem, ou de grau, ou de gênero, pelo menos, tão perfeito como o mesmo calor, e assim por diante. Afora isto, a idéia de pedra ou a idéia de calor não poderão nunca existir se não forem postas em nós por uma causa que tenha, pelo menos, tanta realidade quanto a que nós concebemos na dita pedra ou no dito calor. Se admitirmos como verdadeiro este raciocínio cartesiano, o deus-guerra-vendetta-dinheiro, ao qual me referi mais acima, é produzido, e só pode(rá) ser produzido, porque, no homem, ainda prevalecem o desentendimento, a cobiça, a avarícia e a malevolência hostil, caliginosa, desumana, desfraterna, oportunista e um rosário perverso de sei-lá-mais-o-quês. Por isto, desde o Período de Saturno até o atual Período Terrestre, muitos foram e têm sido chamados, mas nem todos têm tido o mérito para poder ser escolhidos. E desta segunda metade do Período Terrestre ao Período de Vulcano – o último deste ciclo em andamento – muitos continuarão a ser chamados, mas quantos empedrarão e não poderão ser escolhidos? Isto eu não sei. Quem poderá saber? O que eu sei é que muitos Deuses agem como se demônios fossem, pois não sabem (e não se importam em querer saber) que são Deuses! De maneira geral, inconscientemente, estes Deuses são demonólatras, e, se não mudarem, pela ação inexorável da Lei de Causa e Efeito, empedrarão (entropizarão). Mas, se dependesse de mim, ninguém empedraria (entropizaria); todos seriam escolhidos. Por isto, só pararei o que estou fazendo quando for parado pela Iniciação Transicional.

 

 

Vulcano (PV) derivando de Saturno (PS)

 

 

 

É filme, mas é maldade,
que é imitada pelos demonólatras!

 

 

9. Aqui, cabe perguntar: o que é perfeição? Para além de uma suposta existente perfeição, haverá ou não haverá maior perfeição possível? O que presumimos ser perfeito é perfeito para sempre ou será a perfeição apenas um estado relativo e transitório, sendo possíveis perfeições sempre maiores, melhores e mais concertadas? O próprio Descartes respondeu; seria impossível atingir jamais um grau tão elevado de perfeição que não fosse suscetível de aumentar ainda. Lembremos da máquina a vapor – as primeiras tendo sido construídas na Inglaterra durante o século XVIII. O motor à reação – também conhecido como motor a jato ou, ainda, apenas como reator – é um motor que expele um jato rápido de algum fluido para gerar uma força de impulso, de acordo com Terceira Lei de Newton, e nada mais é do que um aprimoramento da velha máquina a vapor. No futuro, talvez, entremos em um sei-lá-o-quê e sejamos transportados, de corpo e alma, daqui para não-sei-onde. O busílis é se lá em não-sei-onde haverá também um sei-lá-o-quê para nos trazer de volta.

 

Máquina a Vapor

 

10. Por isto, a auto-humilhação e a autoflagelação são, além de inúteis, uma atitude ignorante, pois, como asseverou Descartes, basta ser finito para poder errar. Então, erramos todos, e a coisa é como diz a música: Errei, sim/Manchei o teu nome... Quem queira me condenar/Que venha logo/A primeira pedra me atirar. (In: Errei, sim, de Ataulfo Alves de Souza).

11. Não sei, efetivamente, se este é o melhor caminho para se buscar a perfeição, pois, aquelas causas que perfeitamente concebemos e as outras que concebemos obscura e confusamente, hoje, são o que são – para nós, a depender do caso, perfeitas ou obscuras e confusas – porque estão e são dependentes de nossa cultura e do ambiente em que nascemos, fomos educados e vivemos. Em suma: todas as causas que concebemos são relativas, e nos aprisionam mais ou menos. A coisa é, por exemplo, como acreditar piamente em céu e inferno como coisas perfeitamente concebidas e estabelecidas, e rejeitar in limine a Lei de Conseqüência e a Lei da Necessidade. Ora, no futuro, o que antes era perfeitamente concebível e estabelecido haverá, muito provavelmente, de passar a ser imperfeito ou obscuro, e vice-versa – uma conquista de (re)encarnações diligentes e meritórias. Mas, ninguém deve recomendar um caminho para ninguém; cada qual deverá escolher o que melhor se adéqüe à sua personalidade. O certo é que, seja qual for o caminho, deveremos ter sempre em mente a plena noção socrática de douta ignorância: — Sei que nada sei. Ora, se é incontestável que só a compreensão liberta, igualmente não pode ser objeto de contestação que para se alcançar a compreensão é necessário ter humildade. Não foi à-toa que São Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225 – Fossanova, 1274), afirmou: A humildade é o primeiro degrau para a Sabedoria.

12. Na Geometria Euclidiana, de acordo com o Teorema Angular de Tales, a 32ª proposição de Euclides afirma que a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a dois ângulos retos. Isto permite a determinação da medida do terceiro ângulo, desde que sejam conhecidas as medidas dos outros dois ângulos.

 

Geometria Euclidiana

 

13. Mais ou menos será sempre mais ou menos – um empenho inacabado, uma espécie de meia-sola, meio que um deixapralá-que-assim-tá-bom. Não, não pode ser assim. Constante e continuamente, é necessário considerar todas as coisas com toda a diligência possível. Por isto, quem vive satisfeito consigo mesmo – com o que já alcançou ou pensou que compreendeu é meio que um bonacheirão incompleto, que se julga repleto e completo, mas que nada tem de concreto, incapaz, na verdade, de unificar as ilusórias multiplicidades.

14. Sim, concordo: há diferença entre imaginação e pura intelecção. Mas, não esqueçamos da advertência de Albert Einstein (Ulm, 14 de março de 1879 – Princeton, 18 de abril de 1955): A imaginação é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve o mundo. Todavia, a imaginação é limitada, como explica o próprio Einstein: No esforço para compreender a realidade, somos como um homem tentando entender o mecanismo de um relógio fechado. Ele vê o mostrador e os ponteiros, ouve o seu tique-taque, mas não tem meios para abrir a caixa. Se este homem for habilidoso, poderá imaginar um mecanismo responsável pelos fatos que observa, mas nunca poderá ficar completamente seguro de que sua hipótese seja a única possível. Todavia, indubitavelmente, a imaginação é uma ferramenta insubstituível para a concretização de progressivos alargamentos e crescentes coerentizações, ainda que não possamos ficar completamente seguros de que nossas hipóteses sejam as únicas possíveis.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Ren%C3%A9_Descartes

http://renedescar.blogspot.com/
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http://www.zptweb.net/modules.php?name=My_eGallery
&file=index&do=showgall&gid=5&offset=40&orderby=titleA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Quadratura_do_c%C3%ADrculo

http://midimagic.sgc-hosting.com/
anitrig.htm

http://curvebank.calstatela.edu/
slope/slope.htm

http://izismile.com/2011/10/02/
top_25_gifs_of_the_week.html

http://izismile.com/2009/06/16/how_
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http://www.gifmania.com.co/
objetos_oficina/compas/

http://pt.wikipedia.org/wiki/
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http://pt.wikipedia.org/wiki/
Conhece-te_a_ti_mesmo

http://catecismo-az.tripod.com/
conteudo/a-z/m/morte.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquimedes

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http://jornallivrepensador.blogspot.com/

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http://pt.wikipedia.org/wiki/
Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa

http://www2.potsdam.edu/
parksjm/Puzzle80.htm

http://www.miqel.com/fractals_math_
patterns/visual-math-platonic.html

http://www.myspace.com/
bodyandsoulnyc/blog/347436394

http://pt.wikipedia.org/wiki/
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http://pt.wikipedia.org/wiki/
Index_Librorum_Prohibitorum

http://educacao.uol.com.br/biografias/
rene-descartes.jhtm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ego_cogito_ergo_sum

http://pt.wikipedia.org/wiki/Medita%C3%
A7%C3%B5es_Metaf%C3%ADsicas

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ren%C3%A9_Descartes

http://afiliados.submarino.com.br/

http://www.4shared.com/get/UQsA0S9-/
meditaes_metafsicas_-_Ren_Desc.html

 

Música de fundo:

Eu sou pobre, pobre, pobre

Fonte:

http://www.4shared.com/get/oaxtZP-z/
12_-_Eu_sou_pobrepobrepobre.html