MEU BARCO NAUFRAGOU
(O Retrato de Dorian Gray)

 

 

 

O Retrato de Dorian Gray

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Todas as noites, quando adormecemos, mudamos nossa consciência, mas, também, mudamos todos os dias, toda vez que fazemos uma coisa e pensamos em outra. Dormindo e acordando, sonhando e fantasiando cem vezes por dia... Quem conta isso como estados alterados de consciência? Seja como for, todos esses estados alterados – [seja pensando, seja falando, seja em cada movimento que fazemos] são responsabilidade nossa. [Ou fazemos o nosso dever de casa direitinho ou seremos reprovados na escola da vida.] Uma coisa que precisamos refletir: não aceitar as etapas de um processo implica em não ceder ao resultado. [Recusar e rejeitar o massacre e o sofrimento dos nossos irmãos da 3ª Hierarquia e se alimentar de carne animal é uma sesquipedal e ininteligível incoerência!] Enfim, só saberemos que, de fato, mudamos, quando o que parecia certo para nós não parecer mais ser, [e passarmos a agir de acordo com esses princípios morais]. O fato é que, dia-a-dia, vamos pintando um retrato digital único do que seremos; cada sim, cada não e cada omissão são pequenos pontos em nosso retrato. Quanto mais decididos, dignos e honestos formos, mais clara e mais bonita ficará a nossa pintura. Tudo, no mundo da nossa consciência, que, na verdade, é o único mundo que existe para nós, passa pelas nossas anuências e pelos nossos desconsentimentos. O que não nos interessa poderemos mudar; [o que nos interessa poderemos manter e aprimorar]. Por isso, não adianta nos queixarmos nem reclamar dos acontecimentos e das falhas dos outros conosco. Somos nós quem deveremos fazer os consertos e os ajustes, não os outros. Poeticamente, é assim: [no TEMPO (que não é tempo)] antes que o tempo nascesse, Eu-sou; quando o tempo acabar, [no TEMPO (que não é tempo)], Eu-sou. [In: Asas Para Viver (Running from Safety: An Adventure of the Spirit), de autoria de Richard Bach.]

 

 

O Retrato de Dorian Gray
(Cada qual pinta o seu retrato como quer e como deseja,
mas, um dia, será responsabilizado pela pintura que fizer.)

 

 

Sim, sim, sim. Sou favorável, no Brasil,
ao retornamento dos anos de chumbo,
dos tribunais de exceção,
do medo de se tornar um investigado,
de ser preso e de acabar supliciado,
das acusações sem provas,
das denúncias infundadas,
das prisões ilegais,
dos canhões transitando na rua,
de soldados, querendo ou não,
marchando, de armas na mão,
das baionetas discursando nas esquinas
e das botinas calcando,
de uma novinha Operação Condor,
da reconstrução de casas da morte
e de um viveiro de 'Boa constrictors',
de suicídios fabricados,
de sumiços programados,
de cadáveres não encontrados,
de expatriações forçadas,
de famílias despedaçadas,
de sindicatos fechados,
de gabirobas derrubadas,
de explicações despropositadas,
de, a qualquer preço, uma intervenção militar,
dos militares, de novo, brilhando no poder,
da extrema-direita ditando as regras
e estabelecendo as normas,
do Roberto Jefferson como Ministro da Defesa,
do Anderson Torres como Ministro da Justiça,
do Alberto Fujimori como Ministro das Relações Exteriores,
do fantasma do Adolf Eichmann como Ministro dos Direitos Humanos,
do espectro do Josef Mengele como Ministro da Saúde,
do deputado Justo Veríssimo como Ministro do Desenvolvimento
e Assistência Social, Família e Combate à Fome,
do pastor Valdemiro Santiago como Ministro da Agricultura e dos Feijões Mágicos,
do Missionário R. R. Soares como Ministro da Inovação e da H2O Consagrada,
do Frei Serapião como Ministro da Cultura e das Tentações,
do Professor Aquiles Arquelau como Ministro da Educação e das Múmias Paralíticas,
da reencarnação da ditadura, no peito e na raça,
da reedição de atos institucionais duríssimos,
da volta da tortura e da censura,
de silenciar todos os pensadores,
da extinção de mandatos públicos eletivos,
do fechamento do Congresso Nacional,
das Assembléias Legislativas dos estados
e do Supremo Tribunal Federal,
do zeramento do Tribunal Superior Eleitoral
e do fim do processo eleitoral,
do banimento dos comunistas,
do desterro dos esquerdistas,
da demolição instantânea da Democracia,
do desmantelamento da ordem pública,
do fim dos direitos individuais
e da soberania popular,
da intervenção nos estados e nos municípios,
dos toques de recolher,
da suspensão do 'habeas corpus',
da destituição sumária de funcionários públicos,
da cassação dos direitos políticos,
de todas as news
que desinformem o povão,
do bloqueio das estradas,

da minuta do decreto e da
instalação do estado de defesa,
da não-posse do Sr. Lula,
de um golpe militar imediato,
de uma nova vandalização das sedes
dos Três Poderes, em Brasília,
já que em 8 de janeiro de 2023 não foi possível,
de ver o circo pegar fogo,
de ver os democratas carbonizados,
de ver a sucumbência da alegria e da felicidade...

E, tal qual Dorian Grey,1
vou pintando meu retrato digital
mais horrendo do que o dele.

Quando meu tempo acabar,
a hora derradeira pintar
e o meu cuco me prevenir e anunciar,
sei que Eu-sou se tornará eu-não-sou,
o-que-não-é tomará o lugar de O-QUE-É,
pois, o que eu poderia ter sido não fui.

Eu joguei minha encarnação no lixo,
me tornei um mago negro,
meu demônio me dominou,
meu Deus Interior se calou,
minha Luz se apagou,
e, lentamente, meu Barco soçobrou.

 

 

 

 

_____

Nota:

1. O Retrato de Dorian Gray (em inglês: The Picture of Dorian Gray) é um romance filosófico do escritor, poeta e dramaturgo irlandês Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde, ou, simplesmente, Oscar Wilde (Dublin, Irlanda, 16 de outubro de 1854 – Paris, 30 de novembro de 1900).

 

Música de fundo:

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores
Composição e interpretação: Geraldo Vandré

Fonte:

https://archive.org/details/GeraldoVandrePraNaoDizerQueNaoFaleiDasFlores

Da História:

Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (também conhecida como Caminhando) é uma canção escrita e interpretada por Geraldo Vandré. Ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968. Teve sua execução proibida durante anos, após se tornar um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar brasileira, e ser censurada. A canção ficou em vigésimo oitavo lugar na lista das 100 Maiores Músicas Brasileiras de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil. A classificação da música em segundo lugar, sendo a favorita disparada do público, rendeu episódios de fúria popular contra os jurados, xingados e com seus carros danificados à saída do evento. A atriz Bibi Ferreira, uma das juradas que tiveram seu carro atacado, deu a maior nota da noite à canção e saiu do estádio do Maracanãzinho decepcionada com o resultado. Ziraldo, por exemplo, outro dos jurados, deu nota 10 para Caminhando e 5 para as outras músicas, inclusive a vencedora. Apenas em 1991, Walter Clark, diretor-geral da Rede Globo de Televisão na época, a organizadora e transmissora do festival, revelou em sua autobiografia que a direção da emissora recebeu ordens do Comando do I Exército para que nem Caminhando nem América, América, de César Roldão Vieira, extremamente críticas ao Governo, vencessem o festival. Boni, o segundo em comando da rede, anos depois declarou que o júri tinha sido soberano e não sofrera nenhuma pressão, desconhecendo o fato narrado por Walter Clark. O festival foi vencido por Sabiá, de Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim. Anos mais tarde, Boni confessou que ver Tom e Chico sendo vaiados era doloroso, e Vandré ter perdido dava uma sensação de vazio.

Fonte:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pra_N%C3%A3o_Dizer_Que_N%C3%A3o_Falei_das_Flores

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.taringa.net/

https://www.youtube.com/watch?v=pFYcqeIxIac

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/

https://documentosrevelados.com.br/

https://blogdopedlowski.com/2015/10/15/e-la
-se-foi-impune-brilhante-ustra-o-mega-torturador/

https://blog.enem.com.br/3988/

https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/

https://www.gratispng.com/png-lvavsk/

https://www.todamateria.com.br/operacao-condor/

https://www.goodreads.com/

 

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