MEA CULPA

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Eu não sinto culpa de nada!

 

 

 

 

A história é a seguinte: o filho vai a um passeio escolar, mas, quando já está dentro do ônibus, é avisado pela monitora que necessitará de dinheiro para poder esquiar. Então, através de mímica, ele pede ao pai, pela janela, o dinheiro para o bilhete.

 

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É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que, de ferida em ferida,

a paz está a ser deludida!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que são obradas desfeitas,

que guerras são feitas!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que é usada a espada,

que se extingue por nada!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que o olvido e a alarida

obcecam a Santa Vida!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras

– contra o céu e contra a Terra –

que o insapiens aberra!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que São Jorge vai a cavalo!

E a coisa vai pelo ralo!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

O!, nem por empréstimo!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que os estorvos irrompem,

que os males prorrompem!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que choramos nossa culpa:

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que pedimos clemência...

Sempre a trivial inadimplência!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que cedemos à quimera!

E erguendo a mão... Hera!2

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras

– o bestunto em maresia2a

que valorizamos a desvalia!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que muitos festejam o Natal

como se fosse um carnaval!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que falhamos, pensando:

Deus, até quando, até quando?

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que queremos o inquerível

desquerendo o querível!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que dormimos e roncamos!

Mas o tempo não é Tempo.

 

É por estas e outras,

e também por aqueloutras,

que – caindo e ficando –

desencarnamos miando!

E o tempo sentirá o Tempo...

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A origem da expressão mea culpa, mea maxima culpa vem da prece tradicional da Missa da Igreja Católica conhecida como Confiteor (latim para eu confesso), na qual o fiel reconhece seus erros perante Deus. O texto tradicional em latim é: Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Joanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et tibi pater: quia peccavi nimis cogitatione verbo, et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, et te Pater, orare pro me ad Dominum Deum Nostrum. Eu pecador me confesso a Deus todo-poderoso, à sempre bem-aventurada Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Batista, aos santos apóstolos são Pedro e são Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, porque pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e obras, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Portanto, rogo à sempre bem-aventurada Virgem Maria, ao bem-aventurado são Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado são João Batista, aos santos apóstolos são Pedro e são Paulo, a todos os Santos e a vós, Padre, que rogueis a Deus Nosso Senhor por mim.

Fonte desta nota:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mea_culpa

2 e 2a. ... E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade. Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal. in: Eros e Psique, Fernando Pessoa. Este poema foi publicado pela primeira vez in Presença, números 41 e 42, Coimbra, maio de 1934. Com relação à esta citação, que encabeça este poema, diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico Adolfo Casais Monteiro (Porto, 4 de julho de 1908 – São Paulo, 23 de julho de 1972), em carta a este último: A citação, epígrafe ao meu poema 'Eros e Psique', de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é fato que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus desta Ordem, extinta ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.

 

Eros e Psique

 

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

 

Música de fundo:

Mea Culpa
Composição: Hubert Giraud & Michel Rivgauche
Interpretação:
Edith Piaf

Fonte:

http://beemp3.com/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://en.wikipedia.org/wiki/File:Clock.gif

http://animation.dinamobomb.net/1/110.htm

http://www.illusionspoint.com/illusions/
animated-optical-illusions/page/5/

http://blog.audimated.com/audimated-com-2
/mea-culpa-audimated-emails/