MATÉRIA-PRIMA
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Rodolfo Domenico Pizzinga
Eu
reclamo... Tu reclamas...
Eu
condeno... Tu condenas...
Eu
inflamo... Tu inflamas...
Eu
enveneno... Tu envenenas...
Eu
sei que sou corrupto...
Tu
sabes que és desonesto...
Eu
sei que vivo interrupto...
Tu
sabes que vives congesto...
Não.
Ninguém pode viver assim!
É
preciso trocar o não pelo sim:
O
SIM da
Não
o sim do intolerante religioso
— Que
é falso e, muitas vezes, odioso.
Mas
o SIM que transmutará o
PARA
MEDITAR
Precisa-se
de Matéria-Prima
Para Construir um País
João Ubaldo Ribeiro
(Texto retirado do Jornal do Meio Ambiente de 14/11/05)
A
crença geral anterior era que Collor não servia,
bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula
não serve. E o que vier depois de Lula também
não servirá para nada. Por isso estou começando
a suspeitar que o problema não está no ladrão
corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula.
O problema está em nós. Nós como POVO.
Nós como matéria prima de um País. Porque
pertenço a um País onde a ESPERTEZA
é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou
mais do que o dólar. Um País onde ficar rico
da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do
que formar uma família, baseada em valores e respeito
aos demais. Pertenço a um País onde, lamentavelmente,
os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros
Países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas
onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ
JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço
ao País onde as EMPRESAS PRIVADAS são
papelarias particulares de seus empregados desonestos, que
levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis,
canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o
trabalho dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço
a um País onde a gente se sente o máximo porque
conseguiu 'puxar' a tevê a cabo do vizinho,
onde a gente frauda a declaração de imposto
de renda para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço
a um País onde a impontualidade é um hábito.
Onde os diretores das empresas não valorizam o capital
humano.
Onde
há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram
lixo nas ruas e depois reclamam do Governo por não
limpar os esgotos.
Onde
pessoas fazem 'gatos' para roubar luz e água
e nos queixamos de como esses serviços estão
caros.
Onde
não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso
atual Presidente, que recentemente falou que é 'muito
chato ter que ler') e não há consciência
nem memória política, histórica nem econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para
aprovar projetos e leis que só servem para afundar
ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar
só a alguns. Pertenço a um País onde
as carteiras de motorista e os certificados médicos
podem ser 'comprados', sem fazer nenhum exame. Um
País onde uma pessoa de idade avançada, ou uma
mulher com uma criança nos braços, ou um inválido,
fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está
sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um País
no qual a prioridade de passagem é para o carro e não
para o pedestre. Um País onde fazemos um monte de coisa
errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto
mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor
me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem 'molhei'
a mão de um guarda de trânsito para não
ser multado. Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado,
melhor sou eu como brasileiro, apesar de ainda hoje de manhã
ter passado para trás um cliente através de
uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como
'Matéria-Prima' de um País, temos muitas coisas
boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres
que nosso País precisa.
Esses
defeitos, essa 'ESPERTEZA BRASILEIRA' congênita,
essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e
evolui até se converter em casos de escândalo,
essa falta de qualidade humana – mais do que Collor,
Itamar, Fernando Henrique ou Lula – é que é
real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros
como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos
aqui, não em outra parte... Me entristeço.
Porque,
ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente
que o suceder terá que continuar trabalhando com a
mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos
nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa
fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar
um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios
que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu
Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique,
e nem serve Lula, nem servirá o que vier.
Qual
é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para
que nos faça cumprir a lei com a força e por
meio do terror?
Aqui
faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa'
não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima
para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente
sacaneados!!! É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando
essa brasilidade autóctone começa a ser um empecilho
às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação,
aí a coisa muda... Não esperemos acender uma
vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós
temos que mudar: um novo governador com os mesmos brasileiros
não poderá fazer nada.
Está
muito claro...... Somos nós que temos que mudar.
Sim,
creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo:
desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão
nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É
a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora,
depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável,
não para castigá-lo, senão para exigir-lhe
(sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não
se faça de surdo, de desentendido. Sim, decidi procurar
o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO
ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO
PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E
você, o que pensa?.... MEDITE!!!!!
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