Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Martinho Lutero

 

 

 

 

 

Alemanha, 1517. É o dia 31 de outubro, e o jovem monge católico apostólico romano Martinho Lutero prega às portas da catedral da Cidade de Wittenberg as suas 95 Teses que mudariam a história da Cristandade. Esta, manipulada pelo corrupto Vaticano, era extorquida com base no medo do inferno; e os fiéis não tinham acesso aos livros sagrados da Igreja, escritos em latim e em grego, não podendo, portanto, verificar se os atos do Papa se baseavam realmente na Sagrada Escritura. Lutero, considerado um genial professor de Teologia, queria mudar as coisas, fazendo uma reforma pela Rosa (o amor a Cristo e o amor de Cristo) e pela Cruz (o símbolo das injunções que geram a evolução). Mas a reforma acabou sendo feita pela espada, com aproximadamente 100.000 mortos: a turba enfurecida, despertada de sua letargia católica pelas palavras do revolucionário religioso, invadiu as igrejas, saqueando e matando, instigada por agitadores que malversaram as idéias espirituais do monge. Mas Lutero encontrou apoio político e conseguiu mudar a posição dos nobres que se associavam ao Vaticano para fortalecer seu poder temporal. Lutero conseguiu fazer isto traduzindo para o alemão o Novo Testamento – o que colocou a palavra de Deus ao alcance do entendimento de todo o povo. E mais: segundo muitos estudiosos, Lutero e os teólogos que o seguiram parecem ter sido os verdadeiros fundadores do Movimento Rosacruz, na Renascença. Um desses teólogos, Johann Valentin Andreae ou Johannes Valentinus Andreæ (1586-1654), seria possivelmente o autor dos famosos Manifestos R+C (Fama Fraternitatis, Confessio Fraternitatis e Núpcias Químicas de Christian Rosenkreuz). A idéia parecia ser: resgatar do ranço religioso a essência esotérica dos ensinamentos do Cristo Jesus, a Rosa de Sharon pregada na Cruz do Mundo (o suposto karma da Humanidade).

 

 

 

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Trabalho

 

 

 

Há revoluções e revoluções e revolucionários e revolucionários. Quando se fala ou se pensa em revolucionários, pode-se lembrar, por exemplo, de Spartacus, (120 a. C. – 70 a. C.), gladiador de origem trácia e líder da mais célebre revolta de escravos contra o Império Romano na Roma Antiga; pode-se lembrar de Tupac Amaru (morto em 24 de setembro de 1572), último líder indígena do povo inca da época da conquista espanhola; pode-se lembrar de Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (30 de maio de 1814 – 1º de julho de 1876), que defendia que as energias revolucionárias deveriam ser concentradas na destruição das coisas, no caso, o Estado, e não das pessoas; pode-se lembrar de Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar Palacios y Blanco (24 de julho de 1783 – 17 de dezembro de 1830), militar venezuelano e líder revolucionário responsável pela independência de vários territórios da América Espanhola; pode-se lembrar de Fidel Alejandro Castro Ruz (13 de agosto de 1926), líder cubano, por um lado contestado, por outro admirado, principalmente pela sua ideológica e forte resistência às influências comerciais e sociológicas dos Estados Unidos da América; pode-se lembrar de Ernesto Rafael Guevara de la Serna, mais conhecido por Che Guevara ou El Che (14 de junho de 1928 – 9 de outubro de 1967), considerado pela revista norte-americana Time Magazine uma das cem personalidades mais importantes do século XX; pode-se lembrar de Rosa Luxemburgo (5 de março de 1871 – 15 de janeiro de 1919), doutora em Ciências Políticas, filósofa marxista e militante revolucionária polonesa; pode-se lembrar de Zumbi dos Palmares (1655 – 1695), último dos líderes do Quilombo dos Palmares; e pode-se lembrar também, entre tantos outros revolucionários e revolucionárias, de Olga Gutmann Benario (12 de fevereiro de 1908 – 23 de abril de 1942), jovem militante comunista alemã de origem judaica, incumbida de participar, ao lado do militar e político comunista brasileiro Luís Carlos Prestes (3 de janeiro de 1898 – 7 de março de 1990), da realização de uma Revolução Comunista no Brasil, extraditada grávida pela ditadura positivista-getulista para a Alemanha nazista para ser morta, em fevereiro de 1942, em uma câmara de gás em um campo de extermínio de Bernburg pelo regime nazista, um pouco antes de completar 34 anos.

 

Todavia, homens como Martinho Lutero (10 de novembro de 1483 – 18 de fevereiro de 1546), cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, também podem e devem ser considerados revolucionários. Revolucionários no domínio das idéias. Como Akhnaten. Como Jesus. Como o Profeta Muhammad. Lutero, queiram os católicos ou não, mudou a história do Catolicismo para sempre. Pelo menos, já não se vendem mais indulgências!

 

E, como Lutero, de alguma forma, segundo alguns pensadores, talvez possa ter estado vinculado ao incipiente e oculto Movimento Rosa+Cruz de seu tempo, o objetivo deste trabalho foi o de garimpar alguns de seus pensamentos que possam, de alguma forma, estar próximos da Metafísica Rosacruz contemporânea (século XXI). Entretanto – e isto não pode ser omitido – há muitos historiógrafos, talvez a maioria, que refutam esta idéia, pois argumentam que Lutero desconhecia completamente a simbologia esotérica associada à Rosa Vermelha e à Cruz Dourada, pois, historicamente, o Rosacrucianismo só apareceu publicamente no século XVII. Contudo, se observarmos atentamente uma das várias apresentações do símbolo oficial de Lutero, veremos que há, com pequenas diferenças, uma similaridade incontestável com antigos símbolos Rosacruzes. Observe a Rosa de Lutero (também conhecida como Selo ou Brasão de Lutero) abaixo. Ela é uma mandala (representação do mundo) e um testemunho e resumo gráfico da fé cristã luterana de uma forma simples e completa – um Caminho rumo ao Coração de Deus (o Deus de nossos Corações, o Deus de cada Coração). Ora, seja como for – e o como for não importa absolutamente nada no âmbito da Peregrinação Mística – isto é Rosacrucianismo em sua forma mais pura e essencial.

 

 

Rosa de Lutero

A Rosa de Lutero
(VIVIT = Ele vive)

 

O próprio reformador Martinho Lutero a desenhou durante sua permanência na Fortaleza de Coburgo, e explicou o seu significado espiritual em uma carta enviada a Lazarus Spengler (1479-1534), datada de 8 de julho de 1530, da seguinte forma:

 

Graça e paz por parte do Senhor. Como você deseja saber se o selo pintado, que você me enviou, acertou o alvo, devo responder de forma amigável e lhe dizer sobre meus pensamentos e razões originais, porque meu selo é um símbolo da minha teologia.

Primeiro, deve haver uma cruz negra dentro de um coração – o qual retém a sua cor natural – para que eu seja lembrado de que a fé no Cristo Crucificado nos salva. Pois quem crê de coração será justificado. (Romanos, X, 10). Embora seja uma cruz negra, que mortifica e que também deva causar dor, ela deixa o coração em sua cor natural. Ela não corrompe a natureza, isto é, ela não mata, mas o mantém vivo. 'O justo viverá pela fé.' (Romanos I, 17). Mas pela fé no Crucificado.

Tal coração deve estar no meio de uma rosa branca, para mostrar que a fé dá alegria, conforto e paz. Em outras palavras: ela coloca o crente em uma rosa branca de alegria, pois esta fé não dá paz e alegria como o mundo dá. (João XIV, 27). É por isso que a rosa deve ser branca, e não vermelha, pois o branco é a cor dos espíritos e dos anjos. (Conforme Mateus XXVII, 3 e João XX, 12).

Tal rosa deve estar em uma área de azul celeste, simbolizando que tal alegria em espírito e fé é o começo da futura alegria celestial, que já começa, mas que é obtida em esperança, pois ainda não é revelada.

Ao redor desta área, está um círculo dourado simbolizando que tal bênção, no céu, dura para sempre; é sem fim. Tal bênção vai além de toda a alegria e de todos os bens, assim como o ouro é o melhor metal, o mais valioso e o mais precioso.

Este é o meu Compendium Theoligæ [o sumário da Teologia]...

 

Mas, não deve ter sido por acaso que o Dr. Harvey Spencer Lewis – Sâr Alden – (25 de novembro, 1883 - 2 de agosto, 1939), fundador do 2º Ciclo Iniciático da Ordem Rosacruz AMORC, inspirado pregador evangélico de seu tempo antes de se tornar Imperator da Ordem Rosacruz, tenha recomendado aos membros da Ordem que apoiassem uma Igreja de sua comunidade. Também penso que não seja por acaso que os dirigentes do Rose+Croix Journal tenham escolhido como logotipo um símbolo que se assemelhe à Rosa de Lutero, só que, entre outras diferenças, a Cruz não é negra e a Rosa não é branca.

 

 

 

 

 

Por tudo isto, repito, o objetivo místico-histórico-jornalístico deste despretensioso texto foi tão-somente garimpar alguns de seus pensamentos (particularmente derivados de suas 95 Teses) que possam, de alguma forma, estar próximos da Metafísica Rosacruz contemporânea (século XXI). A pesquisa não está acabada e muito menos fechada. Novas idéias sobre esta matéria serão benvindas, desde que isentas de preconceitos e de opiniões ou sentimentos, favoráveis ou desfavorávis, concebidos emocionalmente e sem exame crítico.

 

Mas, o que realmente importa? Acima das coincidências e das incoincidências, acima das concordâncias e das discrepâncias, acima do que queremos que seja e do que queremos que não seja – acima de tudo – importa que, com humildade e tolerância, aprendamos a ser fraternos, solidários e magnânimos. Todavia, isto só será possível quando realizarmos mística e internamente a primeira de todas as Leis Cósmicas: Somos todos UM no seio do incriado e sempiterno TODO-UM. Dele viemos, e, de uma forma ou de outra, a Ele voltaremos.

 

 

 

Somos Todos UM
no seio do Incriado e Sempiterno TODO-UM

 

 

Por último, informo que o material de consulta e os Websites consultados para elaborar este resumo estão referenciados ao final do trabalho.

 

 

 

Biografia de Martinho Lutero

 

 

 

Martinho Lutero era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público, melhorando assim as condições da família. Com este objetivo, enviou o jovem Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.

 

Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e recebeu o apelido de O Filósofo. Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito dessa Universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade, com descargas elétricas, ocorrida neste mesmo ano (1505): ao voltar de uma visita à casa dos pais, um raio caiu próximo de onde ele estava. Aterrorizado, gritara então: — Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!

 

Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu os seus livros com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt, a 17 de julho de 1505.

 

O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à sua vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação entregando-se a muitas horas diárias de oração, às autoflagelações, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados.

 

Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastá-lo de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508 começou a lecionar Teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu Bacharelado em Estudos Bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.

 

Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se em Doutor em Teologia e, em 21 de outubro deste ano, foi recebido no Senado da Faculdade Teológica com o título de Doutor em Bíblia. Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem, tendo sob sua responsabilidade onze monastérios. Durante este período estudou grego e hebraico, para se aprofundar no significado e na origem das palavras utilizadas nas Escrituras – conhecimentos que logo utilizaria para a sua tradução da Bíblia.

 

O desejo de obter os graus acadêmicos levou Lutero a estudar as Escrituras em profundidade. Influenciado por sua formação humanista de buscar ad fontes (nas fontes primárias), mergulhou nos estudos sobre a Igreja Primitiva. Devido a isto, termos como penitência e honestidade ganharam novo significado para ele, já convencido de que a Igreja havia perdido sua visão de várias das verdades do Cristianismo ensinadas nas Escrituras - sendo a mais importante delas a Doutrina da Justificação1 apenas pela fé. Ele começou a ensinar que a Salvação era um benefício concedido apenas por Deus, dado pela Graça divina através de Jesus Cristo e recebido apenas por intermédio da a fé.

 

Mais tarde, Lutero definiu e reintroduziu o princípio da distinção própria entre a Torá (Leis Mosaicas) e os Evangelhos, que reforçavam sua Teologia da graça. Em conseqüência, Lutero acreditava que seu princípio de interpretação era um ponto inicial essencial para o estudo das Escrituras. Notou, ainda, que a falta de clareza na distinção da Lei e dos Evangelhos era a causa da incorreta compreensão dos Evangelhos de Jesus pela Igreja de seu tempo, instituição a quem responsabilizava por haver criado e fomentado muitos erros teológicos fundamentais.

 

Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava como pregador e confessor na Igreja de Santa Maria, na Cidade. Também pregava habitualmente na Igreja do Castelo (chamada de Todos os Santos - por causa de ali haver uma coleção de relíquias estabelecidas por Frederico II, de Sabóia). Foi durante este período que o jovem sacerdote deu-se conta dos efeitos em se oferecer [e vender] indulgências aos fiéis como se fossem fregueses.

 

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal que alguém permanece devedor por conta dos seus pecados, de cuja culpa tenha se livrado pela absolvição. Naquele tempo, qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as Reformas da Basílica de São Pedro, em Roma.

 

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517, foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Estas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. Para todos os efeitos, Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

 

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas haviam se espalhado por toda a Alemanha, e em dois meses por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel primacial, pois facilitava uma distribuição simples e ampla de qualquer documento.

 

Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo ser ele um alemão bêbado que escrevera as teses, e afirmando que quando estiver sóbrio mudará de opinião, o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao professor de Teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero um herege, e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal sobre a Igreja e condenava cada desvio como uma apostasia.

 

Lutero replicou de igual forma, dando assim início à controvérsia. Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos, em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou até ao ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas da Tesouraria da Igreja e da Tesouraria dos Merecimentos, que serviam para reforçar a doutrina e a venda das indulgências, haviam se baseado na bula papal Unigenitus, de 1343, do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca, e o Papa, decidido a suprimir por completo suas opiniões, discordâncias e pregações, ordenou que Lutero fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.

 

Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, passou a negar, agora, abertamente a autoridade papal, e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original.

 

Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburgo, em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, como também a escrever uma humilde carta ao Papa e compor um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta escrita nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação. E no tratado, que compôs mais tarde, Lutero negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.

 

Quando Johann Eck, em Carlstadt, desafiou um colega de Lutero para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho – 18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o poder das chaves, que, segundo ele, haviam sido outorgados à Igreja (como congregação de fé). Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a de João Huss, que havia sido queimado numa fogueira.

 

Enfim, não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero circulavam amplamente, alcançando a França, a Inglaterra e a Itália, em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero, que naquele momento publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas Operationes in Psalmos (Trabalho nos Salmos).

 

As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu Sermão sobre o Sacramento Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades, levou mais além o significado da Eucaristia para o perdão dos pecados, ao fortalecimento da fé naqueles que o recebem, e, ainda, apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.

 

O conceito luterano de igreja foi desenvolvido em seu Von dem Papsttum zu Rom (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520); enquanto o seu Sermon von guten Werken (Sermão das Boas Obras), publicado na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.

 

A disputa havida em Leipzig em 1519 fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que, por sua vez, também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não lhe ser seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.

 

Sob estas circunstâncias de crise e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu À Nobreza Cristã da Nação Alemã (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a Reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo.

 

As Reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos, quais sejam: a diminuição do número de cardeais e de outras exigências da corte papal; a abolição das rendas do Papa; o reconhecimento do governo secular; a renúncia da exigência papal pelo poder temporal; a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações nocivas; a eliminação dos excessivos dias santos; a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a Reforma das universidades; a ab-rogação do celibato do clero; a união dos boêmios; e, finalmente, uma Reforma geral na moralidade pública. Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de terem que enviar riquezas a Roma.

 

Lutero também gerou polêmicas doutrinárias em seu Prelúdio no Cativeiro Babilônico da Igreja, em especial no que diz respeito aos sacramentos. Apoiava que fosse devolvido o Cálice ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a presença do Corpo e do Sangue do Cristo na Eucaristia, mas rechaçava o ensinamento de que a Eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus. Ensinava que o Batismo trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se converteriam. Afirmou que a essência da Penitência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé. Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava conexa a eles; mas, em sentido estrito, apenas o Batismo e a Eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois, apenas estes tinham o sinal visível da instituição divina: a água, no Batismo, e o Pão e o Vinho, da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação, o matrimônio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.

 

Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação e a vida cristã foi exposta em A Liberdade de um Cristão (publicado em 20 de novembro de 1520), no qual exigia uma completa união com Cristo mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo. As duas teses que Lutero desenvolveu nesse tratado, aparentemente contraditórias, mas em verdade complementares, são: 1ª - O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito. 2ª - O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito. A primeira tese é válida na ; a segunda, no amor.

 

Em 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero com a bula Exsurge Domine, na qual o ameaçava com a excomunhão, a menos que em um prazo de sessenta dias repudiasse 41 pontos de sua doutrina, selecionados em seus escritos. Em outubro de 1520 Lutero enviou seu escrito A Liberdade de um Cristão ao Papa, acrescentando a frase significativa: Eu não me submeto a leis ao interpretar a Palavra de Deus.

 

Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papal de Wittenberg, defendendo-se com seus Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher Verbrannt Sind e Assertio Omnium Orticulorum. O Papa Leão X excomungou Lutero em 3 de janeiro de 1521, na bula Decet Romanum Pontificem. A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador Carlo I da Espanha (Carlos V) que julgou inoportuna apoiar as medidas contra Lutero, diante de sua posição face a Dieta.2

 

O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real em 22 de janeiro de 1521. Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e lhe foi outorgado um salvo-conduto para garantir seu seguro deslocamento. Em 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou, então, a Lutero se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar na sua resposta, o que lhe foi concedido. Este, então, isolou-se em oração, e depois consultou seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse explicitamente: — Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm? Lutero, então, respondeu: — Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão, porque não acredito nem no Papa nem nos concílios, já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos pelos textos da Sagrada Escritura que citei. Estou submetido à minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero me retratar de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável. De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu estas palavras: — Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!

 

Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu. O Imperador redigiu o Édito de Worms, em 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proibindo suas obras.

 

Em junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se que estas incorriam em heresia, a serem, portanto, examinadas pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade de Wittenberg, espiões registravam os comentários negativos de Lutero sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é alterado para heresia notória. Lutero é convidado para ir a Roma, onde deveria desmentir sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde e propôs uma audiência em território alemão. O seu pedido baseou-se no argumento (Gravamina) da Nação Alemã. O seu pedido foi aceito, e ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.

 

Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos. O Imperador havia decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos, na Itália, o papa renascentista Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurou evitar que os príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.

 

O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o Sábio, levou Roma a pedir a Karl von Miltiz que intercedesse junto ao príncipe por uma solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser reatado.

 

O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso foi arranjado. Frederico, o Sábio ordenou que Lutero fosse capturado no seu retorno da Dieta de Worms por um grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante este período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia para o alemão.


Com o início da estada de Lutero em Wartburg começou um período construtivo de sua carreira como reformista. Em seu deserto ou patmos (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento em setembro de 1522.
Produziu outros escritos, preparou a primeira parte de seu guia para párocos e Von der Beichte (Sobre a Confissão), em que negava a obrigatoriedade da confissão, e admitia como saudável a confissão privada e voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com isto, a desistir de retomar a venda das indulgências; quanto a seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei, assim como sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça de Deus para o pecador, que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador; e ainda que o princípio da justificação é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do Batismo – pela inerência do pecado em cada boa obra.

 

Lutero amiúde escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo ou perguntando seus pontos de vista e respondendo aos pedidos de conselhos. Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação, e outras formas tradicionais de piedade. Lutero lhe respondeu em 1º de agosto de 1521:

 

 

Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia imaginária, mas, sim, uma misericórdia verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários. Conheça o pecador e veja se os seus pecados são fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte e que se alegre em Cristo, que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo. Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro III, 13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova Terra onde a justiça reinará.



Enquanto isto, alguns sacerdotes saxões haviam renunciado ao voto de castidade, ao tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De Votis Monasticis (Sobre os Votos Monásticos), aconselhava a ter mais cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados com a intenção da salvação ou busca de justificação. Com a aprovação de Lutero em seu De Abroganda Missa Privata (Sobre a Ab-rogação da Missa Privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas. Sua violência e intolerância, certamente, desagradaram a Lutero, que em princípios de dezembro passou uns dias entre eles. Ao retornar para Wartburg, escreveu Eine Treue Vermahnung vor Aufruhr und Empörung (Uma Sincera Admoestação por Martinho Lutero a Todos os Cristãos para que se Resguardem da Insurreição e da Rebelião). Apesar disto, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam pela abolição da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e na ab-rogação do celibato.

 

Ao fim de 1521, os anabatistas3 de Zwickau se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções radicais e temendo seus resultados, Lutero regressa em segredo a Wittenberg em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março (domigo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os Sermões de 'Invocavit'. Nestas pregações, Lutero aconselha uma Reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles que ainda não estão persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do Pão foi restaurada por um tempo e o Cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao Sacramento da Confissão haver sido abolido, confrontou-se com a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de se confessar e de buscar assim o perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero em Formula Missæ et Communionis (Fórmula da Missa e Comunhão), de 1523. Em 1524, apareceu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro hinos.

 

Como esta parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis para a alma, em seu Über Ddie Weltliche Gewalt, Wie Weit Man Ihr Gehorsam Schuldig Sei (Autoridade Temporal: em que Medida Deve Ser Obedecida).

 

A guerra dos camponeses (1524 - 1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros Reformadores. Revoltas de camponeses já haviam acontecido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358) e na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII, mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e á sua hierarquia significavam que os Reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos fortes laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava, isto não seria surpreendente.

 

Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, colaboradores seus perverteram seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de santos (espalharam boatos de que estes santos, seriam a causa da derrota da Igreja Católica), com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída e promover a aniquilação dos ímpios (Igreja Católica). Um desses pregadores foi Tomas Müntzer. A mensagem escatológica de Müntzer, na verdade, tinha pouco a ver com a proposta dos camponeses, tanto que ele procurou a nobreza da Saxônia para obter apoio. Com a negativa destes e a eclosão dos conflitos camponeses no sudoeste alemão, ele logo viu o instrumento para a concretização de seus planos.

 

Lutero, desde cedo, prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre a revolta, e particularmente sobre Müntzer, um dos profetas do assassínio, colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer, inaugurando essa linha de pensamento.

 

Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a Carta aos Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso, mostrando a tirania dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão deste escrito.

 

Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen, oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a Carta Aberta aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen com o propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também este escrito não teve repercussão, pois o conselho da Cidade limitou-se a pedir informações sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.

 

O principal escrito dos camponeses eram os Doze Artigos, no qual as reivindicações foram expostas. Neles, havia artigos de fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos, exploração nos impostos etc. Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e pedia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas, eles as abandonariam, e entre aqueles que se consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Lutero. De fato Lutero escreveu sobre os Doze Artigos em seu livro Exortação à Paz: Resposta aos Doze Artigos do Campesinato da Suábia, de 1525. Nele, Lutero atacou os príncipes e senhores por cometerem injustiças contra os camponeses e censurou os camponeses pela rebelião e desrespeito à autoridade. Também este escrito não teve repercussão, e durante uma viagem de Lutero pela região da Turíngia ele pôde testemunhar as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses. Tratava-se de um apêndice de Exortação à Paz..., mas cedo tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta na opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a castigar os camponeses, até com a morte. Tal repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no Dia de Pentecostes, em 1525, que se tornou o livro Posicionamento do Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos, onde o Reformador contesta os críticos e reafirma sua posição anterior.

 

Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou sobre a questão na sua Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho Contra os Camponeses, onde lamentou e exortou contra a crueldade que estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirmou sua posição anterior. Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu Acerca da Questão, se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada, em 1526, com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de guerra e sua função como militar.

 

No movimento reformista, Lutero não concordou como o estilo de Reforma do teólogo cristão francês João Calvino (1509 – 1564). Martinho Lutero queria Reformar a Igreja Primitiva, enquanto Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada que não havia como reformá-la. Calvino, então, se propôs a organizar uma nova Igreja que na sua doutrina (e também alguns costumes), seria idêntica à Igreja primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, fundando então o Protestantismo, que não seguia tradições, mas, sim, apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no Livro de Concórdia, e esta não muda, mas os costumes e formas variam de acordo com a localidade.

 

Lutero não foi o primeiro tradutor da Bíblia para o alemão. Já havia traduções mais antigas. A tradução de Lutero, contudo, suplantou as anteriores. Além da qualidade da tradução, foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (1390 – 1468), em 1453.

 

O domínio do latim, no século XVI, no fim da Idade Média e princípio da chamada Idade Moderna, era apenas privilégio de uma percentagem ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria igreja. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos ignorantes e plebeus. (É preciso adicionar que Lutero não se opôs ao latim, e ele mesmo publicou uma edição revisada da tradução latina da Bíblia – a Vulgata4. Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim, por parte de Lutero, como língua acadêmica.)

 

Enfim, como já foi dito mais acima, Lutero desenvolveu uma nova visão teológica bebendo nas palavras de Romanos I, 17: O justo viverá pela fé. Segundo sua interpretação, dizia que o perdão e a vida eterna não são conquistados por nós mediante boas obras, mas nos são dados gratuitamente por meio da fé em Jesus Cristo – O Filho de Deus – que morreu e ressuscitou para perdão de toda a Humanidade. Talvez este possa se constituir em um acréscimo subsidiário ao pensamento dos historiógrafos que refutam a idéia de que Lutero tenha estado vinculado ao incipiente e oculto Movimento Rosa+Cruz de seu tempo, pois, para os Rosa+Cruzes de ontem, de hoje e de sempre, estas idéias básicas e sustentáculos de sua fé, não são nem misticamente congruentes e nem metafisicamente plausíveis, ainda que, com elas ou sem elas, Lutero não tenha tido a intenção orientadora de deflagrar especificamente uma Reforma teológica sangrenta, pois nada mais pretendia do que oferecer esclarecimentos teológicos que pudessem curar as almas, esta mesma Reforma que acabou se materializando tenha sido de utilidade singular e inestimável para descativar mentes e Corações. Se foi mesmo assim, o subtítulo deste trabalho – Pensamentos de um Revolucionário Religioso – não está rigorosamente correto. Entretanto, o que farei a seguir, depois da breve Cronologia que se seguirá, é garimpar alguns fragmentos do pensamento de Lutero, particularmente das suas 95 Teses (afixadas na porta da capela de Wittemberg em 31 de outubro de 1517 movidas pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade) que possam, de alguma forma, estar próximas da Metafísica Mística Rosacruz contemporânea (século XXI).

 

 

 

Cronologia

 

 

 

10 de novembro de 1483: Nasce Lutero.

1509: Henrique VIII (1491-1547) torna-se rei da Inglaterra. Nasce João Calvino em 10 de julho.

31 de outubro de 1517: Lutero fixa as suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Este dia é comemorado anualmente como o Dia da Reforma.

1518: Lutero recusa-se a se retratar perante o papa Leão X (1475-1521; pontificado: 1513-1521).

junho de 1520: Leão X condena 41 proposições de Lutero.

21 de janeiro de 1521: Leão X excomunga Lutero, mas levam vários meses até a ordem de excomunhão chegar à Alemanha.

1522: Lutero publica a sua advertência contra os distúrbios e publica a tradução do grego para o alemão do Novo Testamento, com gravuras de Lucas Kranach (1472-1553).

1523: Lutero publica texto que fala do direito de a comunidade de fiéis julgar toda a doutrina e nomear e demitir clérigos.

1524-1525: Revolta camponesa liderada por Thomas Müntzer (1490-1525).

1525: Lutero publica texto contra os profetas sagrados e contra as revoltas camponesas.

1528: Mandato imperial ameaça de morte os anabatistas.

1530: Carlos V (1500-1558) – rei de Espanha desde 1516 e eleito imperador Habsburgo desde 1519 – fracassa em impor uma ortodoxia religiosa ao império.

1534: Ruptura de Henrique VIII da Inglaterra com Roma, supressão dos monastérios e concessão de permissão para os padres se casarem. Na Alemanha, Lutero publica a tradução do hebreu para o alemão do Velho Testamento.

1534-1535: Anabatistas tomam o poder em Münster, mas seu reino é derrubado pela coligação de forças católicas e protestantes.

1536: Calvino edita Instituições da Religião Cristã. Há também a introdução da Bíblia vernacular na Inglaterra.

1542: Calvino organiza o seu catecismo em Genebra.

1544: Calvino admoesta os anabatistas.

13 de dezembro de 1545: Começa o Concílio de Trento.

18 de fevereiro de 1546: Morre Lutero.

1547: Eduardo VI (1537-1553) assume o trono na Inglaterra e demonstra forte tendência calvinista.

1549: Eduardo VI lança o livro de pregações e pretende forçar a uniformidade religiosa em torno da fé reformada na Inglaterra.

1553: Morre Eduardo VI e sua irmã mais velha, Maria I (1516-1558) pretende o retorno da Inglaterra ao Catolicismo.

1558: Morre Carlos V da Espanha e Maria I da Inglaterra. Elizabeth (1533-1603) assume o trono da Inglaterra e tenta restaurar o anglicanismo de seu pai, Henrique VIII, o que significava evitar os extremos: o puritano (Eduardo VI) e o católico (Maria I).

Março de 1560: Fracasso de uma conspiração de jovens aristocratas huguenotes contra a Casa Católica do Duque de Guise na França. Primeiro édito de tolerância é editado.

Setembro-Novembr de 1561: Colóquio de Poissy, mas fracassa a tentativa de restaurar a unidade entre huguenotes e católicos na França.

Março de 1562: Massacre dos huguenotes em Vassy comandado pela Casa Católica de Guise. Primeira Guerra Civil Religiosa na França.

1563: Em março, Catarina de Médicis (1519-1589; regente: 1560-1574) tenta por fim à guerra civil francesa com a assinatura da Paz de Amboise, que concede certo grau de tolerância para os huguenotes. Neste mesmo ano, encerra-se o Concílio de Trento.

27 de maio de 1564: Morre João Calvino. Théodore de Béze (1519-1605) sucede Calvino como líder da reforma protestante centrada em Genebra.

24 de agosto de 1572: Noite do Massacre de São Bartolomeu, em Paris.5

1598: Publicação do Édito de Nantes.

1685: Revogação do Édito de Nantes.

 

 

 

Fragmentos do Pensamento de
Martinho Lutero

 

 

 

Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

 

Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

 

Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.

 

Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

 

Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, a pouquíssimos.

 

Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

 

Pregam [mera] doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando (do purgatório para o céu).

 

Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa6, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

 

Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

 

Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

 

Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem ser as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.

 

Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.

 

Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência. [Misticamente, esta tese luterana deveria começar da seguinte forma: Qualquer ser humano sincero...]

 

Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.

 

Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

 

Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.7

 

Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor; ao passo que, com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas [presumidamente] livre da pena.

 

Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus. [Aqui, certamente, há um exagero de Lutero ou uma espécie de licença literária (que eu não aprovo). Então, a ira de Deus, salvo melhor juízo, só pode ser entendida como uma nulidade-inutilidade hipotética com a compra de indulgências. Esses negócios com Deus vêm de longe... As seitas eletrônico-televisivas de hoje apenas estão repicando e carambolando o que sempre existiu.]

 

Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgências. [E mesmo que tenham bens em abundância presumir que a presumida salvação possa ser presumidamente comprada, só pode interessar a quem presumidamente presume poder vendê-la. Mas, sinceramente, penso que esses sacanocratas que vendem facilidades celestiais são uns picaretas de marca maior.]

 

Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

 

Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

 

Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário – ou até mesmo o próprio papa – desse sua alma como garantia pelas mesmas.

 

São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

 

Ofende-se a Palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a Ela.

 

A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

 

Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

 

Os tesouros da Igreja tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

 

É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.

 

O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus... Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos... Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.

 

Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas... Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

 

As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.

 

Seja bendito quem ficar alerta contra a devassidão e a licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

 

A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus – caso isso fosse possível – é loucura.

 

Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa. [Isto significa que quaisquer que sejam os negócios feitos com Deus, diretamente ou por intermediação, são inúteis. Ou aprendemos... Ou aprenderemos.]

 

Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.

 

Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas – se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

 

Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?

 

Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

 

Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos, não constrói com seu próprio dinheiro a Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

 

Fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo 'Paz, paz!', sem que haja paz!

 

Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo 'Cruz! Cruz!', sem que haja cruz!8

 

Quem enumerará todas as promessas de Deus?

 

Em primeiro lugar, devo negar os Sete Sacramentos, e admitir, por agora, somente três: o batismo, a Penitência e o Pão.

 

O principal raciocínio de minha tese é, em primeiro lugar, que às palavras divinas não se deve fazer violência alguma, nem por parte de um homem, nem por parte de um anjo; deve-se, no entanto, conservá-las, enquanto for possível, em seu mais simples significado.

 

Não é necessário que a natureza humana se transubstancie para que a divindade habite corporalmente nela, a fim de que se tenha a divindade sob os acidentes da natureza humana.

 

Para se chegar, segura e felizmente, ao verdadeiro e livre conceito desse Sacramento [Eucaristia], temos que procurar, antes de tudo, separar todas aquelas coisas que foram acrescentadas à sua instituição, primitiva e simples, pelo zelo e pelo fervor humano. Essas são: vestes, ornamentos, cânticos, preces, órgãos, luzernas e toda aquela pompa de coisas visíveis, e voltar os olhos e a mente à única e pura instituição de Cristo.

 

 

 

Uma Palavra final

 

 


O que importa se Lutero esteve ou se não esteve vinculado ao incipiente e oculto Movimento Rosa+Cruz de seu tempo? O que importa se desenvolveu uma nova visão teológica bebendo nas palavras de Romanos I, 17: O justo viverá pela fé? O que importa se dizia que o perdão e a vida eterna não são conquistados por nós mediante boas obras, mas nos são dados gratuitamente por meio da fé em Jesus Cristo – O Filho de Deus – que morreu e ressuscitou para perdão de toda a Humanidade? O que importa se cometeu, aqui e ali, demasias literárias? Ora, isto não importa realmente nada. Importa, sim, e muito, se Lutero foi um homem digno, lhano e verdadeiro. Se foi, e penso que tenha sido, para mim, isto é o que basta. O resto são adjetivações.

 

Enfim, Lutero deixou um legado para todos os místicos: tudo deve ser conferido e aferido. Livros sagrados, secretos, trancados a sete chaves, cuja interpretação seja tão-somente de uma casta sacerdotal capaz de ler em línguas antigas, é um absurdo que não deve prevalecer.

 

 

 

A Rosa de Lutero

 

 


 

 

 


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Notas:

1. Abaixo, transcrevo a explicação de Sérgio Dário Costa Silva, M.Th., a respeito do conceito teológico da Doutrina da Justificação. Obviamente, cada um é livre para concordar ou para discordar da exposição a seguir.

Entre as inestimáveis doutrinas do Cristianismo está a Justificação. Doutrina esmerada pelo apóstolo Paulo em sua magna Carta aos Romanos e resgatada por Lutero, na Reforma. A ausência e a incompreensão desta doutrina, no período da Idade Média, trouxeram muitos prejuízos, como a escravidão da consciência e conceitos errados acerca de Deus e Sua justiça, comprometendo toda a Soteriologia [parte da Teologia que trata da salvação do Homem], além de deturpar o Cristianismo. Isto mostra que ela é uma das colunas do Cristianismo. Sendo assim, compreender o verdadeiro significado desta doutrina é algo indispensável a todo cristão.

Quanto à sua conceituação, no AT, embora o termo 'justificar' tenha, às vezes, uma conotação moral ou ética, grande parte de sua ocorrência deixa evidente o aspecto forense do termo, no qual uma pessoa é declarada judicialmente justa por ter uma vida coerente com as exigências da lei (Ex 23.7; Is 5.23; Dt 25.1; e Pv 17.15). O sentido neotestamentário do termo 'justificar' é mais amplo, pois se trata de uma pessoa declarada justa ante o tribunal de Deus, com base na justiça de Cristo.

Quanto à natureza da justificação, é importante ressaltar que o homem justificado não se torna justo, mas é declarado justo, tratando-se de duas afirmações diferentes. Um dos erros da tradição escolástica, no período pré-reformista, foi interpretar o termo 'justificar' como sendo 'tornar justo'. Mas, com a Reforma, Lutero reafirmou o sentido legal do termo. A justificação é o direito legal de se ter acesso e comunhão com Deus. Não se trata de uma justiça infundida no homem.

Quanto ao fundamento, a justificação tem como base a justiça de Cristo. Sendo o homem incapaz de se autojustificar, Deus o justifica. Surge, então, a questão: como Deus, sendo absolutamente justo, pode justificar o homem injusto e pecador? Paulo responde e deixa claro que Cristo fez justiça por nós (Rm 3.24-26; 4.5; e 1Co 1.30). Portanto, Deus não é injusto ao justificar o injusto, pois o fundamento é a justiça de Cristo e Deus considera a justiça d'Ele pertencente ao homem.

Quanto à necessidade de justificação, estende-se a partir da queda de Adão. Com a desobediência de Adão, o pecado entrou no mundo, a raça humana herdou a corrupção do pecado e, conseqüentemente, o homem é injusto desde seu nascimento (Sl 51.5; e Gn 8.21). Assim, o homem é incapaz de agradar a Deus e de fazer Sua vontade (Rm 8.7-9). Além do mais, o pecado atrai a ira de Deus. Sua ira requer juízo, e a justificação impede que esse juízo seja executado. Assim como o pecado de Adão foi imputado à Humanidade, a justiça de Cristo é imputada ao homem. Assim, a justificação é necessária porque o homem é incapaz de adquirir sua própria justiça, pois, ele é injusto por natureza.

Quanto ao meio pelo qual o homem se apropria da justificação, Paulo afirma que é somente pela fé. Não é por intermédio de obras. De outro lado, deve-se ter muita diligência para não cair no erro de ter a fé como fonte ou fundamento da justificação, pois a fé, em si mesma, não justifica, é apenas um receptor. A fonte da justificação é Deus, e Sua justiça e fundamento é a cruz de Cristo. O homem não é justificado por causa de sua fé, pois, se assim fosse, a fé deixaria de ser um meio para ser uma obra meritória. A justiça de Cristo é suficientemente perfeita e exclui qualquer complemento.

Portanto, considerando que somos justificados pela fé em Cristo Jesus, somos livres para servir a Deus, sem medo de sermos rejeitados por Ele. Temos livre acesso ao trono da graça em liberdade de consciência. Somos justificados, somos livres.

2. A Dieta de Worms (em alemão, Wormser Reichstag) foi, como qualquer Reichstag (sessão do governo imperial), uma cimeira oficial, governamental e religiosa. Chefiada pelo imperador Carlos V, teve lugar em Worms, na Alemanha, uma pequena cidade no rio Reno, tendo lugar entre 28 de janeiro e 25 de maio de 1521. Apesar de outros assuntos terem sido discutidos, a Dieta de Worms é sobretudo conhecida pelas decisões respeitantes a Martinho Lutero e os efeitos subseqüentes na Reforma Protestante. Lutero foi convocado para desmentir as suas teses; no entanto ele se defendeu e pediu a Reforma, entre 16 e 18 de abril de 1521. Célebres tornaram-se as suas palavras: Hier stehe ich. Ich kann nicht anders. (Aqui estou. Não posso renunciar). Ele foi obrigado a deixar Worms em 25 ou 26 de abril. Em 25 de maio, o Édito de Worms declarava Lutero um fora-da-lei.

3. Os anabatistas eram adeptos protestantes, do século XVI, que desaprovavam o Batismo da criança antes do uso da razão, e preconizavam a reiteração do Batismo na idade adulta, no caso dos que se houvessem batizado antes.

4. A Vulgata é uma tradução para o latim da Bíblia escrita em meados do século IV por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda é muito respeitada.

5. O Massacre da Noite de São Bartolomeu foi um episódio sangrento na repressão aos protestantes na França pelos reis franceses, católicos. As matanças, organizadas pela Casa Real Francesa, começaram em 24 de agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).

6. Lutero se refere à caixa de coleta de rendas oriundas da venda de cartas de indulgência.

7. Esta tese tem dois alvos: em âmbito geral, a elite nobre e não-nobre alemã que desperdiçava recursos em encomendas de missas ou patrocínio de igrejas às custas da miséria ou exação de seus subordinados; em âmbito particular, o Cardeal Alberto de Brandeburgo (1490-1545). Para ter sua confirmação para o Arcebispado de Mayence, em 1514, Alberto tinha que conseguir uma soma considerável e enviá-la para Roma. Para tanto, ele fez um empréstimo e o assentou, com autorização papal, sobre a arrecadação das indulgências vinculadas à construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Segundo o acordo entre Alberto e o Papado, metade do arrecadado iria para a construção da Basílica e a outra metade para Alberto quitar suas dívidas provenientes da investidura no arcebispado. No final das contas, o Papa teria o conjunto das rendas de Brandeburgo vinculadas às indulgências.

8. Com tal imprecação, Lutero esperava uma reforma moral da Igreja e do seu rebanho, o que significava a interiorização da fé, da contrição e da charitas.

 

Bibliografia:

 

BIBLIA. Bíblia Sagrada. 9ª ed. São Paulo: Ed. Paulinas, 1958.

LUTERO, Martinho. Do cativeiro babilônico da Igreja. São Paulo: Editora Martin Claret Ltda, 2007.

 

Páginas da Internet consultadas:

 

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wiki/Joaquim_Jos%C3%A9_da_Silva_Xavier

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http://www.rosecroixjournal.org/

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http://www.iprb.org.br/
artigos/textos/art01_50/art41.htm

http://www.dpchallenge.com/
image.php?IMAGE_ID=61719

 

Fundo musical:

Gloria in excelsis Deo)

Fonte:

http://www.zeitun-eg.org/midi.htm