Introdução
e Objetivo do Trabalho
Há
revoluções e revoluções e revolucionários
e revolucionários. Quando se fala ou se pensa em revolucionários,
pode-se lembrar, por exemplo, de Spartacus, (120 a. C. – 70 a. C.),
gladiador de origem trácia e líder da mais célebre
revolta de escravos contra o Império Romano na Roma Antiga; pode-se
lembrar de Tupac Amaru (morto em 24 de setembro de 1572), último
líder indígena do povo inca da época da conquista espanhola;
pode-se lembrar de Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (30 de maio de 1814 –
1º de julho de 1876), que defendia que as energias revolucionárias
deveriam ser concentradas na destruição das coisas,
no caso, o Estado, e não das pessoas; pode-se lembrar de
Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar
Palacios y Blanco (24 de julho de 1783 – 17 de dezembro de 1830),
militar venezuelano e líder revolucionário responsável
pela independência de vários territórios da América
Espanhola; pode-se lembrar de Fidel Alejandro Castro Ruz (13 de agosto de
1926), líder cubano, por um lado contestado, por outro admirado,
principalmente pela sua ideológica e forte resistência às
influências comerciais e sociológicas dos Estados Unidos da
América; pode-se lembrar de Ernesto Rafael Guevara de la Serna, mais
conhecido por Che Guevara ou El Che (14 de junho de 1928 –
9 de outubro de 1967), considerado pela revista norte-americana Time
Magazine uma das cem personalidades mais importantes do século
XX; pode-se lembrar de Rosa Luxemburgo (5 de março de 1871 –
15 de janeiro de 1919), doutora em Ciências Políticas, filósofa
marxista e militante revolucionária polonesa; pode-se lembrar de
Zumbi dos Palmares (1655 – 1695), último dos líderes
do Quilombo dos Palmares; e pode-se lembrar também, entre tantos
outros revolucionários e revolucionárias, de Olga Gutmann
Benario (12 de fevereiro de 1908 – 23 de abril de 1942), jovem militante
comunista alemã de origem judaica, incumbida de participar, ao lado
do militar e político comunista brasileiro Luís Carlos Prestes
(3 de janeiro de 1898 – 7 de março de 1990), da realização
de uma Revolução Comunista no Brasil, extraditada grávida
pela ditadura positivista-getulista para a Alemanha nazista para ser morta,
em fevereiro de 1942, em uma câmara de gás em um campo de extermínio
de Bernburg pelo regime nazista, um pouco antes de completar 34 anos.
Todavia,
homens como Martinho Lutero (10 de novembro de 1483 – 18 de fevereiro
de 1546), cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, também
podem e devem ser considerados revolucionários. Revolucionários
no domínio das idéias. Como Akhnaten. Como Jesus. Como o Profeta
Muhammad. Lutero, queiram os católicos ou não, mudou a história
do Catolicismo para sempre. Pelo menos, já não se vendem mais
indulgências!
E, como Lutero, de alguma forma,
segundo alguns pensadores, talvez possa ter estado vinculado ao incipiente
e oculto Movimento Rosa+Cruz de seu tempo, o objetivo deste trabalho foi
o de garimpar alguns de seus pensamentos que possam, de alguma forma, estar
próximos da Metafísica Rosacruz contemporânea (século
XXI). Entretanto – e isto não pode ser omitido – há
muitos historiógrafos, talvez a maioria, que refutam esta idéia,
pois argumentam que Lutero desconhecia completamente a simbologia esotérica
associada à Rosa Vermelha e à Cruz Dourada, pois, historicamente,
o Rosacrucianismo só apareceu publicamente no século XVII.
Contudo, se observarmos atentamente uma das várias apresentações
do símbolo oficial de Lutero, veremos que há, com pequenas
diferenças, uma similaridade incontestável com antigos símbolos
Rosacruzes. Observe a Rosa de Lutero (também conhecida como Selo
ou Brasão de Lutero) abaixo. Ela é uma mandala (representação
do mundo) e um testemunho e resumo gráfico da fé cristã
luterana de uma forma simples e completa – um Caminho rumo ao Coração
de Deus (o Deus de nossos Corações, o Deus de cada Coração).
Ora, seja como for – e o como for não importa absolutamente
nada no âmbito da Peregrinação Mística –
isto é Rosacrucianismo em sua forma mais pura e essencial.
A
Rosa de Lutero
(VIVIT = Ele vive)
O
próprio reformador Martinho Lutero a desenhou durante sua permanência
na Fortaleza de Coburgo, e explicou o seu significado espiritual em uma
carta enviada a Lazarus Spengler (1479-1534), datada de 8 de julho de 1530,
da seguinte forma:
Graça
e paz por parte do Senhor. Como você deseja saber se o selo pintado,
que você me enviou, acertou o alvo, devo responder de forma amigável
e lhe dizer sobre meus pensamentos e razões originais, porque meu
selo é um símbolo da minha teologia.
Primeiro, deve haver uma cruz negra
dentro de um coração – o qual retém a sua cor
natural – para que eu seja lembrado de que a fé no Cristo
Crucificado nos salva. Pois quem crê de coração será
justificado. (Romanos, X, 10). Embora seja uma cruz negra, que mortifica
e que também deva causar dor, ela deixa o coração
em sua cor natural. Ela não corrompe a natureza, isto é,
ela não mata, mas o mantém vivo. 'O justo viverá
pela fé.' (Romanos I, 17). Mas pela fé no Crucificado.
Tal
coração deve estar no meio de uma rosa branca, para mostrar
que a fé dá alegria, conforto e paz. Em outras palavras:
ela coloca o crente em uma rosa branca de alegria, pois esta fé
não dá paz e alegria como o mundo dá. (João
XIV, 27). É por isso que a rosa deve ser branca, e não vermelha,
pois o branco é a cor dos espíritos e dos anjos. (Conforme
Mateus XXVII, 3 e João XX, 12).
Tal
rosa deve estar em uma área de azul celeste, simbolizando que tal
alegria em espírito e fé é o começo da futura
alegria celestial, que já começa, mas que é obtida
em esperança, pois ainda não é revelada.
Ao redor desta área, está
um círculo dourado simbolizando que tal bênção,
no céu, dura para sempre; é sem fim. Tal bênção
vai além de toda a alegria e de todos os bens, assim como o ouro
é o melhor metal, o mais valioso e o mais precioso.
Este
é o meu Compendium Theoligæ [o
sumário da Teologia]...
Mas,
não deve ter sido por acaso que o Dr. Harvey Spencer Lewis –
Sâr Alden – (25 de novembro, 1883 - 2 de agosto, 1939), fundador
do 2º Ciclo Iniciático da Ordem
Rosacruz AMORC,
inspirado pregador evangélico de seu tempo antes de se tornar Imperator
da Ordem Rosacruz, tenha recomendado aos membros da Ordem que apoiassem
uma Igreja de sua comunidade. Também penso que não seja por
acaso que os dirigentes do Rose+Croix Journal tenham escolhido como logotipo
um símbolo que se assemelhe à Rosa de Lutero, só que,
entre outras diferenças, a Cruz não é negra e a Rosa
não é branca.
Por
tudo isto, repito, o objetivo místico-histórico-jornalístico
deste despretensioso texto foi tão-somente garimpar alguns de seus
pensamentos (particularmente derivados de suas 95 Teses) que possam, de
alguma forma, estar próximos da Metafísica Rosacruz contemporânea
(século XXI). A pesquisa não está acabada e muito menos
fechada. Novas idéias sobre esta matéria serão benvindas,
desde que isentas de preconceitos e de opiniões ou sentimentos, favoráveis
ou desfavorávis, concebidos emocionalmente e sem exame crítico.
Mas,
o que realmente importa? Acima das coincidências e das incoincidências,
acima das concordâncias e das discrepâncias, acima do que queremos
que seja e do que queremos que não seja – acima de tudo –
importa que, com humildade e tolerância, aprendamos a ser fraternos,
solidários e magnânimos. Todavia, isto só será
possível quando realizarmos mística e internamente a primeira
de todas as Leis Cósmicas: Somos todos UM no seio do incriado e sempiterno
TODO-UM. Dele viemos, e, de uma forma ou de outra, a Ele voltaremos.
Somos
Todos UM
no
seio do Incriado e Sempiterno TODO-UM
Por
último, informo que o material de consulta e os Websites consultados
para elaborar este resumo estão referenciados ao final do trabalho.
Biografia
de Martinho Lutero
Martinho
Lutero era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld,
onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no
campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário
público, melhorando assim as condições da família.
Com este objetivo, enviou o jovem Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo
e Eisenach.
Aos
dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde
tocava alaúde e recebeu o apelido de O Filósofo.
Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito dessa Universidade.
Mas tudo mudou após uma grande tempestade, com descargas elétricas,
ocorrida neste mesmo ano (1505): ao voltar de uma visita à casa dos
pais, um raio caiu próximo de onde ele estava. Aterrorizado, gritara
então: — Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!
Tendo
sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu os seus livros com exceção
dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt,
a 17 de julho de 1505.
O
jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à sua vida no mosteiro,
empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao
próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se
intensamente à meditação entregando-se a muitas horas
diárias de oração, às autoflagelações,
às peregrinações e à confissão. Quanto
mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus
pecados.
Johann
von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de
mais trabalhos, para afastá-lo de sua excessiva reflexão.
Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica.
Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508 começou a lecionar
Teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu Bacharelado em
Estudos Bíblicos em 19 de março de 1508. Dois anos depois
visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.
Em
19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se em Doutor em Teologia
e, em 21 de outubro deste ano, foi recebido no Senado da Faculdade Teológica
com o título de Doutor em Bíblia. Em 1515, foi nomeado vigário
de sua ordem, tendo sob sua responsabilidade onze monastérios. Durante
este período estudou grego e hebraico, para se aprofundar no significado
e na origem das palavras utilizadas nas Escrituras – conhecimentos
que logo utilizaria para a sua tradução da Bíblia.
O
desejo de obter os graus acadêmicos levou Lutero a estudar as Escrituras
em profundidade. Influenciado por sua formação humanista de
buscar ad fontes (nas fontes primárias), mergulhou nos estudos
sobre a Igreja Primitiva. Devido a isto, termos como penitência
e honestidade ganharam novo significado para ele, já convencido
de que a Igreja havia perdido sua visão de várias das verdades
do Cristianismo ensinadas nas Escrituras - sendo a mais importante delas
a Doutrina da Justificação1 apenas pela
fé. Ele começou a ensinar que a Salvação era
um benefício concedido apenas por Deus, dado pela Graça divina
através de Jesus Cristo e recebido apenas por intermédio da
a fé.
Mais
tarde, Lutero definiu e reintroduziu o princípio da distinção
própria entre a Torá (Leis Mosaicas) e os Evangelhos,
que reforçavam sua Teologia da graça. Em conseqüência,
Lutero acreditava que seu princípio de interpretação
era um ponto inicial essencial para o estudo das Escrituras. Notou, ainda,
que a falta de clareza na distinção da Lei e dos Evangelhos
era a causa da incorreta compreensão dos Evangelhos de Jesus pela
Igreja de seu tempo, instituição a quem responsabilizava por
haver criado e fomentado muitos erros teológicos fundamentais.
Além
de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava como
pregador e confessor na Igreja de Santa Maria, na Cidade. Também
pregava habitualmente na Igreja do Castelo (chamada de Todos os Santos -
por causa de ali haver uma coleção de relíquias estabelecidas
por Frederico II, de Sabóia). Foi durante este período que
o jovem sacerdote deu-se conta dos efeitos em se oferecer [e vender] indulgências
aos fiéis como se fossem fregueses.
A
indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo
temporal que alguém permanece devedor por conta dos seus pecados,
de cuja culpa tenha se livrado pela absolvição. Naquele tempo,
qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo,
quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório.
O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios
episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo
indulgências com o objetivo de financiar as Reformas da Basílica
de São Pedro, em Roma.
Lutero
viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia
confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências,
deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro. Proferiu,
então, três sermões contra as indulgências em
1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517,
foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg,
com um convite aberto ao debate sobre elas. Estas teses condenavam a avareza
e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico
sobre o que as indulgências significavam. Para todos os efeitos, Lutero
não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as
tais indulgências.
As
95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas
e impressas. Ao cabo de duas semanas haviam se espalhado por toda a Alemanha,
e em dois meses por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da
História em que a imprensa teve papel primacial, pois facilitava
uma distribuição simples e ampla de qualquer documento.
Depois
de fazer pouco caso de Lutero, dizendo ser ele um alemão bêbado
que escrevera as teses, e afirmando que quando estiver sóbrio
mudará de opinião, o Papa Leão X ordenou, em 1518,
ao professor de Teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse
o assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita
à autoridade do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de
suas bulas. Declarou ser Lutero um herege, e escreveu uma refutação
acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a autoridade papal
sobre a Igreja e condenava cada desvio como uma apostasia.
Lutero
replicou de igual forma, dando assim início à controvérsia.
Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos,
em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem
ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre
as indulgências, o debate se elevou até ao ponto de duvidar
do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas da Tesouraria
da Igreja e da Tesouraria dos Merecimentos, que serviam para
reforçar a doutrina e a venda das indulgências, haviam se baseado
na bula papal Unigenitus, de 1343, do Papa Clemente VI. Por causa
de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como
heresiarca, e o Papa, decidido a suprimir por completo suas opiniões,
discordâncias e pregações, ordenou que Lutero fosse
chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.
Lutero,
que anteriormente professava a obediência implícita à
Igreja, passou a negar, agora, abertamente a autoridade papal, e apelava
para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que
o papado não formava parte da essência imutável da Igreja
original.
Desejando
manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico,
o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar
uma solução pacífica para o conflito. Uma conferência
com o representante papal Karl von Miltitz em Altenburgo, em janeiro de
1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, como também
a escrever uma humilde carta ao Papa e compor um tratado demonstrando suas
opiniões sobre a Igreja Católica. A carta escrita nunca chegou
a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação.
E no tratado, que compôs mais tarde, Lutero negou qualquer efeito
das indulgências no Purgatório.
Quando
Johann Eck, em Carlstadt, desafiou um colega de Lutero para um debate em
Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho –
18 de julho de 1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu
papal e da autoridade de possuir o poder das chaves, que, segundo
ele, haviam sido outorgados à Igreja (como congregação
de fé). Negou que a salvação pertencesse à Igreja
Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas que esta se mantinha
na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Eck afirmou que forçara
Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com
a de João Huss, que havia sido queimado numa fogueira.
Enfim,
não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos
de Lutero circulavam amplamente, alcançando a França, a Inglaterra
e a Itália, em 1519, e os estudantes dirigiam-se a Wittenberg para
escutar Lutero, que naquele momento publicava seus comentários sobre
a Epístola aos Gálatas e suas Operationes in Psalmos
(Trabalho nos Salmos).
As
controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver
suas doutrinas mais a fundo, e o seu Sermão sobre o Sacramento
Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades,
levou mais além o significado da Eucaristia para o perdão
dos pecados, ao fortalecimento da fé naqueles que o recebem, e, ainda,
apoiava a realização de um concílio a fim de restituir
a comunhão.
O
conceito luterano de igreja foi desenvolvido em seu Von dem
Papsttum zu Rom (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao ataque do
franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520); enquanto o
seu Sermon von guten Werken (Sermão das Boas Obras), publicado
na primavera de 1520, era contrário à doutrina católica
das boas obras e dos atos como meio de perdão, mantendo que as obras
do crente são verdadeiramente boas, quer para o secular como para
o clérigo, se ordenadas por Deus.
A
disputa havida em Leipzig em 1519 fez com que Lutero travasse contato com
os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã,
que, por sua vez, também influenciara ao nobre Franz von Sickingen.
Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção,
convidando-o para seus castelos na eventualidade de não lhe ser seguro
permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal.
Sob
estas circunstâncias de crise e confrontando aos nobres alemães,
Lutero escreveu À Nobreza Cristã da Nação
Alemã (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um
sacerdote espiritual, que fizesse a Reforma requerida por Deus, mas abandonada
pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como
o Anticristo.
As
Reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões
doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos,
quais sejam: a diminuição do número de cardeais e de
outras exigências da corte papal; a abolição das rendas
do Papa; o reconhecimento do governo secular; a renúncia da exigência
papal pelo poder temporal; a abolição dos Interditos e abusos
relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações
nocivas; a eliminação dos excessivos dias santos; a supressão
dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a Reforma das
universidades; a ab-rogação do celibato do clero; a união
dos boêmios; e, finalmente, uma Reforma geral na moralidade pública.
Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã,
revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato
de terem que enviar riquezas a Roma.
Lutero
também gerou polêmicas doutrinárias em seu Prelúdio
no Cativeiro Babilônico da Igreja, em especial no que diz respeito
aos sacramentos. Apoiava que fosse devolvido o Cálice ao
laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação,
afirmava que era real a presença do Corpo e do Sangue do Cristo na
Eucaristia, mas rechaçava o ensinamento de que a Eucaristia era o
sacrifício oferecido por Deus. Ensinava que o Batismo trazia a justificação
apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de fato, mantinha
o princípio da salvação inclusive para aqueles que
mais tarde se converteriam. Afirmou que a essência da Penitência
consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé. Para
ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados,
pois sua instituição era divina e a promessa da salvação
de Deus estava conexa a eles; mas, em sentido estrito, apenas o Batismo
e a Eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois, apenas estes tinham
o sinal visível da instituição divina: a água,
no Batismo, e o Pão e o Vinho, da eucaristia. Lutero negou, em seu
documento, que a confirmação, o matrimônio, a ordenação
sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.
Da
mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a salvação
e a vida cristã foi exposta em A Liberdade de um Cristão
(publicado em 20 de novembro de 1520), no qual exigia uma completa
união com Cristo mediante a palavra através da fé,
e a inteira liberdade do cristão como sacerdote e rei sobre todas
as coisas exteriores, e um perfeito amor ao próximo. As duas teses
que Lutero desenvolveu nesse tratado, aparentemente contraditórias,
mas em verdade complementares, são: 1ª - O cristão
é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito.
2ª - O cristão é um servo oficiosíssimo
de tudo, a todos sujeito. A primeira tese é válida na
fé; a segunda, no amor.
Em
15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero com a bula Exsurge Domine,
na qual o ameaçava com a excomunhão, a menos que em um prazo
de sessenta dias repudiasse 41 pontos de sua doutrina, selecionados em seus
escritos. Em outubro de 1520 Lutero enviou seu escrito A Liberdade de
um Cristão ao Papa, acrescentando a frase significativa: Eu
não me submeto a leis ao interpretar a Palavra de Deus.
Enquanto
isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma
proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a
21 de setembro. O último esforço de paz de Lutero foi seguido,
em 12 de dezembro, da queima da bula, que já tinha expirado há
120 dias, e o decreto papal de Wittenberg, defendendo-se com seus Warum
des Papstes und seiner Jünger Bücher Verbrannt Sind e Assertio
Omnium Orticulorum. O Papa Leão X excomungou Lutero em 3 de
janeiro de 1521, na bula Decet Romanum Pontificem. A execução
da proibição, com efeito, foi evitada pela relação
do Papa com Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador Carlo
I da Espanha (Carlos V) que julgou inoportuna apoiar as medidas contra Lutero,
diante de sua posição face a Dieta.2
O
Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real em 22 de janeiro de 1521. Lutero
foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e lhe foi outorgado um salvo-conduto
para garantir seu seguro deslocamento. Em 16 de abril, Lutero apresentou-se
diante da Dieta. Johann Eck, assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a
Lutero uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntou, então,
a Lutero se os livros eram seus e se ele acreditava naquilo que as obras
diziam. Lutero pediu um tempo para pensar na sua resposta, o que lhe foi
concedido. Este, então, isolou-se em oração, e depois
consultou seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte.
Quando a Dieta veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero
que respondesse explicitamente: — Lutero, repeles seus livros
e os erros que eles contêm? Lutero,
então, respondeu: — Que se me convençam mediante
testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão, porque não
acredito nem no Papa nem nos concílios, já que está
provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos
pelos textos da Sagrada Escritura que citei. Estou submetido à minha
consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não
posso nem quero me retratar de nada, porque fazer algo contra a consciência
não é seguro nem saudável. De acordo com a tradição,
Lutero, então, proferiu estas palavras: — Não posso
fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus
me ajude!
Nos
dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para determinar
qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero
abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu. O Imperador
redigiu o Édito de Worms, em 25 de maio de 1521, declarando Martinho
Lutero fugitivo e herege, e proibindo suas obras.
Em
junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação
das suas 95 Teses. Alegava-se que estas incorriam em heresia, a serem, portanto,
examinadas pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade de Wittenberg,
espiões registravam os comentários negativos de Lutero sobre
a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é
alterado para heresia notória. Lutero é convidado para ir
a Roma, onde deveria desmentir sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo,
alegando razões de saúde e propôs uma audiência
em território alemão. O seu pedido baseou-se no argumento
(Gravamina) da Nação Alemã. O seu pedido foi aceito,
e ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio
(Tomás Caetano), durante a reunião das cortes imperiais de
Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518, Lutero falou a Caetano. Este
pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero recusou-se a fazê-lo.
Do
lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano
I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos. O Imperador havia decidido
que o seu sucessor seria Carlos (futuro Carlos V). Por causa das pertenças
de Carlos, na Itália, o papa renascentista Leão X receava o
cerco do Estado da Igreja e procurou evitar que os príncipes-eleitores
alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.
O
papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o Sábio, levou
Roma a pedir a Karl von Miltiz que intercedesse junto ao príncipe por
uma solução razoável. Após a escolha de Carlos
V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltaria a ser
reatado.
O seqüestro de Lutero durante
a sua viagem de regresso foi arranjado. Frederico, o Sábio ordenou
que Lutero fosse capturado no seu retorno da Dieta de Worms por um grupo de
homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg, em Eisenach,
onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e tomou as
vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante
este período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre
tradução da Bíblia para o alemão.
Com o início da estada de
Lutero em Wartburg começou um período construtivo de sua carreira
como reformista. Em seu deserto ou patmos (como ele mesmo
chamava, em suas cartas) de Wartburg, começou a tradução
da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento em setembro de
1522. Produziu
outros escritos, preparou a primeira parte de seu guia para párocos
e Von der Beichte (Sobre a Confissão), em que negava a obrigatoriedade
da confissão, e admitia como saudável a confissão privada
e voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht,
a quem obrigou, com isto, a desistir de retomar a venda das indulgências;
quanto a seus ataques a Jacobus Latomus, avançou em sua visão
sobre a relação entre a graça e a lei, assim como sobre
a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça
de Deus para o pecador, que, por acreditar, é justificado por Deus
devido à justiça de Cristo, pois a graça salvadora
reside dentro do homem pecador; e ainda que o princípio da justificação
é insuficiente, ante a persistência do pecado depois do Batismo
– pela inerência do pecado em cada boa obra.
Lutero
amiúde escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo ou perguntando
seus pontos de vista e respondendo aos pedidos de conselhos. Por exemplo,
Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como responder à acusação
de que os reformistas renegavam a peregrinação, e outras formas
tradicionais de piedade. Lutero lhe respondeu em 1º de agosto de 1521:
Se
és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia
imaginária, mas, sim, uma misericórdia verdadeira. Se a misericórdia
é verdadeira, deve penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário.
Deus não salva apenas aqueles que são pecadores imaginários.
Conheça o pecador e veja se os seus pecados são fortes, mas
deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte e que se
alegre em Cristo, que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo.
Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não
há um só lugar onde resida a justiça. Nós todos,
sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro III, 13), estamos buscando mais
além um novo céu e uma nova Terra onde a justiça reinará.
Enquanto isto, alguns sacerdotes
saxões haviam renunciado ao voto de castidade, ao tempo em que outros
tantos atacavam os votos monásticos. Lutero, em seu De Votis
Monasticis (Sobre os Votos Monásticos), aconselhava a ter mais
cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados com
a intenção da salvação ou busca de justificação.
Com a aprovação de Lutero em seu De Abroganda Missa Privata
(Sobre a Ab-rogação da Missa Privada), mas contra a firme
oposição de seu prior, os agostinianos de Wittenberg realizaram
a troca das formas de adoração e terminaram com as missas.
Sua violência e intolerância, certamente, desagradaram a Lutero,
que em princípios de dezembro passou uns dias entre eles. Ao retornar
para Wartburg, escreveu Eine Treue Vermahnung vor Aufruhr und Empörung
(Uma Sincera Admoestação por Martinho Lutero a Todos
os Cristãos para que se Resguardem da Insurreição e
da Rebelião). Apesar disto, em Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano
Gabriel Zwilling reclamavam pela abolição da missa privada
e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação
das imagens nas igrejas e na ab-rogação do celibato.
Ao
fim de 1521, os anabatistas3 de Zwickau
se entregam à anarquia. Contrário a tais concepções
radicais e temendo seus resultados, Lutero regressa em segredo a Wittenberg
em 6 de março de 1522. Durante oito dias, a partir de 9 de março
(domigo de Invocavit) e concluindo no domingo seguinte, Lutero
pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como os Sermões
de 'Invocavit'. Nestas
pregações, Lutero aconselha uma Reforma cuidadosa, que leve
em consideração a consciência daqueles que ainda não
estão persuadidos a acolher a Reforma. A consagração
do Pão foi restaurada por um tempo e o Cálice sagrado foi
ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon
das missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido.
Devido ao Sacramento da Confissão haver sido abolido, confrontou-se
com a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de se confessar e de buscar
assim o perdão. Esta nova forma de serviço foi dada a Lutero
em Formula Missæ et Communionis (Fórmula da Missa
e Comunhão), de 1523. Em 1524, apareceu o primeiro hinário
de Wittenberg, com quatro hinos.
Como
esta parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira
seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar
leis para a alma, em seu Über Ddie Weltliche Gewalt, Wie Weit Man
Ihr Gehorsam Schuldig Sei (Autoridade Temporal: em que Medida Deve
Ser Obedecida).
A
guerra dos camponeses (1524 - 1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta
aos discursos de Lutero e de outros Reformadores. Revoltas de camponeses
já haviam acontecido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na
França (1358) e na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas
do século XV, e muitas outras até o século XVIII, mas
muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja
e á sua hierarquia significavam que os Reformadores iriam igualmente
apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos fortes
laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja
que Lutero condenava, isto não seria surpreendente.
Já
em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, colaboradores seus perverteram
seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por
toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de santos
(espalharam boatos de que estes santos, seriam a causa da derrota da Igreja
Católica), com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída
e promover a aniquilação dos ímpios (Igreja
Católica). Um desses pregadores foi Tomas Müntzer. A
mensagem escatológica de Müntzer, na verdade, tinha pouco a
ver com a proposta dos camponeses, tanto que ele procurou a nobreza da Saxônia
para obter apoio. Com a negativa destes e a eclosão dos conflitos
camponeses no sudoeste alemão, ele logo viu o instrumento para a
concretização de seus planos.
Lutero,
desde cedo, prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre a
revolta, e particularmente sobre Müntzer, um dos profetas do assassínio,
colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu
a Terrível História e Juízo de Deus sobre
Tomas Müntzer, inaugurando essa linha de pensamento.
Na
iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a Carta aos Príncipes
da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso, mostrando a tirania
dos nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através
da força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão
deste escrito.
Ainda
em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen,
oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a Carta Aberta aos Burgomestres,
Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen com o propósito
de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também
este escrito não teve repercussão, pois o conselho da Cidade
limitou-se a pedir informações sobre Müntzer na cidade
imperial de Weimar.
O
principal escrito dos camponeses eram os Doze Artigos, no qual
as reivindicações foram expostas. Neles, havia artigos de
fundo teológico (direito de ouvir o Evangelho através de pregadores
chamados por eles próprios) e artigos que tratavam dos maus tratos,
exploração nos impostos etc. Os artigos eram fundamentados
com passagens bíblicas e pedia-se que se alguém pudesse provar
pelas Escrituras que aquelas reivindicações eram injustas,
eles as abandonariam, e entre aqueles que se consideravam dignos de fazer
tal coisa estava o nome de Lutero. De
fato Lutero escreveu sobre os Doze Artigos em seu livro Exortação
à Paz: Resposta aos Doze Artigos do Campesinato da Suábia,
de 1525. Nele, Lutero atacou os príncipes e senhores por cometerem
injustiças contra os camponeses e censurou os camponeses pela rebelião
e desrespeito à autoridade. Também
este escrito não teve repercussão, e durante uma viagem de
Lutero pela região da Turíngia ele pôde testemunhar
as revoltas camponesas, o que o motivou a escrever o Adendo: Contra
as Hordas Salteadoras e Assassinas dos Camponeses. Tratava-se de um
apêndice de Exortação à Paz..., mas
cedo tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a revolta
camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades
contra os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta
na opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava
os príncipes a castigar os camponeses, até com a morte. Tal
repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no
Dia de Pentecostes, em 1525, que se tornou o livro Posicionamento do
Dr. Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e
Assassinos, onde o Reformador contesta os críticos e reafirma
sua posição anterior.
Como
ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou
sobre a questão na sua Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho
Contra os Camponeses, onde lamentou e exortou contra a crueldade que
estava sendo praticada pelos príncipes, mas reafirmou sua posição
anterior. Por fim, a pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero
redigiu Acerca da Questão, se Também Militares Ocupam
uma Função Bem-Aventurada, em 1526, com o propósito
de esclarecer questões sobre consciência do cristão
em caso de guerra e sua função como militar.
No
movimento reformista, Lutero não concordou como o estilo
de Reforma do teólogo cristão francês
João Calvino (1509 – 1564). Martinho Lutero queria Reformar
a Igreja Primitiva, enquanto Calvino, acreditava que a Igreja estava tão
degenerada que não havia como reformá-la. Calvino, então,
se propôs a organizar uma nova Igreja que na sua doutrina (e também
alguns costumes), seria idêntica à Igreja primitiva. Já
Lutero decidiu reformá-la, fundando então o Protestantismo,
que não seguia tradições, mas, sim, apenas a doutrina
registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam
presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana
está explicitada no Livro de Concórdia, e esta não
muda, mas os costumes e formas variam de acordo com a localidade.
Lutero
não foi o primeiro tradutor da Bíblia para o alemão.
Já havia traduções mais antigas. A tradução
de Lutero, contudo, suplantou as anteriores. Além da qualidade da
tradução, foi amplamente divulgada em decorrência da
sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gensfleisch zur
Laden zum Gutenberg (1390 – 1468), em 1453.
O
domínio do latim, no século XVI, no fim da
Idade Média e princípio da chamada Idade Moderna, era apenas
privilégio de uma percentagem ínfima de população
instruída, entre os quais os elementos da própria igreja.
A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente
um ato de desobediência e um pilar da sistematização
do que viria a ser a língua alemã, até aí vista
como uma língua inferior, dos ignorantes e plebeus. (É preciso
adicionar que Lutero não se opôs ao latim, e ele mesmo publicou
uma edição revisada da tradução latina da Bíblia
– a Vulgata4. Lutero escrevia tanto em latim como
em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão
não significou, portanto, rejeição do latim, por parte
de Lutero, como língua acadêmica.)
Enfim,
como já foi dito mais acima, Lutero desenvolveu uma nova visão
teológica bebendo nas palavras de Romanos I, 17: O justo
viverá pela fé. Segundo sua interpretação,
dizia que o perdão e a vida eterna não são conquistados
por nós mediante boas obras, mas nos são dados gratuitamente
por meio da fé em Jesus Cristo – O Filho de Deus – que
morreu e ressuscitou para perdão de toda a Humanidade. Talvez este
possa se constituir em um acréscimo subsidiário ao pensamento
dos historiógrafos que refutam a idéia de que Lutero tenha
estado vinculado ao incipiente e oculto Movimento Rosa+Cruz de seu tempo,
pois, para os Rosa+Cruzes de ontem, de hoje e de sempre, estas idéias
básicas e sustentáculos de sua fé, não são
nem misticamente congruentes e nem metafisicamente plausíveis, ainda
que, com elas ou sem elas, Lutero não tenha tido a intenção
orientadora de deflagrar especificamente uma Reforma teológica sangrenta,
pois nada mais pretendia do que oferecer esclarecimentos teológicos
que pudessem curar as almas, esta mesma Reforma que acabou se materializando
tenha sido de utilidade singular e inestimável para descativar mentes
e Corações. Se foi mesmo assim, o subtítulo deste trabalho
– Pensamentos
de um Revolucionário Religioso –
não está rigorosamente correto. Entretanto, o que farei a
seguir, depois da breve Cronologia que se seguirá, é garimpar
alguns fragmentos do pensamento de Lutero, particularmente das suas 95 Teses
(afixadas na porta da capela de Wittemberg em 31 de outubro de 1517 movidas
pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade) que possam,
de alguma forma, estar próximas da Metafísica Mística
Rosacruz contemporânea (século XXI).
Cronologia
10
de novembro de 1483: Nasce Lutero.
1509:
Henrique VIII (1491-1547) torna-se rei da Inglaterra. Nasce João
Calvino em 10 de julho.
31
de outubro de 1517: Lutero fixa as suas 95 Teses na porta da Igreja
do Castelo de Wittenberg. Este dia é comemorado anualmente como o
Dia da Reforma.
1518:
Lutero recusa-se a se retratar perante o papa Leão X (1475-1521;
pontificado: 1513-1521).
junho
de 1520: Leão X condena 41 proposições de Lutero.
21 de janeiro de 1521: Leão X excomunga Lutero, mas levam vários
meses até a ordem de excomunhão chegar à Alemanha.
1522:
Lutero publica a sua advertência contra os distúrbios e publica
a tradução do grego para o alemão do Novo Testamento,
com gravuras de Lucas Kranach (1472-1553).
1523:
Lutero publica texto que fala do direito de a comunidade de fiéis
julgar toda a doutrina e nomear e demitir clérigos.
1524-1525:
Revolta camponesa liderada por Thomas Müntzer (1490-1525).
1525:
Lutero publica texto contra os profetas sagrados e contra as revoltas
camponesas.
1528:
Mandato imperial ameaça de morte os anabatistas.
1530:
Carlos V (1500-1558) – rei de Espanha desde 1516 e eleito imperador
Habsburgo desde 1519 – fracassa em impor uma ortodoxia religiosa ao
império.
1534:
Ruptura de Henrique VIII da Inglaterra com Roma, supressão dos monastérios
e concessão de permissão para os padres se casarem. Na Alemanha,
Lutero publica a tradução do hebreu para o alemão do
Velho Testamento.
1534-1535:
Anabatistas tomam o poder em Münster, mas seu reino é
derrubado pela coligação de forças católicas
e protestantes.
1536:
Calvino edita Instituições da Religião Cristã.
Há também a introdução da Bíblia vernacular
na Inglaterra.
1542:
Calvino organiza o seu catecismo em Genebra.
1544:
Calvino admoesta os anabatistas.
13 de dezembro de 1545: Começa o Concílio de Trento.
18
de fevereiro de 1546: Morre Lutero.
1547:
Eduardo VI (1537-1553) assume o trono na Inglaterra e demonstra forte tendência
calvinista.
1549:
Eduardo VI lança o livro de pregações e pretende forçar
a uniformidade religiosa em torno da fé reformada na Inglaterra.
1553:
Morre Eduardo VI e sua irmã mais velha, Maria I (1516-1558) pretende
o retorno da Inglaterra ao Catolicismo.
1558:
Morre Carlos V da Espanha e Maria I da Inglaterra. Elizabeth (1533-1603)
assume o trono da Inglaterra e tenta restaurar o anglicanismo de seu pai,
Henrique VIII, o que significava evitar os extremos: o puritano (Eduardo
VI) e o católico (Maria I).
Março de 1560: Fracasso de uma conspiração de jovens
aristocratas huguenotes contra a Casa Católica do Duque de Guise
na França. Primeiro édito de tolerância é editado.
Setembro-Novembr de 1561: Colóquio de Poissy, mas fracassa a tentativa
de restaurar a unidade entre huguenotes e católicos na França.
Março de 1562: Massacre dos huguenotes em Vassy comandado pela Casa
Católica de Guise. Primeira Guerra Civil Religiosa na França.
1563:
Em março, Catarina de Médicis (1519-1589; regente: 1560-1574)
tenta por fim à guerra civil francesa com a assinatura da Paz de
Amboise, que concede certo grau de tolerância para os huguenotes.
Neste mesmo ano, encerra-se o Concílio de Trento.
27 de maio de 1564: Morre João Calvino. Théodore de Béze
(1519-1605) sucede Calvino como líder da reforma protestante centrada
em Genebra.
24 de agosto de 1572: Noite do Massacre de São Bartolomeu, em Paris.5
1598:
Publicação do Édito de Nantes.
1685:
Revogação do Édito de Nantes.
Fragmentos
do Pensamento de
Martinho Lutero
Agem
mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos
penitências canônicas para o purgatório.
Essa cizânia de transformar
a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada
enquanto os bispos certamente dormiam.
Saúde ou amor imperfeito no
moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto
menor for o amor.
Erram,
portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é
absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.
Se
é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém,
ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é,
a pouquíssimos.
Por
isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada
por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição
da pena.
Pregam
[mera] doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar
a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando (do purgatório
para o céu).
Certo
é que, ao tilintar a moeda na caixa6, pode aumentar
o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém,
depende apenas da vontade de Deus.
Ninguém
tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de
haver conseguido plena remissão.
Serão
condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam
seguros de sua salvação através de carta de indulgência.
Deve-se
ter muita cautela com aqueles que dizem ser as indulgências do papa
aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a
pessoa é reconciliada com Ele.
Os
que ensinam que a contrição não é necessária
para obter redenção ou indulgência, estão pregando
doutrinas incompatíveis com o cristão.
Qualquer
cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios
de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.
[Misticamente, esta tese luterana deveria começar da seguinte
forma: Qualquer ser humano sincero...]
Até mesmo para os mais doutos
teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante
o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.
Deve-se
ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que
a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com
as obras de misericórdia.
Deve-se
ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado,
procedem melhor do que se comprassem indulgências.7
Ocorre
que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor;
ao passo que, com as indulgências ela não se torna melhor,
mas apenas [presumidamente] livre da pena.
Deve-se
ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia
para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências
do papa, mas a ira de Deus. [Aqui, certamente, há um exagero
de Lutero ou uma espécie de licença literária (que
eu não aprovo). Então, a ira de Deus, salvo melhor
juízo, só pode ser entendida como uma nulidade-inutilidade
hipotética com a compra de indulgências. Esses negócios
com Deus vêm de longe... As seitas eletrônico-televisivas de
hoje apenas estão repicando e carambolando o que sempre existiu.]
Deve-se
ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância,
devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma
alguma desperdiçar dinheiro com indulgências. [E mesmo
que tenham bens em abundância presumir que a presumida salvação
possa ser presumidamente comprada, só pode interessar a quem presumidamente
presume poder vendê-la. Mas, sinceramente, penso que esses sacanocratas
que vendem facilidades celestiais são uns picaretas de marca maior.]
Deve-se
ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações
dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica
de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
Deve-se
ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é
seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns
pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo
que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.
Vã
é a confiança na salvação por meio de cartas
de indulgências, mesmo que o comissário – ou até
mesmo o próprio papa – desse sua alma como garantia pelas mesmas.
São
inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação
de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais
igrejas.
Ofende-se
a Palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou
mais tempo às indulgências do que a Ela.
A
atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que
são o menos importante) são celebradas com um toque de sino,
uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o
mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões
e cerimônias.
Os
tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as
indulgências, não são suficientemente mencionados nem
conhecidos entre o povo de Cristo.
Os
tesouros da Igreja tampouco são os méritos
de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça
do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.
É
sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas
pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.
O
verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo
Evangelho da glória e da graça de Deus... Mas este tesouro
é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os
últimos... Em contrapartida, o tesouro das indulgências é
certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.
Portanto, os tesouros
do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores
de riquezas... Os tesouros das indulgências, por sua vez, são
as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.
As
indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças
realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa
renda.
Seja
bendito quem ficar alerta contra a devassidão e a licenciosidade
das palavras de um pregador de indulgências.
A
opinião de que as indulgências papais são tão
eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado
a mãe de Deus – caso isso fosse possível – é
loucura.
Afirmamos,
pelo contrário, que as indulgências papais não podem
anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua
culpa. [Isto significa que quaisquer que sejam os negócios feitos
com Deus, diretamente ou por intermediação, são inúteis.
Ou aprendemos... Ou aprenderemos.]
Essa
licenciosa pregação de indulgências faz com que não
seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa
contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos
leigos.
Por
que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo
amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa
de todas as causas – se redime um número infinito de almas
por causa do funestíssimo dinheiro para a construção
da basílica – que é uma causa tão insignificante?
Que
nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro,
permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus,
mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e
dileta por amor gratuito?
Por
que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já
há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos
com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda
estivessem em pleno vigor?
Por
que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais crassos,
não constrói com seu próprio dinheiro a Basílica
de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos
pobres fiéis?
Fora
com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo 'Paz, paz!', sem que
haja paz!
Que
prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo 'Cruz! Cruz!', sem
que haja cruz!8
Quem
enumerará todas as promessas de Deus?
Em
primeiro lugar, devo negar os Sete Sacramentos, e admitir, por agora, somente
três: o batismo, a Penitência e o Pão.
O
principal raciocínio de minha tese é, em primeiro lugar, que
às palavras divinas não se deve fazer violência alguma,
nem por parte de um homem, nem por parte de um anjo; deve-se, no entanto,
conservá-las, enquanto for possível, em seu mais simples significado.
Não
é necessário que a natureza humana se transubstancie para
que a divindade habite corporalmente nela, a fim de que se tenha a divindade
sob os acidentes da natureza humana.
Para
se chegar, segura e felizmente, ao verdadeiro e livre conceito desse Sacramento
[Eucaristia],
temos que procurar, antes de tudo, separar todas aquelas coisas que foram
acrescentadas à sua instituição, primitiva e simples,
pelo zelo e pelo fervor humano. Essas são: vestes, ornamentos, cânticos,
preces, órgãos, luzernas e toda aquela pompa de coisas visíveis,
e voltar os olhos e a mente à única e pura instituição
de Cristo.
Uma
Palavra final
O que importa se Lutero esteve ou
se não esteve vinculado ao incipiente e oculto Movimento Rosa+Cruz
de seu tempo? O que importa se desenvolveu uma nova visão teológica
bebendo nas palavras de Romanos I, 17: O justo viverá
pela fé? O que importa se dizia que o perdão e a vida
eterna não são conquistados por nós mediante boas obras,
mas nos são dados gratuitamente por meio da fé em Jesus Cristo
– O Filho de Deus – que morreu e ressuscitou para perdão
de toda a Humanidade? O que importa se cometeu, aqui e ali, demasias literárias?
Ora, isto não importa realmente nada. Importa, sim, e muito, se Lutero
foi um homem digno, lhano e verdadeiro. Se foi, e penso que tenha sido,
para mim, isto é o que basta. O resto são adjetivações.
Enfim,
Lutero deixou um legado para todos os místicos: tudo deve ser conferido
e aferido. Livros sagrados, secretos, trancados a sete chaves,
cuja interpretação seja tão-somente de uma casta sacerdotal
capaz de ler em línguas antigas, é um absurdo que não
deve prevalecer.
_____
Notas:
1. Abaixo,
transcrevo a explicação de Sérgio Dário Costa
Silva, M.Th., a respeito do conceito teológico da Doutrina da Justificação.
Obviamente, cada um é livre para concordar ou para discordar da exposição
a seguir.
Entre
as inestimáveis doutrinas do Cristianismo está a Justificação.
Doutrina esmerada pelo apóstolo Paulo em sua magna Carta aos Romanos
e resgatada por Lutero, na Reforma. A ausência e a incompreensão
desta doutrina, no período da Idade Média, trouxeram muitos
prejuízos, como a escravidão da consciência e conceitos
errados acerca de Deus e Sua justiça, comprometendo toda
a Soteriologia [parte da Teologia que trata da salvação
do Homem], além de deturpar o Cristianismo. Isto mostra que ela
é uma das colunas do Cristianismo. Sendo assim, compreender o verdadeiro
significado desta doutrina é algo indispensável a todo cristão.
Quanto
à sua conceituação, no AT, embora o termo 'justificar'
tenha, às vezes, uma conotação moral ou ética,
grande parte de sua ocorrência deixa evidente o aspecto forense do
termo, no qual uma pessoa é declarada judicialmente justa por ter
uma vida coerente com as exigências da lei (Ex 23.7; Is 5.23; Dt 25.1;
e Pv 17.15). O sentido neotestamentário do termo 'justificar' é
mais amplo, pois se trata de uma pessoa declarada justa ante o tribunal
de Deus, com base na justiça de Cristo.
Quanto
à natureza da justificação, é importante ressaltar
que o homem justificado não se torna justo, mas é declarado
justo, tratando-se de duas afirmações diferentes. Um dos erros
da tradição escolástica, no período pré-reformista,
foi interpretar o termo 'justificar' como sendo 'tornar justo'. Mas, com
a Reforma, Lutero reafirmou o sentido legal do termo. A justificação
é o direito legal de se ter acesso e comunhão com Deus. Não
se trata de uma justiça infundida no homem.
Quanto
ao fundamento, a justificação tem como base a justiça
de Cristo. Sendo o homem incapaz de se autojustificar, Deus o justifica.
Surge, então, a questão: como Deus, sendo absolutamente justo,
pode justificar o homem injusto e pecador? Paulo responde e deixa claro
que Cristo fez justiça por nós (Rm 3.24-26; 4.5; e 1Co 1.30).
Portanto, Deus não é injusto ao justificar o injusto, pois
o fundamento é a justiça de Cristo e Deus considera a justiça
d'Ele pertencente ao homem.
Quanto
à necessidade de justificação, estende-se a partir
da queda de Adão. Com a desobediência de Adão, o pecado
entrou no mundo, a raça humana herdou a corrupção do
pecado e, conseqüentemente, o homem é injusto desde seu nascimento
(Sl 51.5; e Gn 8.21). Assim, o homem é incapaz de agradar a Deus
e de fazer Sua vontade (Rm 8.7-9). Além do mais, o pecado atrai a
ira de Deus. Sua ira requer juízo, e a justificação
impede que esse juízo seja executado. Assim como o pecado de Adão
foi imputado à Humanidade, a justiça de Cristo é imputada
ao homem. Assim, a justificação é necessária
porque o homem é incapaz de adquirir sua própria justiça,
pois, ele é injusto por natureza.
Quanto
ao meio pelo qual o homem se apropria da justificação, Paulo
afirma que é somente pela fé. Não é por intermédio
de obras. De outro lado, deve-se ter muita diligência para não
cair no erro de ter a fé como fonte ou fundamento da justificação,
pois a fé, em si mesma, não justifica, é apenas um
receptor. A fonte da justificação é Deus, e Sua justiça
e fundamento é a cruz de Cristo. O homem não é justificado
por causa de sua fé, pois, se assim fosse, a fé deixaria de
ser um meio para ser uma obra meritória. A justiça de Cristo
é suficientemente perfeita e exclui qualquer complemento.
Portanto,
considerando que somos justificados pela fé em Cristo Jesus, somos
livres para servir a Deus, sem medo de sermos rejeitados por Ele. Temos
livre acesso ao trono da graça em liberdade de consciência.
Somos justificados, somos livres.
2. A
Dieta de Worms (em alemão, Wormser Reichstag) foi, como
qualquer Reichstag (sessão do governo imperial), uma cimeira oficial,
governamental e religiosa. Chefiada pelo imperador Carlos V, teve lugar
em Worms, na Alemanha, uma pequena cidade no rio Reno, tendo lugar entre
28 de janeiro e 25 de maio de 1521. Apesar de outros assuntos terem sido
discutidos, a Dieta de Worms é sobretudo conhecida pelas decisões
respeitantes a Martinho Lutero e os efeitos subseqüentes na Reforma
Protestante. Lutero foi convocado para desmentir as suas teses; no entanto
ele se defendeu e pediu a Reforma, entre 16 e 18 de abril de 1521. Célebres
tornaram-se as suas palavras: Hier stehe ich. Ich kann nicht anders.
(Aqui estou. Não posso renunciar). Ele foi obrigado a deixar Worms
em 25 ou 26 de abril. Em 25 de maio, o Édito de Worms declarava Lutero
um fora-da-lei.
3. Os
anabatistas eram adeptos protestantes, do século XVI, que desaprovavam
o Batismo da criança antes do uso da razão, e preconizavam
a reiteração do Batismo na idade adulta, no caso dos que se
houvessem batizado antes.
4. A
Vulgata é uma tradução para o latim da Bíblia
escrita em meados do século IV por São Jerônimo, a pedido
do Papa Dâmaso I, que foi usada pela Igreja Católica e ainda
é muito respeitada.
5. O
Massacre da Noite de São Bartolomeu foi um episódio sangrento
na repressão aos protestantes na França pelos reis franceses,
católicos. As matanças, organizadas pela Casa Real Francesa,
começaram em 24 de agosto de 1572 e duraram vários meses,
inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre
70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).
6. Lutero
se refere à caixa de coleta de rendas oriundas da venda de cartas
de indulgência.
7. Esta
tese tem dois alvos: em âmbito geral, a elite nobre e não-nobre
alemã que desperdiçava recursos em encomendas de missas ou
patrocínio de igrejas às custas da miséria ou exação
de seus subordinados; em âmbito particular, o Cardeal Alberto de Brandeburgo
(1490-1545). Para ter sua confirmação para o Arcebispado de
Mayence, em 1514, Alberto tinha que conseguir uma soma considerável
e enviá-la para Roma. Para tanto, ele fez um empréstimo e
o assentou, com autorização papal, sobre a arrecadação
das indulgências vinculadas à construção da Basílica
de São Pedro, em Roma. Segundo o acordo entre Alberto e o Papado,
metade do arrecadado iria para a construção da Basílica
e a outra metade para Alberto quitar suas dívidas provenientes da
investidura no arcebispado. No final das contas, o Papa teria o conjunto
das rendas de Brandeburgo vinculadas às indulgências.
8. Com
tal imprecação, Lutero esperava uma reforma moral da Igreja
e do seu rebanho, o que significava a interiorização da fé,
da contrição e da charitas.
Bibliografia:
BIBLIA.
Bíblia Sagrada. 9ª ed. São Paulo: Ed. Paulinas,
1958.
LUTERO,
Martinho. Do cativeiro babilônico da Igreja. São Paulo:
Editora Martin Claret Ltda, 2007.
Páginas
da Internet consultadas:
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Olga_Ben%C3%A1rio
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Joaquim_Jos%C3%A9_da_Silva_Xavier
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Fidel_Castro
http://www.espacoacademico.com.br/
034/34tc_lutero.htm
http://www.musicaeadoracao.com.br/
diversos/martinho_lutero.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luteranismo
http://www.rosecroixjournal.org/
http://www.arikah.net/
enciclopedia-espanola/Sello_de_Lutero
http://jucrisa.blogspot.com/
2007/10/aprendendo-sobre.html
http://svmmvmbonvm.org
http://svmmvmbonvm.org/luterosa.pdf
http://www.luterano.com.br/rosa.htm
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Zumbi_dos_Palmares
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Esp%C3%A1rtaco
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Che_Guevara
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Sim%C3%B3n_Bol%C3%ADvar
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Mikhail_Aleksandrovitch_Bakunin
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Tupac_Amaru
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Martinho_Lutero
http://www.iprb.org.br/
artigos/textos/art01_50/art41.htm
http://www.dpchallenge.com/
image.php?IMAGE_ID=61719
Fundo
musical:
Gloria
in excelsis Deo)
Fonte:
http://www.zeitun-eg.org/midi.htm