Perguntado
como podia um comunista freqüentar bordéis, respondeu: —
Sou um bolchevique
sexual.
Eu
entrei para a Globo com a Direção sabendo que eu sou comunista.
Nunca senti a menor restrição à minha pessoa.
Submissões,
cumpri-as todas com meus pais... Sendo filho único, não havia
como escapar à doçura materna, aos apelos comedidos do velho.
Mas a verdade é que, paralelamente, eu já forjava conceitos
próprios, porque cedo me caíram às mãos livros
que muito me elucidaram, da mesma forma que colocaram, por destino, frente
a grandes músicos, a pessoas esclarecidas...
Sobre
as prostitutas: É uma vida jogada a perigo, sofrida.
Eu
jamais gostei de fazer cinema porque sou endocrinologicamente ansioso.
Dor
de cabeça aos 88 anos pesa; não é como aos vinte e
poucos, que se vai em frente.
Mario,
vou lhe dar um conselho: quando você entrar em cena, se se sentir
nervoso ou com medo, fale o mais alto que puder, para a platéia ficar
com medo de você. Você vai entrar em uma jaula de leão;
se o leão sentir que o domador está com medo, ele come o domador.
(Conselho de Procópio Ferreira, depoimento de Mario Lago).
A
moral muda no tempo e no espaço.
Nem
todo papel a gente gosta.
Ai,
ai, ai,
O galo é que está com a razão:
Poleiro de pato é no chão.
Mestre pato fez poleiro
No coqueiro do quintal,
Mas o rei do galinheiro
Achou isso desigual.
Sou
do tempo em que as pessoas paravam, ouviam serestas, sentavam à mesa
para conversar.
Nas
rodas do Café Nice, um dos passatempos prediletos era o de inventar
apelidos para os seus freqüentadores. Orestes Barbosa, que tinha um
calombo nas costas, foi apelidado de 'Corcunda de Notre Dame'. João
de Barro, considerado pequeno, chato e de presença obrigatória,
virou o 'Complemento Nacional'. Excessivamente perfumado, Orlando Silva
era o 'Sovaco'. Benedito Lacerda era o 'Leão do Tapete' que, apesar
de ser muito feio, não fazia mal a ninguém. Já eu,
pela sua altura, brancura e languidez era o 'Lagartão'.
Custódio Mesquita parecia
uma figura desenhada a bico de pena por Gustave Doré para a edição
de Dom Quixote. Cabelos cuidadosamente despenteados, olhos agitados, de
espadachim, como se quisessem mergulhar no mundo. Vivia dizendo que não
tinha tempo para se preocupar com fracassos. Dizia freqüentemente para
mim: 'sou a atração número um em qualquer cartaz e
você é testemunha disso.
Você
sente que é ator quando está sendo interrogado... O interrogatório
é terrível, porque a cada pergunta você tem que rebobinar
tudo, ali, para ver como é que vai responder. Você tem que
ter uma resposta ali... que o sujeito não se sinta capaz de continuar...
Você é ao mesmo tempo ator e autor. Você cria uma realidade
para responder a cada pergunta. Para você ser um ator perfeito tem
que responder logo, dar aquela rebobinada.
Para
ter capacidade de lidar com o imprevisível e ter a pronta articulação
diante do adversário, Mario dizia que é preciso:
dar a volta por cima, ter jogo de cintura e ter ginga.
O
humor, durante
o tempo da ditadura, foi sua estratégia de sobrevivência:
Todos eles [militares ligados
ao período da repressão] já foram, eu continuo.
Todos os riscos, e no fim de tudo... voilá! Eles foram, eu continuo.
Talvez tenha tido humor. O ditador geralmente não tem humor. O ditador
é obrigado a manter a cara feia. Por isto, quase todo ditador usa
óculos escuros, porque os olhos podem trair um momento de sensibilidade
e de emoção... Eu posso chorar a hora que quiser. Você
chorando também descarrega... Todo o mau humor que existe vai embora,
fica só o bom humor, a maneira otimista de ver a vida.
A
vida é como uma coisa rolada, que flui em permanente movimento.
Um
grão de areia é o mundo em nossa mão.
O
Sol pode apagar, o mar perder a voz, mas nunca morre um sonho bom dentro
de nós.
Se
você levar a vida muito a sério, ela vai ficar até chocada.
O pior de tudo é quando a vida sente que você tem medo dela...
Eu fiz um acordo com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um
dia a gente se encontra.
A vida é viciada em mim. Só
tenho medo que ela tome uma overdose.
Sou
da época dos cantinhos escuros, onde se quebrava um lampião
na frente da casa da namorada e acontecia tudo o que se vê hoje.
Nada
além,
Nada além de uma ilusão...
O
tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não
saudades.
Três
Coisas
Três coisas pra mim
no mundo
Valem bem mais do que o resto.
Pra defender qualquer delas
Eu mostro o quanto que presto.
É o gesto, é o grito, é o passo;
É o grito, é o passo, é o gesto.
O gesto é a voz do proibido
Escrita sem deixar traço.
Chama, ordena, empurra, assusta;
Vai longe com pouco espaço.
É o passo, é o gesto, é o grito;
É o gesto, é o grito, é o passo.
O passo começa o vôo,
Que vai do chão pro infinito.
Pra mim, que amo estrada aberta,
Quem prende o passo é maldito.
É o grito, é o passo, é o gesto;
É o passo, é o gesto, é o grito.
O grito explode o protesto,
Se a boca já não dá espaço.
Que guarde o que há pra ser dito!
É o grito, é o passo, é o gesto!
É o gesto, é o grito, é o passo!
É o passo, é o gesto, é o grito!
|
A
Lapa foi o chão de todos os meus passos. Na busca de caminhos
e no encontro de atalhos... Conheci-a em muitas realidades e em diversos
tempos.
A
Lapa não foi conseqüência, não. A Lapa foi ponto
de partida. Porque eu morava perto... Fui amigo de tudo que era vagabundo;
era tudo amigo meu... Tinha uns bordeizinhos na Rua da Lapa; eu matava as
aulas do Pedro II ali.
Madame
Satã não era fácil pra prender! Nunca foi preso por
menos de seis guardas. Jogava muito com a perna, né? Então,
houve a briga dele com Geraldo Pereira. Madame Satã era uma moça
e o Geraldo Pereira também era uma moça, quando não
estava de porre. Quando estava de porre, saía procurando briga. E,
lá na Lapa, uma noite, ele cismou com a Madame Satã. Cismou...
E ficava dizendo: 'Você é veado!' 'Tá bem, seu Geraldo'
respondeu a Madame. Até que o Geraldo disse: 'Vou lhe dar uma porrada'.
Aí a Madame disse: 'Ah, não vai não'. E a Madame Satã
só dava rabo de arraia na barriga do Geraldo, que tinha um câncer
no intestino.. Estourou o cano. A Madame Satã era difícil
de pegar... Chinelinho de salto alto, tamanquinho todo florido e tal...
Eu
fui boêmio sem beber, boêmio de água mineral. Nunca tive
disposição pra beber... Eu era bonito, usava pince-nez; era
o moço do pince-nez... Sempre muito bem vestido, filho único,
tinha todas as regalias.
Não
suporto gravata; não boto nem calça. Eu vou ao médico
assim, de bermuda. Muito calor, pô!
Eu
fumei dos 12 aos 77. Vai fazer 12 anos agora. Parei. Mas, não faço
sermão. Eu digo sempre que, se eu tiver uma doença e o médico
disser que não tem volta, a primeira coisa que eu vou fazer é
voltar a fumar.
Houve
uma época em que cocaína era vendida em farmácia. A
Merck era a grande marca. A melhor cocaína era da Merck...
Eu
não gosto de trabalhar. Eu sou preguiçoso, mais do que o Caymmi.
E o Caymmi é a preguiça, até na maneira de falar. Mas
eu sou tão preguiçoso que arranjei um enfisema pulmonar para
falar pouco.
Eu
fui boêmio, não durmo antes de uma da manhã.
Quando
foi demitido da Rádio Nacional por discutir com o diretor, um coronel
do Exército, comentou: —
Ele entende de quartel, eu de parágrafos.
Com
a radicalização da ditadura, vira mais ator do que autor.
E justifica:
—
Não
tenho mais coronária para agüentar conversa de censor.
Exigi
demais do meu corpo. Nem sei porque ainda falo e tenho memória.
Morei
em Copacabana a maior parte da minha vida, mas não freqüentei
o bairro.
Nós
estamos condicionados a pensar que nossas vidas giram em torno apenas de
grandes momentos. Todavia, os grandes momentos freqüentemente nos pegam
desprevenidos, e ficam maravilhosamente guardados em recantos que os outros
podem considerar sem importância. E, da mesma forma, ocorrem outros
momentos...
Não
sei nada mais gostoso do que o sucesso, para quem o cria. Quando algum autor
vem com aquela conversa de que não dá nenhuma importância
ao aplauso do público, tenho engulhos no estômago, porque é
mentiroso. Está querendo posar de diferente. Eu nunca deixei de parar
na porta de uma loja de disco onde uma vitrola estivesse tocando uma música
feita por mim.
Quando
deixarmos de ter esperança, é melhor apagar o arco-íris.1
Nunca
vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz...
Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia é que era mulher de verdade! (Em
parceria com Ataulfo Alves).
Eu
não sou galã, mas não posso me queixar. Já distribuí
muito autógrafo. E continuo distribuindo!
Eu
nasci inconformado; sempre rebelde. Eu sou vocacionalmente rebelde.
A
primeira cadeia é como o primeiro sutiã: a gente não
esquece nunca.
Gente
de esquerda fala muito e repete tudo o que os outros já disseram.
Isso me dá nervoso.
A
esquerda gosta muito de guardar papel. É uma coisa terrível.
Quando a polícia chegava, pegava tudo.
Eu
tenho um certo pavor da palavra intelectual. Intelectual é muito
chato.2
Um dia, Mario Lago revelou que a
Amélia da música existia de verdade. Era a empregada de Aracy
de Almeida e do seu irmão, Almeidinha: Com
esta explicação, desiludi milhares de Amélias que se
julgavam homenageadas. Mas, em compensação, ganhei tranqüilidade
doméstica. Minha esposa até hoje era cismada com essa tal
de Amélia…
Sou
como Edith Piaf: 'Non, je ne regrette rien.' (Não, eu não
lamento nada). Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão
estava errada, paciência. Não tenho frustrações
porque vivi como em um espetáculo. Não fiquei vendo a vida
passar; sempre acompanhei o desfile.3
Eu
não fico parado vendo o desfile passar. Eu vou junto.
Não tenho frustrações
porque vivi como em um espetáculo. Não fiquei vendo a vida
passar, sempre acompanhei o desfile.
Apesar
de comunista, não quis abrir mão de nada. Um militante deve
levar a vida como as outras pessoas, até para poder dialogar com
elas.
Em cena, um músico, um poeta.
Como um mago, e sua magia...
Que com um truque, nos desconcerta,
Revelando uma cadeira vazia...
E
ali... O silêncio... Um teatro mudo...
O choro do palhaço no picadeiro...
O tudo do nada, o nada do tudo,
Calando um mundo inteiro...
Porque,
diante a ribalta,
A sua presença nos falta,
E a tristeza vem se apresentar...
E
na cena, se põem a brilhar,
Como dessa forma eu relato,
Deixando vazio o nosso teatro...
|
Espinho
não me amedronta
Nem
pedra vai me assustar.
Quem
quer que eu saia da estrada
Venha
me buscar.
Passaste
hoje ao meu lado
Vaidosa, de braço dado
Com outro que te encontrou.
E eu relembrei comovido
O velho amor esquecido
Que o meu destino arruinou...
Satisfaz
tua vaidade,
Muda de dono à vontade,
Isso em mulher é comum.
Não guardo frios rancores,
Pois, entre os teus mil amores,
Eu sou o número um.
O
amor passa, mas deixa
Sempre a recordação
De um beijo ou de uma queixa.
Depois
que Adão e Eva descobriram a moita e foram para o inferno, sempre
houve apelo sexual.
Hoje,
não faço mais televisão porque não tem papel
para bisavô, e para avô já passei da idade.
As
pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez ou até
mesmo todas as palavras que você disse... Mas elas sempre lembrarão
de como você as fez sentir.
Perdão
foi feito pra gente pedir.
Pensar
é uma coisa muito importante. Expressar o que se pensa é mais
importante ainda. Mas o mais importante mesmo é realizar o que se
pensa.4
Vivi.
Essa é a coisa principal que fiz.
Devolve
Devolve
toda a tranqüilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi.
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci.
Devolve, eu peço, por favor,
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci.
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti.
|
E
eles vieram pras ruas...
Delírio verde nos lábios,
delírio pardo nas almas,
delírio negro nas mãos.
Amigos!
Sejamos todos poetas!
Utilizemos as rimas!
E escrevamos todos juntos.
de uma vez,
o poema da liberdade,
que acabe com a fome de um operário,
que acabe com a angústia de um camponês.
A
minha maior vontade é te amar intensamente,
mesmo que, às vezes,
silenciosamente.
Não
vivo em um país frio que me permita estudar oito horas de piano por
dia, como estudam os grandes pianistas, não. As meninas estão
na praia, e ficar em casa estudando piano? Fazendo samba eu chegava mais
perto.
Amélia
era uma mulher solidária: 'Eu nunca vi fazer tanta exigência,
nem fazer o que você me faz. Você não sabe o que é
consciência, não vê que eu sou um pobre rapaz? Você
só pensa em luxo e riqueza. Tudo o que você vê, você
quer. Ai, meu Deus que saudade da Amélia. Aquilo sim, é que
era mulher'. A Amélia não exigia. Se tinha, tinha. Se não
tinha, o que se pode fazer? Tirei exemplo de minha mãe, de minha
mulher. Tem, então vamos gastar. Não tem, então vamos
brecar. Na minha concepção, Amélia é uma mulher
solidária; não é uma mulher resignada. Às vezes
passava fome, não era sempre. Pois não sendo sempre, não
é uma resignação. Se passasse fome toda hora, aí
já seria resignação, porque aturou tudo. Mas não.
Às vezes. Quer dizer: quando havia uma situação difícil,
não criava problemas, 'me tirou da casa do meu pai, você tem
que me dar tudo'. Não era dondoca. Nunca suportei dondoca!
A
Casa Nice – que todo mundo chamava de Café Nice – era
o centro da Democracia. Sentava à mesa quem quisesse sentar. Não
tinha estirpe. Pisou no Nice, não tinha estirpe. Era proibido selecionar.
Eu
freqüentei o Café Nice três anos seguidos. Embora fosse
um Café freqüentado por compositores, eu nunca vi ser feito
um samba no Café Nice.
O
teatro de revista foi de grande importância porque nele havia crítica
política. Os quadros de crítica política eram muito
esperados. Com o Estado Novo, caiu muito. Vieram os cassinos e carregaram
com as coristas, porque pagavam muito mais. O teatro não tinha jogo
para se sustentar; os cassinos tinham. O teatro de revista, que foi tão
importante, foi morrendo aos poucos, pela censura e pela concorrência
com os cassinos, que tinham 'shows' luxuosíssimos. Mesmo que um 'show'
do cassino não agradasse, o jogo sustentava; não precisava
mudar de 'show' logo. O teatro, não. Uma peça não agradou,
um prejuízo desgraçado. Tem que montar outra. Ficar pagando
as dívidas dessa, e as dívidas que se fazem para levar a outra.
E o teatro de revista foi morrendo por isso, porque não tinha mais
crítica e não agüentou a concorrência do luxo.
O
artista não pode ficar divorciado da vida que está à
sua volta. Como intelectual, ele não pode se omitir frente ao que
está acontecendo.
Tenho
a impressão de que houve um erro de rota na URSS, porque era uma
política muito fechada, e precisava se abrir. Gorbatchev fez isto.
Um rio represado, quando solto, inunda tudo. Quer dizer, passa de um fechado
para um aberto total. Porque havia muita gente contra lá dentro mesmo.
Era gente que vivia sonhando com uma época que já não
existia – o czarismo. A bisavó falava, contava. Havia muita
gente contra. Eu mesmo, quando estive em Moscou, discuti com vários.
Foi aberto rapidamente demais. Então, degringolou tudo. Não
houve tática. Talvez, tenha sido prolongado demais o fechamento.
Já aconteceu, guardadas as proporções, com o Plano
Funaro, no Brasil. Ele fez um Plano que, dentro de um tempo limitado, funcionou.
Depois, esticou demais. Aí degringolou. Lá, os planos qüinqüenais
foram necessários. A brutalidade foi necessária5
porque havia guerra civil e guerra externa. Então, aflorou tudo.
E, atualmente, você vê, é uma desorganização.
A máfia mais perigosa do mundo é a da Rússia.
Aracy
de Almeida (destabocada): —
Haroldo,
penetra no meu pensamento.
Haroldo
Barbosa (inalterado):
—
Eu
não, que eu não quero cair no vazio, Aracy! (Apud,
Mario Lago).
Max
Nunes (humorista, médico e polímata brasileiro) para o psiquiatra:
— Doutor,
depois de tudo o que senhor me disse, eu cheguei à conclusão
que 99,99% dos homens são homossexuais. E não digo 100% porque
estou conhecendo o senhor agora. (Apud,
Mario Lago).
A
coisa mais humilhante que há no mundo é fotonovela. Mas, eu
precisava comer e minha família também! Então, fiz.
Companheiros
de boemia: A gente discutia tudo – de futebol à
psicanálise.
A
mulher marginalizada tem muita carência. Se você tratá-la
como ser humano, ela gruda em você; você é um deus para
ela. E, na nossa roda de boêmios, eram todos seres humanos, todos
iguais. Não interessava se a mulher fazia a vida ou se não
fazia.
A
televisão massifica muito mais do que o rádio. Eu posso discordar
de muita coisa, mas estou diante de uma realidade. Não adianta bancar
Dom Quixote e ficar procurando o moinho de vento.6
Televisão é um instrumento de poder nas mãos da classe
dominante. E a classe dominante tem os seus princípios, os seus paradigmas.
Disto ela não se afasta. É preciso compreender que a televisão
pode tomar uma posição política, mas nunca uma posição
ideológica. E não toma porque ela é a classe dominante.
Roberto Marinho, para mim, é o melhor patrão do mundo. Trabalhar
na Globo é um conforto, uma tranqüilidade; mas é a classe
dominante.
O
público reage assim: bom, se é o que me dão, então,
eu aceito.
Tudo
na vida é risível; é só prestar atenção.
A
minha estréia como ator foi um fracasso mais retumbante do que o
brado de um povo heróico ouvido nas margens plácidas do Ipiranga!
A
telenovela se deturpa um pouco com a pesquisa de opinião, que é
permanente. Qual é a história que está agora agradando
mais? De forma que o autor, às vezes, tem um plano e é obrigado
a mudar este plano porque um papel que ele pensou que não fosse ganhar
importância, de repente, ganha. Não há aquele texto
pronto e acabado. Você faz um capítulo hoje, grava na semana.
E na sexta-feira você recebe os capítulos da outra semana.
Não é um trabalho inteiro... Na telenovela, não se
sabe o que vai acontecer. E um ator leva sustos também, como se leva
na vida real.
Não
compreendo que uma pessoa faça uma coisa sem ter absoluta paixão
por aquilo está fazendo... Você não pode fazer nada
sem ser com absoluta paixão.7
Quem
perde mãe já perdeu o doce maior da vida.
Os
jovens deveriam ser proibidos de partir.8
Estou
com 89 anos. Aos 89 anos você já não traça perspectivas
a longo prazo.9
Quero viver. Minha perspectiva é poder viver. Nada mais do que isto.
Hoje,
se dá muita importância ao descartável; um ano depois,
ninguém lembra mais.10
As
novelas refletem a sociedade que está aí. Às vezes,
com algum exagero, às vezes, com limitações; mas é
o que está sendo dado para nós.
Você
pode criticar o banqueiro, o empresarião; o homem comum você
não pode criticar. Já basta o que ele tem da vida –
que é nada.
Roberto
Carlos é eminentemente romântico. Não há mais
espaço para o romantismo? Ora, isto não é verdade.
Atire
a primeira pedra, ai, ai, ai,
Aquele que não sofreu por amor.
Vivi.
Essa é a coisa principal que fiz.
Ultimamente
estou vegetando.
Sou
um passageiro inquieto no tempo.
Paulo
Gracindo, um grande amigo, mas muito ordinário, uma vez que estive
muito doente, internado, telefonou quando eu já estava em casa: —
'Ô Mario, fiquei meio preocupado. Era câncer ou AIDS?' Respondi:
— 'Era deficiência renal.'
'Despiorar'
já é negócio.
Eu
sou do tempo em que, no fim do mês, sobrava um dinheirinho. Agora,
no fim do dinheiro, sobra mês!
Eu
não estou sozinho; estou comigo.
O
negócio é estar apaixonado, que é uma coisa gostosa.
Gostosíssima!
Meus
filhos pensam que eu casei virgem!
Não
creio que eu tenha feito nada importante. Eu fiz o que me foi possível
fazer.
Meu
avô foi o meu primeiro instrutor de rebeldia.
Contei
tudo, o resto guardei para mim.
Se
vivi tão pouco, a culpa não é minha; é que não
deixaram eu viver mais.
Tudo
o que eu quis fazer eu fiz. Bem ou mal, eu fiz. E tudo o que eu fiz foi
com paixão. Só fiz aquilo que me despertava paixão.
No momento, o que me desperta paixão é estar aturando vocês.
______
Notas:
1.
Poeticamente, concordo com Mario; mas, na prática, na vida, esperançar
é sinônimo de não alcançar.
2. Estou
de acordo com o Mario. Mas pior do que um intelectual azucrinando são
dois intelectuais conversando.
3.
A questão é: quantos de nós, efetivamente, poderemos
dizer a mesma coisa? Bem, na verdade, Édith Piaf, nascida Édith
Giovanna Gassion (1915 – 1963), apenas interpretou – e muito
bem! – esta famosa música francesa, composta em 1956, com letra
de Michel Vaucaire e melodia de Charles Dumont. Piaf dedicou sua gravação
à Legião Estrangeira, pois estava atuando, na época,
na Guerra da Argélia (1956 – 1962).
4.
Concordo. Só não poderemos nos abater se ou quando não
conseguimos realizar algo porque, certamente, não realizaremos tudo
que desejamos em uma única vida. Então, decore estas três
ências: persistência, diligência e paciência.
5. Mario,
Mario! Desde quando brutalidade é necessária?
6.
Para ser um bom Dom Quixote de La Mancha não é necessário
ficar procurando o moinho de vento, sozinho ou com Sancho Pança.
Como na obra de Miguel de Cervantes y Saavedra (1547 – 1616), os conflitos
surgentes na consciência resultantes do confronto entre o passado
e o presente, entre o presente e um futuro ideacional, entre o ideal e o
real, entre o ideal e o social e entre tudo isto (e mais alguma coisa) e
esta mesma consciência devem conduzir à compreensão
de que ninguém é herói e que não há heróis.
O lealdoso e o pícaro, o anjo e o demônio, o sincero e o desleal
etc. estão enraizados em nosso interior. Apenas nos tornaremos verdadeiros
heróis se e quando harmonizarmos estes contrários e os transformarmos
em uma única coisa, sob o nosso domínio e controle –
quando, definitivamente, o nosso inferno interior, pela nossa vontade, for
transmutado em paraíso. Aí, Dom Quixote e Rocinante poderão
rinchar: — somos
uma só coisa!
Dom
Quixote e Sancho Pança
(Ilustração de Paul Gustave Doré)
7. Mario
está certíssimo. Sem paixão é prisão;
só acarta frustração.
8. Ninguém
parte; todos nós voltamos.
9.
Sei não! Eu já perspectivei minha próxima encarnação.
Serei Rosa+Cruz, médico e...
10.
É por isso que, por exemplo, o Frank Sinatra e a Ella Fitzgerald
são eternos. Não eram, não são e não
serão descartáveis.
Páginas
da Internet consultadas:
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/
0,27723,GYE0-5268-252459,00.html
http://mylabuschmann.blogspot.com/
2010/03/amelia-de-hoje.html
http://www.teatrojornal.com
http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/
artigos/08112009-120406velloso.pdf
http://tvbrasil.org.br/delapraca/noticias/
http://www.almanaquebrasil.com.br/
http://www.sexy-gifs.de/img49363.htm
http://depressaoepoesia.ning.com/
profiles/blogs/mario-lago-partilhar-sonetos
http://www.topmusicas.net/
mario-lago/fazer-um-ceu.htm
http://letras.terra.com.br/
eduardo-dusek/888802/
http://www.paginadamusica.com.br/
edanteriores/maio02/mariolago.htm
http://www.procustonuncamais.com/
2010/03/dener-pacheco.html
http://epoca.globo.com/
edic/211/cult_mariolagoa.htm
http://200.144.189.42/ojs/index.php/
comeduc/article/view/4510/4232
http://orlandolele.blogspot.com/
2007/08/90-anos-em-2578-caracteres.html
http://www.contracampo.com.br
/42/entrevistamariolago.htm
http://www.revistamusicabrasileira.com.br/outras
-notas-musicais/inumeras-licoes-do-mestre-mario-lago
http://www.antoniomiranda.com.br/
poesia_brasis/rio_de_janeiro/mario_lago.html
http://musicapoesiabrasileira.blogspot.com/
2007/05/algumas-do-mrio-lago.html
http://wwwp.feb.unesp.br/ctic/
arquivos/TESE_DSc._Erinaldo.pdf
http://www.alashary.org/
autor/mario_lago/
http://www.frazz.com.br/
autor/mario_lago/2933
http://www.dihitt.com.br/
barra/as-frases-de-mario-lago
http://www.luso-poemas.net/
modules/news/article.php?storyid=15679
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Non,_je_ne_regrette_rien
http://pensador.uol.com.br
/frases_de_mario_lago/
http://sookiesooker.deviantart.com/
art/Sookie-Rainbow-Gif-3-112774397
http://pensador.uol.com.br/
autor/mario_lago/
http://www.dicionariompb.com.br/
mario-lago/biografia
http://pt.wikiquote.org/
wiki/M%C3%A1rio_Lago
Música
de fundo:
Atire
a Primeira Pedra
Composição: Mario Lago e Ataulfo Alves
Interpretação: Ataulfo
Alves
Fonte:
http://mp3skull.com/mp3/
atire_a_primeira_pedra_ataulfo_alves.html