MARIO COVAS

(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

MARIO COVAS

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Mário Covas é uma prova de que a grandeza e o reconhecimento de um político não está naquilo que consegue para si próprio ou no que aparenta; mas nos ideais da sociedade pelos quais luta e ajuda a concretizar. Esta frase não é minha, mas é como se fosse. Este despretensioso estudo teve por objetivo recordar alguns pensamentos e algumas reflexões de um homem que nunca usou os partidos a que esteve filiado como aluguel para atender a interesses efêmeros, um homem que não se preocupava em ser amado, mas, sim, em ser respeitado, um homem, enfim, que tinha plena consciência de que não era perfeito, mas que buscava a perfeição em tudo que fazia – Mario Covas.

 


 

Breve Escorço Biográfico

 

 

 

Mário Covas Júnior

 

 

 

Mário Covas Júnior nasceu no dia 21 de abril de 1930, na cidade de Santos, São Paulo. Desde muito cedo manifestou a vontade de ser político: aos 14 anos, costumava dizer que sonhava em ser prefeito de sua cidade. Em 1947, foi para São Paulo estudar, onde se formou como químico-industrial e engenheiro civil. Depois de formado, prestou concurso para a prefeitura de Santos, onde permaneceu trabalhando até 1962.

 

Covas foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – único partido político de oposição existente durante o Regime Militar. De 1963 até 1966, foi líder da bancada oposicionista na Câmara. Com apenas 37 anos de idade, liderava grandes políticos como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro e Ivette Vargas, entre outros.

 

Em 1969, seu mandato foi cassado pela ditadura militar, e seus direitos políticos ficaram suspensos por dez anos. Em 1979, quando retomou seus direitos políticos, voltou à luta contra a ditadura militar, tornando-se presidente do MDB. Pouco tempo depois, o Partido foi extinto e transformou-se no PMDB.

 

Em 1982, foi eleito deputado federal com 300 mil votos. Em março de 1983, assumiu o cargo de secretário dos Transportes do então governador de São Paulo, Franco Montoro. Logo depois, em maio, tornou-se prefeito da capital paulista, cargo que ocupou até 31 de dezembro de 1985. Em 1986, foi eleito senador da República, com quase 8 milhões de votos.

 

Em junho de 1988, Mário Covas saiu do PMDB e tornou-se um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). No ano seguinte, lançou-se candidato às eleições presidenciais, mas não foi eleito. Em 1990, candidatou-se a governador de São Paulo, mas também não saiu vitorioso.

 

Somente em 1994, com mais de 8 milhões de votos, foi eleito governador de São Paulo. Em 1998, foi reeleito para mais quatro anos de governo. Mas antes de concluir seu mandato, no dia 6 de março de 2001, morreu de falência múltipla dos órgãos por volta das 5 horas e 30 minutos, no INCOR, em São Paulo. O seu velório foi acompanhado por milhares de pessoas, sendo sepultado no Cemitério do Paquetá, em Santos.

 

 

 

Sobre Mario

 

 

 

Mario Covas

 

 

 

 

Pois é, amigos: falar o quê? São oito anos de ausência. De enorme falta! E o Brasil continua dominado pela lambança. Que sina, a nossa! A de sermos eternos subjugados, quase escravos da safadeza. Mario Covas era um personagem forte. Não escondia suas posições. Não usava subterfúgios. Ia direto ao ponto. Comprava a boa briga. Gostava do confronto. E crescia nos embates. Estudava as questões e debatia com conhecimento profundo os temas. Líder na Constituinte, ele desenvolveu argumentação tão sólida e juridicamente embasada que levou muita gente, até hoje, a pensar que ele era advogado. Mas, engenheiro de formação, politécnico, ele se guiava sempre pela única lógica que tem lógica – aquela que não prescinde, jamais, da ética. Na batalha final, pela vida, ele mostrou mais uma vez o gigante que era. A prática da transparência, o caráter, a dignidade, a honra, o respeito pelo próximo… A coragem pessoal – tantas vezes demonstrada, na luta contra o autoritarismo, contra a intransigência e a cegueira ideológica – evidenciou-se com força na batalha final. Não há como fugir da afirmação que é um lugar comum: que falta enorme, Mario, você faz ao PSDB, mas principalmente ao País. Saudades, Mario! (Arnaldo Madeira).

 

Pelo contraponto de sua vida com as histórias de corrupção que dominam o Brasil, Mário Covas se tornou um símbolo do que o País quer de seus políticos. (Alexandre Secco).

 

Engenheiro, obcecado por números, quando metia uma idéia na cabeça era mais fácil retirá-la a golpes de machado do que pela conversa. Mas cedia a uma argumentação pétrea. Como foi possível a esse engenheiro fazer brilhante carreira política, quando no mundo contemporâneo tudo caminha para o espetáculo, a própria política vindo a ser muito mais o fascínio do show do que processo de negociação racional? Porque ele possuía extraordinário senso de oportunidade para a coisa pública, a capacidade de distinguir na multidão de problemas que assalta um político o caminho, levando à consecução de seus objetivos. Isso foi demonstrado sobejamente na sua administração como governador. Eleito na onda provocada pela sustentação do Real – início de uma nova ordem econômica no País – compreendeu claramente que, nas condições em que opera o novo Capitalismo, não há como fugir do equilíbrio nas contas públicas. Por mais doloroso que seja o ajuste fiscal, o desequilíbrio traz conseqüências perversas muito piores do que buscar a todo custo corresponder receitas e despesas. Todo o seu primeiro mandato orientou-se no sentido de cumprir essa meta. Se políticas sociais mais amplas poderiam ter sido implementadas, só a história poderá dizer, quando sua atuação for avaliada em vista dos recursos políticos disponíveis no momento. Mas, desde já, impressiona seu exemplo, a vontade férrea de selecionar o melhor que, a seu ver, o povo merecia. Por isso, despertava confiança até mesmo em seus adversários. Doía-lhe o seu isolamento, a pequena ressonância de uma política que acreditava nada mais visar do que o bem público. Compreendia a revolta do funcionalismo com salários comprimidos que, naturalmente reclamando de seu sacrifício, não via a razão para arcar com um ônus evidentemente mal distribuído. Por isso, discutia com ele, agredia quando era agredido, fazendo disso prova de consideração. No entanto, por mais que sua política fosse impopular, sempre preferiu manter-se fiel às suas convicções do que se curvar às preferências do momento. Nunca evitou estragos em sua popularidade, se para isso fosse necessário fazer concessões. Conseguiu ir para o segundo turno da última eleição para governador, vencendo Marta Suplicy por diferença mínima. E, agora, quando os frutos de sua política apertada começavam a brotar por todos os cantos, a morte o levou. Talvez para que não deixasse, na política nacional, imagem ambígua, porquanto, nas condições de hoje, em que tudo é permitido, não convém preservar a nitidez de seu exemplo. (José Arthur Giannotti).

 

 

 

Pensamentos e Reflexões
de
Mario Covas

 

 

 

 

 

 

 

No Brasil, quem tem ética parece anormal.

 

Os dois principais atributos de um político são o caráter e o apreço pela Democracia. Havendo no político esses traços de personalidade, ele pode até ser adversário, que dá para conviver; não havendo, ele não serve nem para correligionário.

 

Três pecados na política: furar fila, interromper jogo de futebol, atrasar almoço.

 

Em um país como o Brasil, com tantas desigualdades e injustiças, o político deve dedicar todas as suas energias na ação diária em prol dos menos favorecidos. Os ricos sempre se defendem, mas os pobres precisam de quem lute por eles.

 

 

 

 

Nunca se deve tratar o dinheiro público com o mesmo zelo com que se lida com o próprio dinheiro. O dinheiro público requer um cuidado muito maior.

 

Fale sempre com o povo olhando olho no olho.

 

As pessoas preferem como resposta um não sincero e responsável a um sim duvidoso.

 

O êxito é sempre mérito da equipe; o erro é sempre culpa do chefe.

 

Honestidade não é virtude. É obrigação.

 

Uma das vantagens de não mentir é depois não precisar lembrar que mentira foi inventada.

 

As mulheres são mais sinceras e determinadas do que os homens em suas reivindicações. Devemos sempre ouvi-las com atenção.

 

A corrupção na administração pública agora é organizada, quase partidarizada. Uma barbaridade inaceitável.

 

Os números que o Governo apresenta sobre a Economia são como o samba da Império Serrano deste 1982: bumbum, praticumbum, prugurundum. São difíceis de falar e não dizem nada.

 

O povo não sabe votar? A questão é outra. O povo é mal-informado.

 

Este Governo faz questão de ser e de ter em seus quadros pessoas absolutamente indiscutíveis do ponto de vista ético e moral... O que me importa é poder chegar ao fim do Governo tendo feito o melhor possível e com a mesma cara limpa com que eu entrei... Este Governo tem a obrigação de ser sério... e não tem do que se envergonhar. Tem, sobretudo, algo do que se orgulhar: ele vai terminar como começou, com a mesma dignidade, com a mesma compostura, com a mesma seriedade.

 

Desejo morrer réu do crime da boa-fé.

 

Jamais fiz, não faço e não farei nenhum tipo de concessão de natureza eleitoral. Não me submeterei a um esforço artificial de criação de atos ou fatos, a qualquer jogo de aparência, ou a truques de persuasão publicitária.

 

A verdade será sempre a minha arma política.

 

Devemos nos posicionar com independência crítica como um País que sabe o quanto, hoje, as nações devem se ligar umas às outras até o ponto de podermos sustentar uma espécie de Constituição Mundial, na qual os direitos dos povos do Universo estejam assegurados, sem engolfar os legítimos interesses de cada país.

 

Asseguro, sem vacilação, que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança.

 

Uma nação não pode ser torturada por outras, negando-se-lhe acesso aos mercados, aos conhecimentos dos processos produtivos ou obrigando-a a dispor de seus recursos para pagar dívidas extorsivas, ao invés de fazer novos investimentos.

 

Do exterior, o Brasil quer meios de produção; quer sócios e não credores.

 

Basta de tanto subsídio, de tantos incentivos, de tantos privilégios sem justificativas ou utilidade comprovadas. Basta de empreguismo. Basta de cartórios. Basta de tanta proteção à atividade econômica já amadurecida.

 

Fatos recentes me fizeram perceber que somos frágeis, quando pensamos ser fortes.

 

Uma civilização ecológica assegura não apenas 'o verde', mas a sobrevivência humana com um padrão de dignidade. Não se pode opor os interesses universais de preservação do meio ambiente aos da soberania nacional, até porque só existe soberania quando há uma população com condições para sobreviver com dignidade e, portanto, apta a preservar a espécie e que seja senhora dos mecanismos que permitam a reprodução da vida. Para mim, a defesa intransigente da ecologia é a mesma coisa do que a defesa soberana da preservação do Brasil, como uma comunidade de pessoas capazes de conviver harmonicamente entre si e com o meio circundante.

 

A obrigação de quem governa é essa: vir aqui e dar uma satisfação, mesmo para não agradar. Porque, para agradar todo mundo sabe fazer.

 

Eu me considero um homem de centro-esquerda. Mas até o Maluf disse que é, e isso me faz desconfiar dessa classificação.

 

Eu fico me perguntando, porque um País como este, com todo o potencial que tem, mais do que isso, através do seu melhor artigo – que é a criatividade que o brasileiro possui há neste País uma coisa que nenhum outro povo no mundo iguala. É a enorme capacidade de criar que o brasileiro tem; ele faz isso brincando, ele faz isso sorrindo, ele faz isso de uma forma diferente do que os demais fazem. E se nós formos capazes de canalizar tudo isso para que isso se potencialize e transforme em conhecimento explícito, eu tenho a impressão de que este País vai encontrar as condições que certamente o farão suplantar aqueles que estão à distância.

 

O problema fundamental é a impunidade, que criou um tipo de cultura.

 

Quero ver o povo cantar nas rodas de samba dos fins de tarde, nos forrós e nos pagodes que adentram a madrugada – o riso solto e o olhar altivo. Quero ver os trabalhadores empenhados em qualificar-se sem cessar, certos de que muitos empregos os aguardam. Quero ver os empresários livres para exercer as capacidades empreendedoras que os consagram, fazendo brotar do chão das oportunidades a riqueza que produz bem-estar. Quero ver os campos fartar as crescentes levas de consumidores, e celebrar as primaveras que sempre abençoaram nosso Brasil. Quero ver as crianças paulistas, por fim, freqüentar escolas decentes, ter comida na mesa, contar com transporte seguro, dispor de postos de saúde na redondeza. Mas, sobretudo, quero saber que essas crianças divisam um futuro sem medo.

 

É preciso acabar com o 'rouba, mas faz'.1 Quem não rouba faz mais.

 

O escárnio, o escândalo que a enorme concentração de renda representa, tem um alto custo: impede que a Democracia seja um valor consensual na sociedade. Não é preciso dar exemplos. Ou revertemos na próxima década os indicadores sociais negativos e as perdas de poder real de compra dos salários ou não nos enganemos: o fantasma dos demagogos, dos ditadores do autoritarismo ganhará corpo. E mais: não há Economia moderna capaz de competir, internacionalmente, sem um mercado interno também forte, sem consumidores e sem um povo educado, reivindicante e capaz de ser, ele, o fator primordial do progresso tecnológico. Desigualdade não se corrige com estagnação. Corrige-se redistribuindo a renda e crescendo ao mesmo tempo.

 

Eu acho que tenho só uma cara, mas se eu tivesse várias, certamente todas elas teriam vergonha.

 

Essas lágrimas não são de dor, não. E até não são muito próprias de mim. Eu sou muito mais das gritarias do que das lágrimas. De qualquer modo, tudo tem sido tão bom para mim que o meu grau de dívida com essa sociedade chamada sociedade humana é muito grande para que eu não tenha um móvel que me obrigue a permanentemente tentar lutar... Desculpem se eu descambei; eu devia ter feito isso lá no quarto, porque teria gasto as lágrimas e não teria feito aqui. Mas, afinal, fora o fato de chorar, qual é a outra forma mais digna que uma pessoa tem de demonstrar os seus sentimentos?

 

E para que me credencie a defender a minha verdade, começo por manifestar a humildade de saber que existem outras verdades e que elas são tão sustentáveis quanto as minhas, e que a única razão pela qual um homem, um democrata, passa a ter o direito de defender a sua verdade é exatamente o respeito que ele manifesta pela alheia.

 

Não compreendo porque começaram 14 hospitais para não terminar nenhum. Porque não construíram apenas um e terminaram, ao invés de deixar 14 parados? Isto é um desrespeito ao dinheiro do contribuinte, que pagou pela obra inacabada e não pode utilizá-la.2

 

Depois de uma cirurgia na qual lhe foi extirpada um pedaço do intestino: — Vou em frente, mesmo sem todas as peças originais.

 

 

 

Mario Covas

 

 

 

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Notas:

1. Um dos slogans de campanha eleitoral de Ademar de Barros (aviador, médico, empresário e influente político brasileiro entre as décadas de 1930 e 1960), não assumido abertamente, era: Ademar rouba mas faz. Este foi o lema de sua campanha eleitoral para prefeito de São Paulo, em 1957, se promovendo em cima das inúmeras acusações de corrupção, na época chamadas de negociatas.

2. No Brasil, as obras começam e param porque é exatamente no começo que são repartidas e distribuídas as cotas da corrupção do dinheiro público. Depois, como não há mais o que mamar e como o dinheiro que sobra não dá para terminar o que foi começado, a obra pára e fica apodrecendo no tempo.

 

Páginas da Internet acessadas:

http://www.itesp.sp.gov.br/br/info/
publicacoes/boletim83.aspx

http://www.fmcovas.org.br/MarioCovas/
Default.aspx?MID=02020090000135

http://pt.wikipedia.org/wiki/
M%C3%A1rio_Covas

http://veja.abril.com.br/140301/p_036.html

http://www.algbr.hpg.com.br/toppage20.htm

http://www.plenarinho.gov.br/deputado/
deputados-que-fizeram-historia/mario-covas

http://carapicuiba45.blogspot.com/
2008/07/as-dez-lies-de-mrio-covas.html

http://www.arnaldomadeira.com.br/
blog/?cat=31

http://www.frazz.com.br/
autor.html/Mario_Covas

http://www.covas.org.br/MarioCovas/
Default.aspx?MID=0202008

http://educacao.uol.com.br/
biografias/ult1789u250.jhtm

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ademar_Pereira_de_Barros

http://pt.wikiquote.org/wiki/
M%C3%A1rio_Covas

 

Música de fundo:

Volta Por Cima (Paulo Vanzolini)

Fonte:

http://www.beakauffmann.com/
mpb_v/volta-por-cima.html