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Notas:
1. O
vocábulo Dharma, no Hinduísmo, quando iniciado por
letra maiúscula, significa os Ensinamentos. Quando a palavra
dharma é escrita com letras minúsculas designa a
forma como as coisas são, as leis da natureza ou
aquilo que sustenta o Universo. Mas, isso são meros conceitos
estabelecidos – ainda que constem do Bhagavad-Gita –
para que se compreendam determinadas Leis, e, em função dessa
compreensão, possa ser dado o que se poderia chamar de um salto de
qualidade (mística). Com essa reflexão, e as que se seguirão,
não estou fazendo qualquer crítica ou desqualificando o Hinduísmo;
apenas estou elucubrando sobre o óbvio.
Seguindo.
Logo, se tudo é Um, carma e dharma são partes
integrantes dessa mesma Unidade 'dhármica'‹–›'cármica',
e o existir será sempre uma interminável batalha entre uma
e outra polaridade, porque da mesma forma que o Universo não pode
existir sem o dharma, tudo que existe produz e está sujeito
ao carma. Nesse sentido, o carma jamais poderá
ser anulado, qualquer que seja o sentido que se empreste a esta compreensão;
mas pode e deve ser transmutado. Sempre que possível.
A
partir do instante em que o homem percebeu que havia adquirido capacidade
de refletir sobre si mesmo, começou sua Peregrinação
ad semper (ainda que esse semper seja, em um certo sentido,
relativo), e o carma estará sempre presente como
instrumento educativo de aperfeiçoamento, de evolução
e/ou de reintegração. Por isso, dizer, como eu disse
no soneto acima, que o que sustenta o Universo é o dharma, é
dizer apenas meia verdade. É impossível a um ser qualquer,
que exista como ser, não 'produzir' ou não estar
sujeito a algum tipo de carma. E se esse carma não
sustenta o Universo de forma direta, dele faz parte de forma indireta. As
próprias auras magnéticas de todos os corpos cósmicos
(de um grão de areia a um planeta ou uma estrela) que interferem
umas com as outras, 'produzem' carma perpetuamente. Quanto
a nós, seres humanos, o simples fato de pensarmos 'gera'
carma. Até quando fazemos aquilo que entendemos como bem,
algum carma é 'criado', pois o que é bem para nós
pode não ser o bem que os outros entendam como bem, ou pode ser que
esses outros não estejam, por assim dizer, 'precisando'
desse suposto bem. O vocábulo "outros" na frase anterior
pode figurar seres humanos ou quaisquer representantes de qualquer outro
reino. Por exemplo, as formigas detestam formicida, e os cães não
suportam que lhes cortem o rabo. As plantas, por sua vez, entram em pânico
quando alguém inventa de fazer uma queimada, isto é, quando
alguns maluquetes decidem calcinar a terra como meio de melhorar o solo.
Melhorar? E por aí vai, e vai longe.
O
carma não nasceu do nada porque, simplesmente, o nada não
pode dar origem a nada. Carma é ...ação-reação-ação...
ininterruptamente. Imaginar que o carma apenas apareça quando
uma ação contraria uma presumida ordem cósmica estabelecida
e inabalável é um equívoco, até porque essa
ordem cósmica – que queremos que exista a ferro e fogo –
não é tão inabalável assim, pois se fosse inabalável
a entropia não existiria e a reordenação pelo caos
não prevaleceria. Portanto, imaginar que o carma equivalha
a um estado entrópico, ou que a neguentropia seja sinônimo
de dharma é tentar partir ao meio o que não pode
ser partido, porque o que é inteiro foi, é e será uno
ad infinitum. Abaixo um exemplo simples de entropia.
Sei
que tudo isso poderá contrariar algumas doutrinas que, geralmente,
só pensam em carma individual e coletivo, ou seja restrito
a seres humanos. Não é assim que é, ainda que possa
aparentar ser. Não há impunidade sequer em se atirar um copo
contra uma parede. Na verdade, todas essas coisas que resumi nesta nota
não são só um entendimento místico; também
estão no domínio da Física. De qualquer sorte, a um
Místico cabe lutar, permanentemente, não para apenas tentar
a impossível faina de eliminar ou minimizar seu carma pessoal,
mas, muito mais do que isso, transmutá-lo permanentemente, tendo
por base o amor impessoal e incondicional. É difícil, reconheço;
mas cada átomo de chumbo deverá ser alquimiado em um átomo
de ouro. Quando todos os átomos de chumbo tiverem se convertido em
ouro, volitivamente, esses mesmos átomos de ouro deverão
ser convertidos, um a um, em..., pois a Escada da Peregrinação
tem ilimitados degraus! A Vida é eterna, mas inalcançável
como realização definitiva. Enfim, se tudo isso é uma
só maluquice, pelo menos deveríamos pensar refletidamente
no último verso do primeiro quarteto do soneto acima: Por que insistir
no adharma e manchar o nosso Deus?
2. Nosso
Deus = Deus de nossos Corações; Deus de nossa compreensão;
Deus de nossa perpétua construção. E adharma
é um vocábulo sânscrito que significa vício ou
pecado; em uma palavra: ilusão.
3.
Malum epistemicum = forma de
mal associada à ignorância e ao falso conhecimento.
4. Malum
metaphysicum = forma de mal associada à finitude humana, tanto
temporal (mortalidade) quanto cognitiva (ignorância).
Websites
consultados:
http://www.filosofos.com.
br/tema_etica.htm
http://www.ccel.org/
ccel/hodge/theology2.v.iv.html?bcb=0
http://www.amorcosmico.com.br/
hinduismo/conceitos/dharma.asp
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adharma
Música
de fundo:
Old
Devil Moon (E. Y. Harburg & Burton Lane)
Fonte:
http://www.wtv-zone.com/jazz/rest.html