NICOLAS MALEBRANCHE
(Pensamentos)

 

 

 

Nicolas Malebranche

Nicolas Malebranche

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo tem por objetivo divulgar alguns pensamentos de Nicolas Malebranche, um teólogo/filósofo francês e membro da Congregação do Oratório – hoje Confederação do Oratório (Confœderatio Oratorii Sancti Philippi Nerii), também conhecida como Oratorianos ou Ordem de São Filipe Néri, fundada em 1565, em Roma, por São Filipe Néri (1515 – 1595), para clérigos seculares, sem votos de pobreza e obediência, dedicando-se, nomeadamente, à educação cristã da juventude e do povo, bem como à obras de caridade.

 

Entretanto, não posso deixar de, uma vez mais, advertir: concordar ou discordar das idéias do autor (de qualquer autor) é um privilégio do nosso livre-arbítrio. Eu, particularmente, concordo que devemos nos convencer da necessidade de uma compreensão profunda dos princípios de todas as coisas, a fim de que cesse a agitação da mente, ou que, pelos menos, essa agitação amenize. Mas discordo in totum, por exemplo, de que somos incapazes de reconhecer qualquer uma das nossas faculdades ou capacidades... Eu não tenho idéia do que possa ser a minha alma. Se isto fosse assim, como ensinava Malebranche, seríamos todos menos do que inábieis débeis mentais. O que não reconhecemos, isto sim, são todas as nossas faculdades ou capacidades, pois da Verdadeira Ciência pouco sabemos. Em média, usamos menos do que 10% de nossa capacidade anímico/intuitivo/cerebral. Mas não somos débeis mentais. Seja como for, as reflexões cristãs de Malebranche são inspiradoras. Dê uma conferida.

 

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Nicolas Malebranche (Paris, 6 de agosto de 1638 – Paris, 13 de outubro de 1715) foi um filósofo francês. Em 1660 entrou para a Congregação do Oratório e, quatro anos mais tarde, foi ordenado sacerdote.

 

A leitura de René Descartes (1596 – 1650), em 1664, deixou-o tão entusiasmado, que resolveu se dedicar estudo da Filosofia. No entanto, alguns comentaristas acreditam que esse interesse pela Filosofia tenha derivado de seus estudos sobre a Filosofia dominante no Oratório – a de Santo Agostinho (354 – 430).

 

Sua principal obra é De la Recherche de la Vérité (Da Procura da Verdade), onde trata da natureza do espírito humano e do que o homem deve fazer para evitar o erro nas ciências. Foi publicada em três volumes: o primeiro em 1674 e os outros dois em 1675.

 

Malebranche critica os filósofos que estudam as relações da alma com o corpo, sem considerar sua união com Deus. Segundo ele, o enfraquecimento das relações da alma com Deus foi conseqüência do pecado original, que fortaleceu a relação alma-corpo.

 

Em Da Procura da Verdade ocorreria a dissolução dos erros provocados pela forte interação da alma com o corpo. Para o filósofo, o erro é a causa da miséria dos homens. Assim, afirmava ser necessário denunciar os erros e suas causas através de uma análise das percepções da alma, que se realizariam por três modos distintos: os sentidos, a imaginação e o entendimento. Pregava, portanto, o exame dos erros devidos a cada uma dessas formas de percepção. Mediante tal exame seria possível encontrar um critério geral para a descoberta da verdade.

 

Por outro lado, todos os movimentos que se efetuam entre os corpos e entre a alma e o corpo, além dos movimentos internos da alma, teriam em Deus sua Causa Eficiente. Estas relações, sendo estabelecidas pela Razão Divina mediante uma ordem eterna e invariável, poderiam ser compreendidas pelo entendimento, da mesma forma que as leis científicas. Os seres particulares não seriam propriamente causas eficientes de nada que ocorre, mas apenas ocasiões para o exercício da Causa Única que é Deus, doutrina denominada Ocasionalismo, porque causar é criar; e só Deus pode criar. Por isto, o movimento é um paralelismo (o que também sucede com os comportamentos humanos). Da alma não temos nenhuma idéia, mas apenas uma persuasão interior. Deus, além disso, conteria em Si Mesmo todas as idéias como arquétipo das coisas. O conhecimento da verdade, por parte do homem, consistiria, em última instância, em uma visão de Deus.

 

 

 

Pensamentos

 

 

 

Nicolas Malebranche

Nicolas Malebranche

 

 

Se não víssemos a Deus de alguma maneira, não veríamos nenhuma coisa.

 

Deus transforma, por assim dizer, o ar em palavras, em sons diferentes. Ele faz você entender esses vários sons através de modificações pelas quais você é afetado.

 

É realmente preciso distinguir a força e a beleza das palavras da força e da evidência das razões.

 

O enfraquecimento das relações da alma com Deus foi conseqüência do pecado original, que fortaleceu a relação alma-corpo.

 

O erro é a causa da miséria dos homens.

 

As criaturas não estão imediatamente unidas a nada mais que a Deus e não dependem, essencial e diretamente, senão Dele.

 

A Vontade Deus é eficaz e imutável.

 

A proposição 'existe um Deus' é tão certa quanto esta outra proposição: 'Penso, logo existo. Se pensamos Deus, então Ele deve existir.

 

É necessário denunciar os erros e suas causas através de uma análise das percepções da alma, que deve se realizar por três modos distintos: os sentidos, a imaginação e o entendimento.

 

Todos os movimentos que se efetuam entre os corpos e entre a alma e o corpo, além dos movimentos internos da alma, têm Deus sua Causa Eficiente.

 

Os seres particulares não são propriamente causas eficientes de nada que ocorre, mas, apenas, ocasiões para o exercício da Causa Única – que é Deus.

 

Só Deus pode criar.

 

Deus é Aquele que é, o Ser em si mesmo.

 

Deus contém em si mesmo todas as idéias como arquétipo das coisas.

 

A imaginação é a louca da casa.

 

Há muitas pessoas a quem a vaidade faz falar grego, e, até, por vezes, uma língua que não entendem.

 

Todas as criaturas estão unidas a Deus através de uma união imediata. Essencialmente e diretamente, todas dependem Dele.

 

Não receie de falar de Deus de uma forma indigna, desde que você seja conduzido pela fé. Não receie alimentar falsas opiniões sobre Deus, desde que elas estejam em conformidade com a noção de Ser infinitamente perfeito.

 

Em conseqüência das leis da comunicação dos movimentos, Deus nos une por meio do corpo. Em conseqüência das leis da conjunção de corpo e alma, Ele nos afeta com os mesmos sentimentos.

 

Incessantemente, Deus quer que as modificações da mente e do corpo sejam recíprocas. Esta é a conjunção e a dependência natural das duas partes da qual somos constituídos.

 

Eu amo o bem e a alegria. Eu odeio o mal e a dor. Eu quero ser feliz. E não estou enganado em crer que as pessoas, os anjos e até mesmo os demônios tenham estas mesmas inclinações.

 

Assim como nossos olhos precisam de luz para ver, nossa mente precisa de idéias para poder conceber.

 

Nossa alma não está unida ao nosso corpo, no sentido comum destes termos. Imediata e diretamente, está unida a Deus.

 

Não nos livramos facilmente dos preconceitos como nos livramos de um casaco velho que já não é mais usado.

 

Você não desonrará as Perfeições Divinas por julgamentos indignos Delas, desde que você nunca julgue Deus por você, e desde que, também, você não atribua ao Criador as imperfeições e as limitações dos seres criados.

 

Eu não sou a minha própria LLuz para mim.

 

Eu sou incapaz de reconhecer qualquer uma das minhas faculdades ou capacidades. A sensação interior que tenho de mim mesmo me informa que eu sou, que eu penso, que eu tenho consciência sensorial, que eu sofro e assim por diante; mas não me dá qualquer conhecimento de quem eu sou, da natureza do meu pensamento, das minhas sensações, das minhas paixões, da minha dor ou das mútuas relações que existem entre todas estas coisas... Eu não tenho idéia do que possa ser a minha alma.

 

Tudo o que nos proporciona uma certa elevação em relação aos outros – porque nos torna mais perfeitos, como, por exemplo, a ciência e a virtude, ou porque nos confere uma certa autoridade sobre eles tornando-nos mais poderosos, como as honras e as riquezas – parece fazer-nos independentes em certa medida. Todos os que estão abaixo de nós nos temem e reverenciam; estão sempre prontos a fazer o que nos agrada para a nossa preservação, e não ousam nos prejudicar ou resistir aos nossos desejos. A reputação de ser rico, culto e virtuoso produz na imaginação daqueles que nos cercam ou dos que nos são mais íntimos disposições de espírito que são muito vantajosas para nós. Ela deixa-os prostrados aos nossos pés; instiga-os a nos agradar; inspira neles todos os impulsos que tendem à preservação da nossa pessoa e ao aumento da nossa grandeza. Assim, os homens preservam a sua reputação tanto quanto necessário a fim de viver confortavelmente neste mundo.

 

Toda idéia e todo pensamento devem levar ao conhecimento de Deus, constituindo a vida racional apenas uma parte e preparação para a verdadeira Vida – a Vida Religiosa.

 

Não existe objeto das nossas paixões, não importa quão vil ou desprezível possa parecer, que deixemos de julgar como bom quando sentimos prazer em possuí-lo. Todas as coisas são merecedoras de amor ou aversão, seja em si mesmas, seja por meio de algo a que estejam associadas; e, quando somos movidos por alguma paixão, nós rapidamente descobrimos no objeto o bem ou o mal que o alimenta. Isto é suficiente para fazer a razão, comumente um instrumento do prazer, funcionar de modo a defender a causa desse prazer.

 

Todo movimento e toda interação entre corpo e alma devem provir do impulso dado por Deus.

 

Existem dois modos distintos de ler os autores: um deles é muito bom e útil; o outro, inútil e até mesmo perigoso. É muito útil ler quando se medita sobre o que é lido; quando se procura, pelo esforço da mente, resolver as questões que os títulos dos capítulos propõem, mesmo antes de se começar a lê-los; quando se ordenam e comparam as idéias umas com as outras; em suma, quando se usa a razão. Pelo contrário, é inútil ler quando não entendemos o que lemos, e perigoso ler e formar conceitos daquilo que lemos quando não examinamos suficientemente o que foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordar com eles. O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumentando o entendimento. O segundo diminui o entendimento e gradualmente o torna fraco, obscuro e confuso. Ocorre que a maior parte daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniões dos outros estuda apenas do segundo modo. Quando mais lêem, portanto, mais fracas e mais confusas se tornam as suas mentes.

 

A Deus pertence a ação primeira – única verdadeiramente eficaz – capaz de imprimir modificações na realidade.

 

Da mesma forma que os ramos de uma árvore que permaneceram por algum tempo curvados de uma determinada forma conservam uma certa facilidade para serem curvados novamente da mesma maneira, as fibras do cérebro, uma vez tendo recebido certas impressões por intermédio dos espíritos animais e pela ação dos objetos, conservam por bastante tempo alguma facilidade para receber essas mesmas disposições. Ora, a memória consiste apenas nessa facilidade, já que se pensa nas mesmas coisas quando o cérebro recebe as mesmas impressões.

 

Nós vemos todas as coisas em Deus.

 

De um modo geral, tudo aquilo que designamos por 'causa', apenas merece este título em segundo grau e por delegação da Causalidade Divina. No primeiro grau, rigorosamente, a única Causa Universal á a Ação Divina.

 

É através da luz e através de uma idéia que a mente vê a essência das coisas, dos números e das extensões. É através de uma idéia ou de um sentimento que a mente percebe a existência das criaturas e conhece a sua própria existência.

 

Eu imploro que você se convença da necessidade de uma compreensão profunda dos princípios de todas as coisas, a fim de que cesse a agitação da mente.

 

 

 

 

 



Contraditando para Epilogar
(Nós n
ão Somos Incapazes)

 

 

 

Não somos incapazes de reconhecer

nossos talentos e nossas capacidades.

Se assim fosse, sem jamais poder ser,

 

Desde que logramos a autoconsciência,

por tudo, passamos a ser responsáveis.

Mesmo ainda sendo fraca a nossa Ciência,

 

Depende de nós maladia ou conformidade,

realizarmos a Coisa ou apenas sonharmos,

traduzirmos o Harmonium ou a insanidade...

 

Depende de nós entropia ou Illuminação,

perdurarmos nas trevas ou nos libertarmos,

irmos em frente ou nos babujarmos no chão...

 

 

 

 

 

 

Bibliografia:

LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Lisboa/São Paulo: Editorial Verbo, 1991.

REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Kant. Vol. II. São Paulo: Paulinas, 1990.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Congrega%C3%
A7%C3%A3o_do_Orat%C3%B3rio

http://strangewondrous.net/browse/
author/m/malebranche+nicolas

http://webcache.googleusercontent.com/

http://urs.bira.nom.br/autor/franca/
nicolas_malebranche.htm

http://citador.pt/pensar.php?pensamentos=
Nicolas_Malebranche&op=7&author=689

http://en.wikiquote.org/wiki/Nicolas_Malebranche

http://www.brainyquote.com/quotes/authors/
n/nicolas_malebranche.html

http://www.homeoesp.org/meditacao_espiritualidade
/069%20-%20MALEBRANCHE.pdf

http://www.citador.pt/

http://cubano.ws/info-atual/nicolas-malebranche

http://pt.wikilingue.com/es/Nicolas_Malebranche

 

Canto gregoriano de fundo: Da Pacem

Interpretação: Schola Cantorum do Pontifício Col. Intern. dos Beneditinos de S. Anselmo, em Roma