Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Primeiro, foi a ep(i)- + -demia,

Cuidado com os chás da moda

para não entubar uma desalegria!

 

 

Usar a trouxe-mouxe uma planta

– como erva-doce ou fanja-maioranta –

poderá meter o cara em uma encalacradela,

seja ele um santo, seja ele um sacripanta.

 

 

Quere te precaver da gripe suína?

Quere evitar a influenza porcina?

Sê digno, tem bons pensamentos;

 

 

Mas, poderão os dignos adoentar?

Mesmo quem tem bom pensamentar?

Sem ambigüidade; claro que não é escuro.

Pergunto: quem escapa de compensar?

 

 

De massacrança1 em massacrança,

com o sofrimento dos irmãos-animais.

Hoje, estamos a desovar a poupança!

 

 

E como serão nossos futuros?

Ora, basta ter vergonha no frontispício,

e, desde já, deitar abaixo os muros.

 

 

Depois, é preciso um certo cuidado

para não tresandar ou olhar para o lado.

Apenasmente2 pelo mérito, em entágono

deverá se transformar nosso atual uadrado.

 

 

E por aqui eu vou terminando,

sin–ce–ra–men–te–de–se–jan–do

que você, meu querido irmão,

mude já – já agora, se mancando.

 

 

 

 

 

 

Observação:

Rubaiyat é o plural da palavra persa rubai, e quer dizer quadras, quartetos. No rubai, o primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados; o terceiro branco é.

 

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Notas:

1. Massacrança = massacre + matança.

2. Apenasmente, só como diria Odorico Paraguaçu – um personagem cômico ficcional e inesquecível prefeito palavroso da cidade de Sucupira criado pelo dramaturgo brasileiro Dias Gomes, e vivido, na telinha, pelo ator Paulo Gracindo. Como explica Cláudio Moreno, é conhecido o processo pelo qual nosso idioma passou a formar advérbios em "-mente" (processo esse, aliás, presente também nas outras línguas românicas): o substantivo mente (o mesmo de "mente humana", de "poder da mente") e o adjetivo que o antecedia (clara mente, serena mente), que vinham separados por um espaço em branco, terminaram formando um único vocábulo composto (como passatempo, girassol etc.). Nesse composto, mente perdeu o seu significado originário e passou a indicar "maneira", "modo". Se um de nossos longínquos antepassados românicos entendia que "ele dispôs de seus bens serena mente", significava "com a mente serena"; nós já entendemos como "de maneira serena" - o que permitiu o acréscimo de mente a todo e qualquer adjetivo. Os falantes não têm mais consciência dessa composição, tomando os advérbios em "-mente" por vocábulos simples. Mesmo assim, é emocionante observar como levamos, de forma automática, o adjetivo para o feminino (quando ele tiver os dois gêneros), reencenando, sem perceber, um antiqüíssimo ritual de concordância nominal: puro, puramente; glorioso, gloriosamente. Todos os advérbios em mente que existem (e também os que virão a existir) começam por um adjetivo. Essa é uma regra morfológica de nossa língua (não é uma regra dos gramáticos; é uma das leis internas do idioma). Formações como emboramente, apenasmente etc. são de brincadeirinha. Mas, derrepentemente, digo eu, quem sabe!

 

Fundo musical:

De Abóbora Faz Melão

Fonte:

http://www.beakauffmann.com/musicas-folcloricas.html