Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando a valorizar o sorriso:

— Responda de novo e eu arrebento todos os seus dentes!


Mãe de antigamente ensinando a segurar as emoções:

— É manha? É manha? Engula já o choro ou você vai chorar com vontade.

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando a retidão:

— Que eu endireito você, eu endireito; nem que seja na porrada.

 

Mãe de antigamente ensinando a dar valor ao trabalho dos outros:

Se você e seu irmão querem se matar, vão lá para fora. Acabei de limpar a casa.

 

Mãe de antigamente ensinando lógica e hierarquia:

— É assim porque eu estou dizendo que é assim! Se é cru, é cru; se é assado, é assado; se é frito, é frito; se é cozido, é cozido. Quem é que manda aqui nesta joça? Ponto final!

 

Mãe de antigamente preocupada com a saúde:

— Bote já o casaco, que está frio. Se você se resfriar, quem vai ter que aturar sua tosse sou eu. Seu pai vai continuar roncando e peidando. Como sempre.

 

Mãe de antigamente ensinando o que é motivação:

— Continue chorando que eu vou lhe dar um bom motivo para você chorar.

 

Mãe de antigamente ensinando a contradição:

— Feche a boca e coma.

 

Mãe de antigamente ensinando sobre a antecipação:

— Espere só até seu pai chegar. Aí, você vai aprender com quantos quilos de barro se faz um caxixi.

 

Mãe de antigamente ensinando sobre a paciência:

— Calma! Quando chegarmos à casa você vai ver só.

 

Mãe de antigamente ensinando a enfrentar os desafios:

— Olhe para mim e me responda quando eu lhe fizer uma pergunta. E vê se acaba logo com esse ar de songamonga.

O filho: — Songa o quê, mãe?

A mãe sacaneando: — É tonga da mironga do kabuletê.

O filho: —Ah!, agora eu entendi!

 

Mãe de antigamente ensinando sobre raciocínio lógico:

— Se você cair dessa árvore vai quebrar o pescoço, e, ainda por cima, vai levar uma surra.

 

Mãe de antigamente ensinando Medicina:

— Pare de ficar vesgo menino. Pode bater um vento encanado e você vai ficar assim para sempre. Se o vento também vier possuído por um espírito, será bem pior!

 

Mãe de antigamente ensinando sobre o reino animal:

— Se você não comer essas verduras, os bichos da sua barriga vão comer você.

 

Mãe de antigamente ensinando a ser corajoso:

— Você quer que o bicho-papão ou a mula-sem-cabeça comam você? Então, trate já de comer tudo.

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando Genética:

— Sem tirar nem pôr, você é igualzinho ao seu pai.

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando engenharia:

— Repita isso que eu lhe ensino com quantos paus se faz uma canoa.

 

Mãe de antigamente ensinando sobre as raízes de seu filho:

— Apague essa luz. Tá pensando que nasceu em família de rico?

 

Mãe de antigamente ensinando a sabedoria de idade:

— Quando você tiver a minha idade, você vai entender.

 

Mãe de antigamente ensinando a (a melhor!) justiça:

— Um dia você terá seus filhos. Eu espero que eles façam com você o mesmo que você vem fazendo comigo! Aí, você vai ver o que é bom pra tosse!

 

Mãe de antigamente ensinando religião:

— É melhor começar a rezar para essa mancha sair do tapete!

 

Mãe de antigamente ensinando mais religião:

— É melhor rezar já para o seu anjo da guarda porque o pau vai cantar já, já.

 

Mãe de antigamente ensinando o beijo do povo de tipo mongólico que desde tempos imemoriais habita as regiões mais setentrionais da Groenlândia, do Canadá e do Alasca – os esquimós:

— Se rabiscar de novo, eu esfrego seu nariz na parede!

 

Mãe de antigamente ensinando contorcionismo:

— Olhe só essa orelha! Que nojo!

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando a ter determinação:

— Vai ficar aí sentadinho até comer toda a comida. Quero ver esse prato limpinho. Jogar comida fora é pecado!

 

Mãe de antigamente ensinando as habilidades da ventriloquia:

— Não resmungue! Cale já essa boca e me diga porque é que você fez isso. Foi burrice ou de maldade?

 

Mãe de antigamente ensinando a ser objetivo:

— Eu dou um jeitinho em você em uma porrada só!

 

Mãe de antigamente ensinando a saber escutar:

— Se você não abaixar já o volume, eu vou aí e quebro esse rádio na sua cabeça.

 

Mãe de antigamente ensinando a ter gosto pelos estudos:

— Se eu for aí e você não tiver terminado essa lição, você já sabe: o pau vai cantar em casa de noca!

 

Mãe de antigamente ajudando na coordenação motora:

— Junte agora mesmo esses brinquedos. Pegue um por um e arrume cada um no seu lugar. Aqui não é a casa da mãe joana.

 

Mãe de antigamente dando um exemplo do uso de arame farpado:

— Menino, pare de fazer barulho e coma de boca fechada, senão eu vou costurar a sua boca com arame farpado.

 

Mãe de antigamente dando uma estupenda aula de hortaliças e congêneres:

— Vai comer abóbora sim senhor, fedelho. E, de hoje em diante, vai ser Cucurbita maxima na segunda, Solanum gilo na terça, Hibiscus esculentus na quarta, Cucumis anguria na quinta e Sechium edule na sexta. Sábado vou preparar uma feijoadazinha de carne de Glycine max com Daucus carota e Arracacia xanthorrhiza; para acompanhar, eu faço um creminho de Spinacia oleracea. Domingo pode ser pizza; mas vai ser de Solanum melongena. Garanto que você vai ficar mais forte do que o super-homem! Quem sabe, até sai voando por aí.

O filho: — Hum...

O pai apavorado: — E eu vou ter que comer essas coisas esquisitas também?

A mãe: — Vai sim senhor; você tem que dar o exemplo.

O filho: — É pai; você tem que dar o exemplo. A mamãe não diz que eu sou você sem tirar nem pôr?

O pai argumentando: — Mas eu não quero ser super-homem. Eu nem gosto dele!

A mãe: — Querendo ou não querendo, gostando ou não gostando, você vai comer também. De qualquer jeito. Porque se o seu filho não comer, quem vai entrar no chá de Cydonia oblonga é você.

O pai finalizando: — Devagar com o marmelo, que seu maridão não é de ferro. Então, eu também como; só pra satisfazer você. Quem sabe, eu até viro super-homem, saio voando por aí e economizo gasolina. Agora, de sobremesa poderia ser Artocarpus heterophylla, daquela bem molinha. O que você acha?

A mãe já fula da vida: — Artocarpus heterophylla bem molinha você enfia naquele lugar.

O pai pondo um ponto final na aula de hortaliças e congêneres: — Fofinha, não precisa ficar zangada; eu só estava brincando. Até porque a Artocarpus heterophylla, mole ou dura, não cabe onde você quer que eu enfie. Só de pensar no caroço, eu já estou suando frio.

 

 

Artocarpus heterophylla

Artocarpus heterophylla

 

Mãe de antigamente ensinando números e palavras que têm com outras uma semelhança de significação que permite que uma seja escolhida pela outra em alguns contextos, sem alterar a significação literal da sentença (sinônimos):

— Vou contar até dez. Se o meu pacote de Modess não aparecer, você vai levar uma tareia muito bem dada.

O filho: — Mãe, o que é tareia?

A mãe botando fumaça pelo nariz: — É sinônimo de sova, surra, tunda, porrada...

 

Mãe de antigamente ameaçando furiosamente:

— Que peido mais fedorento! Quer explodir a casa? Se peidar de novo, meto sua cara na privada e dou a descarga.

 

 

 

 

Mãe de antigamente ensinando higiene:

— Pare já de tirar meleca, senão corto esse dedo.

 

Mãe de antigamente ensinando outro tipo de higiene – do tipo filme de terror:

— Você é um porcalhão de marca maior; mijou na tábua da privada e alagou o chão. Ou limpa já esse xixi ou eu vou aí e corto seu pinto e dou pro gato comer.

 

Mãe de antigamente ensinando Economia:

— Mandei você comprar bananas, mas não disse que você podia ficar com o troco. Ou me dá o troco agora ou vou chamar o Delfim Netto para ensiná-lo a ser honesto.

O filho argumentando: — Mas logo o Delfim, mãe? Eu prefiro o Mário Henrique Simonsen.

 

Mãe de antigamente ensinando sobre o funcionamento dos intestinos:

— Pare de comer esses bonbons, senão você vai acabar de caganeira.

 

Mãe de antigamente ensinando a falar a verdade:

— Não minta para mim. Estou vendo nos seus olhos que você está mentindo!

 

Mãe de antigamente discursando sobre o uso do Lysoform:

— Deixe de ser curioso; não mexa no meu Lysoform.

O filho: — E pra que serve esse tal de Lyso... Lyso... Lyso o quê, mãe?

A mãe, já exasperada: — Lysoform, seu burro. Ele é usado para desinfetar o conduto musculomembranoso que vai do útero ao orifício externo do canal genital. Você não tem nada disto; então, não mexa. Ou tem, e eu não sei?

 

Mãe de antigamente discursando sobre sexo:

— O que você está fazendo, menino? Pinto é só para fazer xixi; não se puxa, não se aperta e não se deixa ninguém pegar. Também não se pega o pinto de ninguém. Mais tarde, ele terá outras utilidades... Mas só bem mais tarde. Agora, mije logo e saia já daí que eu quero tomar o meu banho.

O filho: — Que outras utilidades, mãe?

A mãe desconversando: — Não interessa. Já falei; saia já daí que eu quero tomar o meu banho.

 

 

 

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Mãe Moderna

 

 

 

Filho: Mãe, tô com fome!

Mãe Moderna: — Coma seu computador!

 

 

 

 

 

 

 

 

Observação:

Esta brincadeira que eu escrevi não é original. O que eu fiz, para homenagear todas as mães, foi editar o texto aqui e ali, e acrescentar umas coisinhas que a minha mãe-lavadeira Carmen Lina da Silva Pizzinga (para os amigos, Pituça) me dizia (e eu, algumas vezes, ficava putérrimo da vida). Se eu dei certo, muito devo à minha mãe, que, segundo ela, deve estar agora baloiçando – sentada em uma cadeira de baloiço – lá no céu! Oh!, mãe! Obrigado! Agora, vê se arranja uma outra cadeira de baloiço com São Pedro, que eu daqui a pouco estou por aí, e quero baloiçar um pouquinho ao seu lado. Um beijo!

 

Fundo musical:

Mamma
Compositores:
C. A. Bixio & B. Cherubini
Canta: o tenor Salvatore Polcaro

Fonte:

http://italiasempre.com/verpor/mamma2.htm

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.xtibia.com/forum/Tibia-t81319.
html&pid=514963&mode=threaded

http://djrated-djjamz.tripod.com/