Mãe
de antigamente ensinando a valorizar o sorriso:
— Responda de novo e eu arrebento todos os seus dentes!
Mãe de antigamente ensinando a segurar as
emoções:
—
É manha? É manha? Engula já o choro ou você vai
chorar com vontade.
Mãe
de antigamente ensinando a retidão:
—
Que eu endireito você, eu endireito; nem que seja na porrada.
Mãe
de antigamente ensinando a dar valor ao trabalho dos outros:
—
Se
você e seu irmão querem se matar, vão lá para
fora. Acabei de limpar a casa.
Mãe
de antigamente ensinando lógica e hierarquia:
—
É assim porque eu estou dizendo que é assim! Se é cru,
é cru; se é assado, é assado; se é frito, é
frito; se é cozido, é cozido. Quem é que manda aqui
nesta joça? Ponto final!
Mãe
de antigamente preocupada com a saúde:
—
Bote já o casaco, que está frio. Se você se resfriar,
quem vai ter que aturar sua tosse sou eu. Seu pai vai continuar roncando
e peidando. Como sempre.
Mãe
de antigamente ensinando o que é motivação:
—
Continue chorando que eu vou lhe dar um bom motivo para você chorar.
Mãe
de antigamente ensinando a contradição:
—
Feche a boca e coma.
Mãe
de antigamente ensinando sobre a antecipação:
—
Espere só até seu pai chegar. Aí, você vai aprender
com quantos quilos de barro se faz um caxixi.
Mãe
de antigamente ensinando sobre a paciência:
—
Calma! Quando chegarmos à casa você vai ver só.
Mãe
de antigamente ensinando a enfrentar os desafios:
—
Olhe para mim e me responda quando eu lhe fizer uma pergunta. E vê
se acaba logo com esse ar de songamonga.
O filho:
— Songa o quê, mãe?
A mãe
sacaneando:
— É tonga da mironga do kabuletê.
O filho:
—Ah!, agora eu entendi!
Mãe
de antigamente ensinando sobre raciocínio lógico:
—
Se você cair dessa árvore vai quebrar o pescoço, e,
ainda por cima, vai levar uma surra.
Mãe
de antigamente ensinando Medicina:
—
Pare de ficar vesgo menino. Pode bater um vento encanado e você vai
ficar assim para sempre. Se o vento também vier possuído por
um espírito, será bem pior!
Mãe
de antigamente ensinando sobre o reino animal:
—
Se você não comer essas verduras, os bichos da sua barriga
vão comer você.
Mãe
de antigamente ensinando a ser corajoso:
—
Você quer que o bicho-papão ou a mula-sem-cabeça comam
você? Então, trate já de comer tudo.
Mãe
de antigamente ensinando Genética:
—
Sem tirar nem pôr, você é igualzinho ao seu pai.
Mãe
de antigamente ensinando engenharia:
—
Repita isso que eu lhe ensino com quantos paus se faz uma canoa.
Mãe
de antigamente ensinando sobre as raízes de seu filho:
—
Apague essa luz. Tá pensando que nasceu em família de rico?
Mãe
de antigamente ensinando a sabedoria de idade:
—
Quando você tiver a minha idade, você vai entender.
Mãe
de antigamente ensinando a (a melhor!) justiça:
—
Um dia você terá seus filhos. Eu espero que eles façam
com você o mesmo que você vem fazendo comigo! Aí, você
vai ver o que é bom pra tosse!
Mãe
de antigamente ensinando religião:
—
É melhor começar a rezar para essa mancha sair do tapete!
Mãe
de antigamente ensinando mais religião:
—
É melhor rezar já para o seu anjo da guarda porque o pau vai
cantar já, já.
Mãe
de antigamente ensinando o beijo do povo de tipo mongólico que desde
tempos imemoriais habita as regiões mais setentrionais da Groenlândia,
do Canadá e do Alasca – os esquimós:
—
Se rabiscar de novo, eu esfrego seu nariz na parede!
Mãe
de antigamente ensinando contorcionismo:
—
Olhe só essa orelha! Que nojo!
Mãe
de antigamente ensinando a ter determinação:
—
Vai ficar aí sentadinho até comer toda a comida. Quero ver
esse prato limpinho. Jogar comida fora é pecado!
Mãe
de antigamente ensinando as habilidades da ventriloquia:
—
Não resmungue! Cale já essa boca e me diga porque é
que você fez isso. Foi burrice ou de maldade?
Mãe
de antigamente ensinando a ser objetivo:
—
Eu dou um jeitinho em você em uma porrada só!
Mãe
de antigamente ensinando a saber escutar:
—
Se você não abaixar já o volume, eu vou aí e
quebro esse rádio na sua cabeça.
Mãe
de antigamente ensinando a ter gosto pelos estudos:
—
Se eu for aí e você não tiver terminado essa lição,
você já sabe: o pau vai cantar em casa de noca!
Mãe
de antigamente ajudando na coordenação motora:
—
Junte agora mesmo esses brinquedos. Pegue um por um e arrume cada um no
seu lugar. Aqui não é a casa da mãe joana.
Mãe
de antigamente dando um exemplo do uso de arame farpado:
—
Menino, pare de fazer barulho e coma de boca fechada, senão eu vou
costurar a sua boca com arame farpado.
Mãe
de antigamente dando uma estupenda aula de hortaliças e congêneres:
—
Vai comer abóbora sim senhor, fedelho. E, de hoje em diante, vai
ser Cucurbita maxima na segunda, Solanum gilo na terça, Hibiscus
esculentus na quarta, Cucumis anguria na quinta e Sechium edule na sexta.
Sábado vou preparar uma feijoadazinha de carne de Glycine max com
Daucus carota e Arracacia xanthorrhiza; para acompanhar, eu faço
um creminho de Spinacia oleracea. Domingo pode ser pizza; mas vai ser de
Solanum melongena. Garanto que você vai ficar mais forte do que o
super-homem! Quem sabe, até sai voando por aí.
O filho:
—
Hum...
O pai
apavorado:
— E eu vou ter que comer essas coisas esquisitas também?
A mãe:
— Vai sim senhor; você tem que dar o exemplo.
O filho:
—
É pai; você tem que dar o exemplo. A mamãe não
diz que eu sou você sem tirar nem pôr?
O pai
argumentando:
— Mas eu não quero ser super-homem. Eu nem gosto dele!
A mãe:
— Querendo ou não querendo, gostando ou não gostando,
você vai comer também. De qualquer jeito. Porque se o seu filho
não comer, quem vai entrar no chá de Cydonia oblonga é
você.
O pai
finalizando:
— Devagar com o marmelo, que seu maridão não é
de ferro. Então,
eu também como; só pra satisfazer você. Quem sabe, eu
até viro super-homem, saio voando por aí e economizo gasolina.
Agora, de sobremesa poderia ser Artocarpus heterophylla, daquela bem molinha.
O que você acha?
A mãe
já fula da vida:
— Artocarpus heterophylla bem molinha você enfia naquele lugar.
O pai
pondo um ponto final na aula de hortaliças e congêneres:
— Fofinha, não precisa ficar zangada; eu só estava brincando.
Até porque a Artocarpus heterophylla, mole ou dura, não cabe
onde você quer que eu enfie. Só de pensar no caroço,
eu já estou suando frio.
Artocarpus
heterophylla
Mãe
de antigamente ensinando números e palavras que têm com outras
uma semelhança de significação que permite que uma
seja escolhida pela outra em alguns contextos, sem alterar a significação
literal da sentença (sinônimos):
—
Vou contar até dez. Se o meu pacote de Modess não aparecer,
você vai levar uma tareia muito bem dada.
O filho:
—
Mãe, o que é tareia?
A mãe
botando fumaça pelo nariz:
— É sinônimo de sova, surra, tunda, porrada...
Mãe
de antigamente ameaçando furiosamente:
—
Que peido mais fedorento! Quer explodir a casa? Se peidar de novo, meto
sua cara na privada e dou a descarga.
Mãe
de antigamente ensinando higiene:
—
Pare já de tirar meleca, senão corto esse dedo.
Mãe
de antigamente ensinando outro tipo de higiene – do tipo filme de
terror:
—
Você é um porcalhão de marca maior; mijou na tábua
da privada e alagou o chão. Ou limpa já esse xixi ou eu vou
aí e corto seu pinto e dou pro gato comer.
Mãe
de antigamente ensinando Economia:
—
Mandei você comprar bananas, mas não disse que você podia
ficar com o troco. Ou me dá o troco agora ou vou chamar o Delfim
Netto para ensiná-lo a ser honesto.
O filho
argumentando:
— Mas logo o Delfim, mãe? Eu prefiro o Mário Henrique
Simonsen.
Mãe
de antigamente ensinando sobre o funcionamento dos intestinos:
—
Pare de comer esses bonbons, senão você vai acabar de caganeira.
Mãe
de antigamente ensinando a falar a verdade:
—
Não minta para mim. Estou vendo nos seus olhos que você está
mentindo!
Mãe
de antigamente discursando sobre o uso do Lysoform:
—
Deixe de ser curioso; não mexa no meu Lysoform.
O filho:
—
E pra que serve esse tal de Lyso...
Lyso... Lyso o
quê, mãe?
A mãe,
já exasperada:
—
Lysoform,
seu burro. Ele
é usado para desinfetar o conduto musculomembranoso que vai do útero
ao orifício externo do canal genital. Você não tem nada
disto; então, não mexa. Ou tem, e eu não sei?
Mãe
de antigamente discursando sobre sexo:
—
O que você está fazendo, menino? Pinto é só para
fazer xixi; não se puxa, não se aperta e não se deixa
ninguém pegar. Também não se pega o pinto de ninguém.
Mais tarde, ele terá outras utilidades... Mas só bem mais
tarde. Agora, mije logo e saia já daí que eu quero tomar o
meu banho.
O filho:
—
Que outras
utilidades,
mãe?
A mãe
desconversando:
— Não interessa. Já falei; saia
já daí que eu quero tomar o meu banho.
...........
Mãe
Moderna
Filho:
— Mãe,
tô com fome!
Mãe
Moderna: —
Coma seu computador!
Observação:
Esta
brincadeira que eu escrevi não é original. O que eu fiz, para
homenagear todas as mães, foi editar o texto aqui e ali, e acrescentar
umas coisinhas que a minha mãe-lavadeira Carmen Lina da Silva Pizzinga
(para os amigos, Pituça) me dizia (e eu, algumas vezes, ficava putérrimo
da vida). Se eu dei certo, muito devo à minha mãe, que, segundo
ela, deve estar agora baloiçando – sentada em uma cadeira de
baloiço – lá no céu! Oh!, mãe! Obrigado!
Agora, vê se arranja uma outra cadeira de baloiço com São
Pedro, que eu daqui a pouco estou por aí, e quero baloiçar
um pouquinho ao seu lado. Um beijo!
Fundo
musical:
Mamma
Compositores: C.
A. Bixio & B. Cherubini
Canta:
o tenor Salvatore Polcaro
Fonte:
http://italiasempre.com/verpor/mamma2.htm
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.xtibia.com/forum/Tibia-t81319.
html&pid=514963&mode=threaded
http://djrated-djjamz.tripod.com/