Este
texto objetiva apresentar para reflexão alguns pensamentos do dramaturgo,
contista, poeta e romancista siciliano Luigi Pirandello.
Nota
Biográfica
Luigi
Pirandello (Agrigento, 28 de junho 1867 – Roma, 10 de dezembro 1936)
foi um dramaturgo, contista, poeta e romancista siciliano. Foi
um grande renovador do teatro, com profundo sentido de humor e grande originalidade.
Suas obras mais famosas são: Seis
Personagens à Procura de um Autor, Assim É, Se Lhe Parece
(seu primeiro grande sucesso),
Cada Um a Seu Modo e os romances O
Falecido Matias Pascal, Um, Nenhum e Cem Mil, Esta Noite Improvisa-se
etc.
Sua
primeira peça de teatro foi O
Torniquete, escrita entre 1899 e 1900 e encenada pela primeira
vez em 1910.
Recebeu
o Nobel de Literatura de 1934.
Luigi
Pirandello participou da campanha Coleta do Ouro, organizada pelo ditador
italiano Benito Amilcare Andrea Mussolini (Predappio, 29 de julho de 1883
– Mezzegra, 28 de abril de 1945), que visava levantar fundos para
o País. A campanha era uma resposta à Liga Nações,
que impôs sanções econômicas à Itália
após esta ter invadido e declarado guerra a Etiópia (1935
– 1936). Pirandello doou sua medalha do Prêmio Nobel.
Pensamentos
Pirandellianos
—
Maldito seja Copérnico!
—
Oh! Oh! Oh! O que Copérnico tem a ver com isso? — exclamou
o padre Elígio.
—
Tem sim, padre Elígio. Porque, quando a Terra não girava...
—
Mas, ela sempre girou!
—
Não é verdade! O homem não sabia disso, e, por conseguinte,
era como se não girasse. Para muitos, ela continua a não girar
também agora. Outro dia, eu falei que a Terra girava a um velho camponês.
Sabe o que ele me respondeu? 'Que era uma boa desculpa para os bêbados.'
Um
fato é como um saco: vazio, não fica de pé. Para que
fique de pé, é preciso fazer entrar a razão e o sentimento
que o determinaram.
Julga
que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu
posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira?
E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira?
Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas, que
conhecimento pode ser este? Não será esta forma a própria
coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas, não da mesma maneira
para mim e para si: isto é tão verdade que eu não me
reconheço na forma que você me dá, nem você se
reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual
para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente.
E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não
ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos
outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está
na forma que você me dá; mas é realidade para si, não
é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade
senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me,
precisamente.
A
vida está cheia de uma infinidade de absurdos que nem sequer precisam
parecer verossímeis porque são verdadeiros.1
É
próprio da natureza humana, lamentavelmente, sentir necessidade de
culpar os outros dos seus desastres e das suas desventuras.
Todo
fantasma, toda criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou
seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem.
O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função
vital: necessária para a sua existência.
As
almas têm um modo especial de se entenderem, de entrarem em intimidade,
de se tratarem, até, por tu, enquanto as pessoas ainda se sentem
embaraçadas com o comércio das palavras, na escravidão
das exigências sociais. As almas têm necessidades próprias
e aspirações próprias, que o corpo finge não
reconhecer quando se vê impossibilitado de as satisfazer, de as traduzir
em ações. E de todas as vezes que duas pessoas comunicam entre
si desta maneira, apenas como almas, se encontram a sós em um qualquer
lugar, experimentam uma perturbação angustiosa e quase um
repúdio violento de todo e qualquer contato material, um sofrimento
que os afasta e que cessa de imediato logo que intervém uma terceira
pessoa. Então, desvanecida a angústia, as duas almas aliviadas
buscam-se reciprocamente, e voltam a sorrir uma para a outra.
A
educação é inimiga da sabedoria, porque a educação
torna necessárias muitas coisas das quais, para sermos sábios,
nos deveríamos ver livres.
Sou
um ser distinto para cada pessoa que me conhece. Sei e vejo. E nada me embaraça
tanto como estar ao mesmo tempo com pessoas para quem sei que sou um tipo
diferente.
Vejo
uma velha senhora, com os cabelos retintos, untados de não se sabe
qual pomada horrível, e depois toda ela torpemente pintada e vestida
de roupas juvenis. Ponho-me a rir. Advirto que aquela velha senhora é
o contrário do que uma velha respeitável senhora deveria ser.
Assim posso, à primeira vista e superficialmente, deter-me nesta
impressão cômica. O cômico é precisamente um advertimento
do contrário. Mas, se agora em mim intervém a reflexão
e me sugere que aquela velha senhora não sente, talvez, nenhum prazer
em se vestir como um papagaio, mas, que, talvez, sofra por isto, e o faz
somente porque se engana piamente e pensa que, assim vestida, escondendo
as rugas e as cãs, consegue reter o amor do marido, muito mais moço
do que ela, eis que já não posso mais rir disto como antes,
porque precisamente a reflexão, trabalhando dentro de mim, me leva
a ultrapassar aquela primeira advertência, ou antes, a entrar mais
em seu interior: daquele primeiro advertimento do contrário ela me
faz passar a este sentimento do contrário. E aqui está toda
a diferença entre o cômico e o humorístico.
O
homem está sempre disposto a negar aquilo que não entende.
As
mulheres, assim como os sonhos, nunca são como você gostaria
que fossem.
Como
podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e
o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta
inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si,
do mundo que tem dentro de si?
Você
tem idéia de quanto mal nos fazemos [e
quanto mal fazemos aos outros]
por essa maldita necessidade de falar?
Toda
a gente pode ser um herói de vez em quando, mas, um cavalheiro é
algo que se é sempre ou não se é.
Farei,
porém, um esforço para vos dar aquela realidade que vocês
julgam ter, ou seja, esforçar-me-ei por vos querer em mim como vocês
se querem. Já sabemos que não é possível, dado
que, por mais esforços que eu faça para vos representar à
vossa maneira, será sempre «à vossa maneira» apenas
para mim, não «à vossa maneira» para vocês
e para os outros. Mas, desculpem: se para vocês eu não tenho
outra realidade fora daquela que vocês me dão, e estou pronto
a reconhecer e a admitir que esta não é menos verdadeira que
a que eu poderei dar a mim mesmo, que esta, para vocês, é a
única verdadeira (e sabe Deus a realidade que vocês me dão!),
vão lamentar-se agora da realidade que eu lhes darei, esforçando-me,
com toda a boa vontade, por vos representar à vossa maneira tanto
quanto me seja possível. Não presumo que vocês sejam
como eu vos represento. Já disse que vocês também não
são aquele tal como o representam para vocês próprios,
mas, muitos ao mesmo tempo, segundo todas as vossas possibilidades de ser,
os acasos, as relações e as circunstâncias. Então,
que mal é que eu vos fiz? Vocês é que me fazem mal,
julgando que eu não tenho ou não posso ter outra realidade
fora da que vocês me dão e que é apenas vossa, acreditem,
uma idéia que vocês fizeram de mim, uma possibilidade de ser
como vocês a sentem, como vos parece, como intimamente a reconhecem
possível, já que daquilo que eu posso ser para mim, não
só não podem saber nada, como eu mesmo nada posso saber.
Vocês
sabem o que significa amar a Humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito
consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo,
ama a Humanidade.2
Um
romance... ou se escreve ou se vive!
Todos
vivemos com a ilusão de que os outros, por fora, nos vejam como nós
imaginamos ser por dentro. E não é assim.3
Assim
é, se lhe parece.
Sempre
que nos acontece descobrir algo que os outros supõem que nunca vimos,
não corremos a chamar alguém para que o veja conosco?
—
Oh, meu Deus, o que é?
Se, por
acaso, a visão dos outros não nos ajudar a constituir em nós,
de algum modo, a realidade daquilo que vemos, os nossos olhos já
não sabem o que vêem; a nossa consciência se perde, porque
aquilo que pensamos ser a nossa coisa mais íntima, a consciência,
significa os outros em nós; e não podemos nos sentir sós.
Não
há uma estrada real para a felicidade, mas, sim, caminhos diferentes.
Há quem seja feliz sem coisa nenhuma, enquanto outros são
infelizes possuindo tudo.
Tio
Patinha$ (Uncle $crooge)
O
prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no próprio
objeto. A imaginação embeleza-o, cercando-o e quase o irradiando
com imagens estimadas. Em suma, no objeto amamos aquilo que nós mesmos
colocamos nele.
A
culpa é dos fatos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos fatos.
Eu nasci; logo, existo.
Assim
como existem filhos ilegítimos, existem também pensamentos
bastardos.4
Recoloca
no contador um desejo: abre-o; em seu lugar, encontrarás uma desilusão.
O
homem, quando sofre, faz uma idéia muito especial do bem e do mal,
ou seja, do bem que os outros lhe deveriam fazer e que ele pretende, como
se do seu sofrimento derivasse um qualquer direito a ser compensado, e do
mal que pode fazer aos outros como se igualmente o seu sofrimento o autorizasse
a praticá-lo. E se os outros não lhe fazem o bem quase por
dever, ele os acusa; e de todo o mal que ele faz, quase por direito, facilmente
se desculpa.
Quando
um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência, inclusive
do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas
outras situações em que o autor não pensou inseri-lo,
e, às vezes, pode adquirir também um significado que o autor
jamais sonhou em lhe dar!
Quem
tem a sorte de nascer personagem vivo, pode rir até da morte. Não
morre mais... Quem era Sancho Pança?5
Quem era Don Abbondio?6
E, no entanto, vivem eternamente, pois - vivos embriões - tiveram
a sorte de encontrar uma matriz fecunda, uma fantasia que soube criá-los
e nutri-los, fazê-los viver para a eternidade!
O
drama está todo na consciência que tenho de cada um de nós
ser 'um', ao mesmo tempo que é 'cem', que é 'mil', que é
'tantas vezes um' quantas possibilidades há nele.
O
homem enamorado e não correspondido nega-o sempre.
A
mulher se sacrifica para gostar de um homem, e o homem não pode agradecer
o sacrifício, porque não gosta do que ela faz ao se sacrificar
por um homem que ela inventa e que não é ele.
Continuam
a viver em nós todos aqueles que se foram embora.
Abrir-se
com alguém, isto, sim, é realmente coisa de louco!
Vocês
sabem o que significa se encontrar diante de um louco? É encontrar-se
diante de alguém que sacode os alicerces de tudo o que vocês
construíram dentro de si, em torno de si, a lógica, a lógica
de todas as suas construções!
Frases!
Frases! Frases! Como se o conforto de todos, diante de um fato que não
se explica, diante de um mal que nos consome, fosse encontrar em uma palavra
que não diz nada e pela qual nos tranqüilizamos!
Nada
parece mais supérfluo do que o espírito em um organismo humano.
Após
uma boa hora de conversa, entendemo-nos perfeitamente. Amanhã vem
ter comigo com as mãos na cabeça, gritando: — Como é
possível? O que você percebeu? Não me disse isto e isto?
Isto e isto, perfeitamente. Mas, o problema é que você, meu
caro, nunca saberá nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz,
em mim, aquilo que você me disse. Não falou turco, não.
Eu e você usamos a mesma língua, as mesmas palavras. Entretanto,
que culpa temos nós de que as palavras, em si, sejam vazias? Vazias,
meu caro. Ao dizê-las a mim, você as preenche com o seu sentido;
e eu, ao recebê-las, inevitavelmente, preencho-as com o meu sentido.
Pensamos que nos entendíamos; de fato, não nos entendemos.
E conto velho também é o fato de o sabermos. Eu não
pretendo dizer nada de novo. Apenas volto a lhe perguntar: — Por que
continua, então, a proceder como se não o soubesse? Por que
continua a me falar de si, se sabe que para ser para mim, como é
para você mesmo, e para eu ser para si como sou para mim, seria preciso
que eu, dentro de mim, lhe desse a mesma realidade que você dá
a si mesmo, e vice-versa, e isto não é possível? Infelizmente,
meu caro, faça o que fizer, dar-me-á sempre uma realidade
à sua maneira, mesmo acreditando de boa-fé que é à
minha maneira; e será, não digo que não; talvez seja,
mas, um «à minha maneira» que eu não conheço
nem poderei nunca conhecer, que apenas você, que me vê de fora,
conhecerá: portanto, um «à minha maneira» para
si, não um «à minha maneira para mim».
Como
casa de Deus, o mundo é sem dúvida infinitamente maior e mais
rico do que uma igreja. E incomparavelmente mais nobre e precioso do que
qualquer altar é o espírito do homem em adoração
do mistério divino. Mas, esta é a sorte de todos os sentimentos
que querem construir para si uma casa: se adelgaçam por força
e se tornam também algo pueris pela sua vaidade.
Indústria
Cinematográfica
Macchinetta Fatale (Maquineta
Mortificante).
Cinema
Linguagem
de aparências. Diabólica invenção de uma máquina
que fala. Imitação do teatro. O máximo que o cinema
poderá aspirar, colocando-se agora mais do que nunca na via do teatro,
será se transformar em uma cópia fotográfica e mecânica,
mais ou menos má, a qual, naturalmente, como qualquer cópia,
sempre fará nascer o desejo do original.
Teatro
Lugar da ação
viva. Antes de ser uma forma tradicional da Literatura, o teatro é
uma expressão natural da vida.
Conversão
de Pirandello à nova arte (cinema)
Acredito
que o cinema possa, mais facilmente e mais completamente do que qualquer
outro meio de expressão artística, dar-nos a visão
do pensamento. Por que, então, nos mantermos afastados deste novo
modo de expressão que nos permite tornar sensíveis fatos pertencentes
a um âmbito que é quase inteiramente interdito ao teatro e
ao romance?
Monotype
Animalúnculo monstruoso
que engole chumbo e caga livros.
Pianola
automática Arrasta os
homens ao desemprego porque faz tudo sozinha.
Cada
objeto costuma se transformar, em nós, segundo as imagens que evoca
e reúne, por assim dizer, em seu redor. É claro que um objeto
também pode agradar por si mesmo, pela diversidade das sensações
agradáveis que suscita em nós, em uma percepção
harmoniosa. Mas, bem mais freqüentemente, o prazer que um objeto nos
dá não se encontra no objeto em si mesmo. A fantasia embeleza-o,
cingindo-o e quase projetando nele imagens que nos são queridas.
Nem nós o percepcionamos já tal qual como ele é, mas,
quase animado pelas imagens que suscita em nós ou que os nossos hábitos
lhe associam. No objeto, em suma, nós amamos aquilo que nele projetamos
de nosso, o acordo e a harmonia que estabelecemos entre nós e ele
– a alma que ele adquire só para nós e que é
formada pelas nossas recordações.
Mas,
às vezes, acontece o contrário!
Nada
é mais complicado do que a sinceridade.
A
história da Humanidade é a história das idéias.
A
Natureza usa a imaginação humana para elevar a obra da criação
a níveis ainda mais sublimes.
Na
cama, meu verdadeiro amor sempre foi o sono, que me resgata e me permite
sonhar.
Drama
é ação, senhor; não uma filosofia confusa.
Cada
um de nós, cara a cara com os outros, está vestido com algum
tipo de dignidade, mas, sabemos muito bem todas as coisas indizíveis
que acontecem no Coração.
Seria
tão lindo que os meus sonhos pudessem se tornar realidade!
Achamos
que entendemos um ao outro, mas, realmente, nós nunca nos entendemos.
Ai
de aquele que não sabe como usar a máscara, seja ele rei,
seja ele papa!
Assim
que nascemos, começamos a morrer.
Se
reconhecemos que errar é humano, não é crueldade sobre-humana
a justiça?
A
minha arte ensina cada indivíduo a aceitar seu fardo com submissão
e humildade.
Aqui
está um pedaço de terra. Se você ficar olhando para
ele e não fazer nada, o que renderá a terra? Nada. Assim como
uma mulher!
Somos
como tantos bonecos pendurados na parede, à espera de alguém
para vir e nos mover ou nos fazer falar.
Todos
a sentimos aqui, como uma angústia na garganta, o gosto da vida,
que nunca se satisfaz, que nunca se pode satisfazer, porque a vida, no próprio
ato de a vivermos, é tão gulosa de si própria, que
não se deixa saborear. O sabor está no passado, que permanece
vivo dentro de nós. É daí que nos vem o desejo de viver,
das recordações que nos mantêm presos. Mas, presos a
que? A esta estupidez... A estas lamentações... A tantas ilusões
absurdas... A tantas amarguras que nos ocupam...
Daqui
a quatro, cinco, dez anos, quem sabe que gosto virão a ter... Que
gosto virão a ter as próprias lágrimas de hoje?
Quero
lhe mostrar uma coisa... Olhe aqui, debaixo do bigode... Aqui, está
vendo? Não vê que linda tuberosidade violácea? Sabe
como se chama isto? Ah, um nome muito doce, mais doce do que um rocambole.
Epitelioma, é assim que se chama. Pronuncie, verá que doçura:
Epitelioma... A morte, percebe? Passou por mim. Pôs esta flor na boca,
e disse: — Fica com ela, querido: voltarei a passar por aqui dentro
de oito ou dez meses!
Agite-se!
Livre-se do manequim que você criou a partir de uma falsa interpretação
do que você faz e do que você sente, e você constatará
que o manequim que você fez de si mesmo não é nada parecido
com o que você realmente é ou com o que você poderá
ser!
Quanto
mais braços e pernas tivermos, mais ricos seremos.
A riqueza,
claro, não é de bufunfa,
mas, a centopéia não está nem aí.
Eu
me apresento a você de uma forma adequada à relação
que desejo alcançar com você.
O
homem, o escritor, o instrumento da criação morrerão,
mas, sua criação não morrerá.
Não
sou um autor de farsas, mas, um autor de tragédias.7
E a vida não é uma farsa, é uma tragédia. O
aspecto trágico da vida está precisamente nessa lei a que
o homem é forçado a obedecer, a lei que o obriga a ser um.
Cada qual pode ser um, nenhum, cem mil, mas, a escolha é um imperativo
necessário.
O
que é hoje uma realidade, o que você toca e acredita que seja
real – como a realidade de ontem – amanhã será
uma ilusão.
Um
Dia, Talvez...
O
Kosmos
pode ser multiverso,8
mas,
é coerente e incontroverso.
Nós
– limitadíssimos infantes –
estamos
de decifrá-Lo distantes.
Especulamos
e parimos teorias
–
umas, legais; outras, porcarias –
mas –
inab-rogável – a Lei é a Lei,
seja
para o súdito, seja para o rei.
Ou
aprendemos ou minguaremos.
Ou nos
mancamos ou mixaremos.
A Liberação
só pode ser para cima.
Um
dia, talvez, compreendamos,
a nos
obrigar a viver gangorrando.
Por
quê? Então? Como? Quando?
E
aí, riremos de tanta estroinice
–
da garotice à inevitável velhice –
que nos
fez choramigar e padecer,
e espera(nça)r
um quedo vir-a-ser.
a dor,
no peito, apertando, aperta.
Será
inevitável muita vigorosidade
para
derrotar o apelo da
vontade.9
______
Notas:
1. Como
a vida pôde, pode ou poderá
estar cheia de uma infinidade de absurdos? De duas uma: ou somos
nós, porque somos ainda muito ignorantes, que parimos os absurdos
e as irracionalidades ou os presumidos absurdos e as admitidas irracionalidades
são coisas e fatos que não compreendemos, e, por isto, os
tachamos de absurdos e de irracionais. O Universo é total e inteiramente
coerente e incontroverso porque, se não fosse, seria outra coisa,
mas, não o Universo. Quem sabe, uma Bocetona de Pandora gigantesca
muito da desgraciada e cheia de males! Cruz-credo! Arreda!
2. Só
há um perigo em estar satisfeito consigo mesmo: continuar satisfeito
consigo mesmo, e ficar deitado eternamente em berço esplêndido,
ao som de um som insonoro em um abismo abismal, e não se esforçar
para avançar, não tentar evoluir e não lutar para se
libertar. Em outras palavras: ficar eternamente contando com um ovo no fiofó
de uma galinha poedeira. Isto, realmente, é uma desgraceira desgraçada.
Bem igualzinho à gigantesca Bocetona de Pandora!
3. Se
é assim ou se não é assim é o que menos importa.
O que interessa como os outros nos vêem ou como poderiam nos ver?
Esta é a questão; a única questão. Não
interessa.
4. Pensamentos
bastardos, sim, e, muitas vezes, até mil vezes piores do que bastardos.
Filhos ilegítimos? Nunca. Filhos são filhos. Sempre. A palavra
bastardo deveria ser abolida da língua portuguesa e de todas as outras
línguas. Filho bastardo é o cacete! Filho ilegítimo
é o cacete! Filho adulterino é o cacete!
5. Sancho
Pança é um personagem do livro Don Quijote de la Mancha,
conhecido apenas como Don Quixote, do romancista, dramaturgo e poeta castelhano
Miguel de Cervantes Saavedra (1547 – 1616). Enquanto de la Mancha
é sonhador e fantasiador, Pança é realista, mas, aos
poucos, vai aceitando os delírios do cavaleiro, de quem é
fiel escudeiro. Como no ditado dos cavaleiros (um cavaleiro nunca foge
a uma luta), Sancho nunca abandonou Quixote. Sancho, normalmente, andava
em cima de um burro, junto de Quixote, que andava em cima do seu cavalo:
o Rocinante.
6. Don
Abbondio é um dos personagens principais de Os Noivos, o
romance mais conhecido do escritor, poeta e dramaturgo italiano Alessandro
Manzoni (1785 – 1873).
7. Como disse Aristóteles
(384 a.C. – 322 a.C.),
a tragédia é a imitação de uma ação
séria e concluída em si mesma... que, mediante uma série
de casos que suscitam piedade e terror, tem por efeito aliviar e purificar
a alma de tais paixões.
8. Multiverso ou multiuniverso,
em Física, é a admissibilidade de que possam existir infindáveis
universos em uma espécie de queijo de energia quântica, no
qual bolhas se formam e somem sem parar. O nosso Universo seria um deles.
Em Cosmologia, através do Hubble e de outros telescópios,
os físicos buscavam a comprovação de uma teoria: a
de que a velocidade de expansão do Universo chegaria a um limite
provocado pela força da gravidade, e, depois de milhões de
anos, as galáxias voltariam a encolher e a se aproximar, até
se condensarem novamente no ponto único primitivo de massa e energia
absolutas, dando origem a mais um Big
Bang. Encontraram o contrário. Nâo só a
velocidade de expansão não está diminuindo como está
aumentando. Pensa-se que, no fim das eras, nosso Universo irá se
desfazer no éter. Como resultado de tentativas para racionalizar
a matemática subjacente à Teoria Quântica da Cosmologia,
os cientistas admitem que de galáxias a estrelas e até os
átomos e as moléculas irão se separar, e nossa bolha
de energia, enfim, estourará, como uma bolha de sabão. Já
a Teoria do Universo-bolha (também conhecida como Teoria da Bolha)
admite que novos universos sempre brotam dos antigos, e a Teoria da Inflação
Caótica propõe uma teoria de um multiverso aberto. Isto é
o que, resumidamente, admitem os cientistas. O físico teórico
alemão Albert Einstein (1879 – 1955) pensava o seguinte:
Duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas,
no que respeita ao Universo, ainda não adquiri certeza absoluta.
Para mim, a coisa é muito simples: o Universo sempre existiu e não
pode ou poderá deixar de existir. Se o Universo sempre existiu, não
pode ter nascido do nada ou de uma coisa semelhante ao nada, e, conseqüentemente,
por nenhuma via, poderá desembocar, digamos assim, em uma espécie
de inexistente nada, para daí, sei lá como, ressurgir como
um outro Universo. Todas essas especulações científicas
são semelhantes ao antigo Geocentrismo – hipótese de
que a Terra estaria parada no centro do Universo com os corpos celestes,
inclusive o Sol, girando ao seu redor – defendido pelo filósofo
grego e aluno de Platão Aristóteles (384 a.C. – 322
a.C.) e pelo cientista grego Claudius Ptolomeu (90 – 168). Enfim,
especulação (baseada predominantemente no raciocínio
abstrato) poderá estar correta ou equivocada. Se estiver correta,
tudo bem; se estiver equivocada, o tempo se incumbirá de a reajustar.
A travessia do ser-aí-no-mundo nada mais é do que
uma seqüência interminável de ajustes e reajustes –
sempre para melhor.
9. Apelo da vontade
Fiat
voluntas mea.
Música
de fundo:
Amuri,
Amuri (Canto popular siciliano)
Composição e interpretação: Otello Profazio
Fonte:
http://www.italiasempre.com/verpor/amuriamuri2.htm
Páginas
da Internet consultadas:
http://leifericgames.blogspot.com.br/
2012_04_01_archive.html
http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/teatro/10
http://www.encontrosdedramaturgia.com.br/
http://www.letras.ufrj.br/pgneolatinas/
media/bancoteses/pedromuradtese.pdf
http://www.pedrobarbosa.net/
artigos_online-pdf/PIRANDELLO-Cinema.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luigi_Pirandello
http://www.cavalodeferro.com/index.php?
action=manufacturer_info&manufacturers_id=64
http://kdfrases.com/autor/luigi-pirandello/3
http://kdfrases.com/autor/luigi-pirandello/2
http://www.notable-quotes.com/p/pirandello_luigi.html
http://romeuejulieta.com.br.megaloja.com/result2.cfm?
tipo=EVA&subtipo=Bichinhos%20e%20Bonecas&rs=1
http://joyreactor.com/search/gif%2Billusion/2
http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/l/luigi_pirandello.html
http://pensador.uol.com.br/autor/luigi_pirandello/
http://www.desenhosparadesenhos.com.br/
desenhos-da-disney/desenhos-do-mickey-e-minnie/
http://www.citador.pt/textos/a/luigi-pirandello
http://it.wikipedia.org/wiki/Don_Abbondio
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_Pan%C3%A7a
http://wifflegif.com/tags/71242-duck-tales-gifs
http://xipanzeca.blogspot.com.br/2011_04_01_archive.html
http://www.animationlibrary.com/
animation/29839/Smiling/
http://anitasnotebook.com/stories/all-about-hello-
kitty-the-story-of-her-life-family-friends-and-pets
http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/luigi-pirandello/30
http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/luigi-pirandello/20
http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/luigi-pirandello/10
http://pt.wikipedia.org/wiki/Multiverso
http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/luigi-pirandello
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neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
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