O FUTURO DO CRISTIANISMO
(Saudações de
Lúcifer ao Arcebispo de Cantuária!)

 

 

 

O Inexistente e Fraudulento Lúcifer Católico

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Durante séculos, como recorda Carlos Cardoso Aveline, o Vaticano promoveu a tortura e a morte no fogo de milhares de pessoas inocentes. Só durante o mandato de Tomás de Torquemada (1420 – 1498) como inquisidor-geral dos Reinos de Castela e Aragão, no século XV, o número de autos-de-fé (cerimônias em que eram proclamadas e executadas as sentenças dos tribunais de inquisição) normalmente aceito pelos historiadores é 2.200!

 

 

Santo Domingo

Santo Domingo Presidindo um Auto-de-fé
(Madrid, Museu Nacional do Prado)

 

 

A desculpa era Lúcifer – o inimigo imaginário de um deus medieval [inventado] sedento de sangue. A palavra Lúcifer, porém, é muito anterior ao Cristianismo e significa portador da luz. O termo designa o Planeta Vênus, a Estrela da Manhã, que anuncia o nascer do Sol. A palavra foi distorcida pelos teólogos medievais, quando decidiram, à revelia, fabricar um inimigo terrível para justificar o uso sistemático dos múltiplos assassinatos em nome de Deus. Em Londres, na etapa final da sua vida, Helena Petrovna Blavatsky fundou uma revista, e a chamou de Lúcifer. Helena queria resgatar da fraude teológica este termo pré-cristão da Sabedoria Universal. Foi em Lúcifer, na edição de dezembro de 1887, que apareceu, pela primeira vez, o excelente e importantíssimo artigo a seguir (ligeiramente editado por mim e com alguns comentários e algumas animações pictórico-explicativas) – na verdade, uma carta aberta ao Arcebispo de Cantuária da época. Seu título original é Lucifer to the Archbishop of Canterbury, Greeting! (Saudações de Lúcifer ao Arcebispo de Cantuária!). A Cidade de Cantuária (em inglês, Canterbury) está situada no sudeste da Inglaterra, e constitui o principal centro religioso do País. Ali vive tradicionalmente o Arcebispo que lidera a Igreja Anglicana. Quando esta carta foi publicada, em 1887, o Arcebispo de Cantuária era Edward White Benson (14 de julho de 1829 – 11 de outubro de 1896), que exerceu esta função de 1883 até a sua morte. A tradução para o português da carta é de Carlos Cardoso Aveline, que consultou a versão do teosofista português Humberto Álvares da Costa, com autorização dele. Enfim, cabe registrar que a Sociedade Teosófica original já não existe. Ela deu lugar a um movimento amplo e marcado pela diversidade de organizações. Portanto, no texto a seguir, onde se lê Sociedade Teosófica, deve-se ler Movimento Teosófico.

 

 

Edward White Benson

Edward White Benson

 

 

Fonte:

http://www.filosofiaesoterica.com/
o-futuro-do-Cristianismo/

 

 

 

E milhares foram apresados...
Só porque não toparam!
E milhares foram torturados...
Só porque contestaram!
E milhares foram julgados...
Só porque dissidiaram!
E milhares foram condenados...
Só porque discreparam!
E milhares foram humilhados...
Só porque desaprovaram!
E milhares foram excomungados...
Só porque discordaram!
E milhares foram amaldiçoados...
Só porque desapoiaram!
E milhares – – – – – – – – – – • • •
Só porque – – – – – – – !
E milhares foram fogueirarados...
Só porque pensaram!

 

______________________


Ajustaremos nossos defeitos.
Ajustaremos nossos malfeitos.
Mas, ser mau tem um preço;
um dia, não haverá recomeço!
E este fim se chama entropia,
que nunca mostrará a Alegria!

 

 

Tomás de Torquemada – O Fedorento Grande Inquisidor
(Inquisidor-geral dos Reinos de Castela e Aragão no Século XV)

 

 

 

A Carta Aberta

 

 

 

Senhor Primaz de toda a Inglaterra,

 

Fazemos uso de uma carta aberta a Sua Graça para transmitir a você e para fazer chegar através de você aos membros do clero, às suas ovelhas e a todos os cristãos em geral que nos consideram como inimigos de Cristo uma breve descrição da posição da Teosofia em relação ao Cristianismo, pois, pensamos que chegou o momento de fazer isto.

 

Sua Graça é, sem dúvida, consciente de que a Teosofia não é uma religião, mas, uma Filosofia, ao mesmo tempo religiosa e científica, e que a principal tarefa da Sociedade Teosófica, até agora, tem sido fazer reviver em cada religião o seu espírito próprio que a anima, ao encorajar e ajudar o estudo do verdadeiro significado das suas doutrinas e das suas práticas. Os teosofistas sabem que quanto mais profundamente se avança na compreensão das doutrinas e das cerimônias de todas as religiões, maior e mais aparente se torna a sua semelhança básica, até que, por fim, se chega à percepção da sua unidade fundamental. Este terreno comum é a Teosofia a Doutrina Secreta de todas as épocas, que, diluída e disfarçada para se adaptar à percepção das multidões e às exigências de cada época, constitui a essência viva de todas as religiões. A Sociedade Teosófica tem lojas compostas por budistas, hindus, maometanos, parses, cristãos e livres-pensadores, que trabalham como irmãos no terreno comum da Teosofia. E é precisamente porque a Teosofia não é uma religião nem pode cumprir o papel de uma religião para as multidões, que o sucesso desta Sociedade foi tão grande, não apenas em relação ao número crescente dos seus membros e à sua influência cada vez maior, mas, também, no que se refere à realização do seu trabalho o resgate da espiritualidade na religião, e o cultivo do sentimento de fraternidade entre os homens.

 

 

 

Tanto desencontro!
Tanto rancor!
Tanta tristeza!
Tempo deplorando!
Coexistir abominando!
Até quando?
Então, Encontro!
Enfim, Amor!
Por isto, Beleza!

 

 

Nós, teosofistas, cremos que a religião é um incidente natural na vida do ser-humano-aí-no-mundo, no seu estágio atual de desenvolvimento [sublinhado meu], e que, embora em casos raros os indivíduos possam nascer sem o sentimento religioso, uma comunidade deve ter uma religião, isto é, um laço de união sob pena de cair na decadência social e na aniquilação material. Acreditamos que nenhuma doutrina religiosa pode ser mais do que uma tentativa de descrever para a nossa limitada capacidade atual de compreensão e nos termos das nossas experiências terrestres grandes verdades cósmicas e espirituais que, no estado normal de consciência, sentimos vagamente, mais do que realmente percebemos e compreendemos, de tal sorte que uma revelação, para que possa revelar alguma coisa, deve necessariamente se adequar às mesmas exigências do intelecto humano.

 

 

 

Já nasci tantas vezes,
que até perdi a conta!
Tive tantas religiões,
que até perdi a conta!
Cri em tantos deuses,
que até perdi a conta!
Medrei de tantos butes,
que até perdi a conta!
Ajoelhei tantas vezes,
que até perdi a conta!

Eu me desiludi tanto,
que até perdi a conta!
Em mim, achei a LLuz!
E foi o fim da vida tonta.

 

 

Na nossa avaliação, portanto, nenhuma religião pode ser absolutamente verdadeira, e nenhuma pode ser absolutamente falsa. Uma religião é verdadeira na medida em que atende as necessidades espirituais, morais e intelectuais da sua época, e ajuda o desenvolvimento da Humanidade nestas áreas. Ela é falsa na medida em que bloqueia este desenvolvimento e prejudica a parte espiritual, moral e intelectual da natureza do ser-humano-aí-no-mundo. E as idéias transcendentemente espirituais sobre os poderes dirigentes do Universo, adotadas por um sábio do Oriente, seriam para um selvagem africano uma religião tão falsa quanto o fetichismo inferior deste selvagem seria para aquele sábio, embora os dois pontos de vista devam necessariamente ser verdadeiros, em certa medida, porque ambos representam as mais elevadas idéias que estes indivíduos podem, respectivamente, conceber a respeito destes fatos cósmico-espirituais. Tais fatos jamais podem ser conhecidos na sua realidade pelo ser-humano-aí-no-mundo, enquanto ele for apenas um ser-humano-aí-no-mundo.

 

Os teosofistas, portanto, respeitam todas as religiões e têm uma profunda admiração pela ética religiosa de Jesus [Discípulo do Cristo]. E não poderia ser de outro modo, pois, estes ensinamentos que chegaram até nós são os mesmos que os da Teosofia. Na medida, pois, em que o Cristianismo moderno se conduz de acordo com a sua afirmação de que é a religião prática ensinada por Jesus, os teosofistas estão com ele de todo o coração. A partir do momento em que age contra esta ética, pura e simples, os teosofistas se tornam seus opositores. Qualquer cristão pode, se quiser, comparar o Sermão da Montanha com os dogmas da sua igreja e o espírito que respira nela, e com os princípios que guiam esta civilização cristã e governam a sua própria vida, e, então, estará em condições de julgar por si mesmo até que ponto a Religião de Jesus está presente em seu Cristianismo, e até que ponto, conseqüentemente, ele e os teosofistas estão de acordo. Mas, os cristãos declarados, e especialmente o clero, evitam fazer esta comparação. Como comerciantes que temem ir à falência, eles parecem ter receio de encontrar na sua contabilidade um saldo negativo, que não poderia ser compensado contabilizando bens materiais em lugar de bens espirituais. A comparação entre os ensinamentos de Jesus e as doutrinas das igrejas foi, todavia, feita freqüentemente e, muitas vezes, com um grande conhecimento e uma perspicácia decisiva tanto por aqueles que queriam abolir o Cristianismo, quanto pelos que queriam reformá-lo. E o resultado total destas comparações, como Sua Graça deve saber, prova que, em quase todos os pontos, as doutrinas das igrejas e o modo de agir dos cristãos costumam estar em contradição direta com os ensinamentos de Jesus.

 

 

Cruzadas
(
Contradição direta com os ensinamentos de Jesus)

 

Temos o costume de dizer aos budistas, aos maometanos, aos hindus ou aos parses: O caminho que conduz à Teosofia passa por vocês mesmos, por sua própria religião. Dizemos isto porque as suas crenças possuem um significado profundamente filosófico e esotérico, que explica as alegorias sob as quais são apresentadas ao povo. Mas, não podemos dizer a mesma coisa aos cristãos.

 

Os sucessores dos Apóstolos nunca registraram por escrito a Doutrina Secreta de Jesus – os Mistérios do Reino dos Céus – que foi dada a conhecer apenas a Eles, Seus Apóstolos (Marcos, IV: 11; Mateus, XIII: 11; Lucas, VIII: 10). Estes Mistérios foram suprimidos, afastados, destruídos. O que nos chegou através do tempo são os preceitos, as parábolas, as alegorias e as fábulas que Jesus destinou expressamente aos espiritualmente surdos e cegos [os pobres de Espírito], e que deveriam ser reveladas mais tarde para o mundo, e que o Cristianismo moderno ora as toma na íntegra, literalmente, ora as interpreta segundo a fantasia dos padres da igreja secular. Em ambos os casos, elas são como flores cortadas: estão separadas da planta em que cresceram e da raiz de que esta planta tirou sua vida. Portanto, se fôssemos encorajar os cristãos, como fazemos com os fiéis de outras crenças, a estudarem por si mesmos a sua própria religião, a conseqüência seria não um conhecimento do significado dos seus Mistérios, mas, o redespertar da superstição e da intolerância medievais, acompanhados de uma formidável explosão de preces e de sermões ditos apenas da boca para fora tal como o que resultou na formação de 239 seitas protestantes, apenas na Inglaterra ou, alternativamente, um grande aumento do ceticismo, pois, o Cristianismo não tem uma base esotérica conhecida pelos que o seguem. Porque mesmo você, Senhor Primaz da Inglaterra, deve estar dolorosamente consciente do fato de que não sabe absolutamente nada sobre os Mistérios do Reino dos Céus ensinados por Jesus aos Seus Discípulos que não seja conhecido pelo membro mais humilde e mais iletrado da sua Igreja.

 

Portanto, é facilmente compreensível que os teosofistas nada têm a dizer contra a política da Igreja Católica Romana de proibir e a política das igrejas protestantes de desencorajar qualquer investigação individual sobre o significado dos dogmas cristãos que seja correspondente ao estudo esotérico das outras religiões. Com as suas idéias e conhecimentos atuais, os cristãos não têm condições de empreender um exame crítico da sua fé com uma perspectiva de bons resultados. O seu efeito inevitável seria paralisar, ao invés de estimular, os sentimentos religiosos adormecidos, porque os estudos críticos da Bíblia e a mitologia comparada provaram de uma forma conclusiva pelo menos, para aqueles que não têm interesse pessoal, espiritual ou temporal, na manutenção da ortodoxia que a religião cristã, tal como existe agora, é composta de cascas externas do Judaísmo, com retalhos do Paganismo e restos mal digeridos de Gnosticismo e Neoplatonismo.

 

 

Religião Católica = Colcha de Retalhos

 

 

Este curioso conglomerado que se formou gradualmente à volta do registro das palavras ditas por Jesus começou agora, eras mais tarde, a se desintegrar e a se desagregar, separando-se das jóias puras e preciosas da Verdade Teosófica, que durante tanto tempo ele encobriu e escondeu, mas, que nunca puderam ser desfiguradas ou destruídas. A Teosofia não só resgata estas jóias preciosas do destino que ameaça o lixo ao qual estiveram tanto tempo misturadas. Ela também salva o próprio lixo de uma condenação completa, porque ela mostra que o resultado do exame crítico da Bíblia está longe de ser a análise última do Cristianismo, uma vez que cada um dos pedaços que compõem os curiosos mosaicos das Igrejas pertenceu, em algum momento, a uma religião que tinha um significado esotérico. Só quando estes pedaços forem recolocados nos lugares que ocupavam originalmente poderá ser percebido o significado real das doutrinas do Cristianismo. Para fazer tudo isto, contudo, é necessário um conhecimento da Doutrina Secreta, tal como ela existe nas bases esotéricas de outras religiões, e o clero não possui este conhecimento, pois, a Igreja escondeu a sua chave, e depois a perdeu. [Esta perda se deu em virtude de alguns fatores, como, por exemplo: desmando, preconceito, jactância, autoritarismo, egoísmo, coisismo e apedeutismo.]

 

 

 

 

Tudo o que é construído
necessita ser extinguido.
Assim opera o Universo:
no reverso e no anverso.
Deste modo, atua a Lei.
Não adianta dizer
não sei.
Dessaber não muda nada;
devemos achar a Estrada!
Ou adquirir Compreensão
ou não haverá Libertação!
Mas, ser mau tem um preço;
um dia, não haverá recomeço!

 

 

Sua Graça compreenderá agora por que motivo a Sociedade Teosófica tem como um dos seus três objetivos o estudo das religiões e das filosofias orientais, que lançam esta Luz sobre o sentido oculto do Cristianismo, e compreenderá também, segundo esperamos, que, ao fazê-lo, não agimos como inimigos, mas, como amigos da religião ensinada por [Cristo através de] Jesus o Verdadeiro Cristianismo [Iniciático], na realidade. Porque é só através do estudo destas religiões e destas filosofias que os cristãos poderão chegar, em algum momento, à compreensão das suas próprias crenças ou descobrir o sentido oculto das parábolas e das alegorias ditas pelo Nazareno aos paralíticos espirituais [os pobres de Espírito] da Judéia. Ao considerá-las como fatos literais ou como fantasia, as igrejas colocaram os seus próprios ensinamentos no ridículo, e, ao mesmo tempo, fizeram com que eles fossem desprezados, levando o Cristianismo a um sério perigo de um colapso completo, debilitado como ele está pelos estudos históricos críticos e pelas pesquisas mitológicas, além de ser quebrado pela marreta da Ciência Moderna.

 

 

A Marretada da Marreta

 

 

Deveriam, então, os próprios teosofistas ser considerados pelos cristãos como seus inimigos, porque crêem que o Cristianismo ortodoxo é em tudo oposto à religião de Jesus, e porque têm a coragem de dizer às igrejas que elas são traidoras do Mestre que elas pretendem venerar e servir? Longe disso, de fato. Os teosofistas sabem que o mesmo Espírito que animava as palavras de Jesus [este Espírito era e continua sendo o Cristo – o Mestre dos Mestres, dos anjos e dos seres-humanos-aí-no-mundo] existe em estado latente no Coração dos cristãos, como existe naturalmente no coração de todos os seres-humanos-aí-no-mundo. A Sua Doutrina Fundamental é a Fraternidade Humana, cuja realização última só é possibilitada por aquilo que era conhecido muito tempo antes de Jesus como o Espírito de Cristo. Mesmo agora, este Espírito está potencialmente presente em todos os seres-humanos-aí-no-mundo e se tornará ativo quando os seres-humanos-aí-no-mundo não forem mais impedidos de se compreender, de se apreciar e de simpatizar entre si pelas barreiras da luta e do ódio, erguidas pelos sacerdotes [de todas as religiões] e pelos príncipes.

 

Sabemos que os cristãos, nas suas vidas, se elevam freqüentemente acima do Cristianismo. Todas as Igrejas têm numerosos homens e mulheres nobres, virtuosos e com espírito de sacrifício, desejosos de fazer o bem durante suas vidas, segundo o seu grau de compreensão e as oportunidades que encontram, e que estão plenos de aspiração por coisas mais elevadas que as da Terra sendo seguidores de Jesus, apesar do Cristianismo [apesar do Catolicismo].

 

Apesar de todos os religiosismos,
tento arrancar o meu capuz.
Apesar de todos os religiosismos,
tento destruir cada arcabuz.
Apesar de todos os religiosismos,
tento não isolar o carafuz.

Apesar de todos os religiosismos,
tento transmutar minha Cruz.
(E a Cruz de todos os meus irmãos.)

A
pesar de todos os religiosismos,
tento encontrar a Santa LLuz.
(E partilhá-La com todos os meus irmãos.)

 

Por indivíduos como estes os teosofistas sentem a mais profunda simpatia, porque só um teosofista ou, então, uma pessoa que tenha a delicada sensibilidade e o grande saber teológico de Sua Graça, pode apreciar adequadamente as dificuldades horríveis contra as quais a frágil planta da religiosidade natural deve lutar, quando afunda com esforço suas raízes no solo estéril da nossa civilização cristã, e tenta florir na atmosfera fria e árida da Teologia. Como deve ser difícil, por exemplo, amar um Deus como Aquele que é descrito em uma bem conhecida passagem de Herbert Spencer (Religion: A Retrospect and Prospect, na publicação periódica Nineteenth Century, Vol. XV, número 83, janeiro 1884 ):

 

A crueldade de um deus fidjiano [que ou aquele que é natural ou habitante da República de Fidji] que, representado como devorador das almas dos mortos e, pode se supor , torturando-as enquanto as engole, é pouca coisa se comparada à crueldade de um deus que condena os homens a torturas eternas. Atribuir aos descendentes de Adão, durante centenas de gerações, castigos horríveis por uma pequena transgressão que eles não cometeram, a condenação de todos os homens que não têm a possibilidade de recorrer a um pretenso método de obter o perdão, e do qual a maior parte dos homens nunca ouviu falar, e a reconciliação efetuada pelo sacrifício de um filho perfeitamente inocente, para satisfazer a suposta necessidade de uma vítima propiciatória, são modos de ação que, se fossem atribuídos a um dirigente humano, provocariam horror.

 

Sua Graça dirá, sem dúvida, que Jesus nunca ensinou que se deveria adorar um deus como este. Nós, teosofistas, dizemos o mesmo. Contudo, este deus é o deus cuja adoração é oficialmente pregada na Catedral de Cantuária, por você mesmo, Senhor Primaz da Inglaterra. E Sua Graça concordará seguramente conosco em que deve existir, de fato, uma Centelha Divina de intuição religiosa no Coração dos seres-humanos-aí-no-mundo, que os capacita a resistir tão bem quanto resistem à ação mortal de uma Teologia venenosa como esta.

 

Se Sua Graça dirigir o olhar à sua volta, verá, desde a sua elevada posição, uma civilização cristã em que uma luta frenética e sem trégua do ser-humano-aí-no-mundo contra o ser-humano-aí-no-mundo é, não só a característica que a distingue, mas, também, um princípio reconhecido. É um axioma científico e econômico bem estabelecido em nossos dias que todo progresso é conseguido através da luta pela vida e sobrevivência do mais apto. E os mais aptos a sobreviver nesta civilização cristã não são os que possuem as qualidades reconhecidas pela moralidade de todos os tempos como sendo as melhores não são os generosos, os piedosos, os nobres de coração, os que são capazes de perdoar, os humildes, os fiéis, os honestos e os bons mas, sim, aqueles que são mais fortes em egoísmo, em astúcia, em hipocrisia, em força bruta, em fingimento, em falta de escrúpulos, em crueldade e em avareza. [Os ladravazes do mensalão e do petrolão, que se dizem inocentes de tudo, são, no caso do Brasil, os maiores exemplos disto.]

 

Confissão (Para o seu Demônio Pessoal)
de um Petrolãozeiro Descarado

 

Roubei, sim.
E só não roubei mais
porque não pude.

Corrompi, sim.
E só não corrompi mais
porque não pude.

Locupletei-me, sim.
E só não me locupletei mais
porque não pude.

Levei vantagem, sim.
E só não levei mais
porque não pude.

Enganei todo mundo, sim.
E só não enganei mais
porque não pude.


E só não minto mais
porque não posso.

E, se me libertarem,
eu roubarei de novo.

Lei do Renascimento?
Lei da Causa e do Efeito?
Dane-se; não to nem aí!

 

Os indivíduos espirituais e os altruístas são “os fracos”, a quem as “leis” que governam o Universo dão como alimento aos egoístas e aos materialistas “os fortes”. A “ lei do mais forte” é a única conclusão legítima, a última palavra da ética do século XIX [que continua a prevalecer neste século XXI, talvez, até, com mais vigor], pois, o mundo se tornou um grande campo de batalha no qual os “mais aptos” descem como abutres para arrancar os olhos e o coração dos que caíram durante o combate. Será que a religião faz cessar a batalha? As igrejas espantam os abutres ou reconfortam os feridos e os moribundos? Hoje, a religião no mundo em geral não pesa mais do que uma pluma, quando as vantagens terrestres ou os prazeres egoístas são colocados no outro prato da balança, e as igrejas não têm o poder de revivificar o sentimento religioso entre os seres-humanos-aí-no-mundo, porque as suas idéias, os seus conhecimentos, os seus métodos e os seus argumentos são os da Idade das Trevas. Senhor Primaz, o seu Cristianismo é o de quinhentos anos antes da nossa época. [Talvez, a única coisa que, de fato, tenha mudado no Catolicismo imperante é que não se matam mais hereges na fogueira, mas, os seres-humanos-aí-no-mundo continuam a ser mortos de outras maneiras, como, por exemplo, principalmente, pela ignorância das Leis Cósmicas que poderiam libertá-los.]

 

Enquanto os homens discutiam para saber se este deus ou aquele outro era o verdadeiro deus, ou se a alma ia para este ou aquele lugar depois da morte, vocês, do clero, compreendiam a pergunta e tinham argumentos prontos para influenciar a opinião pelo silogismo ou pela tortura, conforme fosse o caso. Mas, agora é a própria existência de qualquer ser semelhante a Deus ou de qualquer espécie de espírito imortal que é questionada ou negada. A Ciência inventa [continua inventando e sempre inventará] novas teorias sobre o Universo, que ignoram com desprezo a existência de qualquer deus. Os moralistas concebem teorias relativas à ética e à vida social nas quais a não-existência de uma vida futura é considerada como uma premissa. Em Física, em Psicologia, em Direito e em Medicina a única coisa necessária para assegurar o sucesso de um professor é que a exposição das suas idéias não contenha nenhuma alusão à Providência ou à existência da [personalidade-]alma. O mundo é conduzido rapidamente à convicção de que deus é uma concepção mítica, que não tem de fato nenhum fundamento, e nenhum lugar em a Natureza, e que a parte imortal do ser-humano-aí-no-mundo é o sonho estúpido de selvagens ignorantes, perpetuado pelas mentiras e pelos embustes dos padres, que fazem uma ampla colheita cultivando nos próprios seres-humanos-aí-no-mundo o temor de que as suas [personalidades-]alma imaginárias sejam torturadas, por toda a eternidade, pelo seu Deus mítico, num Inferno que só existe em fábulas. Diante de tudo isto, o clero permanece, atualmente, silencioso e impotente. A única resposta que a Igreja sabia dar a “objeções” como estas era a tortura e a fogueira; mas, agora ela não pode se servir mais deste sistema de argumentação.

 

É certo que se o Deus e a [personalidade-]alma descritos pelas igrejas são entidades imaginárias, então, a salvação e a danação cristãs são puras ilusões da mente, produzidas em grande escala pelo processo hipnótico de afirmação e de sugestão, agindo cumulativamente sobre gerações de dóceis “histéricos”. Que resposta você dá a uma tal teoria da religião cristã, além da repetição de afirmativas e sugestões? Que modo tem você de reconduzir os homens às suas antigas crenças, além de fazer reviver os seus velhos hábitos? Construam mais igrejas, rezem mais orações e fundem mais missões, e a sua fé na condenação e na salvação será reanimada, e uma nova crença em Deus e na [personalidade-]alma será o resultado inevitável. Tal é a política das igrejas. É a sua única resposta ao agnosticismo e ao materialismo. Mas Sua Graça deve saber que responder aos ataques da Ciência e da crítica modernas com armas como a afirmação e o hábito é como atacar metralhadoras usando bumerangues e escudos de couro. No entanto, enquanto o progresso das idéias e o aumento do conhecimento arruínam a teologia popular, cada descoberta da Ciência e cada nova concepção do pensamento europeu avançado aproximam o espírito do século XIX das idéias do Divino e do Espiritual, conhecidos de todas as religiões esotéricas e da Teosofia.

 

 

 

 

A Igreja alega que o Cristianismo é a única religião verdadeira, e esta pretensão implica duas afirmações diferentes, a saber: 1ª) que o Cristianismo é uma religião verdadeira; e 2ª) que não há religião verdadeira, exceto o Cristianismo. Parece que nunca passa pela cabeça dos cristãos a idéia de que Deus e o Espírito possam existir de qualquer forma diferente da que é apresentada nas doutrinas da igreja. O selvagem chama o missionário de ateu porque ele não transporta um ídolo na sua mala, e o missionário, por sua vez, qualifica de ateu qualquer um que não traga um fetiche no seu espírito, e nem o selvagem nem o cristão parecem ter jamais suposto que possa existir uma concepção mais elevada que as suas em relação ao grande Poder Oculto que governa o Universo, e ao qual o nome “Deus” é muito mais aplicável. É difícil saber se as Igrejas tentam mais provar que o Cristianismo é “verdadeiro” ou provar que qualquer outra espécie de religião é necessariamente “falsa”. As más conseqüências que resultam deste seu ensino são terríveis. Quando as pessoas rejeitam o dogma, elas imaginam que rejeitaram também o sentimento religioso, e concluem que a religião é algo supérfluo na vida humana uma forma de mandar para as nuvens coisas que pertencem à Terra, uma perda de energia que poderia ser usada mais eficientemente na luta pela existência. O materialismo desta época é, portanto, conseqüência direta da doutrina cristã, segundo a qual não existe poder dirigente no Universo nem qualquer Espírito imortal no ser-humano-aí-no-mundo, além dos que foram descritos nos dogmas cristãos. O ateu, Senhor Primaz, é o filho bastardo da Igreja.

 

 

 

Em nome de deus,
eu matei.
Em nome de deus,
eu mato.
Em nome de deus,
eu matarei.
Em nome de deus,
não mudarei.

 

Mas, isto não é tudo. As igrejas nunca ensinaram aos homens alguma razão para serem justos, bons e sinceros, razão que seja mais elevada do que a esperança de uma recompensa ou o medo do castigo. E, quando eles abandonam a crença no capricho Divino e na injustiça Divina, as bases da sua moralidade ficam fragilizadas. Eles nem sequer têm uma moralidade natural à qual possam voltar conscientemente, pois, o Cristianismo lhes ensinou a considerá-la como algo sem valor, alegando a perversidade natural do ser-humano-aí-no-mundo. Portanto, o interesse pessoal se torna a única motivação da conduta, e o receio de ser descoberto, a única coisa que o afasta do vício. Assim, no que se refere à moralidade, bem como a Deus e à [personalidade-]alma, o Cristianismo empurra os homens para fora do caminho que conduz ao Conhecimento, e os precipita no abismo da incredulidade, do pessimismo e do vício. A Igreja é, agora, o último lugar onde os homens iriam procurar ajuda contra os males e as misérias da vida, porque eles sabem que a construção de igrejas e a repetição de ladainhas não influenciam nem os poderes da Natureza nem os conselhos das nações. Eles sentem instintivamente que, desde o momento em que as Igrejas aceitaram o princípio da conveniência, elas perderam o poder de chegar ao Coração dos homens, e, agora, elas só podem agir no plano externo, apoiando a ação do policial e do político.

 

A função da religião é reconfortar e encorajar a Humanidade na sua luta constante contra o pecado e o sofrimento. Isto só pode ser feito apresentando à esta mesma Humanidade o nobre ideal de uma vida mais feliz após a morte e de uma vida mais digna sobre a Terra, o que deve ser obtido, nos dois casos, por um esforço consciente. O que o mundo necessita, agora, é de uma Igreja que lhe fale da Divindade ou do Princípio Imortal no ser-humano-aí-no-mundo como algo situado, pelo menos, no nível das idéias e do conhecimento dos tempos atuais. O Cristianismo dogmático não é adequado para um mundo que raciocina e pensa. Só aqueles que estão dispostos a se lançar em um estado de espírito medieval podem apreciar uma Igreja cuja função religiosa (considerada como diferente da sua função social e política) é manter Deus de bom humor, enquanto os fiéis fazem o que crêem que não é aprovado por ele, cuja função é rezar para obter mudanças no clima, e, ocasionalmente, agradecer ao Todo-poderoso por haver ajudado a massacrar o inimigo. Não é de “curandeiros”, mas, de guias espirituais que o mundo necessita hoje um “clero” que lhe dê ideais tão adequados para a inteligência do nosso século como o eram o Céu e o Inferno, o Deus e o Diabo cristãos, na época de sombria ignorância e da superstição. Será que o clero cristão atende ou pode atender esta necessidade? A miséria, o crime, o vício, o egoísmo, a brutalidade, a falta de auto-respeito e de autocontrole, que caracterizam a nossa civilização moderna, unem as suas vozes em um grito terrível e respondem: – Não!

 

Qual o significado da reação contra o materialismo, um materialismo cujos sinais, hoje, enchem o ar? O significado é que o mundo está mortalmente cansado do dogmatismo, da arrogância, da auto-suficiência e da cegueira espiritual da Ciência moderna, dessa mesma Ciência moderna que os seres-humanos-aí-no-mundo ainda ontem saudavam como a libertadora do fanatismo religioso e da superstição cristã, mas, que, assim como o Diabo das lendas sacerdotais, reclama, como recompensa pelos seus serviços, o sacrifício da [personalidade-]alma imortal do ser-humano-aí-no-mundo. E, enquanto isso, o que fazem as Igrejas? Elas dormem o sono pacífico obtido pelas doações e pela influência social e política, enquanto o mundo, a carne e o diabo se apropriam dos seus segredos, dos seus milagres, dos seus argumentos e da sua fé cega.

 

 

Surfando na Fé

 

Fé demais?
Fé de menos?
Nem demais,
nem de menos.

Fé é desútil.
Entendendo.
Fé é fútil.
Vivendo.

 

 

Os espíritas ó Igrejas de Cristo! furtaram o fogo dos seus altares, para iluminar as suas salas de sessões mediúnicas. Os salvacionistas pegaram o seu vinho sacramental, e se embriagam espiritualmente nas ruas. Os infiéis usaram as armas com as quais vocês os venceram em outros tempos, e dizem a vocês triunfantemente: O que vocês afirmam já foi dito muitas vezes antes. Teve o clero alguma vez uma oportunidade tão esplêndida? As uvas da vinha estão maduras, e só faltam os trabalhadores efetivos para a colheita. Se vocês dessem ao mundo alguma prova, situada no padrão intelectual do que é verificável, de que a Divindade o Espírito Imortal no ser-humano-aí-no-mundo tem uma existência real como fato da Natureza, será que os homens não os saudariam como salvadores que os libertaram do pessimismo e do desespero, do pensamento enlouquecedor e brutalizante de que não há para o ser-humano-aí-no-mundo outro destino, a não ser um vazio eterno, após alguns breves anos de duras fadigas e sofrimentos? Como seus salvadores de uma luta assustadora pela satisfação material e pelas vantagens do mundo, conseqüência direta da crença de que esta vida mortal é o começo e o fim da existência?

 

Mas, as Igrejas não possuem nem a fé nem o conhecimento necessários para salvar o mundo, e a sua Igreja, Senhor Primaz, talvez, ainda menos que as outras, porque está com a pesada carga de oito milhões de libras por ano à volta do pescoço. Vocês tentam em vão tornar o navio mais leve, lançando pela borda, como lastro, as doutrinas que os seus antepassados consideravam vitais ao Cristianismo. O que mais pode fazer agora a sua Igreja, exceto fugir da tempestade com os mastros desguarnecidos, enquanto o clero tenta, debilmente, tapar os buracos do casco com a “versão revisada” da Bíblia, procurando impedir que o navio naufrague com a sua pesada carga social e política, levando para o fundo do mar a sua carga de dogmas e de doações?

 

 

 

 

Quem construiu a catedral de Cantuária, Senhor Primaz? Quem inventou e deu vida à grande organização eclesiástica que torna possível a existência de um Arcebispo de Cantuária? Quem estabeleceu as bases de um vasto sistema de impostos religiosos que lhe dá quinze mil libras por ano e um palácio? Quem instituiu os rituais e as cerimônias, as orações e as litanias que, ligeiramente alteradas e despojadas de arte e de ornamento, fazem a liturgia da Igreja da Inglaterra? Quem extorquiu do povo os orgulhosos títulos de “divino reverendo” e “ser-humano-aí-no-mundo de Deus”, dos quais o clero da sua Igreja se apropria com tamanha confiança? Quem, de fato, exceto a Igreja de Roma? Falamos sem espírito de inimizade. A Teosofia viu a ascensão e a queda de muitas crenças, e estará presente no nascimento e na morte de muitas outras. Sabemos que a vida das religiões está sujeita à Lei. [Tudo o que for construído, um dia, deverá ser destruído. Esta é a Lei. Sem exceção.] Se vocês receberam uma herança legítima de Roma ou tomaram posse pela violência é uma questão que vocês devem decidir com os seus inimigos e com a sua consciência. A atitude mental frente à sua Igreja é determinada pelo seu valor intrínseco. Sabemos que se ela for incapaz de desempenhar a Verdadeira Função Espiritual de uma religião será certamente exterminada, mesmo que o erro se encontre mais nas suas tendências hereditárias ou no que a rodeia, do que em si mesma.

 

A Igreja da Inglaterra, para usar uma comparação simples, é como um trem que prossegue em sua marcha, graças à velocidade adquirida antes de o vapor ter sido cortado. Depois de ter deixado a linha principal, se encontra em um desvio que não leva a lugar algum. O trem está agora quase parado, e muitos dos seus passageiros o trocaram por outros meios de transporte. Os restantes estão, na maioria, conscientes de que, durante este tempo, só podiam contar com o pouco vapor que restou na caldeira, depois que os fogos de Roma foram retirados. Eles suspeitam que, neste momento, talvez, já estejam apenas brincando de andar de trem; mas, o maquinista continua a assobiar, o controlador prossegue a sua inspeção, examinando os bilhetes, os freios foram acionados como antes e, convenhamos, não é uma brincadeira desagradável. Os vagões estão aquecidos e confortáveis e o dia é frio, e, desde que recebam gorjetas, os empregados da companhia são muito obsequiosos. Mas, aqueles que sabem para onde querem ir não estão assim tão contentes.

 

 

 

 

Durante vários séculos, a Igreja da Inglaterra conseguiu a difícil proeza de navegar em duas canoas ao mesmo tempo, dizendo aos católicos romanos: “Raciocinem!” e aos céticos: “Tenham Fé!” Foi regulando constantemente as forças desta atitude de duas caras que ela pôde permanecer durante tanto tempo em cima do muro. Mas, agora, o próprio muro está caindo. A supressão das doações e a separação entre Igreja e Estado pairam no ar. E o que a sua Igreja invoca a seu favor? A sua utilidade. É útil ter muitos homens instruídos, morais, não-mundanos, espalhados por todo o País, impedindo o mundo de esquecer completamente a idéia de religião, e agindo como centros de ação benfeitora. Mas, a questão agora já não é a de repetir orações e dar esmola aos pobres, como era há quinhentos anos. As pessoas se tornaram maiores de idade, e tomaram nas mãos o seu pensamento e a direção dos seus assuntos sociais, individuais e até mesmo espirituais, porque descobriram que o clero não sabe mais do que elas mesmas sobre as “Coisas do Céu”.

 

Todavia, a Igreja de Inglaterra se tornou tão liberal, que todos devem apoiá-la. Realmente, é possível se fazer uma excelente imitação da missa ou ser um virtual unitário, e ainda fazer parte do seu rebanho. Esta bela tolerância, no entanto, significa apenas que a Igreja achou necessário se tornar um vasto campo comum, em que cada um pode armar a sua própria tenda e agir como bem lhe aprouver, desde que participe na manutenção dos benefícios. A tolerância e a liberalidade são contrárias às leis da existência de qualquer igreja que crê na condenação divina, e a sua aparição na Igreja da Inglaterra não é um sinal de vida renovada, mas, antes, da chegada da desagregação. Não menos ilusória é a energia manifestada pela Igreja na construção de igrejas. Se isto fosse um critério de medição do espírito religioso, que piedosa época seria a nossa! Nunca o dogma esteve tão bem alojado, embora os seres humanos sejam obrigados a dormir aos milhares nas ruas, e morram literalmente de fome à sombra das suas majestosas catedrais, construídas em nome de Aquele que não tinha onde repousar a Sua cabeça. Terá Jesus dito a você, Sua Graça, que a religião não se encontra no Coração dos homens, e, sim, nos templos feitos pelas mãos? Vocês não podem converter sua piedade em pedra e utilizá-la nas suas vidas. E a história mostra que a petrificação do sentimento religioso é uma doença tão mortal como a ossificação do coração. No entanto, ainda que as igrejas fossem multiplicadas por cem, e que cada pastor se tornasse um centro de filantropia, isto iria apenas produzir o trabalho que os pobres esperam dos seus semelhantes, mas, não dos seus líderes espirituais em lugar de aquilo que eles pedem e não conseguem obter. Isto só colocaria em maior destaque a esterilidade espiritual da Igreja e das suas doutrinas.

 

Aproxima-se o tempo em que o clero terá de prestar contas das suas ações. Você está pronto, Senhor Primaz, a explicar ao Seu Mestre por que tem dado pedras aos Seus Filhos, quando eles lhe suplicavam por pão? Você sorri na sua imaginária segurança. Os servidores fizeram festas durante tanto tempo nos aposentos interiores da Casa do Senhor, que pensavam que Ele certamente nunca voltaria. Mas Ele disse que Ele viria como um ladrão durante a noite! E eis! Ele está chegando já no Coração dos homens. Ele está vindo para tomar posse do Reino de Seu Pai no único lugar em que Seu Reino existe. Mas vocês não O conhecem! Se as próprias Igrejas não estivessem sendo carregadas pela onda de negação e de materialismo que dominou a sociedade, elas reconheceriam o germe do Espírito do Cristo crescendo com rapidez no Coração de milhares de seres, a quem agora classificam como infiéis e loucos. Reconheceriam neles aquele mesmo Espírito de Amor, de sacrifício de si mesmo e de piedade imensa pela ignorância, pela loucura e pelos sofrimentos do mundo, que surgiu em toda a sua pureza no Coração de Jesus, assim como surgiu no Coração de outros Santos Reformadores em diferentes épocas. Este Espírito é a Luz de toda Verdadeira Religião, e o archote com o qual os teosofistas de todos os tempos trataram de Illuminar os seus passos, ao longo do Caminho Estreito que conduz à Salvação o Caminho que é percorrido por toda encarnação de CHRISTOS ou o ESPÍRITO DA VERDADE.

 

E agora, Senhor Primaz, expusemos muito respeitosamente a você os pontos principais de divergência e do desacordo que existem entre a Teosofia e as igrejas cristãs, e mostramos a unidade entre a Teosofia e os ensinamentos de Jesus.

 

Você viu a nossa profissão de fé, e conheceu quais são os nossos protestos e as nossas queixas contra o Cristianismo dogmático. Nós, um punhado de indivíduos humildes, que não possuímos riquezas materiais nem influência sobre o mundo, mas, somos fortes no nosso Conhecimento, estamos unidos na esperança de cumprir a tarefa que você diz que lhe foi confiada pelo seu Mestre, mas, que é tão tristemente negligenciada por esse colosso opulento e dominador a Igreja Cristã.

 

Nós nos perguntamos se você chamará isso de presunção. Será que, nesta terra de liberdade de pensamento, de palavra e de ação, você não nos responderá, exceto pelo anátema habitual que a Igreja reserva para todo reformador? Ou podemos esperar que as amargas lições da experiência, obtidas no passado pelas Igrejas, devido a esta política, terão mudado o Coração e Illuminado o Espírito dos seus dirigentes, e que o próximo ano, de 1888, verá os cristãos nos estender a mão com toda a simpatia e boa-vontade? Isto seria apenas o reconhecimento de que o grupo relativamente pequeno chamado de Sociedade Teosófica não é pioneiro do anticristo, nem fruto do maldoso, mas, o ajudante prático, talvez o salvador da Cristandade, e que só está se esforçando por fazer a obra que Jesus assim como Buddha e os outros “filhos de Deus” que o precederam recomendou a todos os seus seguidores que realizassem, mas, que as Igrejas, por terem se tornado dogmáticas, são inteiramente incapazes de fazer.

 

E agora, se Sua Graça puder provar que somos injustos em relação à Igreja da qual você é o Chefe ou em relação à teologia popular, prometemos reconhecer publicamente nosso erro. Contudo, quem cala consente.

 

Calado li,
calado fiquei.
Calado senti,
mas, não mudei.

Calado morri,
calado chorei,
quando entendi
o quanto não sei.

 

 

 


 

Música de fundo:

Being Evil Has a Price (Música-tema da série Lucifer)
Composição e interpretação: Heavy Heathens Young

Fonte:

http://liefond.com/song/lucifer+theme+song

 

Páginas da Internet consultadas:

https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_White_Benson

https://www.dreamstime.com/

https://pngtree.com/

https://gfycat.com/

http://www.logowik.com/

https://tstoaddicts.com/

http://obviousmag.org/

https://www.youtube.com/watch?v=CbEBcg7n-_g

http://bestanimations.com/

http://universalvilasonia.blogspot.com/

https://www.urbanarts.com.br/

http://www.spainisculture.com/

https://forum.br.forgeofempires.com/

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Religions.svg

http://arheon.org/

https://giphy.com/

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.