TRANQUIBÉRNIA IMPINGIDA

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

William Shakespeare

William Shakespeare

 

 

Ouro amarelo, fulgurante! Ouro precioso! Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do covarde, valente. Ó deuses, por que isto? O que é isto, ó deuses? O ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Este escravo dourado ata e desata vínculos sagrados, abençoa o amaldiçoado, torna adorável a lepra repugnante, nomeia ladrões e lhes confere títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isto que faz a viúva anciã se casar de novo. Venha, mineral execrável – prostituta vil da Humanidade – eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.

 

Será possível que o mundo tenha mudado tanto, e nós, os vivos de outrora, continuemos vivos? Voa, vil metal, voa para aquele que te venera!

 

Muitos passam para outro amo pisando no primeiro.

 

É preferível não ter amigos do que os ter mais nocivos do que inimigos.

 

Quem gosta de ser adulado é digno do adulador.

 

A cerimônia foi inventada para dar brilho aos atos pálidos.

 

A clemência é a verdadeira virtude da justiça.

 

Corajoso é quem sabiamente suporta o que de pior a boca humana exala.

 

Não é justo vingar nos vivos o erro dos mortos. Não se herda o crime como se herdam terras.

 

O egoísmo domina a caridade.

 

Sabes de algum esbanjador que tenha sido amado depois de ter perdido tudo o que possuía?

 

Monstruoso se torna o homem quando assume a forma da ingratidão.

 

Não basta ajudar os que precisam; depois, é necessário ampará-los.

 

Ah!, muralhas de Atenas, vou olhar para vocês pela última vez! Vocês, que cercam esses lobos, caiam por terra e deixem Atenas ao deus-dará. Mulheres, chafurdem na bacanal. Crianças, não obedeçam mais ao papai. Escravos e idiotas, arranquem do plenário os veneráveis membros murchos do Senado e assumam o poder. Virgenzinhas em flor, convertam-se . Falidos do mundo, uni-vos; em vez de pagar as dívidas, puxem a navalha e rasguem a garganta dos credores. Trabalhadores assalariados, roubem; os seus patrões são ladrões de mão grande, que roubam também, mas, com o apoio da lei. Empregadas, já para cama do patrão; a patroa ainda não voltou do bordel. Jovens, ao completar dezesseis anos, arranquem a muleta estofada do seu progenitor aleijado e rachem com ela a cabeça dele. Piedade, temor, religião, paz, justiça, verdade, respeito em casa, noites de folga, boa vizinhança, boa educação, boas maneiras, hierarquias, artes e ofícios, usos, costumes e leis, degenerem até que tudo morra no seu contrário e, ainda assim, viva o caos. Pestes do mundo, que as suas febres invadam Atenas, pronta para o abate. Que a fria ciática lese tanto os nossos senadores, que os seus membros fiquem tão frouxos quanto os seus costumes. Que a luxúria e a libertinagem penetrem sutilmente na medula dos jovens, para que eles nadem contra a corrente da virtude e se afoguem na perdição. Que sarnas e pústulas se plantem fundo nos corações atenienses, e que a colheita seja a lepra geral. Que o hálito infecte o hálito, e que a amizade destile puro veneno. Não levo desta cidade execrável nada mais do que a nudez do corpo. Que ela fique nua também, debaixo de mil maldições. Timon vai para a floresta, onde a fera mais desumana é mais humana do que a Humanidade. Que os deuses – todos os deuses, estão me ouvindo! – amaldiçoem os atenienses, dentro e fora destas muralhas. Que a vida de Timon faça o seu ódio ser eterno. Contra todos os homens do mundo, no Olimpo e no inferno. Amém.

 

Estranhos seres humanos, esses; o maior dos males que o sujeito fez foi ter praticado o bem demais.

 

A Lua é uma ladra notória, e seu fogo pálido ela arrebata do Sol.

 

Aqui está o que é muito fraco para ser um pecador.

 

Os homens fecham suas portas contra o Sol poente.

 

Todo homem carrega uma culpa.

 

Nada encoraja mais o pecado do que a misericórdia.

 

A vida é uma viagem incerta.

 

Já vimos dias melhores.

 

William Shakespeare, in: Timon de Atenas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tanto ócio, tanta improficiência!

Tanta genuflexiva subserviência!

Quanta credulidade aquiescida!

Quanta tranquibérnia impingida!

 

Chutam... E o ente-aí acredita!

Amedrontam... E o ente-aí tirita!

Impõem... E o ente-aí (con)cede!

 

A Noite se esvai... O Dia chega...

Oh! Anabolizei tanta parvoíce!

Como pude abocar tanta bobice?

 

O ente-aí embarca... E navega...

Oh! Como tudo é tão diferente!

Como pude ser tão aquiescente?

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Crime & Punishment
Composição e Interpretação: Akira Senju

Fonte:

http://mp3bi.com/akira-senju-crime-and-punishment/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.picgifs.com/graphics/adam-eve/

http://www.william-shakespeare.info/
quotes-quotations-play-timon-of-athens.htm

http://www.shakespeare-online.com/
quotes/timonquotes.html

http://www.goodreads.com/work/quotes/
2083361-the-life-of-timon-of-athens

http://books.google.com.br/

http://aorodardotempo.blogspot.com.br/
2012/12/timao-de-atenas.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Timon_of_Athens

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Tim%C3%A3o_de_Atenas

http://www.citador.pt/textos/
o-vil-metal-william-shakespeare

http://pt.dreamstime.com/

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.