Livro de Urântia (I)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A Deidade funciona em níveis pessoais, pré-pessoais e suprapessoais. A Deidade Total é funcional nos sete níveis seguintes: 1º) Estático: Deidade contida em si própria e existente em si; 2º) Potencial: Deidade volitiva em si própria e com propósito em si; 3º) Associativo: Deidade personalizada em si própria e divinamente fraternal; 4º) Criativo: Deidade distributiva de si própria e divinamente revelada; 5º) Evolucionário: Deidade expansiva por si própria e identificada com a criatura; 6º) Supremo: Deidade que experiencia a si própria e que unifica a criatura e o Criador. Esta Deidade funciona no primeiro nível de identificação com a criatura, como supracontroladora tempo-espacial do Grande Universo, às vezes designada como a Supremacia da Deidade (por Grande Universo designamos, em geral, os sete superuniversos em evolução, em conjunto com o Universo Central e Divino; e estas são as criações organizadas e habitadas até o presente, pois são, todas, uma parte do universo-mestre, que abrange também os universos do espaço exterior não habitados, mas em mobilização); e 7º) Último: Deidade que se projeta a si própria e que transcende o tempo e o espaço. Deidade onipotente, onisciente e onipresente. Esta Deidade funciona no segundo nível da expressão da divindade unificadora, como supracontroladora eficaz e sustentadora absonita1 do universo-mestre. Comparada ao ministério das Deidades do Grande Universo, essa função absonita, no universo-mestre, equivale ao supracontrole e à supra-sustentação universal, algumas vezes denominada Ultimidade da Deidade.

 

A Divindade é inteligível, pela criatura, como verdade, beleza e bondade. Ela encontra a sua correspondência na personalidade como amor, misericórdia e ministração. E ela é revelada, nos níveis impessoais, como justiça, poder e soberania.

 

A consciência cósmica implica o reconhecimento de uma Causa Primeira, a realidade una e única não causada. Deus, o Pai Universal, funciona em três níveis de personalidade-Deidade, de valor subinfinito e de expressão relativa de divindade, a saber: 1º) Pré-pessoal: como na ministração dos fragmentos do Pai, tais como os Ajustadores do Pensamento; 2º) Pessoal: como na experiência evolucionária dos seres criados e procriados; e 3º) Suprapessoal: como nas existências manifestadas de certos seres absonitos e semelhantes.

 

A realidade, tal como compreendida pelos seres finitos, é parcial, relativa e vaga. O máximo de realidade da Deidade, plenamente compreensível pelas criaturas evolucionárias finitas está abrangido no Ser Supremo. Entretanto, há realidades antecedentes e eternas – realidades suprafinitas que são ancestrais dessa Suprema Deidade das criaturas evolucionárias do tempo e do espaço.

 

Tendo em conta o modo como uma criatura espaço-temporal perceberia a origem e a diferenciação da realidade, o eterno e infinito EU SOU realizou a liberação da Deidade dos entraves que a prendiam à infinitude inqualificável, por intermédio do exercício do livre-arbítrio, inerente e eterno; e esta separação da infinitude inqualificável produziu a primeira tensão-divindade absoluta. Esta tensão do diferencial de infinitude é resolvida pelo Absoluto Universal, que funciona unificando e coordenando a infinitude dinâmica da Deidade Total e a infinitude estática do Absoluto Inqualificável.

 

A Deidade, crescentemente experiencial, está sendo atualizada nos níveis de Divindade em Supremacia, Ultimidade e Absolutez.

 

Nunca existiu um tempo em que o EU SOU não tivesse sido o Pai do Filho e, com este, o Pai do Espírito.2

 

A realidade factualiza-se diferencialmente em diversos níveis do universo, e é realizável em três fases primordiais, nos muitos níveis diferentes de factualização no universo. 1ª) a realidade não deificada, que vai desde os domínios da energia do não pessoal até os reinos da realidade dos valores não personalizáveis da existência universal, chegando mesmo até à presença do Absoluto Inqualificável (Incondicionado); 2ª) a realidade deificada abrange todos os potenciais infinitos da Deidade, indo de baixo para cima, por todos os domínios da personalidade, do finito menos elevado ao mais alto infinito, abrangendo, assim, o domínio de tudo o que é personalizável; e mais: indo até mesmo à presença do Absoluto da Deidade; 3ª) a realidade interassociada. A realidade do Universo é, supostamente, ou deificada ou não-deificada; mas, para os seres sub-deificados, existe um vasto domínio de realidade interassociada, em potencial ou em factualização, que é de identificação difícil. Grande parte dessa realidade coordenada está englobada nos domínios do Absoluto Universal.

 

 

 

 

Do ponto de vista do tempo e do espaço, a realidade é também divisível como se segue: 1ª) Factual e Potencial. São as realidades que existem na plenitude de expressão, em contraste com aquelas que têm uma capacidade não revelada de crescimento. O Filho Eterno é uma realidade espiritual absoluta; o homem mortal é, em grande parte, uma potencialidade espiritual não realizada; 2ª) Absoluta e Sub-absoluta. As realidades absolutas são existências na eternidade. As realidades sub-absolutas são projetadas em dois níveis: a Absonitas: realidades que são relativas com respeito tanto ao tempo, quanto à eternidade e b) Finitas: realidades que são projetadas no espaço e factualizadas no tempo; 3ª) Existencial e Experiencial. A Deidade do Paraíso é existencial, mas o Supremo e o Último, que estão emergindo, são experienciais; e 4ª) Pessoal e Impessoal. A expansão da Deidade, a expressão da personalidade e a evolução do universo estão, para sempre, condicionadas pelo ato de livre-arbítrio do Pai, que separou, para sempre, de um lado, os significados e os valores mente-espírito-pessoais da realidade factual e da potencialidade, centrados no Filho Eterno e, de outro lado, aquelas coisas que estão centradas na eterna Ilha do Paraíso3 e que a ela são inerentes.

 

Ainda que o campo metamórfico da realidade não-pessoal seja definitivamente limitado, não são conhecidas limitações para a evolução progressiva das realidades da personalidade.4

 

A alma do homem é uma aquisição experiencial. À medida que uma criatura mortal escolhe 'cumprir a vontade do Pai dos céus', assim o espírito que reside no homem torna-se o pai de uma nova realidade na experiência humana. A mente mortal e material é a mãe dessa mesma realidade emergente. A substância dessa nova realidade não é nem material, nem espiritual5: é moroncial. Esta é a alma emergente e imortal, que está destinada a sobreviver à morte física e iniciar a Ascensão...6

 

A Força Cósmica abrange todas as energias que derivam do Absoluto Inqualificável, mas que até o momento não reagem à gravidade do Paraíso.

 

A Energia emergente abrange as energias que reagem à gravidade do Paraíso, mas que ainda não são sensíveis à gravidade local ou linear. Este é o nível pré-eletrônico da matéria-energia.

 

O Poder do universo inclui todas as formas de energia que, conquanto permaneçam ainda sensíveis à gravidade do Paraíso, são sensíveis diretamente à gravidade linear. Este é o nível eletrônico da matéria-energia e de todas as evoluções subseqüentes. (A animação abaixo, que não está em escala, e, por isto, é meramente pictórica, mostra um átomo de Hélio, 2He4).

 

 

Átomo de Hélio

 

 

O universo é iluminado por três espécies de luz: a luz material, a luz do discernimento intuitivo-intelectual e a Luminosidade do Espírito.

 

O Modelo Original – o desenho-mestre de todas as cópias é arquetípico e permanece como tal; apenas as cópias são múltiplas.

 

A Deidade é dual na sua presença: a) Existencial – seres de existência eterna, ou seja, passada, presente e futura; e b) Experiencial seres em factualização, no presente pós-Havona, mas de existência sem fim, ao longo de toda a eternidade futura.

 

O Ser Supremo está, ainda agora, evoluindo como uma unificação sub-eterna da personalidade, da manifestação sétupla da Deidade, nos segmentos espaço-temporais do Grande Universo.

 

Todas as realidades finitas no espaço-tempo, sob o impulso diretivo do Ser Supremo em evolução, estão empenhadas em uma mobilização sempre-ascendente e em uma unificação perfeccionante (na síntese de poder-personalidade) entre todas as fases e valores da realidade finita, em associação com fases variadas da realidade do Paraíso, até o fim e o propósito de embarcar subseqüentemente na tentativa de alcançar os níveis absonitos de realização da supra-criatura.7

 

Forma sétupla de entendimento da Deidade: 1ª) Os Filhos Criadores do Paraíso; 2ª) Os Anciães dos Dias; 3ª) Os Sete Espíritos Mestres; 4ª) O Ser Supremo; 5ª) Deus, o Espírito; 6ª) Deus, o Filho; e 7ª) Deus, o Pai.

 

Deus, o Absoluto, é a meta de alcance e de realização de todos os seres super-absonitos; mas o potencial de poder e personalidade do Absoluto da Deidade transcende o nosso conceito; e hesitamos em discorrer sobre essas realidades, tão distanciadas que estão da factualização experiencial.

 

A Trindade do Paraíso se manifesta pela união eterna na Deidade, do Pai Universal, ao Filho Eterno e ao Espírito Infinito. É existencial em factualidade, mas todos os seus potenciais são experienciais. Logo, esta Trindade constitui a única realidade da Deidade que abraça a infinitude. Portanto, é nela que ocorrem os fenômenos de factualização no universo de Deus, o Supremo, de Deus, o Último, e de Deus, o Absoluto... Deus, o Supremo, Deus, o Último e, mesmo, Deus, o Absoluto, são inevitabilidades divinas.

 

A infinitude da divindade está sendo constantemente enriquecida, quando não ampliada, pela finitude e pela absonitude da experiência entre criatura e Criador.8

 

As miríades de sistemas planetários foram todas feitas para serem afinal habitadas por muitos tipos diferentes de criaturas inteligentes.

 

A meta transcendente dos filhos do tempo é ir ao encontro do Deus eterno...9

 

 

 

 

Após descobrirdes verdadeiramente a majestade do Criador e houverdes experimentado e compreendido a presença do Controlador Divino, que em vós reside...

 

Na mente humana, a presença do Ajustador Divino se faz conhecer por três fenômenos experienciais: 1º) capacidade intelectual para conhecer a Deus (consciência de Deus); 2º) impulso espiritual de encontrar Deus (busca de Deus); e 3º) anseio da personalidade de ser como Deus.

 

A existência de Deus não pode jamais ser comprovada pela experiência científica nem, com uma dedução lógica, pela razão pura. Deus só pode ser compreendido no âmbito da experiência humana. Contudo, o verdadeiro conceito da realidade de Deus é razoável para a lógica, plausível para a filosofia, essencial para a religião e indispensável a qualquer esperança de sobrevivência da personalidade.

 

Os seres espirituais são reais, apesar de invisíveis aos olhos humanos e mesmo não sendo de carne e osso.

 

A realidade pessoal suprema da criação finita é espírito; a realidade última do cosmo pessoal é espírito absonito. Apenas os níveis da infinitude são absolutos; e apenas em tais níveis existe finalidade de unicidade entre matéria, mente e espírito.

 

 

 

 

O Espírito do Paraíso, que reside na mente dos mortais-do-tempo e que nela fomenta a evolução da alma imortal da criatura sobrevivente, é da mesma natureza e divindade que o Pai Universal. No entanto, as mentes das criaturas evolucionárias se originam nos universos locais; devem, entretanto, alcançar a perfeição divina realizando as transformações experienciais de alcance e de realização espiritual, que são o resultado inevitável da escolha da criatura de fazer a Vontade do Pai nos Céus.10

 

 

 

 

Os corpos físicos dos mortais são 'Templos de Deus'... Dentro de cada ser mortal deste Planeta reside um fragmento de Deus, uma parte do todo da Divindade. Este fragmento ainda não é vosso por direito de posse; mas o desígnio intencional Dele é se unificar convosco, se sobreviverdes após a vossa existência mortal. (Grifo meu).

 

O Deus do Amor Universal [em nós] Se manifesta a cada uma das Suas criaturas, até a plenitude da capacidade da criatura de apreender espiritualmente as qualidades da Verdade, da Beleza e da Bondade DivinaS. A Divina Presença [em nós], da qual qualquer filho do universo desfruta, em qualquer momento, é limitada apenas pela capacidade que a criatura tem de receber e de discernir as realidades espirituais do mundo supramaterial.

 

O Pai e os seus Filhos são Um.

 

A experiência progressiva de cada ser espiritual e de cada criatura mortal, em todos os universos, é uma parcela da consciência-da-Deidade, sempre em expansão, do Pai, no divino círculo sem fim da auto-realização incessante.

 

 

 

 

Em todos os nossos triunfos, o Deus de nosso Coração triunfa em nós e conosco.11

 

Para aprimorar o Conhecimento... todos os dons da personalidade do homem devem se consagrar inteiramente a tal esforço; a devoção parcial, com a metade do Coração, não será de nenhuma valia.

 

Jesus de Nazaré atingiu a realização plena da personalidade espiritual potencial, na experiência humana; conseqüentemente, a sua realização, em vida, da Vontade do Pai, torna-se a revelação mais real e ideal da personalidade de Deus. Ainda que a personalidade do Pai Universal possa ser apreendida apenas por meio de uma Experiência Religiosa factual, na vida terrena de Jesus, somos inspirados pela demonstração perfeita dessa realização e da revelação da personalidade de Deus em uma experiência verdadeiramente humana.

Continua...

 

 

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Notas (algumas foram retiradas da própria obra):

1. O nível absonito de realidade é caracterizado por coisas e seres sem começo, nem fim e pela transcendência do tempo e do espaço. Os seres absonitos não são criados; são derivados, isto é, simplesmente são. O nível de Ultimidade da Deidade conota uma função relacionada às realidades absonitas. Sempre que o tempo e o espaço são transcendidos, não importando em que parte do universo-mestre, este fenômeno do absonito é um ato da Ultimidade da Deidade.

2. Para o Ser, nunca houve começo, pois o nada não pode dar origem a alguma coisa.

3. Paraíso é um termo que inclui os Absolutos focais pessoais e não-pessoais de todas as fases da realidade do universo. Apropriadamente qualificado, paraíso pode designar todas e quaisquer formas da realidade: Deidade, divindade, personalidade e energia espiritual, mental ou material. Todas compartilham o Paraíso como o seu lugar de origem, função e destino, com respeito aos valores, aos significados e à existência factual. O Paraíso não representa nada e nada representa o Paraíso. Não é uma força nem uma presença;é tão-somente o Paraíso. A Ilha do Paraíso tem uma localização no universo, mas nenhuma posição no espaço. Essa Ilha Eterna é a fonte factual dos universos físicos passados, presentes e futuros. A Ilha da Luz Central é um derivativo da Deidade, mas não chega a ser uma Deidade. Nem as criações materiais são uma parte da Deidade; elas são uma conseqüência.

4. Este é mais um ponto em favor da admissibilidade de que a verdade é relativa e ilimitada.

5. Morôncia é um termo que designa um vasto nível que se interpola entre o material e o espiritual. Pode designar realidades pessoais ou impessoais, energias vivas ou não viventes. Os elos do tecido moroncial são espirituais; a sua trama é física.

6. Mas tanto a sobrevivência à morte física quanto a Ascensão só se darão pelo mérito. Em um certo sentido, em parte samsárico, ambas estão mais para a exceção do que para a regra.

7. É por isto que o termo reintegração é preferível ao vocábulo evolução. Espiritualmente, parecem sinônimos, mas não são.

8. É por isto, também, que somos responsáveis por tudo; não há, no Universo, o por acaso.

9. Do Deus de nossos Corações. Como está dito no Livro de Urântia, as criaturas sabedoras de Deus têm apenas uma ambição suprema, um só desejo ardente, que é o de se tornarem, nas suas próprias esferas, perfeitos como Ele é, na Sua perfeição... Dele emanou o Supremo Mandato: 'Sede perfeitos, assim como Eu Sou perfeito'. Este Mandato magnífico e universal – de se esforçar para atingir a perfeição da Divindade é o primeiro dever, e deveria ser a mais alta ambição de todas as criaturas, e o que deveria impulsionar constantemente o homem mortal a ir adiante e o atrair para o interior de si próprio, na sua labuta longa e fascinante para alcançar níveis cada vez mais elevados de valores espirituais e de significados verdadeiros do Universo. A possibilidade de atingir a perfeição divina é o destino certo e final de todos os homens, no eterno progresso espiritual... Tal perfeição pode não ser universal no sentido material, nem ilimitada em alcance intelectual, nem final como experiência espiritual, mas ela é final e completa, sob todos os aspectos finitos, em divindade, vontade, perfeição de motivação da personalidade e consciência de Deus.

10. Vontade do Pai nos Céus, traduzido misticamente, significa amalgamar-se, fundir-se, com seu Deus Interior, e, com Ele, se tornar Um. Ou, em outras palavras, como está dito no Livro de Urântia: Na experiência interior do homem, a mente encontra-se vinculada à matéria. E as mentes, assim vinculadas à matéria, não podem sobreviver ao perecimento mortal. Abraçar a técnica de sobrevivência é fazer as transformações na mente mortal e os ajustamentos da vontade humana, por meio dos quais tal intelecto, consciente de Deus, deixa-se gradualmente ensinar pelo Espírito, e, finalmente, deixa-se guiar por Ele. Esta evolução da mente humana, a partir da associação material até a união com o Espírito, resulta na transmutação das fases, potencialmente espirituais da mente mortal, nas realidades moronciais da Alma Imortal. A mente mortal, se for subserviente à matéria, está destinada a se tornar cada vez mais material e, conseqüentemente, a sofrer uma extinção final da personalidade. Já a mente entregue ao Espírito está destinada a se tornar cada vez mais espiritual e, finalmente, a realizar a unificação com o Espírito Divino, que é sobrevivente e que é o guia para que, desta forma [e só desta forma] consiga a sobrevivência e a eternidade de existência da personalidade. (Grifo meu).

11. Nele, todos nós precisamos aprender a viver, a nos mover e ser.

 

Fundo musical:

Prelude nº 9 (Johann Sebastian Bach)

Fonte:

http://www.karaokenet.com.br/karaoke2/midisclassicos.htm