Este
estudo se constitui da 4ª é última parte de um conjunto
de fragmentos garimpados e eventualmente comentados na obra Liberte-se
do Passado (Freedom
From the Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti. Esta obra
trata de questões seminais para a nossa existência, a saber:
a busca do prazer, a importância da comunicação, a
memória humana, a violência e outros estados de ânimo
dissonantes do nosso espírito, a pobreza, as drogas, a solidão,
a beleza e o amor.
Breve
Biografia
Jiddu
Krishnamurti
Jiddu
Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro
de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano.
Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica,
meditação, conhecimento, liberdade, relações
humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização
de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou
a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano,
e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada
a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política,
seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer
através do autoconhecimento, bem como da prática correta
da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto
de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
O
cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que
a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade
só poderá acontecer através da transformação
da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da
compreensão das influências restritivas e separativas das
religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos
foram por ele constantemente realçadas.
Fragmentos
Krishnamurtianos
Quando
estamos completamente em silêncio não estamos buscando, nem
desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há,
então, o Amor.
Para
alcançarmos a liberdade para [poder]
olhar, precisaremos estar livres de toda condenação, de
todo juízo, de toda aquiescência e de toda discordância.
Conta-se
uma história acerca de um instrutor religioso. que todas as manhãs
falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque
e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no
peitoril de uma janela e começou a cantar, a cantar, com toda a
alma. Depois calou-se e foi-se, a voar. Disse, então, o instrutor:
— Está
terminado o sermão desta manhã.
—
Tanta televisão,
que esqueci do Sol nascente.
Tanto iPhone,
que esqueci do Sol poente.
Tanta anestesia,
que esqueci do transcendente.
Só
a mente que olhar as árvores, as estrelas ou o que quer que seja
com total abandono de si própria saberá o que é a
Beleza, e quando estamos realmente vendo, nos encontramos em um estado
de Amor.
Quando
há humildade completa, só há o primeiro degrau, e
o primeiro degrau é o degrau eterno.
Só
quando virmos sem nenhum preconceito e sem nenhuma imagem seremos capazes
de estar em direto contato com alguma coisa na vida.
As
imagens que engendramos e temos uns dos outros nos impedem de comungar
efetivamente uns com os outros. Não há possibilidade de
cooperação através de imagens, de símbolos,
de conceitos e de ideologias, pois, o Amor é negado quando nos
valemos destas coisas, que criam um espaço intransponível
(não só fora de nós, mas, também, dentro de
nós mesmos) entre nós e aquilo que observamos, e neste espaço
há conflito.
Para
haver atenção total é necessário haver silêncio
total, e só em silêncio total poderá haver energia
total, e esta energia total é a forma mais elevada de inteligência.
Na
vida, ao surgir um problema, deveremos resolvê-lo imediatamente,
para que não possa se enraizar na mente. Se deixarmos um problema
durar um mês, um dia ou mesmo alguns minutos, ele deformará
a mente. Logo, deveremos enfrentar imediatamente qualquer problema, sem
nenhuma deformação, e nos livrarmos dele completamente,
sem que fique na mente nenhuma memória, nenhuma arranhadura, nenhuma
contradição e nenhum conflito. Tudo isto se resume em olhar
as coisas sem as imagens que fazemos delas, em total abandono de nós
mesmos, pois, só assim conheceremos e saberemos o que é
a Beleza e o que é o Amor.
—
Olhei,
e só vi a imagem.
Silenciei,
e, então, vi a coisa.
Quando
observamos uma coisa e fazemos um julgamento, estamos separados e nos
separando cada vez mais da coisa observada.
Religioso Preconceituoso
Na
verdade, o observador não difere das imagens que ele cria, pois,
está sempre a acrescentar ou a subtrair alguma coisa do que ele
próprio é. O observador é uma coisa viva, em todas
as horas, ocupada em pesar, comparar, julgar, modificar, absolver e condenar,
em virtude de pressões derivadas do exterior e do seu interior.
O observador –
meio vivo, meio morto –
vive no campo da consciência, que são seus conhecimentos,
suas influências e suas avaliações inumeráveis,
todas essas coisas originadas em um passado esquecido, mas, repleto de
memórias, experiências, acidentes, influências, tradições,
censuras, preconceitos, distorções, equívocos, coisismos
e múltiplas variedades de sofrimento. Enfim, o observador está
sempre a traduzir o novo em termos do velho e, por conseguinte, vive em
um conflito permanente.
O
observador é a coisa observada.
Se
o pensamento não der continuidade ao sentimento, o sentimento morrerá
muito depressa.
—
Ó Rosinha,
você quer ser freira?
—
Não senhor,
eu quero me casar!
—
E por que
não quer ser freira?
—
Ora bolas,
porque eu quero dar!
Você
já reparou como, para nós, as idéias se tornaram
muito mais importantes do que a ação, idéias estas
tão habilmente expostas em livros pelos intelectuais, em todas
as esferas de atividade? Quanto mais sagazes e sutis são estas
idéias, tanto mais as veneramos e aos livros que as contêm.
Nós somos estes livros e somos estas idéias, tão
fortemente condicionados que estamos por elas. Estamos perpetuamente a
discutir idéias e ideais e, dialeticamente, a ouvir opiniões
e a apresentar opiniões. O fato é que temos medo de viver
e, por conseguinte, o passado e as idéias se tornaram tão
importantes para nós. [A
coisa é mais ou menos assim: o Popeye come espinafre, o Dudu devora
hambúrgueres e nós papamos idéias!]
Se
não tivéssemos memória, não teríamos
pensamento. O experimentador, que é o pensador, é o prazer
e a dor, e também é a entidade que lhes dá nutrimento,
mas, geralmente, não percebe que, na própria exigência
de prazer, está atraindo a dor, o medo e a servidão. O fato
é que o pensamento é tão sutil, tão hábil,
que deforma todas as coisas para sua própria conveniência.
O
pensamento é o passado; o pensamento é
sempre velho. E como todo desafio é enfrentado em termos do passado
– desafio
que é sempre novo –
nossa maneira de enfrentá-lo será sempre totalmente
inadequada, e daí decorre a contradição, o conflito,
a aflição e o sofrimento a que estamos sujeitos.
—
Eu queria inventar um remédio,
então, pratiquei a vivissecção.
Eu queria me tornar nédio,
então, tomei um sumo de limão.
Eu queria dar fim ao tédio,
então, promovi uma destruição.
Eu precisava de um intermédio,
então, dei mole pro macacão.
Eu queria ser craque em ludopédio,
então, me empenhei de coração.
Eu precisava cantar um epicédio,
então, treinei uma lamentação.
Eu queria me livrar dum litopédio,
então, orei pra Frei Serapião.
O
pensamento estabeleceu o padrão de prazer, de dor, de medo e dentro
dele vem funcionando há milhares de anos, e não pode quebrá-lo,
porque foi ele quem o criou. [Podemos
quebrar o padrão, sim, mas precisamos querer quebrá-lo,
e agir no sentido de quebrá-lo. Tudo se resume em: SABER, QUERER,
OUSAR e CALAR, como ensinou Zoroastro, que, provavelmente, viveu em meados
do século VII a.C.]
Se
pudermos compreender toda a estrutura dos nossos pensamentos, porque pensamos,
como pensamos, as palavras que empregamos, as ações que
praticamos, o nosso comportamento na vida diária, a nossa maneira
de falar com as pessoas e de tratá-las, a nossa maneira de ser,
de andar e de comer, enfim, se pudermos perceber todas essas coisas, então,
a nossa mente não nos enganará, e não haverá
nada para nos enganar.
Só
se/quando a mente se tornar sumamente quieta, flexível
e sensível não haverá engano de espécie alguma.
No
estado de plena atenção, o pensamento começa a definhar.
Se
uma pessoa desejar ver uma coisa muito claramente, deverá ter a
sua mente muito quieta, sem seus preconceitos, suas tagarelices, seus
diálogos, suas imagens e seus quadros. Tudo isto terá de
ser posto à margem, para Olhar. É só no Silêncio
que se pode observar o começo do pensamento, e não quando
estamos a buscar, a fazer perguntas e esperar respostas. Portanto, só
quando houver completa quietude em nosso ser, em virtude deste silêncio
[Silêncio], começaremos
de fato a Ver.
—
Eu só vivia tagarelando,
e era mais surdo que uma porta.
Devagar, fui silenciando,
e, um Dia, se abriu a Porta.
Sempre
traduzimos as coisas de acordo com o nosso condicionamento. Todavia, quando
não há pensamento derivado da memória, da experiência
ou do conhecimento, pois, tudo isto é passado, não há
pensador nenhum, e, portanto, não há contradição.
De
modo geral, todos nós transportamos conosco todas as cargas de
ontem. Mesmo quando estamos sós, nossa vida está tão
repleta de influências, de conhecimentos, de memórias, de
experiências, de ansiedade, de aflição e de conflito,
que nossa mente se torna cada vez mais embotada e insensível, funcionando
em uma monótona rotina. Conta-se uma história interessante
de dois monges que, caminhando de uma aldeia para outra, encontraram uma
jovem sentada à margem de um rio, a chorar. Um dos monges se dirigiu
a ela, dizendo: —
Irmã, por que choras? E ela respondeu: —
Estás
vendo aquela casa do outro lado do rio? Eu vim para este lado hoje de
manhã cedo e não tive dificuldade em vadear o rio; mas,
agora ele engrossou e não posso voltar; não há nenhum
barco. —
Oh! —
disse o monge —
isto não é
problema, e levantou nos braços a jovem e atravessou
o rio, deixando-a na outra margem. E os dois monges prosseguiram juntos
a jornada. Passadas algumas horas, diz o outro monge: —
Irmão, nós fizemos o voto de nunca tocar numa mulher. O
que fizeste é um horrível pecado. Não sentiste prazer,
uma sensação extraordinária, ao tocar uma mulher?
E o outro monge respondeu: —
Eu a deixei para trás
há duas horas. E tu ainda a estás carregando, não
é verdade? É
isto o que fazemos. Carregamos nossos fardos todas as horas; nunca morremos
para eles, nunca os deixamos para trás. Ter silêncio e espaço
interiores é muito importante, porque implica liberdade para existir,
se mover, atuar e voar. Afinal de contas, a bondade só pode florescer
onde há espaço, assim como a virtude só pode medrar
quando há liberdade.
Só
há possibilidade de clareza quando a mente se encontra em Silêncio.
A
menos que estejamos livres do medo, do sofrimento, da ansiedade e de todas
as armadilhas que criamos para nós mesmos, não há
possibilidade de a mente ficar realmente quieta.
Um
dos piores tropeços na vida é essa luta constante para alcançar,
conseguir, adquirir [e
vencer a qualquer preço]. Desde a infância, somos
educados para adquirir e realizar. As próprias células cerebrais
criam e exigem este padrão de realização, a fim de
terem segurança física, mas, a segurança psicológica
não se encontra no campo da realização. Exigimos
segurança em todas as nossas relações, atitudes e
atividades, mas, não existe realmente essa coisa chamada segurança,
pois, nada existe de permanente.
—
Fiz
de tudo e tudo fiz
para poder ser feliz.
Sempre fui moderado
e nunca mudei de lado.
Ajoelhei e rezei
para Deus, meu único Rei.
Sempre fui dizimista
e sempre abri a lista.
Li a Bíblia todos os dias
e me contive nas alegrias.
Comunguei todos os domingos
e não freqüentei bingos.
Peregrinei à Terra Santa
e nunca entrei em girianta.
Fui a todas as quermesses
e nunca consultei babesses.
Ajudei muito os pobres
e respeitei os nobres.
Diariamente, usei o cilício
e me apartei do vício.
Tornei-me vegetariano
e nunca fui magano.
Beijei mão de padre
e não papei a comadre.
Tornei-me apartidário,
e sincero celibatário.
Sempre fui à missa
e só dormi em xissa.
Não entornei, não fumei,
não cheirei, não
bifei.
De todo Coração,
fui fiel à Tradição.
Disciplinei minha mente,
até ficar doente.
Cumpri o estabelecido,
mesmo que não fizesse sentido.
Fiz tudo o que sempre quis,
mas, sempre fui infeliz!
O
espaço e o silêncio são necessários para ultrapassarmos
as limitações da consciência. [A
melhor disciplina é não nos auto-impormos nenhuma disciplina.
Disciplina zero. A DISCIPLINA surgirá, inevitavelmente, com a CONSCIENTIZAÇÃO.
Qualquer forçação de barra neurotiza.]
—
Eu queria...
Então, me obriguei.
Quase amaluquei.
Desisti e esperei.
E pintou a Alegria!
Quanto
mais forçarmos a mente, mais estreita e estagnada ela se tornará.
A disciplina deve ser sem controle, sem repressão, sem nenhuma
forma de medo.
Para
rejeitarmos a autoridade (a autoridade psicológica, não
a autoridade da lei), precisamos nos livrar da condenação,
da justificação, da opinião e da aceitação.
A Luz da mente só se acenderá se/quando estivermos
livres da autoridade.
O
Silêncio é indescritível e atemporal.
O que pode ser descrito é o conhecido, e o estado livre do conhecido
só poderá se tornar existente quando há um Morrer
todos os dias para o conhecido. Quem vier a conhecer o Silêncio
conhecerá aquele Mistério que ninguém poderá
revelar, [que ninguém
poderá furtar] e que nada poderá destruir.
—
Eu queria conhecer o Silêncio,
mas, não morri para a vida.
Nunca conheci o Silêncio,
nem a Morte, nem a Vida.
A
exigência de sucessivas experiências, que, geralmente, só
produzem um simulacro da realidade, denota a pobreza interior do ser-humano-aí-no-mundo.
Pensamos que por meio delas poderemos fugir de nós mesmos, mas,
estas experiências são condicionadas pelo [que
fomos e] pelo
que somos. Se a mente é mesquinha, ciumenta, ansiosa,
a pessoa poderá tomar a mais moderna droga, porém, só
verá sua própria e insignificante criação
– as projeções
sem importância de seu próprio fundo condicionado. [No
caso particular da dietilamida do ácido lisérgico (LSD),
os efeitos poderão variar consoante a personalidade do sujeito,
o contexto (ambiente) e a qualidade do produto, podendo ser agradáveis
ou muito desagradáveis, podendo, inclusive causar depressão,
ansiedade e psicose por uma "má viagem"].
LSD
Tudo
o que é mensurável se encontra nos limites do pensamento
e tem a propriedade de criar miragens e ilusões. E, se formos religiosos,
quanto mais crentes formos, tanto mais intensas serão as nossas
visões, que nada mais são do que as projeções
das nossas exigências e ânsias.
—
Ó meu Frei Balalão!
E não é que vi o Frei Balalão!
Ó meu Frei Serapião!
E não é que vi o Frei Serapião!
Ó meu Tim Tones!
E não é que vi o Tim Tones!
Ó meu Irmão Carmelo!
E não é que vi o Irmão Carmelo!
Ó meu Don Camillo!
E não é que vi o Don Camillo!
Ó meu São Longuinho!
E não é que vi o São Longuinho!
Ó meu Santantoninho!
E não é que vi o Santantoninho!
Ó meu Bento Carneiro!
E não é que vi o Bento Carneiro!
Ó minha Mãe-d'água!
E não é que vi a Mãe-d'água!
Ó meu Saci-pererê!
E não é que vi o Saci-pererê!
Ó minha Mula-sem-cabeça!
E não é que vi a Mula-sem-cabeça!
Ó meu Romãozinho!
E não é que vi o Romãozinho!
Na
própria exigência de ser feliz está a infelicidade.
Quando uma pessoa se esforça para ser boa, nesse próprio
esforço de ser bom está o seu oposto: ser mau. Tudo o que
se afirma contém o seu próprio oposto, e o esforço
que se faz para dominá-lo torna mais forte aquilo contra o que
se luta. Temos, pois, de ficar livres das incessantes exigências,
porquanto, do contrário, nunca acabará a galeria das dualidades.
Isto significa conhecer a si próprio de maneira tão completa,
que a mente não mais se ponha a buscar.
—
Eu quis,
mas, não achei.
Deixei de querer,
e encontrei.
Meditação
não é controle do pensamento, porque, quando o pensamento
é controlado, gera conflito na mente. A meditação
exige uma mente sobremodo vigilante. A meditação é
a compreensão da totalidade da Vida, na qual não existe
mais nenhuma espécie de fragmentação.
Fragmentação
Meditação
é estar cônscio de cada pensamento e de cada sentimento,
nunca julgando se ele está certo ou errado, porém, simplesmente,
observando e acompanhando o seu movimento. Nesta vigilância, compreenderemos
o movimento total do pensamento e do sentimento. E desta vigilância
vem o Silêncio. Já o silêncio criado pelo pensamento
é estagnação, coisa morta, porém, o Silêncio
que vem quando o pensamento compreendeu a sua própria origem, a
sua própria natureza, quando compreendeu que nenhum pensamento
é livre, mas, sempre velho, então, este Silêncio é
meditação, na qual o meditador está de todo ausente,
porque a mente se esvaziou do passado.
—
Para isto, não há
imunidade
de rebanho.
Para isto, só há
alforria do antanho.
Meditação
é um estado em que a mente olha todas as coisas com toda a atenção
e não apenas algumas partes delas.
Na
compreensão dada pela meditação há Amor, e
o Amor não é produto de sistemas, de hábitos, da
observância de um método. O Amor não pode ser cultivado
pelo pensamento. O Amor pode, talvez, nascer quando há Silêncio
completo, um Silêncio no qual o meditador esteja de todo ausente;
e a mente só é capaz de Silêncio quando compreende
seu próprio movimento como pensamento e sentimento. Para se compreender
este movimento de pensamento e de sentimento, não pode haver condenação
enquanto se observa. Observar desta maneira é disciplina, e esta
qualidade de disciplina é fluida, livre, e, assim, não é
uma disciplina de ajustamento.
—
Adotei uma disciplina
de ajustamento,
e fiquei
na mesma
e na mesma fiquei.
Abandonei a disciplina
de ajustamento,
e deixei
de ser lesma
e de ser lesma me livrei.
Lesma
Para
nós, não há nada mais importante do que a realização,
em nós mesmos, e, por conseguinte, em nossas vidas, de uma revolução
total fora da estrutura social ora existente.
—
Fui ali,
e imitei.
Não me libertei.
Fui lá,
e imitei.
Não me libertei.
Fiquei aqui,
e imitei.
Não me libertei.
Não fui, não fiquei
e não imitei.
Então, eu me libertei.
Todas
as guerras de agressão são horripilantes, não importa
se a agressão é defensiva ou ofensiva. O fato concreto é
que o nosso mundo está se tornando cada vez mais eficiente, e,
por conseguinte, cada vez mais cruel.
—
Alabardas! Alabardas!
Espingardas! Espingardas!
Guerra regional, guerra total,
guerra étnica, guerra comercial.
Guerra isto, guerra aquilo,
guerra fi-lo
porque qui-lo.
Reaper drone, míssil Tomahawk,
DF-26, Laser Avenger, Satã 2,
veículos subaquáticos, Kinzhal...
É a dor! É a morte! É o mal!
Alabardas! Alabardas!
Espingardas! Espingardas!
O
que cada um de nós poderá fazer a esse respeito? Como cada
um de nós poderá influir no mundo? Na verdade, poderemos
tudo, se em nós mesmos não formos violentos, se vivermos
realmente, em cada dia, uma vida pacífica, sem competição,
sem ambição, sem inveja, ou seja, uma vida não causadora
de inimizades, sem egocentrismos, sem preconceitos, sem nacionalismos.
—
1º, eu,
depois, você.
Do ABC
ao XYZ.
—
1º, EUA,
depois, China.
Do zerolhufas
ao papa-fina.
—
1º, meu hino,
depois, o seu.
Do tornado
ao aliseu.
Se
dissermos que nada poderemos fazer, então, estaremos aceitando
como inevitável a desordem em nós mesmos existente.
Todo
movimento que vale o esforço e toda ação de profunda
significação têm de começar, primeiro, em cada
um de nós.
A
Mente Religiosa (que difere completamente da mente que crê na religião)
é um estado de espírito em que não há medo
e, por conseguinte, não há crença de espécie
alguma, porém, tão-só O-que-é, o que realmente
é.
Na
Mente Religiosa, há aquele estado de Silêncio, que não
é produzido pelo pensamento, mas, que é oriundo do percebimento,
ou seja, da meditação com completa ausência do meditador.
Neste silêncio, há um estado de energia isento de conflito.
Energia
é ação [mudança]
e movimento [perpetuidade].
Toda ação é movimento e toda ação é
energia. Todo desejo é energia. Todo sentimento é energia.
Todo pensamento é energia. Todo viver é energia. Toda vida
é energia. [Tudo
é energia.] Se se deixa esta energia fluir sem nenhuma
contradição, sem nenhum atrito, sem nenhum conflito, ela
se torna, então, ilimitada. Quando não há atrito,
não há limites à energia. O atrito é que impõe
limites à energia. E, se houver qualquer atrito, interior ou exterior,
em qualquer forma, por mais sutil que seja, haverá desperdício
de energia.
Plano Inclinado
Quando
a mente se renova, é capaz de enfrentar e de resolver qualquer
problema. E, para renovarmos a nossa mente, precisaremos olhar de frente
a nossa própria vida –
nossa mediocridade, nossa superficialidade, nossa brutalidade, nossa violência,
nossa avidez, nossa ambição, nossa diária agonia
e nosso sesquipedal sofrer. É isto o que urgentemente precisamos
compreender, pois, ninguém, nem na Terra nem no céu, poderá
fazer isto por nós, senão nós mesmos. [Não
descanses. De nenhum fruto queiras só a metade.
(Miguel Torga).] Só
quando nos conhecermos integralmente como de fato somos, compreenderemos,
então, toda a nossa estrutura – nossos
embustes, nossas hipocrisias, nossa busca.
—
Eu queria cruzar o rio,
mas, em suas águas não nadei.
E, até apagar, continuei
um escravo do delírio!
—
Eu queria não sentir frio,
mas, jamais me agasalhei,
e um simplacheirão continuei,
sempre no mesmo delírio!
—
Eu queria descorar o delírio,
mas, de piora em piora, piorei,
e nem um pouquinho mudei.
E nunca passou o frio!
—
Por fim, pasteurizado
e já morando no Plano Astral,
não mudou o cipoal,
e persisti escravizado!
e, então, voltei a reencarnar.
Jurei que iria avançar,
mas, as quimeras não deixaram!
—
E mais uma vida zarpou!
E, sentado no mesmo mochinho,
sempre o mesmo tolinho,
eu nunca disse: — Eu sou!
—
Até que, enfim, saboreei
o pãozinho da minha fome:
Liberdade –
o Primeiro Nome –
que de mim fez um Rei!1
—
Hoje, a todos oferto
o Pãozinho da Liberdade,
pois, só se findar a Saudade,
diremos: — Estou mais perto!
—
De nenhum dos frutos
queiramos apenas a metade,
pois, não passará a ansiedade,
e continuaremos fajutos.
—
Só vencendo a mornidão
a Noite Negra desaparecerá,
e, então, a Aurora pintará.
Vençamos, então, a 'miralusão'!2
Ter
ideais, crenças ou princípios de qualquer espécie
é uma coisa brutal, pois, não poderemos nos olhar diretamente.
Só
aquele estado em que a mente já não é capaz de lutar
constitui a Verdadeira Mente Religiosa, pois, só neste estado mental
podemos nos encontrar com essa Coisa, essa Flor maravilhosa e imarcescível
[sem nome], imensa
e ilimitada, denominada Verdade, Realidade, Bem-aventurança,
Deus, Beleza ou Amor.
Não
podemos convidar o vento a entrar, mas, temos de deixar aberta a janela,
mas, sem ficar esperando que ele entre.
Nenhuma
Verdade poderá ser descoberta sem Paixão –
Paixão impelida por intenso fervor, paixão sem nenhum desejo
secreto. [Paixão
Iniciática.]
Só
pela negação completa –
que é a mais alta forma da Paixão –
o Amor poderá se tornar existente.
—
Fiz, mas, não fiz,
quis, mas, não quis,
nem quente nem frio,
nunca cruzei o rio!
—
Nunca cruzei o rio!
Nunca passou o frio!
Nunca passou o calor!
Nunca conheci o Amor!
Só
se aplicarmos toda a nossa mente e todo o nosso Coração,
os nossos nervos, os nossos olhos, ou seja, todo o nosso ser, para descobrir
o Caminho da Vida, rejeitando total e completamente a vida que hoje vivemos
e negando o maléfico e o brutal, poderá, para nós,
se tornar existente a Outra Coisa.
Uma
mente viva é uma mente quieta. Uma mente viva é uma mente
que não tem centro algum e, por conseguinte, não tem espaço
nem tempo. Esta mente é ilimitada, e esta é a única
Verdade, a única Realidade.
Tudo
depende de nós. Não há líder, não há
instrutor, não há ninguém que possa nos ensinar o
que deveremos fazer. Estamos sozinhos neste mundo insano e brutal.
Por
que está tão vazio o nosso Coração?
______
Notas:
1.
— Liberdade,
que estais no céu…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade,
que estais na Terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas, um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até
que, um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade,
que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
(In: Diário
XII; Miguel Torga.)
Adolfo
Correia da Rocha (1907 — 1995)
[Miguel Torga]
2. Miralusão
= Miragem + Ilusão.
Música
de fundo:
Symphony
Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven
Fonte:
http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies
Observação:
A Sinfonia nº
6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também
chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música
programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua
primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro
de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever
a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven
insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um
quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É
uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.
Páginas
da Internet consultadas:
https://dribbble.com/
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https://www.psicologia.pt/instrumentos/
ver_ficha.php?cod=lsd
https://gifer.com/en/7Mut
https://www.escritas.org/pt/t/2429/sisifo
http://propg.ufabc.edu.br/
http://www.animated-gifs.eu/
https://wifflegif.com/
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as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por
empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de
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a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
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