Nasci
no Cairo, fui criado no Rio. Sou, portanto, cairoca. Tenho cabelos castanhos,
cada vez menos castanhos e menos cabelos.
Em 1492, Colombo descobriu a América;
em 1922, a América me descobriu.
Minha carreira de criança
começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade. Minha
carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a
cabeça diariamente).
Meu
maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um apartamento
duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma conta
no banco, uma praia particular e um 'short'. Por enquanto, já tenho
o 'short'.
Sou
a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento.
Sem ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros.
O
que mais adoro: escrever cartas. O que mais detesto: pô-las no Correio.
Minha cor preferida é a morena; algumas vezes, a loura. Meu prato
predileto é o prato fundo. O que mais aprecio nos homens: suas mulheres.
E nas mulheres, as próprias. Acho a pena de morte uma pena.
Não
sou superticioso.
Mas, por via das dúvidas, evito o "s" depois do "r"
nessa palavra.
Faquir
é esse sujeito que fica deitado sobre pregos para ganhar o seu pão
de cada 100 dias.
Se
não fosse o que sou, gostaria de ser humorista.
Acho
que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que
ela gostasse. Isso, se a gente gostasse dela.
Fui
fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco. Não pelo
atestado de bons antecedentes, mas, pelas dificuldades com que se tira um
atestado.
Ninguém
faz nada por necessidade, mas, por vocação, isto é,
por vocação da necessidade.
Sou
a favor das camas separadas, principalmente para quem se casou com separação
de bens.
Não
guardo rancor por absoluta falta de espaço.
Desde
criança faço força para ser original, e o máximo
que consigo é ser uma cópia de mim mesmo.
Meu grande complexo é não
saber tocar piano, mas, muito maior deve ser o complexo de outros homens,
que também não sabem tocar e são pianistas.
Em
um enterro, fico triste, por não saber fingir que estou triste.
Aprecio
as quatro estações, mas, prefiro o verão no inverno
e o inverno no verão.
Cobrador,
na minha casa, não bate na porta perguntando se pode entrar; eu é
que bato perguntando se posso sair.
De
nada me valerá a vaidade depois de eu morrer, a não ser a
vaidade de estar morto.
Meus piores defeitos: nunca
roubei e nunca menti. Minha grande qualidade: ter todos os outros defeitos.
Nunca
amei o próximo como a mim mesmo. Em compensação, nunca
ninguém me amou como eu mesmo.
Nunca
dei nem tomei nada de ninguém, mas, faço questão de
deixar tudo o que não tenho para os que têm menos do que eu.
Nunca
cobicei a mulher do próximo: só a do afastado.
Leocádia era dessas que tinham
verdadeira alucinação por lingerie. Para ela, o mais importante
na linha da elegância era a roupa de baixo. Todos os dias, chegava
em casa, abria os embrulhos na frente do marido, exibia calcinhas com bordadinhos
e rendinhas de todas as cores e de todas as qualidades de tecidos. O marido
não entendia: —
De que adianta tudo isso, se ninguém vê?
Ela sorria, orgulhosa: — É o que você pensa. Pode dar
um ventinho na rua, sabe lá?
Um
dia ele estava no escritório, quando o chamaram ao telefone. Era
do Hospital dos Acidentados, para lhe comunicar que a sua mulher havia sofrido
um desastre. Correu para lá e assim que fez a descrição
da mulher, um enfermeiro disse para o outro: — Ei, você aí.
Leve este senhor naquele quarto. Está procurando aquela senhora sem
calça. O
marido teve um troço, foi medicado ali mesmo.
Duas semanas depois de Leocádia ter alta, ele continuou no hospital,
em convalescença.
Defendi a minha vida como pude, mas,
nunca arrisquei a vida para defendê-la.
Nunca
me preocupei com dinheiro, pois sempre tive pouco.
Acreditei
mais nos inimigos do que nos amigos, porque os amigos nem sempre se preocupam
com a gente.
Jamais tive um segredo, passei todos
adiante.
Conquistei muitas mulheres, algumas
com os olhos, outras com os lábios e outras com o braço.
Tive
pavor dos médicos, porque eles sempre descobrem as doenças
que a gente nem sabia que tinha há tanto tempo.
Orgulho-me de ter vivido oitenta
anos em apenas quarenta: finalmente me livrei dessa maldita insônia.
Acho
a rosa uma mensagem definitiva, porque custa menos do que um telegrama e
diz muito mais.
Viver
honestamente é fácil; difícil é viver desonestamente.
Zora chegou em casa tarde da noite,
encontrou a porta encostada, foi diretamente para o quarto. Mudou de roupa
no escuro, para não acordar o marido, deitou ao seu lado. Quando
percebeu que ele estava acordado, foi falando: — Você me desculpe,
Henrique, mas é que estou com amnésia profunda. Não
me lembro de nada, perco a memória temporariamente e quando a recupero,
não tenho a menor idéia do que se passou. Hoje peguei um ônibus
para vir para casa, mas devo ter ido parar muito longe, não sei nem
como explicar. Se você me perguntar como foi, não sei dizer.
A
luz se acendeu e Zora pôde ver um homem nu ao seu lado exclamar: —
E agora, já recuperou a memória?
Zora
ficou perplexa, quase muda de emoção: — Claro que já.
E
ele: — Então, pode ver facilmente que não me chamo Henrique,
não sou seu marido e a senhora provavelmente deve ter entrado no
apartamento errado. Zora desmaiou. Dessa, nunca mais ela ia esquecer.
Algumas
mulheres são contra o biquíni porque o biquíni é
contra elas.
Biquíni
são dois pedaços de pano cercado de mulher por todos os lados.
Vício
é o que sempre estamos fazendo pela última vez.
—
Eta!, viciozinho
bão!
Quando
Gertrudes ligou para saber do quarto de frente para o mar, não esqueceu
da exigência do locador: "para pessoa de fino trato".
— Por obséquio, cavalheiro, foi daí que colocaram um
anúncio muito bem redigido, procurando uma pessoa para coabitar com
a sua distinta família?
—
Em primeiro lugar, minha senhora, não tenho família, em segundo,
não botei nenhum anúncio no jornal, em terceiro, isto aqui
é um supermercado e tenho muito que fazer, e vê se não
amola.
Desligaram.
Gertrudes tentou de novo, veio a mesma voz e a mesma resposta. Tentou diversas
vezes, o sujeito já estava engrossando. Olhou o anúncio com
cuidado, conferiu o número, a mesma voz sem educação.
Gertrudes perdeu a paciência, acabou perdendo também o "fino
trato" e discou pela última vez:
— Olha aqui, seu cafajeste. Sei que o senhor não tem família,
sei que o senhor não quer alugar um quarto, sei que aí é
um supermercado. Mas, presta atenção, seu imbecil, de outra
vez que botar um anúncio no jornal vê se põe o telefone
direito, ouviu? E desligou, aliviada.
A mulher é uma coisa tão
complexa que quando o homem chega a compreendê-la o jeito é
abandoná-la.
Herói
é o sujeito que teve a sorte de escapar vivo.
Pontualidade
é a coincidência de duas pessoas chegarem com o mesmo atraso.
O
divórcio é uma chance que se dá ao indivíduo
para errar outra vez.2
Humorismo
é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros.
Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico.
O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico
é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.
—
Para bailar la bamba,
se necesita
una poca de gracia y otra cosita!
O
homem se casa para ficar em casa; a mulher, para sair.
Quando o ônibus parou, Dorotéia
viu um anúncio de cartomante. Saltou depressa, decidiu arriscar a
sorte. No velho casarão, com móveis antigos, uma senhora idosa
espalhou as cartas em sua frente: —
Vejo um louro em sua vida.
Dorotéia
se arrepiou, dentro dos seus quarenta e seis anos: — Um louro alto
e forte?
E a cartomante, sinistra: — Um louro baixo e fraco. Um papagaio.
O
homem
se casa para vencer a solidão; a mulher, para ficar só.
O
homem se casa por descuido; a mulher, por precaução.
O
cinema é uma arte complexa e inexplicável. De cada dez filmes
americanos, um é ótimo, dois são bons, três regulares
e quatro fracos. De cada dez filmes nacionais, todos os dez são de
boa qualidade.
Segredo
é isso que vai rolando de ouvido em ouvido e volta sempre com mais
detalhes.
Há
dois tipos de mulheres: a nossa e a dos outros.
Quando
um homem se casa, passa a alimentar duas bocas e a calçar quatro
pés.
Um
homem casado vale por dois. A maioria deles sustenta duas casas.
Sentir
vergonha dos outros menos que de si mesmo, porque os outros sempre vão
embora.
As
mulheres são sempre muito queridas. Umas quando chegam, outras quando
partem.
A
mulher ideal é a eventual.
Procuro
manter sempre o mesmo nível de humor, mas, a culpa não é
minha: há dias que o leitor está mais fraco.
O
casamento civil é o que ninguém vê; o religioso é
onde todo mundo se vê.
Adultério:
é o que liga três pessoas sem uma saber.
Quando
chega ao altar, a mulher diz o último 'sim' ao homem.
As
estatísticas não falham: para cada homem solteiro há
sempre uma mulher casada.
Mulher
que se preza não mente: inventa verdades.
Gracinda
só gostava de dormir com a janela fechada. Seu marido, João,
só gostava de dormir com a janela aberta. Moravam no térreo,
o que vem provar a teoria de que os últimos serão os primeiros,
pois no mundo de hoje começa-se a morar de cima para baixo –
por causa das cascas de banana que costumam jogar lá do alto. Mas,
isso não vem ao caso, o que importa é que quando apagavam
as luzes para deitar, Gracinda e João mantinham sempre o mesmo diálogo:
— Estou com frio, João.
— Estou com calor, Gracinda.
Ninguém dormia. Um esperava o outro cochilar, levantava de mansinho,
e ia até a janela para colocá-la a seu gosto. O outro levantava
depois e fazia o contrário. Depois das quatro é que dormiam
de cansaço, às vezes, com a janela aberta, às vezes,
fechada. Só de manhã cedo é que conferiam para ver
quem ganhou a parada. Nesta noite, a cena se repetiu, como num videoteipe.Gracinda
falou sem sair debaixo do lençol, com a voz sonolenta: —
Fecha a janela, João.
Um
vulto saiu por detrás das cortinas: — João, não,
Pedro.
No dia seguinte, deram por falta das jóias.
Mais
vale dois carros na contramão do que uma mulher na mão.
Idade
da razão = Idade do disparate.
A
grande conquista da mulher é saber que pode ser conquistada à
hora que quiser.
Antes
de tudo, é necessário que a pessoa se conheça cada
vez mais, para ir se moldando ao próprio temperamento. Até
o chato pode viver bem, desde que aprenda a se aturar. O conceito de felicidade
vai mudando dentro de nós, à medida que o tempo vai passando:
o homem só consegue ser completamente feliz quando não se
preocupa mais com isso. Mas, existem aquelas três coisinhas básicas
que ajudam bastante, como dinheiro (algum), amor (um pouco mais) e fantasia
(mais ainda). Se conseguir inverter, melhora muito. O importante é
ver tudo em tecnicólor, pois o preto-e-branco já está
superado, e carregar bem nas tintas, com o cuidado de não
misturá-las, senão borra tudo.
Não
devemos pensar muito no futuro, nem muito no passado, nem muito no presente:
quem pensa muito não faz nada, e quem não faz nada não
vive.
Devemos
amar o próximo como a nós mesmos, sem deixar que ele seja
próximo demais, e trabalhar o suficiente para não ter que
trabalhar.
Devemos
amar nas horas próprias, isto é, todas,
e, nos momentos de folga, arranjar um contrabando sem maiores conseqüências
que as conseqüências naturais.
O
homem deve ser livre como um homem nu no banheiro. Deve dormir quando tem
sono. Deve
comer quando tem fome. Deve
trabalhar quando tem vontade; a quantidade não importa
– o que vale é a intenção. Deve
ter a consciência tão leve que não sinta que tem uma
consciência. Deve
se vender tão caro, que não haja preço que se possa
pagar, para que não haja oportunidade de se vender.
O
homem não deve fazer nada forçado, nem
mesmo os trabalhos forçados. Deve ser comodista ao máximo,
ainda que isto custe anos e anos de sacrifícios.
O
homem deve comer maçã
na hora que tem vontade de comer maçã, levando-se em conta
que a maçã é simbólica, donde se conclui que
viver bem é comer os símbolos na hora que se têm vontade
de comer símbolos. Deve jogar fora o relógio, chutar o emprego,
não ser empregado nem patrão, nem marido nem amante, nenhuma
palavra que possa limitar a ação da vontade dentro do espaço
e do tempo, enfim, deixar o barco correr mesmo quando não tem um
barco.
O
homem deve
compreender os outros sem a preocupação
de ser compreendido, porque nunca nos compreenderão como a gente
gostaria que compreendessem. O homem feliz faz o que quer, quando quer e
onde quer: se tem vontade de se pendurar no lustre da sala, deve se pendurar,
mas não custa olhar primeiro se tem gente na sala, pode chegar um
engraçadinho e acender a luz. A verdadeira felicidade do homem está
no lar. Por isto, recomendo a todos que tenham dois, três e até
quatro lares, que é um número bem razoável, para começar.
Uma
grande verdade é que a vida começa aos quarenta, e uma grande
descoberta é que começa pela segunda vez: antes disso, não;
se vive, é tudo um vestibular. E dizer que muita gente passa a metade
da vida estudando e, quando chega aos quarenta, leva pau e fica para segunda
época!
Antigamente,
quando um homem olhava para o tornozelo da namorada era um audacioso. Hoje,
é um idiota.
É
sim, irmão: convém não esquecer que o dinheiro não
é tudo na vida. Tudo na vida é a falta de dinheiro.
—
É muita falta de imaginação
de sua parte, Valentim. Só consegue ver mulher nua com um pincel
na mão.
Ele
deu um riso de piedade: — O ciúme transtornou você, Margarida.
Ela
se queimou: — Ciumento é você, quer apostar?
Ele não recuou: — Quero.
—
Então, me pinte nua, agorinha mesmo, e depois ponha o quadro numa
exposição.
—
Feito.
Ela
tirou a roupa, ele espalhou as tintas. Dois meses depois, o quadro ganhou
medalha de ouro numa exposição abstracionista.
Dançou
o tempo todo em 33 rotações.
Caminhou
um par de sapatos inteirinhos.
Ficou
sem graça como quem está tirando fotografia.
Bebeu
durante duas garrafas de uísque e uma radiopatrulha.
Era
uma pequena que nunca beijava menos de meio batom.
Ficou
na ilha durante dois navios e a filha do comandante.
Entrevistou
47 índios e um antropófago.
A
mulher virou para o lado, cobriu a cabeça com o travesseiro e falou,
com a voz sufocada: —
Desliga esse rádio, Élcio. Já é meia-noite e
você precisa ir embora.
Élcio
nem dava bola. As palavras agora não eram tão importantes
quanto os números. Aumentou o volume do rádio e falou: —
Só mais uma urna.
A mulher
sentou-se na cama, indignada: —
Só quero ver a sua cara, quando o meu marido chegar.
Élcio
sorriu: — E quem é que você pensa que estou ouvindo no
rádio, meu bem?
Assistiu
ao filme durante oito beijos e um vaga-lume.
Leu
o jornal durante dezoito "me empresta um instantinho".
Chegou
ao fim da linha com um adiantamento de quatro sinais vermelhos.
Estacionou
o carro durante quinze minutos e um reboque.
Foi
pára-quedista durante 392 saltos e um pára-quedas novo.
Não
jogava pôquer há mais de 23.500 cruzeiros.
Zoroni
era mágico há dezoito anos; há dois meses estava sem
emprego. Sua mulher não se conformava: —
E agora, de que adiantam os seus truques? Quero ver é você
tirar o bife da cartola. De conversa já ando cheia.
Uma noite, ele chegou em casa e teve a surpresa: a mesa estava posta, com
os melhores pratos que pudesse pensar. Aparelho de jantar inglês,
faqueiro de 'vermeil' francês, cristais tchecos e toalhas de cambraia
bordadas em Portugal. Ficou intrigado, mas não disse palavra. Comeu
o que pôde, acendeu um cigarro, esparramou-se no divã, pensativo.
Quando a mulher lhe perguntou por que estava tão triste, aproveitou:
—
Nada, não. É que arranjei hoje um emprego de faquir.
E ela: —
E isso é tão trágico assim?
— Trágico, não, humilhante. O mágico sou eu,
mas quem faz a mágica é você.
Não
passava pela Avenida Brasil há 3 costelas e 1 clavícula.
Ela
só beijava de perfil.
Quando
me falta "inspiração" (que em verdade é mesmo
"disposição"), nunca uso fotografia de ninguém;
uso a minha, que, em última instância, é uma promoção.
Os outros humoristas podem fazer o mesmo, isto é: podem usar também
a minha fotografia.
O
bom humorista, no duro, não precisa de dez pretextos para não
trabalhar. Bastam sete.
Se
há falta, é exclusivamente de lugar. A população
feminina cresce de tal maneira, que os ônibus andam superlotados.
Tão superlotados que não há lugar nem para o cavalheirismo.
Todos
os dias de manhã, Eugênia vestia o 'short', pegava a barraca,
despedia-se do marido, e dizia que ia para a praia. Apesar da chuva, o marido
não dava muita importância, pois não queria desmoralizar
o seu emprego: trabalhava no Serviço de Meteorologia. Na véspera,
Eugênia perguntava: —
Amanhã vai chover?
— Claro que não.
Não dava outra coisa. Às vezes, ele tentava sair pela tangente:
— Tempo instável, sujeito a chuvas.
Essa não. Ela queria saber, no duro, e quando ele afirmava, dava
sempre o contrário. Era discussão em cima de discussão.
Até que um dia, ele resolveu ir à forra. Quando ela chegou
na sala de 'short' e barraca em punho, ele apontou a chuva na vidraça:
—
Hoje não sai, não senhora, que a culpa do mau tempo não
é minha. Pedi demissão ontem, olha aqui o papel assinado pelo
chefe.
Quando acabou de falar, apareceu o maior Sol na janela.
O
jogo a gente revela quando está ganhando; o caráter, quando
está perdendo. Muita gente de caráter perde tanto no jogo
que, inclusive, acaba perdendo o caráter. Algumas vezes, chega a
recuperar tudo – menos o caráter.
O
HIPÓDROMO: Hipódromo é um gramado
cheio de cavalos cercado de pules por todos os lados. No hipódromo
existe uma cerca: de um lado, cavalos rasgam distância,
do outro, homens rasgam pules. No hipódromo existem sete
páreos e seis intervalos. Os intervalos foram feitos para
se "estudar" de que modo se deve perder no próximo
páreo. Há gente que joga sem intenção
de ganhar nem perder. Para isso é que se fizeram os francos
favoritos, que pagam sempre o preço da pule. A alma do
hipódromo é o cavalo, a alma do cavalo é
o jóquei, a alma do jóquei é o 'stud', a
alma do 'stud' é a pule, a alma da pule é o apostador
e a alma do apostador é o hipódromo. De onde se
conclui que o hipódromo, além de ser um círculo
vicioso, é também um círculo viciado.
O
JÓQUEI: Há sujeitos que têm queda
para jóquei. Mas, só depois que montam é
que a queda se verifica. O bom jóquei corre uma vez e passa
o resto do tempo montado no dinheiro. Há jóqueis
que, para terem sorte, penduram as ferraduras do cavalo atrás
da porta. Outros deveriam pendurar o próprio cavalo. O
turfe não é jogo de azar: a gente joga sabendo que
vai perder. A única maneira de um jóquei enriquecer
é fazer a pista o mais rápido possível. Para
o apostador, não existem condições meteorológicas.
Antes da corrida ele se pendura no guarda-chuva e no binóculo.
Depois, pendura o guarda-chuva e o binóculo.
O EQUIPAMENTO: Do 'turfman': dinheiro, binóculo
e paciência. Da 'turfwoman': binóculo, chapéu
e marido.
|
A
mulher exemplar: Antes de tudo, linda. Esbelta. Elegante. Um olhar inteligente.
Lábios frescos, bem vermelhos. Pele rosada. Cabelos castanhos-claros.
Jóias caríssimas. Não fumava. Não bebia. Não
jogava. Centenas de pessoas paravam para admirá-la. Era discutida.
Na maioria das vezes elogiada. Enaltecida. Permanecia impassível.
Indiferente. Seus olhos azuis pareciam brilhar de orgulho. Incapaz de dar
um sorriso para quem quer que a fitasse. Era um quadro.
O
pior cego não é aquele que não quer ver: é aquele
que não quer ser visto.
Um
homem prevenido vale por dois; dois homens prevenidos não sobra nenhum.
Saca-rolha
é esse instrumento que foi inventado para empurrar a rolha para dentro
da garrafa.
A
alegria do geômetra é ver o círculo pegar fogo.
O
que mais pesa em cima de um travesseiro é a consciência.
Só
uma coisa o homem faz questão de acompanhar durante toda a sua vida
com verdadeiro carinho: a queda dos cabelos.
Liberdade
de imprensa é fácil. Difícil é ser jornalista
livre.
Sogra
é esse parente afastado que se torna cada vez mais próximo.
Como
evoluiu a Odontologia! Cada dia se inventa um aparelho diferente para provocar
uma dor diferente.
Pai
moderno é uma ilha de afeto cercada de contas por todos os lados.
Da
discussão não nasce a luz; nasce a conta da luz.
A
grande luta dos anunciantes de sabão em pó é querer
tornar o seu branco mais branco que o do outro.
Pediatra
é um sujeito de profissão difícil: tem de agradar as
mães sem prejudicar a saúde das crianças.
O
sim mais caro do mundo o homem deposita na igreja, e a mulher fica sacando
o resto da vida.
Agora
que existe o parto sem dor só falta inventarem a conta com anestesia.
Marido
é um homem que passa a metade da vida procurando uma mulher e a outra
metade tentando se livrar dela.
É
mais cômodo ter três mulheres fora de casa do que uma dentro.
O
crime perfeito leva tanto tempo para ser planejado que, às vezes,
o criminoso morre antes da vítima.
O
chato da bebida não é o mal que ela nos pode trazer; são
os bêbados que ela nos traz.
Não
são os cavalheiros que estão acabando; é o "h"
que já não se usa mais.
Com
a primeira folha de parreira surgiu o primeiro problema da moda feminina:
onde colocá-la?
Certos
sujeitos da época do ‘ph’ não se convencem que
já estamos em plena era do ‘f’.
O
dentista: — Não vai doer nada.
A
avó: — No meu tempo as coisas eram muito diferentes.
O
suicida: — Perdoe meu gesto.
O
viciado: —
Essa vai ser a última.
O
sapateiro: —
Depois
alarga no pé.
De
um humorista: Aqui jaz uma gargalhada cercada de choro por todos
os lados.
De
um prefeito: Este foi o único buraco que ele não fez.
De
um açougueiro: A carne é fraca.
De
um coveiro: Chegou a minha vez.
Epitáfio
do Rodolfo:
|
O
táxi é o único veículo que não anda quilômetros;
anda cruzeiros [hoje,
anda reais]. Mas, cada cruzeiro que anda quer
cobrar dois. Por isto, os passageiros têm ódio do táxi.
Mas, não tem importância, porque o ódio do táxi
é muito maior e o chofer leva mais vantagem, porque é um ódio
que vem de dentro para fora. O táxi está sempre em pé
de guerra: quando o motorista desce a bandeirinha, começa o conflito.
É o veículo que mais enguiça, mas raramente traz um
macaco na mala, porque o macaco do táxi anda sempre no volante.2
Quando
um homem escala uma montanha, ninguém toma conhecimento. Quando se
joga de lá de cima, pega logo uma primeira página.
Os
estrangeiros pensam que o Brasil é terra de índios. Chegam
aqui, pegam um táxi e vêem que é mesmo.
Quando
um sujeito fica a espiar as janelas dos vizinhos de binóculo, das
duas uma: ou vai fazer dezessete anos ou já fez faz tempo.4
De
bomba em bomba o mundo vai construindo sua paz.
Conversa
de bêbado entra por uma narina e sai pela outra.
O
Judeu: Faltavam apenas 6 cruzeiros e 50 centavos para ele descer do táxi.
Já eram 80 cruzeiros da noite e ele ainda não havia feito
um bom negócio. Entrou num restaurante e comeu 18 cruzeiros; tomou
8 centavos de café e saiu 10% mais tarde. Na rua, encontrou uma belíssima
mulher, trajada com 48.000 cruzeiros de jóias. Há mais de
2 milhões de cruzeiros que ele não via uma mulher tão
elegante. Convidou-a para um cinema. Ela regateou um pouco, mas, por fim,
cedeu. Sentaram-se, primeiro, em uma confeitaria e bateram um papo de 25
cruzeiros. Depois, assistiram a 12 cruzeiros de CinemaScope: namoraram 6
cruzeiros de entrada e o resto a longo prazo. Um dia, decorridos 85.000
cruzeiros de vida em comum, terminaram tudo. À vista.
Os
Seis 'Gangsters' de Chicago: O primeiro gangster chegou na janela, apontou
a metralhadora para a rua: BANG — BANG — BANG — BANG —
BANG — BANG — BANG — BANG — BANG — BANG! O
segundo gangster escondeu-se atrás do prédio da esquina e
reagiu imediatamente: BENG — BENG — BENG — BENG —
BENG — BENG — BENG — BENG -- BENG! O terceiro gangster
surgiu no prédio em frente e começou a atirar: BING —
BING — BING — BING — BING — BING
— BING
— BING — BING — BING
— BING! Foi quando se ouviu, lá no terraço, o quarto
gangster em ação: BONG — BONG — BONG — BONG
— BONG — BONG — BONG — BONG — BONG —
BONG
— BONG! O quinto gangster saiu do
banco empunhando a sua metralhadora de mão e atirou nos policiais
que cercavam o prédio: BUNG — BUNG — BUNG — BUNG
— BUNG — BUNG — BUNG — BUNG — BUNG —
BUNG — BUNG! O sexto gangster ficou completamente impassível
porque não havia mais vogais.
A
Dúvida: O marido já não acreditava mais naquela história
de dentista. Primeiro, era uma vez por semana, depois passou a três,
e, agora, era todo dia.
A desculpa
não variava nunca: — Querido, hoje vou ao dentista.
Foi por
isto que resolveu tirar tudo a limpo. Quando a esposa se arrumou e saiu,
ele resolveu segui-la. Meia hora depois entrava em um prédio, pegava
um elevador e entrava em um consultório de dentista. Foi aí
que ele passou a dormir calmamente e a viver tranqüilo. E foi aí
que ela passou a ter mais liberdade de traí-lo com o dentista.
Violência:
Segurou a moça pelo braço e fê-la se deitar. Depois,
deu-lhe vários puxões no pescoço. Ela gritou. Ele não
teve a menor reação. Passou a lhe dar tapas no rosto. Ela
tentou se retirar, mas ele a segurou violentamente e a colocou de costas.
Puxou-lhe as pernas, os braços e a lhe começou dar socos nas
costas. Depois de algum tempo, disse apenas: — Agora pode ir. Era
massagista.
Inflação
é um camarada chegar perto do outro e perguntar: — Tem troco
pra mil?
E o outro responder: — Serve três de quinhentos?
O
cigarro
não provoca o câncer. O câncer, sim, é que vive
provocando o cigarro.
Pior
do que a criança do vizinho só a nossa – segundo o nosso
vizinho.
Adiar:
é essa atitude que estamos sempre tomando daqui a pouco.
Cabotino:
É esse sujeito que consegue transformar qualquer assunto numa autobiografia.
Zarolho:
sujeito que tira uma pequena para dançar e saem as duas.
Datilógrapha
conservadora é a que não se conphorma com a ortographia moderna.
Dalitófraga
estrábica: É a que passa o dia inreito trocadno as lestra
e as síbalas.
Datilgfa
pregç n/ precis nem compl as plavras.
Datilógrafa
de kolunixta çossial tem de comtar mezmu é com a revizãu.
—
Sou
branca, meu marido é branco e tivemos um filho preto. Como o senhor
explica isso?
—
Lamento muito, mas quem tem de se explicar é a senhora. Vocês
que são brancos que se entendam.
—
Sonho
sempre com duas mulheres, doutor. Gostaria que o senhor desse um jeito de
eu vê-las em sonhos separados.
Disco voador é um objeto que
ninguém identifica, mas todo mundo fotografa.
Há
dois tipos de esposas: a que arruma a casa e a que se arruma.
Só
poderemos melhorar o mundo distribuindo a verdadeira fé entre todos
os povos do mundo.
Minha
Colaboração Despretensiosa
(Casablanca Carioca)
Analgesina
Vicentina Bucethyldes Pacífica da Crucificação Sossegadíssima
– Dona Gegê, para uns amigos; para outros, Thyldinha –
queria porque queria ser sogra de Asteróide Charuto Humphrey-Bogart
de Magalhães Apocopado, que nunca namorou nem, muito menos, casou
com sua filha Avagina Gardner-Lolobrigida Sossegadíssima Masnentanto,
que gostava de Alambique Destilado Militão, que era fissurado em
Benemérita do Rego da Lua Minguadinha, que era gamadão (gamadão
porque era drag
queen) por Asteróide e pelas sinfonias de Brahms, que
não queria bu-lhu-fas com ela (ele) e muito menos com Brahms e suas
sinfonias brahmsianas. Bem, para encurtar a estória, a pipoca acabou,
o nevoeiro nevoou, Heinrich Strasser descansou, Ilsa Lund lacrimejou, Rick
Blaine se emocionou, Louis Renault só observou, o avião decolou,
o filme findou, as luzes acenderam e o cinema clareou... Ninguém
namorou ninguém, ninguém beijou ninguém, ninguém
ficou com ninguém. As
time goes by... E Analgesina, que queria porque queria ser sogra
de Asteróide e também ser avó de qualquer jeito, frustrada
e desconsolada, tentou se ataganhar em um pé de Cannabis
sativa. Não defuntou, claro – a Cannabis
vergou! – mas, com a decepção, passou o resto da vida
puxando um fuminho de leve, sossegadamente em sua macrobia-abstrata-sossegada.
Na véspera de morrer, aos 99 anos, 9 meses e 9 dias, Analgesina,
que era atéia, se converteu ao Rastafarianismo. Segundo dizem, seu
último vocábulo, antes de entregar a alma ao Criador, foi:
— Ganja! Dizem
também que Bob Marley cantou um reggae
nas exéquias de Analgesina,
que, apesar de não ser católica e muito menos papisa, duraram
nove dias consecutivos. O vazio vacante da venerável vetusta nunca
foi veramente vindicado. Agora que contei esta estorinha carioca [kari'
(homem branco) + oka
(casa) = casa de homem branco],
vou requentar
e devorar, com velocidade moderada, um spaghetti al sugo,
pois estou morrendo de fome. Vocês estão todos convidados para
fazer uma boquinha. Aprocheguem-se.
Pastasciutta