Este
trabalho-estudo, que nada possui de original e que, em ponderável
parte, foi recortado e desenhado de textos disponibilizados na Internet,
tem por objetivo oferecer o melhor de Leibniz, que foi externamente
um cristão convicto e praticante, mas internamente um Iniciado
Rosacruz. Em alguns fragmentos, tive que fazer algumas pequenas edições
para acomodá-los a este tipo de trabalho, mas, como sempre informo,
o pensamento do Autor não foi adulterado ou interpolado. Para
os religiosos, este texto será um colírio; todavia, é
preciso ler as entrelinhas do pensamento leibniziano para se alcançar
seu pensamento místico mais intestino e mais profundo, como,
por exemplo, quando, em relação aos animais, afirma que
não há,
senão, um pequeno número de Eleitos que passa a um maior
teatro. Isto nada tem
a ver com Catolicismo; é Esoterismo Iniciático puro. Pedra...
Planta... Animal... Homem... ... ... Período de Saturno... Período
Solar (Sol)... Período Lunar (Lua)... Período Terrestre
(Terra)... ... ... Aliás, uma coisa que nunca discuti, mas que,
agora, deixo como reflexão: para onde irão as plantas
e os animais depois que morrem? Desaparecem? São dissolvidos
ou o quê?
Breve
Biografia
Descobridor
dos princípios do cálculo diferencial, ao mesmo tempo
em que Newton, o matemático Gottfried Wilhelm Leibniz (que, além
de místico Rosacruz, também foi filósofo, cientista,
diplomata e bibliotecário) julgava possível a criação
de uma linguagem científica universal (characteristica universalis)
que, complementada por um sistema dedutivo simbólico (ars
combinatoria), pudesse substituir a argumentação
discursiva pelo cálculo em todos os campos do saber. A ele é
atribuída a criação do termo função
(1694), que usou para descrever uma quantidade relacionada a uma curva,
como, por exemplo, a sua inclinação ou um ponto qualquer
situado nela. É creditado a Leibniz e a Newton, o desenvolvimento
do cálculo moderno, em particular por seu desenvolvimento da
integral e da Regra do Produto. Demonstrou genialidade também
nos campos da lei, da religião, da política, da História,
da Literatura, da Lógica, da Metafísica e da Filosofia.
Leibniz
nasceu em Leipzig, Alemanha, em 1º de julho de 1646. Filho de um
professor luterano, iniciou cedo seus estudos de História. Órfão
aos seis anos, tornou-se autodidata. Em 1661 ingressou na Universidade
de Leipzig e familiarizou-se com o melhor da Filosofia e da Ciência,
da Metafísica de Aristóteles à dos empiristas ingleses,
do Racionalismo de Descartes aos trabalhos de Campanella, de Kepler
e de Galileu. Doutorou-se em Direito em 1666, em Atdorf, Nuremberg.
Em 1700 ajudou a fundar a Academia de Ciências de Berlim.
Estudioso
e conhecedor de várias ciências, Leibniz, acima de tudo,
foi um filósofo que buscou integrar as diferentes faculdades
da razão. Seu Racionalismo, muito difundido na Alemanha do século
XVII, tornou-se a filosofia academicamente mais influente da época.
Com o nome de Racionalismo de Leibniz-Wolff, firmou-se sobretudo
depois de Kant. O sistema de Leibniz admitia, porém, elementos
do irracional e o conceito de subconsciente.
Nos
estudos matemáticos que o levaram à descoberta do cálculo
infinitesimal, como em outras áreas, o método de Leibniz
era a análise do infinito. Partia do princípio de continuidade,
pelo qual algo só pode passar de um estado a outro mediante um
número infinito de intermediários. As idéias de
continuidade e de plenitude (impossibilidade do vazio) estão
ligadas no mecanismo dinâmico de Leibniz, que destaca as noções
de força e de conatus — criada por Hobbes e entendida
como movimento infinitamente pequeno.
A
concepção do Universo como um plenum contínuo
baseia-se nos dois princípios fundamentais do Racionalismo Leibniziano:
o Princípio da Razão Suficiente e o Princípio
de Perfeição.O primeiro, relacionado
com o Princípio de Não-contradição, aplica-se
às essências possíveis, e explica o porquê
de só os possíveis não contraditórios (compossíveis
ou compatíveis) existem de fato, já que, segundo ele,
todo possível
se caracteriza por sua aspiração a existir.
O segundo explica porque o atual mundo existente é o melhor de
todos os mundos possíveis e o mais perfeito. Voltaire satirizou
o otimismo dessa Filosofia em Candide (1758; Cândido).
Na
Matemática, outra importante contribuição de Leibniz
foi o cálculo do raciocínio. Em vários escritos,
demonstra ter uma concepção clara da linguagem formalizada.
A linguagem seria elaborada de tal modo que os teoremas resultariam
mecanicamente, e um simples cálculo poderia dirimir as controvérsias.
Leibniz
acreditava ser possível explicar racionalmente o mundo sem rejeitar
as concepções cristãs sobre Deus e a criação
do homem. A fim de superar o abismo cartesiano entre o corpo e o espírito,
afirmou que toda a realidade material se compõe de mônadas,
partículas metafísicas invisíveis, de natureza
espiritual, regidas por uma harmonia
preestabelecida e guiadas por uma Inteligência Divina.
Leibniz
morreu – educativamente – solitário e esquecido em
14 de novembro de 1716.
Seu funeral foi acompanhado por seu secretário, única
testemunha de seus últimos dias.
Síntese
do Pensamento Leibniziano
1 - Pontos Fundamentais:
Liberdade
x Determinação: Leibniz admitia uma série
de causas eficientes que determinavam o agir humano dentro da cadeia
causal do mundo natural. Esta série de causas eficientes diz
respeito ao corpo e aos seus atos. Contudo, paralela a essa série
de causas eficientes, há uma segunda série, a das causas
finais. As causas finais poderiam ser consideradas como uma infinidade
de pequenas inclinações e de disposições
da alma – presentes e passadas – que conduzem o agir presente.
Há, como em Nietzsche, uma infinidade imensurável de motivos
para explicar um desejo singular. Nesse sentido, todas as escolhas feitas
se tornam determinantes da e na ação. Cai por terra a
noção de arbitrariedade ou de ação isolada
do contexto. Parece também cair por terra a noção
de ação livre, mas não é o que ocorre. Leibniz
acreditava na ação livre, se ela for ao mesmo tempo contingente,
espontânea e refletida.
Contingência:
A contingência opõe-se à noção de
necessidade, não à de determinação. A ação
é sempre contingente, porque seu oposto é sempre possível.
Espontaneidade:
A ação é espontânea, quando o princípio
de determinação está no agente, não no exterior
deste. Toda ação é espontânea, e tudo o que
o indivíduo faz depende, em última instância, dele
próprio. Isto é equivalente ao princípio místico
de que somos responsáveis por tudo. Nossa liberdade está
indissoluvelmente ligada à categoria da responsabilidade, e nada
– absolutamente nada – ficará sem ser devidamente
ajustado e compensado.
Reflexão:
Qualquer animal pode agir de forma contingente e espontânea. O
que diferencia o animal humano dos demais é a capacidade de reflexão
que, quando operada, caracteriza uma ação como sendo livre.
Os homens têm a capacidade de pensar a ação e, geralmente,
de saber por que agem.
2
- Monadologia e Idéia de Deus:
A
motivação primordial de Leibniz, nomeadamente
por ser um Místico Rosacruz, era promover a paz e a harmonia
entre os homens e entre os povos, ou seja, tentou encontrar uma mathesis
universalis (um método universal capaz de determinar a verdade,
ou, em outras palavras, um método capaz de unificar o conhecimento
em direção à Paz Profunda). Pode-se, certamente,
afirmar que o objetivo cardeal de sua obra foi o de trazer paz e unidade
à Europa, como irretorquivelmente se sabe que empenhou o supremo
limite de suas forças e de sua capacidade intelectual, no intuito
de tentar conglobar os diversos campos do pensamento, e de conciliar
os países envolvidos em conflitos. O primeiro plano de sua mente
sempre foi ocupado pela unificação da política,
da religião e da ciência, tendo como farol iluminador de
suas elucubrações o amor a Deus. Esse ideal encontrou
expressão na Sociedade Daqueles que Amam a Deus. Seus
interesses, pensamento e especulações oscilaram da Filosofia
à Matemática (por caminhos diferentes dos de Newton, descobriu
o cálculo diferencial; também produziu a primeira régua
de cálculo); da Lógica à Alquimia; e da KaBaLa
à Tradição Iniciática, nomeadamente a Filosofia
Rosacruz. E, na sua incansável azáfama de unificar o conhecimento,
esforçou-se em tentar encontrar uma base comum que harmonizasse
o saber até então acumulado pela Humanidade. A unificação
do conhecimento deveria repousar na Academia de Berlim, da qual foi
colaborador. Seu sonho era a abolição da guerra e a possibilidade
de os homens poderem viver em concórdia. Esse mesmo pensamento
foi desenvolvido mais tarde por Kant, em 1795, quando fez publicar a
obra Pela Paz Perpétua, uma constituição
republicana fundada em três princípios: LIBERDADE
dos membros enquanto homens, DEPENDÊNCIA
enquanto súditos (todos os indivíduos que, no sistema
monárquico, estavam em relação de vassalagem a
um suserano) e IGUALDADE enquanto cidadãos.
Induvidosamente, as três
obras filosóficas mais importantes de Leibniz são: Discurso
Sobre Metafísica (1686), Ensaios de Teodicéia
Sobre a Bondade de Deus, a Liberdade do Homem e a Origem do Mal
(1710) e Monadologia (1714) - esta última, publicada
dois anos antes de seu falecimento. A Teodicéia e a
Monadologia exerceram profunda influência sobre o Iluminismo
(movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela centralidade
da ciência e da racionalidade crítica no questionamento
filosófico, o que implica recusa a todas as formas de dogmatismo,
especialmente o das doutrinas políticas e religiosas tradicionais).
Todavia, parte considerável de suas reflexões permaneceu
desconhecida por algum tempo, e outra parte – a esotérica
– jamais foi divulgada. Também emprestou superlativa influência
ao Idealismo Alemão, porém seus Novos Ensaios Sobre
o Entendimento Humano (na qual rejeita a Teoria Empirista de Locke),
ainda que tenham sido concluídos por volta de 1705, só
foram publicados quarenta e nove anos após o seu falecimento,
em 1765. Assim, pode-se, em verdade, dizer que, da obra monumental desse
Ilustríssimo Filósofo, quatro livros são excepcionais,
nos quais expressou seu pensamento metafísico e sua idéia
de Deus, como também defendeu a originalidade do pensamento intelectivo.
A
Filosofia Leibniziana resultou, em última instância, de
uma reação própria ao Dualismo Cartesiano, por
um lado, e, por outro, ao Empirismo Inglês. Não há
duas substâncias, material e espiritual: O Ser é Uno.
E só há uma substância – Espiritual.
No que concerne ao conhecimento intelectivo, este já preexiste
germinalmente no ser, e não se constitui em uma simples reação
às idéias dos sentidos. Contra Descartes [res cogitans
(o sujeito pensante) e res extensa (a coisa extensa, isto é,
o corpo e a realidade deste mesmo ou matéria)] estabeleceu a
Metafísica da Mônada. Contra o Empirismo Inglês
(Locke negava as idéias inatas, pois as admitia como já
completamente desenvolvidas) propôs a Epistemologia Inatista.
Segundo
a Metafísica Leibniziana, mônada significa sem partes –
unidade. Tem-se afirmado que esse conceito proposto por Leibniz é
originário de Giordano Bruno (1546 – 1600). Entretanto,
Robert Fludd (1574 – 1637), contemporâneo de Bacon (1561
– 1626) e de Jacob Boehme (1575 – 1624), alguns anos antes
de Leibniz, havia feito referência a esse vocábulo no seu
Diagrama Sobre a Hierarquia Celestial.2
Mas foi Leibniz quem aprofundou às últimas instâncias
o conceito de Mônada.
A Mônada Leiniziana tem
as seguintes qualidades principais: é uma substância simples,
inextensa e indivisível; só pode começar por criação
e acabar por aniquilamento;
não tem janelas
por onde qualquer coisa possa entrar ou sair.3
As mônadas constituem-se, segundo Leibniz, nos verdadeiros
Átomos da Natureza.
Para prova mais efetiva da existência da mônada, Leibniz
invocou a existência de compostos. Se há substâncias
compostas, há substâncias simples, e os compostos nada
mais são do que associações de simples.
Não
havendo em a Natureza dois seres perfeitamente idênticos, as mônadas
diferem entre si. A mônada só pode se modificar por um
princípio interno, mas respeitado o fato de que sempre
alguma coisa muda e outra permanece. A
mônada ou enteléquia (no aristotelismo, enteléquia
é a realização plena e completa de uma tendência,
potencialidade ou finalidade natural, com a conclusão de um processo
transformativo até então em curso em qualquer um dos seres
animados e inanimados do Universo) é uma substância simples
possuidora de Percepção
e de Apetência,
ou seja, detentora da
faculdade de conhecer e da propriedade de querer e de desejar.
É por isto que não há duas mônadas iguais;
por possuírem qualidades próprias, distinguem-se entre
si (Princípio dos Indiscerníveis). Este Princípio
Metafísico, já conhecido dos Estóicos, foi retomado
no Renascentismo por Nicolau de Cusa (1401 – 1464), que asseverou:
No Universo duas coisas
não podem ser absolutamente iguais. Presentemente
a questão está em aberto, e na Filosofia contemporânea
este tema é, por muitos, considerado indemonstrável.
Almas, segundo Leibniz, são
aquelas mônadas cuja percepção é dotada de
memória. No homem, a alma é racional, pois por seu intermédio
é possível conhecer a verdade (relativa) e alcançar
a razão e as ciências.4
Quanto à existência
de Deus, Leibniz foi categórico: Há
um só Deus, e esse Deus é suficiente.5
E assim, Deus, na filosofia leibniziana, é a razão última
das coisas, constituindo-se de uma substância única, universal,
necessária, perfeita, fonte das existências e das essências.
Deus é, em última reflexão, a unidade primordial.
Deus é, no pensamento leibniziano, portanto, a Mônada
Suprema e origem de todas as mônadas.
Leibniz acompanhou particularmente
a Teodicéia Cristã, reconhecendo em Deus atributos de
onipotência e de onisciência, que, segundo ele, não
encerram qualquer impossibilidade.6
Mas, recolheu no Hermetismo o conceito de que se pode entender Deus
como um círculo ilimitado, cujo centro está em toda parte,
mas cuja circunferência é ilocável. Em Da Origem
Primeira das Coisas foi às últimas conseqüências
e afirmou: Nem na hipótese
de eternidade do mundo se pode escapar à razão última
extramundana das coisas – que é Deus.7
Na Correspondência
com Clarke, Leibniz asseverou que a Inteligência de Deus
nem é mundana nem é supramundana, mas uma Inteligência
que está em tudo, por toda parte e acima de tudo, agindo
sobre todas as coisas, sem que nada possa agir sobre Ela.8
Com base nesses critérios,
Leibniz entendia que os atos de perfeição do homem ocorrem
por influência divina, e os de imperfeição
por conta própria, vale entender, devido à sua natureza
específica limitada. E, na medida de sua imperfeição,
cada criatura poderá sofrer mais ou menos as influências
exteriores. Explicitamente, o pensamento de Leibniz é:
Diz-se
que a criatura atua exteriormente, na medida em que tem perfeição;
e padece a atuação de uma outra, na medida em que
é imperfeita... Assim se a Mônada tiver percepções
distintas, atribui-se-lhe a ação; se confusas, a paixão.9
Mas mônada nenhuma pode
influir fisicamente no interior de outra mônada. Só pode
existir influência ideal ou mental entre as mônadas, o que,
acrescento eu, deve colocar de sobreaviso todos os seres humanos com
o teor de seus pensamentos. Todos os 'pecados' começam
pelos pensamentos desarmônicos. Orai e vigiai. Nas coisas
criadas por Deus, ação e passividade são relativas.
O que em certas circunstâncias é passivo, em outras é
ativo. Mas, mesmo na passividade não há ausência
de movimento. Assim, toda e qualquer relação entre as
mônadas é de natureza metafísica, tendo, segundo
Leibniz, como intermediador o próprio Deus.
Todas as coisas do mundo constituem-se,
então, de Enteléquia e de Matéria.
A matéria é o corpo, que está constituído
de miríades de mônadas subordinadas a uma Mônada
Principal, ou enteléquia dominante – a Alma.
As relações entre alma e corpo tiveram em Leibniz solução
diversa das propostas por Platão, Aristóteles, Agostinho,
Descartes e Spinoza. Na Monadologia é dada a chave para
essa associação ou conformidade da alma com o corpo orgânico:
A
alma segue as suas próprias leis, e o corpo também
as suas, e ambos se ajustam devido à harmonia
preestabelecida entre todas as substâncias, pois
todas elas são representações de um só
Universo.10 (Grifo meu).
Por conseguinte, a Alma é
a Enteléquia do corpo físico, e ambos exprimem todo o
Universo. O corpo por ser de natureza material e pelo fato de toda a
matéria estar unida ao Todo (tudo é plenum);
a alma representando o corpo de maneira sui generis patenteia,
por seu turno, também, todo o Universo. A chave de tudo, para
Leibniz, é a Harmonia
Preestabelecida.
Leibniz distinguiu, ainda,
Espírito de Alma. Os espíritos
têm a possibilidade de entrar em sociedade com Deus.
A reunião de todos os espíritos constitui a Cidade
de Deus, que é o que há de mais sublime dentre as
obras de Deus. Estas inferências foram possíveis a Leibniz
por ter ele considerado os espíritos imagens de Deus, e as almas
apenas espelhos vivos do Universo.11 Revisitar
Santo Agostinho, particularmente A Cidade de Deus, seria uma
esplêndida atividade intelectual.
Considerações
Finais
Conclusivamente, para Leibniz,
o mundo origina-se de Deus por fulgurações, e por Sua
volição criou-o como o melhor de todos os mundos possíveis.
E o mal e suas conseqüências constituem-se no produto final
e acabado oriundo das humanas limitações. Interpretando,
mais ou menos, o pensamento de Leibniz, Deus não é responsável
por eles (o mal e suas conseqüências); só os Deuses-egregóricos
criados pelas mentes humanas doentias poderão, se for o caso,
ser responsabilizados. E nesse sentido, no tempo próprio, cada
ser humano responderá pelos atos que praticou. Ainda que postulasse
tudo estar predeterminado na mente de Deus, Leibniz foi um acrimonioso
defensor da Liberdade. Mas, mesmo que reconhecesse
o livre-arbítrio, este, obviamente, não isenta o ser da
responsabilidade por seus atos. Ao contrário. As escolhas impõem
conseqüências, mas o resultado final, segundo Leibniz, será
o Bem, que sempre haverá de prevalecer. Neste
particular, Platão e Leibniz se aproximam. Realmente, o mal (que
existe porque é fabricado) é oriundo da incompreensão
da necessidade do Bem, como as trevas são a
ausência transitória da LLuz.
Por último, para encerrar
esta sintética reflexão sobre o leibnizianismo, apresentam-se
os atributos (ilimitados e perfeitos) que o Filósofo de Leipzig
sentiu do Deus de seu entendimento: poder, conhecimento
e vontade. Tais atributos também estão presentes
nas mônadas, mas são apenas limitados e existem em proporção
à perfeição que nelas houver. Nas mônadas
criadas, por exemplo, conhecimento e vontade correspondem,
respectivamente, à percepção e à
apetição (desejo). Todavia, no domínio
global de suas especulações, três idéias
centrais e fulgentes permearam todas as suas obras: harmonia (preestabelecida),
continuidade e universalidade. A primeira vinculada à segunda,
e ambas associadas à última, triângulo bussolador
de suas aspirações, com vistas à criação
de uma ciência universal ou, como foi dito mais acima, de uma
mathesis universalis.
Enfim, acompanhando um autor
que não se identifica, concordo que Spinoza
tentou a síntese do Racionalismo Cartesiano com o Panteísmo
neoplatônico; Malebranche tentou a síntese do Racionalismo
com o Platonismo agostiniano; e Leibniz tentará uma síntese
mais vasta, a do pensamento aristotélico-tomista com o empirismo
moderno. Diversamente de Spinoza e de acordo com Malebranche, procurará
compor a necessidade racionalista-matemática com a contingência
e a liberdade. E chegará também à negação
da realidade material, da 'res extensa' cartesiana, resolvendo a realidade
material em uma aparência fenomênica do espírito.
O resultado é que a necessidade universal permanece, e, logo,
também o Panteísmo; e que, com a supressão do mundo
físico, o Racionalismo abre as portas ao Idealismo.
Alguns
Fragmentos do
Pensamento Leibniziano
É
verdade que não nos apercebemos distintamente de todos os movimentos
de nosso corpo, como por exemplo o da linfa (...) mas é preciso
que eu tenha alguma percepção do movimento de cada vaga
de um rio, a fim de poder me aperceber daquilo que resulta de seu conjunto,
isto é, esse grande ruído que se escuta perto do mar.
A
educação pode tudo: ela faz dançar
os ursos.
Uma
mônada (do grego 'monas', unidade) é uma unidade por si
mesma, analisável em princípio ativo denominado alma,
forma substancial ou enteléquia, e em um princípio passivo
dito massa ou matéria primeira. A mônada encerra um tipo
de percepção e de apetição. É uma
substância simples, sem partes. Toda mônada é um
espelho vivo do Universo, a partir de seu ponto de vista. Já
que tudo que existe é uma mônada, um composto de mônadas,
estas são átomos substanciais.
Entendo
por razão, não a faculdade de raciocinar, que pode ser
bem ou mal utilizada, mas o encadeamento das verdades que só
pode produzir verdades; e uma verdade não pode ser contrária
a outra.
A
ação é a operação da força
de agir própria das substâncias. Ela define a substância
como essencialmente ativa. Apenas Deus age sem sofrer a ação
de outrem. Nas substâncias finitas, a ação é
inseparável da paixão. Estando todas as coisas reguladas
idealmente umas às outras pela harmonia, a uma ação
em uma deve corresponder uma paixão nas outras.
Há
dois labirintos do espírito humano: um respeita à composição
do contínuo, o outro à natureza da liberdade; e ambos
têm origem no mesmo infinito.
Entendo
por razão, não a faculdade de raciocinar, que pode ser
bem ou mal utilizada, mas o encadeamento das verdades que só
pode produzir verdades; e uma verdade não pode ser contrária
a outra.
Os
princípios universais nunca poderiam ser conhecidos pelo homem
se não existissem os sentidos, que agem como
fogos vivos, traços luminosos, ocultos dentro de nós,
que esses sentidos fazem aparecer como centelhas que o choque faz sair
do fuzil. Não é sem razão que se acredita que tais
raios de luz assinalem alguma coisa de divino e de eterno que aparece,
sobretudo, nas verdades necessárias.
A
perfeição é a realidade em sua intensidade positiva,
suas afirmações essenciais. A cada grau de perfeição
corresponde um grau de poder e, correlativamente, uma certa limitação.
Ao grau superior de perfeição corresponde um poder infinito,
sem limites: aquele de Deus. Toda perfeição provém
de Deus, que continuamente produz aquilo que há de positivo,
de bom, de perfeito, nas criaturas; as imperfeições são
atribuíveis a uma limitação original de toda criatura.
Quando aparecer uma controvérsia,
já não haverá necessidade de uma disputa entre
dois filósofos mais do que a que há entre dois calculistas.
Bastará, com efeito, tomar a pena na mão, sentar-se à
mesa e dizer um ao outro: calculemos!
A
alma é uma realidade imaterial e dinâmica que funda a unidade
e a identidade de um vivente. A alma é um princípio de
vida e de unidade para um corpo orgânico. Substância simples,
princípio ativo, pode-se denominar também forma ou força
primitiva, tardiamente, enteléquia. Ela é a fonte da ação.
As almas comuns são os espelhos vivos que expressam o Universo.
As almas racionais ou espíritos são as imagens de Deus.
Amar é sentir na felicidade
do outro a própria felicidade.
Também a Lógica,
a Metafísica e a Moral, uma das quais forma a Teologia e a outra
a Jurisprudência, todas as duas naturais, estão repletas
de verdades necessárias, e, por conseguinte, a sua demonstração
não pode provir senão de princípios internos que
se denominam inatos. É verdade que não se deve imaginar
que possamos ler na alma estas leis eternas da razão a livro
aberto, como se lê o édito do pretor no seu livro sem trabalho
e sem pesquisa; basta, porém, que possamos descobri-los em nós
em virtude da atenção, sendo que a ocasião é
fornecida pelos sentidos, e a seqüência das experiências
serve ainda como confirmação à razão, mais
ou menos como as provas servem na aritmética para melhor evitar
o erro do cálculo quando o raciocínio é longo.
A
essência ou a possibilidade de um ser é sua capacidade
de ser pensado, o conteúdo nocional que Deus pôs na existência
ao criar a substância. As proposições que dizem
respeito às essências são as verdades eternas. Os
possíveis dependem somente do entendimento divino, enquanto que
as coisas atuais dependem também de sua vontade. A ciência
dos possíveis é a ciência da inteligência
pura, enquanto que a ciência das coisas atuais (do mundo trazido
à existência) é denominada ciência da visão.
O
melhor é o fim último de todas as coisas. O melhor é
aquilo que é desejado por Deus. Conforme um decreto de Deus que
as cria à sua imagem, o melhor é igualmente desejado por
todas as criaturas, mas, somente na medida de suas capacidades perceptivas
ou afetivas, isto é, mais ou menos confusamente.
Estruturas
inatas geradoras de idéias: Por
isso, emprego de preferência a comparação com um
bloco de mármore que tem veios... Se há veios na pedra
que desenham a figura de Hércules em lugar de qualquer outra,
este bloco lhe estaria já disposto, e Hércules lhe seria
de algum modo como inato, ainda que fosse sempre necessário certo
trabalho para descobrir estes veios e destacá-los pelo polimento,
eliminando o que impede sua aparição. Do mesmo modo, as
idéias e a verdade nos são inatas como inclinações,
disposições, capacidades e faculdades naturais, e não
como ações ou funções, se bem que estas
faculdades vão sempre acompanhadas de algumas ações
correspondentes imperceptíveis.
Na
Teódiceia, Leibniz identifica três tipos de mal:
1º - O mal metafísico,
que deriva da finitude do que não é Deus; 2º
- O mal moral, que advém do homem, não de Deus;
é o pecado; e
3º - O mal físico: Deus o faz para evitar males
maiores, para corrigir.
Leibniz,
para explicar a interação entre a matéria e o espírito,
formulou três hipóteses: 1ª -
ação recíproca; 2ª - intervenção
de Deus em todas as ações; 3ª - a
harmonia pré-estabelecida.
A
unidade substancial... contém tudo aquilo que algum dia lhe acontecerá.
[Sobre este fragmento, Voltaire Schilling comenta: Os
dirigentes europeus, ao adotarem o Euro, como fizeram a partir de 1º
de janeiro de 1999, esforçaram-se exatamente por romper com o
casulo dos Estados nacionais (uma espécie de mônadas político-culturais,
cada uma com sua moeda), que mantiveram por séculos a Humanidade
em quase permanente estado de guerra. A experiência da Unidade
Européia, a "unidade substancial" de Leibniz, concentra
os olhares da Humanidade e provavelmente servirá de inspiração
e modelo para as futuras experiências supranacionais que ainda
irão ser feitas ao longo do milênio que se abre. A mônada
leibniziana, pelo menos no que toca à economia e à política,
finalmente abriu suas janelas. Cabe aos demais países do Planeta
escancará-las para atingirem a definitiva conciliação
universal e o governo mundial.]
A
apetição é a tendência que
nos impele, continuamente, de uma percepção a outra; o
princípio de mudança interna. É regida pelas leis
das causas finais do bem e do mal. A apetição exprime
a mobilidade das almas, as quais não estão jamais em repouso
e tendem continuamente a uma melhor harmonia interior.
Consciência
reflexiva do estado interior, a apercepção acompanha as
percepções distintas. Ato pontual, a apercepção
acrescenta-se, então, à percepção, permanente
atividade expressiva do mundo a partir de um ponto de vista individual.
Em resumo, percepção consciente.
Uma
causa é uma razão real que reside em um ser real cuja
ação explica porque uma coisa (um fenômeno, um acontecimento)
existe e é o que é. A razão suficiente é
o conjunto das condições requeridas para a produção
de um ser ou de um acontecimento, ou seja, a variação
do ser.
Para
que algo exista não é suficiente que seja possível;
é necessário que esse algo seja compossível com
outros que constituem o mundo real.
O
mal é uma privação do ser, ao passo que a ação
de Deus é positiva.
O
que se denomina de luz natural supõe um conhecimento distinto,
e, muitas vezes, a consideração da natureza das coisas
não é senão o conhecimento da natureza do nosso
espírito e dessas idéias inatas, que não
temos necessidade de buscar fora. (Grifo meu).
Contingente
significa aquilo que não é necessário e cujo oposto
é possível porque não implica contradição.
Todos os seres, exceto Deus, são contingentes: suas existências
não decorrem de suas essências. Porém, as proposições,
as verdades, são necessárias ou contingentes. As proposições
necessárias podem ser reduzidas a proposições idênticas,
tais como A = A; já as proposições contingentes
não podem, por um número finito de operações,
ser reduzidas a identidades.
Arquimedes
assume como certo que a balança não se inclinará
em uma direção mais do que na outra, quando tudo estiver
igual em ambos os lados; e, do mesmo modo, todos os que argumentam sobre
a moral e a política, tendo em vista descobertas sobre ações
humanas, usam implicitamente o mesmo fundamento: o de que há
sempre uma razão ou causa que inclina a vontade [a
uma escolha].
A
razão não é outra coisa do que a série infinita
dos requisitos dos fatos, que envolve o Universo em sua integralidade
(passado, presente e futuro), como os decretos de Deus relativos à
existência do mundo.
John
Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 – Harlow, 28 de outubro
de 1704): Nada há
no intelecto que não tenha passado primeiro pelos sentidos. Adendo
de Leibniz: A não ser o próprio intelecto.
Quando
Locke declara que não compreende como a variedade das idéias
é compatível com a simplicidade de Deus, parece-me que
não deve deduzir daí uma objeção contra
o padre Malebranche; pois não há sistema que possa fazer
compreender uma tal coisa. Nós não podemos compreender
o incomensurável e mil outras coisas, cuja verdade não
deixa de nos ser conhecida, e temos o direito de empregá-las
para dar a razão de outras, que dependem delas. Algo de próximo
tem lugar em todas as substâncias simples, em que há uma
variedade de afecções na unidade da substância.
O
destino não é um poder misterioso que fixa antecipadamente
todos os acontecimentos, mas, um encadeamento inevitável das
coisas e dos acontecimentos que decorre de uma escolha livre de Deus.
Há uma escolha na criação, a qual implica uma série
infinita de conseqüências previstas por Deus como envolvidas
na Sua livre escolha. Deus previu, por exemplo, a traição
livre de Judas. O traidor, contudo, é responsável por
seu ato. Deus é responsável pela escolha desse Universo
que contém Judas. Há, por conseguinte, uma co-responsabilidade
entre o homem e Deus nas ações livres.
Deus é o nome que se dá,
habitualmente, à razão última das coisas. Deus
é um ser existente em ato e exterior à série de
coisas existentes e que possui a responsabilidade de atualizá-las.
O
modelo da proposição verdadeira mais simples é
uma identidade (A é A ou A = A). O lugar natural dessas proposições
é o entendimento de Deus, região das verdades. Todas as
verdades, ou bem são verdades de fato ou bem são verdades
da razão.
Um
espírito é uma alma virtualmente reflexiva, uma substância
capaz de agir por si mesma; portanto, capaz de referir-se e de conversar
com outros espíritos.
Já
respondi que todo sentimento é a percepção de uma
verdade, que o sentimento natural é a percepção
de uma verdade inata (ainda que muitas vezes confusa, como o são
as experiências dos sentidos externos; assim, podemos distinguir
as verdades inatas da luz natural, que não contêm nada
que não seja distintamente reconhecível), como o gênero
deve ser distinguido da sua espécie, visto que as verdades inatas
compreendem tanto os instintos como a luz natural.
A
harmonia [pré-estabelecida]
é a justa proporção, a unidade na multiplicidade
ou a diversidade compensada pela identidade. Descobrir prazer em alguma
coisa é vivenciar sua harmonia, sua variedade contrabalançada
pela semelhança. Deus é, Ele mesmo, princípio de
beleza e de harmonia das coisas. A harmonia é, portanto, o objeto
natural de amor. No sistema da harmonia, da concomitância ou hipótese
dos acordos, todas as coisas e acontecimentos do Universo conspiram
em conjunto para o mais belo.
O
termo indivíduo designa o ser singular, único, diferente
dos demais, correspondendo ao termo escolástico 'species infima'
ou à substância primeira de Aristóteles.
Assim,
só Deus (ou o Ser Necessário) tem este privilégio:
se é possível tem de existir necessariamente. E como nada
pode impedir a possibilidade do que não contém qualquer
limite, qualquer
negação, e, conseqüentemente, qualquer
contradição, isto basta para conhecer
a Existência de Deus 'a priori'.
Não
é preciso se imaginar, como pensam alguns, que as verdades eternas,
sendo dependentes de Deus, são arbitrárias e dependentes
da Sua vontade, como Descartes parece tê-lo feito e, posteriormente,
Poiret. Isto não é verdade senão para as verdades
contingentes, cujo princípio é a conveniência ou
a escolha do melhor, ao passo que as Verdades Necessárias dependem
unicamente do seu objeto interno.
Há em Deus a Potência,
que é a fonte de tudo; depois o Conhecimento, que contém
o detalhe das idéias; e enfim a Vontade, que faz as mudanças
ou produções segundo o princípio do melhor. E isto
é o que corresponde, ao que nas Mônadas criadas faz o Sujeito
ou a Base, a Faculdade Perceptiva e a Faculdade Apetitiva. Mas, em Deus,
estes atributos são absolutamente infinitos ou perfeitos; e nas
Mônadas criadas ou nas Enteléquias (ou 'perfectihabies',
como Hermolaus Barbarus traduziu esta palavra) não são
senão imitações à medida da perfeição
que contêm.
Cada
corpo orgânico de um vivente é uma espécie de máquina
divina, ou de um autômato natural, que ultrapassa infinitamente
todos os autômatos artificiais, porque uma máquina feita
pela arte do homem não é máquina em cada uma das
suas partes. Por exemplo: o dente de uma roda de latão tem partes
ou fragmentos que já não nos são algo de artificial
e não contêm mais nada que indique da máquina relativamente
ao uso a que a roda era destinada. Mas as máquinas da Natureza,
isto é, os corpos vivos, são ainda máquinas nas
suas menores partes, até ao infinito. É isto que faz a
diferença entre a Natureza e a Arte, isto é, entre a Arte
Divina e a nossa.
Não
há nada de inculto, de estéril e de morto no Universo.
N ão há caos nem confusão senão na aparência,
mais ou menos como em um lago à distância no qual se veria
um movimento confuso e buliçoso, por assim dizer, de peixes no
lago, sem discernir os próprios peixes... Todos os corpos estão
em um fluxo perpétuo como os rios em que as partes entram e saem
continuamente.
A
Alma não muda de corpo senão pouco a pouco e por graus,
de modo que não é jamais despojada instantaneamente de
todos os seus órgãos; e muitas vezes há metamorfose
nos animais, mas nunca há metempsicose nem transmigração
das Almas; também não existem Almas completamente separadas
nem Gênios sem corpo. Só Deus está inteiramente
separado.
Os
animais, dos quais alguns são elevados ao grau dos maiores animais
por meio da concepção, podem ser chamados de espermáticos;
mas os que entre eles permanecem na sua espécie – isto
é, a maioria –nascem e se multiplicam
e são destruídos como os grandes animais, e
não há, senão, um pequeno número de Eleitos
que passa a um maior teatro. (Grifo
meu).
As
Almas agem segundo as leis das causas finais, por apetites, fins e meios.
Os corpos agem segundo as leis das causas eficientes ou movimentos.
E os dois reinos – o das causas eficientes e o das causas finais
–são harmônicos
entre si.
Descartes
reconheceu que as Almas não podem dar força aos corpos,
porque há sempre a mesma quantidade de força na matéria.
Todavia, acreditou que a alma podia mudar a direção dos
corpos. Mas isto foi porque no seu tempo não se conhecia a lei
da Natureza sobre a conservação da mesma direção
total na matéria. Se a tivesse conhecido, ele teria caído
no meu Sistema da Harmonia Preestabelecida.
Toda
substância é como um mundo completo e como um espelho de
Deus, ou melhor, de todo o Universo, expresso por cada uma à
sua maneira, pouco mais ou menos como uma mesma cidade é representada
diversamente conforme as diferentes situações daquele
que a olha. Assim, de certo modo, o Universo é multiplicado tantas
vezes quantas substâncias houver, e a glória de Deus igualmente
multiplicada por todas essas representações de Sua obra
completamente diferentes.
Como
todo o estado presente de uma substância simples é naturalmente
uma conseqüência do seu estado precedente, do mesmo modo
o presente está prenhe do futuro. [Esta
afirmação faz lembrar Santo Agostinho (354 – 430),
que escreveu: É impróprio afirmar que os tempos
são três: passado, presente e futuro. Mas, talvez, fosse
próprio dizer que os tempos são três: o presente
das coisas passadas..., o presente das coisas presentes... e o presente
das coisas futuras... Existem, pois, na minha mente, três tempos
que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas
passadas, visão presente das coisas presentes e esperança
presente das coisas futuras.]
Quanto
a mim, deixei assentado mais de uma vez que, a meu ver, o espaço
é algo puramente relativo, como o tempo; a saber, na ordem das
coexistências, como o tempo na ordem das sucessões. De
fato, o espaço assinala em termos de possibilidade uma ordem
das coisas que existem ao mesmo tempo, enquanto existem junto, sem entrar
em seu modo de existir. E quando se vêem muitas coisas juntas,
percebe-se essa ordem das coisas entre si.
O
livre-arbítrio opõe-se ao que é restrito, à
ignorância e ao erro, que reduzem ou eliminam a possibilidade
positiva de fazer o que se deseja. Portanto, liberdade ou livre-arbítrio
não devem ser confundidos com um poder mágico, como viria
a ser uma vontade superior à inclinação e indiferente
às apetições e às percepções.
Deus
prevê as futuras escolhas das criaturas; prevê, assim, sua
predeterminação futura, que não necessita: dá
à vontade humana sua eficácia, pois é o concurso
de Deus às operações humanas.
O
prazer, a volúpia, é a percepção da harmonia.
Agradável é o objeto do qual se percebe a volúpia.
O belo é aquilo cuja harmonia é percebida clara e distintamente.
A harmonia é a diversidade compensada pela identidade. Ou ainda
a harmonia é o uniformemente disforme. A variedade traz o deleite,
mas é reduzida à unidade e à conciliação.
A conformidade procura o prazer, mas de maneira nova, admirável
e inexplicável.
Demonstra-se a partir do efeito,
e para falar com a Escola, 'a posteriori', o simples fato de que o existente
foi criado, porque ele já é o melhor. Isso é provado
por uma demonstração irrefutável, porque a primeira
e única causa é o espírito, a causa motora do espírito,
ou o fim das coisas, é a harmonia, e a do espírito absolutamente
perfeito é a harmonia suprema.
As
almas são espelhos vivos da própria Divindade ou do próprio
Autor da Natureza, capazes de conhecer o sistema do Universo e, de certa
forma, imitá-lo por amostras arquitetônicas, sendo cada
espírito como que uma pequena divindade em seu domínio.
Segundo
Leibniz, os pecados devem acarretar consigo o respectivo castigo,
conforme a ordem da Natureza e até em virtude da estrutura mecânica
das coisas. Da mesma forma as belas ações atrairão
as suas recompensas pelas vias mecânicas, relativamente aos corpos.
Muito embora, isso não possa nem deva acontecer imediatamente.
Um
Comentário Final
Não
é só o
espaço que é algo puramente relativo, como o tempo.
Tudo é relativo ou, fisicamente, tudo depende do referencial.
Uma coisa que me ocorreu agora é a idéia de Deus. O Deus
dos nossos catorze anos já não era mais o mesmo Deus dos
nossos sete anos. E hoje, se acreditamos em Deus, Ele, certamente, é
bem diferente Daquele da nossa adolescência. E mais: na realidade,
a nossa idéia de Deus depende de nossa cultura e do grau de evolução
em que nos encontramos. Dez, cem, mil, um milhão de pessoas poderão
falar de Deus à vontade, mas cada uma tem sua própria
concepção-interpretação de Deus. Sem avaliar,
porque não cabe qualquer tipo de avaliação, é
francamente constatável que a idéia de Deus de um muçulmano
é inteiramente diferente da idéia de Deus de, por exemplo,
um católico. Portanto, temos que, mais do que ter muito cuidado,
aprender a ser humildes com relação às nossas crenças
e às nossas afirmações, que, muitas vezes, estão
mais para imposições do que para simples afirmações.
Ora, se a vida e a Vida estão fundamentalmente baseadas em movimento
e ascensionabilidade, o que poderá ser a Verdade? Quem poderá
dizer que sabe, efetivamente, alguma coisa? Quem poderá acusar
alguém apenas por discordar? É; mas, lamentavelmente,
há pessoas que ainda são assim! Então, no que concerne
à idéia de Deus, ela, em nossa consciência, vai
se modificando na mesma medida em que nós vamos sofrendo mudanças
na nossa maneira de ser e de pensar. Humildade! Humildade! Humildade!
Bolas! Enfim, se Deus caritas est, porque nós, que nos
consideramos Seus filhos, haveremos de ser tão estupidamente
intolerantes e tão absurdamente autoritários? Para envergonhá-Lo
Para irritá-Lo? Ou o quê?
2. Citado no livro O Universo dos Números, p. 195. One
is all and all is one. Monad begets monad and reflects light in itself.
Ibid., p. 160. Franz Mercurius Van Helmont também fez referência
à palavra mônada no sentido de Unidade. Para os conhecedores
da Doutrina Secreta, nada é (foi ou será) criado. Tudo
é tão-somente transformação. Nesse sentido,
Mônada designa o Athma em conjunção
com Buddhi e o Manas Superior.
Essa trindade é eterna. Ao se concluir a vida ilusória
e condicionada, os dois últimos são absorvidos no primeiro
(consciente ou inconscientemente). Portanto, Mônada é a
centelha que emana do raio incriado.
3. A Monadologia, Leibniz, p. 63.
4. Ibid., pp. 64 e 65. Na Correspondência com Clarke,
p. 412, Leibniz afirmou: a alma humana é uma parte de um
composto de que o corpo é a outra parte; e essas duas partes
atuam mutuamente uma sobre a outra, como as partes de um mesmo todo.
O ser haverá de realizar que tudo compõe uma Unidade.
5. Ibid., p. 67.
6. Discurso de Metafísica, Leibniz, p. 77.
7. Op. cit., p. 393.
8. Op. cit., p. 412.
9. A Monadologia, p. 68.
10. Op. cit., p. 71.
11. A Monadologia, p. 72. Cs. também o Discurso
de Metafísica, pp. 108 e 109.
Bibliografia:
LEIBNIZ,
Gottfried Wilhelm. A monadologia; Discurso de metafísica;
Novos ensaios sobre o entendimento humano; Da origem primeira das coisas;
O que é idéia; Correspondência com Clarke.
In: OS PENSADORES - HISTÓRIA DAS GRANDES IDÉIAS DO MUNDO
OCIDENTAL. Tradução de Marilena de Souza Chauí
Berlinck, Luiz João Baraúna e Carlos Lopes de Mattos.
1ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974, pp. 61-468.
ORDEM
ROSACRUZ - AMORC. O Universo dos números/Number systems and
correspondences. Trad. 2ª ed. Curitiba: Grande Loja do Brasil,1983,
240 p.