Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Introdução e Objetivo
Deste Agradável Estudo

 

 

 

Jean de La Fontaine (Château-Thierry, 1621 – Paris, 1695) é um poeta e fabulista francês. É considerado o pai da fábula moderna; contou estórias que nos fazem pensar! De origem burguesa, estudou Teologia e Direito e acabou por assumir o trabalho paterno como inspetor de águas e florestas. Priva com poetas e literatos, como Racine, Molière, Boileau e outros. É um típico escritor classicista, no sentido de que o Classicismo não propicia a expressão do sentimento, que é o núcleo da poesia lírica. No Classicismo, os gêneros poéticos mais cultivados são o satírico e o didático, e em ambos se destaca Jean de la Fontaine.

 

Na introdução da sua primeira edição do livro Fábulas, La Fontaine escreveu: Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes, oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso... Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele, e, nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta.

 

Os temas das suas fábulas não são novos, mas, sim, herdados da tradição popular, de Fedro e de Esopo; mas são originais os comentários e as digressões, que formam, em palavras da sua autoria, uma ampla comédia em cem atos diferentes. Mais interessante do que a moralidade didática destas fábulas é a sua delicada sátira, expressa com métrica variada, segurança lingüística e notável perfeição compositiva.

 

Este estudo agradável que acabei de concluir recorda alguns pensamentos, algumas máximas e algumas fábulas de La Fontaine. Quem não os conhece, conhecerá; quem já os conhece, recordará. Você se lembra de Aldacir Louro e de Aluísio Martins? Recordar é viver; eu ontem sonhei com você! Bem, de uma certa forma, recordar e revisitar são também formas de aprender e de apreender, de reaprender e de reapreender. Um exemplo disto são as Iniciações Místicas e as Iniciações que a vida nos oferta e disponibiliza todos os dias. Não há duas Iniciações iguais; não há duas experiências vivenciais iguais. Sempre haverá nuanças e diferenças. Sempre aprendemos e apreendemos alguma coisa nova. E também sempre reaprendemos e sempre reapreendemos. Em última instância, viver é aprender, apreender, reaprender e reapreender. Portanto, quando é o caso, revisitar é muito bom.

 


 

 

Pensamentos, Fábulas
e
Regras de Conduta Lafontainianas

 

 

 

 

La Fontaine

La Fontaine

 

 

 

A fábula é uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato.

 

Toda força será fraca, se não estiver unida.

 

O homem é feito de tal modo que, quando alguma coisa incendeia a sua alma, as impossibilidades desaparecem.

 

A razão do mais forte é sempre a melhor.

 

Paciência e tempo dão mais resultado do que força e raiva.

 

Sobre as asas do tempo, a tristeza vai-se embora.

 

Só o trabalho é o capital não sujeito a falências.

 

Quem julga caçar é caçado.

 

A amizade é como a sombra na tarde – cresce até com o ocaso da vida.

 

A dor é sempre menos forte do que a lamentação.

 

Se quiser falar ao Coração dos homens, há que se contar uma história. Dessas onde não faltem animais ou deuses e muita fantasia. Porque é assim – suave e docemente que se despertam as consciências.

 

É bom falar; melhor é se calar. Mas, quando em excesso, os dois são maus.

 

Em todas as situações, deve-se considerar o objetivo.

 

Ao longo da tua vida, tem cuidado para não julgares as pessoas pelas aparências.

 

Nem a fortuna nem a grandeza são, por si sós, suficientes para sermos felizes.

 

Podemos ler nas testas daqueles que vivem cercados por um luxo insensato que a fortuna vende aquilo que se pensa que ela dá.

 

Não poucas vezes, esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele.

 

Lamentamos sempre aquilo que damos aos maus.

 

O símbolo dos ingratos não é a Serpente, é o Homem.

 

Geralmente, perdoamos tudo a nós próprios e nada aos outros.

 

As pessoas que não fazem barulho são perigosas.

 

Todos se dizem amigos; mas doido é quem acredita. Nada há de mais banal do que esse nome; nada é mais raro do que isto.

 

Correr não adianta; é preciso partir a tempo. (Com cuidado e zelo, vence-se melhor do que com força física).

 

A excessiva atenção que se presta ao perigo faz que muitas vezes nele se caia.

 

A ausência é a causa de todos os males.

 

Não falar para o seu século é falar com surdos.

 

E cada um acredita, facilmente, no que teme e no que deseja.

 

Um autor estraga tudo quando pretende fazer bem de mais.

 

Nada há de mais perigoso do que um amigo ignorante; mais vale um sábio inimigo.

 

Trabalhai! Fazei alguma coisa; é o alicerce mais seguro.

 

Aprendei que todo o adulador vive à custa de quem o escuta.

 

O trabalho, quando feito com paciência, tem melhor resultado do que a força e a imprudência daqueles que, nervosos, tentam realizar suas obrigações.

 

A vergonha de confessar o primeiro erro nos leva a muitos outros.

 

 

 

A Cigarra e a Formiga

 

 

 

 

 

 

Uma cigarra feliz
Passou o verão se divertindo,
E no primeiro dia de inverno,
Viu que estava faminta,
De carne e pão
Nenhum pedaço tinha!
Então, como pedinte foi
À sua vizinha formiga
Para pedir emprestado
Um pouco de trigo para comer
Até a estação acabar.
'Eu lhe pagarei', disse ela
'Com palavra de animal
Duas vezes a mais
Antes de a colheita acabar.'
A formiga gosta de ajudar
(E possa a auxiliar)
Dando um pouco para emprestar
'Como passou o verão?'
Perguntou sem hesitação
À pedinte de pão
'De dia e noite cheguei
Cantando o verão passei.'
'Você cantava?
Agora terás que dançar.'

 

 

A Lebre e a Tartaruga

 

 

 

 

 

 

A lebre vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em que encontrou a tartaruga.

— Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida, serei a vencedora desafiou a tartaruga.

A lebre caiu na gargalhada.

Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!

Por acaso, você está com medo de perder? perguntou a tartaruga.

É mais fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você respondeu a lebre.

No dia seguinte, a raposa foi escolhida para ser a juíza da prova. Bastou dar o sinal da largada para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga não se abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que resolveu tirar uma soneca. "Se aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que eu a ultrapasso" pensou.

A lebre dormiu tanto que não percebeu quando a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante, passou. Quando acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas, para sua surpresa, a tartaruga, que não descansara um só minuto, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar.

Deste dia em diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta. Quando dizia que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma certa tartaruga...

 

 

 

A Lebre e a Perdiz
(Tradução: Barão de Paranapiacaba)

 

 

 

Dos miseráveis
Nunca zombeis.
Quem diz que sempre
Feliz sereis?


Mais de um exemplo
Do sábio Esopo
Conspira em prova
Do nosso escopo.


O que em meus versos
Agora cito
Foi noutros termos
Por ele escrito.


Tinham num campo
Lebre e perdiz
(Ao que parece)
Vida feliz.


Uns cães se achegam
Do lar tranqüilo;
Vai longe a lebre
Buscando asilo.


Perde-lhe o rastro
Toda a matilha,
E nem Lindóia
Lhe dá na trilha.


De quente corpo
A emanação
Ao faro a indica
De um fino cão.


Filosofando,
Nelusco arteiro,
Conhece a lebre
Só pelo cheiro.


No encalço aperta
Da fugitiva;
Não quer que a presa
Lhe escape viva.


"A caça foi-se
(Diz Carabi);
Acreditai-me;
Nunca menti".


Cansada, a lebre
Fugiu, correndo;
Ao pé da furna
Caiu, morrendo.


Diz, por motejo,
A companheira:
"Pois não campavas
De ser ligeira!


Teus pés velozes
Pra que prestaram
Se dos molossos
Te não livraram?"


Enquanto zomba
Da desgraçada
Dá-lhe a matilha
Rude assaltada.


Fia das asas
O salvamento.
Louca esperança!
Vão pensamento!


Do açor as garras,
Mísera, esquece!
Mal ergue o vôo,
Nelas perece.

 

 

 

O Lobo e os Pastores

 

 

 

 

 

Cheio de humanidade,
Certo lobo
(se é que há lobos tais neste mundo)
Um dia refletiu sobre sua crueldade
De modo mais profundo.
Embora fosse cruel só por necessidade,
(— Todos me odeiam — diz)
Vê no lobo cada um,
O inimigo comum.
Cães, aldeões, caçadores,
Todos se juntam a fazer-lhe uma guerra.
Júpiter, no alto, está tonto com seus clamores;
De lobos, por isso, é tão deserta a Inglaterra:
Nossa cabeça a prêmio lá foi posta.
O mais humilde fidalgote gosta
De iguais decretos contra nós baixar.
Mal um fedelho o choro principia
E logo a mãe com o lobo o passa a ameaçar
Tudo por causa, só, de um cão rabugento
Que eu de parte deixar preferiria.
Pois nada mais que vida haja tido comamos!
Pastemos brotos, relva e de fome morramos!
Será tal sorte, acaso, pior mal
Do que atrair o ódio universal?
Isto dizendo, viu pastores que, em um prado,
Estavam a jantar
Um cordeirinho assado Ao espeto.
Oh! — diz ele — penitente,
Eu me confesso réu
Do sangue dessa gente,
E eis que seus guardiões
A devoram, pastores e seus cães;
Por que eu, lobo, terei remorsos e vergonha?
Não, pelos deuses, não!
De mim não vão zombar!
O cordeirinho eu hei de mastigar
Sem que no espeto ponha;
Ele, a mãe em que mama, o pai e seus parentes
Jamais serão poupados por meus dentes!
Estava certo o lobo.
Então nós, que fazemos
Opíparos festins comendo animais,
Motivo para reduzi-lo temos
A manjares somente celestiais?
Não tem ele também de encher o seu surrão?
Pastores, só está o lobo sem razão
Quando um mais forte dela o priva:
Quereis que como anacoreta viva?

 

 

O que dá preço às coisas é a sua raridade.

 

A maior desgraça é merecer a desgraça.

 

Jamais enganamos por bem.

 

Não há bem sem mal, nem prazer sem preocupações.

 

Nunca Vivemos. O que fazemos é esperar a Vida.

 

Nada há e inútil para as pessoas de bom senso.

 

A morte nunca surpreende o sábio; ele está sempre pronto para partir.

 

 

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jean-de-la-fontaine/pag/4.html

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jean-de-la-fontaine/pag/3.html

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jean-de-la-fontaine/pag/2.html

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jean-de-la-fontaine.html

http://www.pensador.info/
autor/Jean_de_la_Fontaine/2/

http://www.pensador.info/
autor/Jean_de_la_Fontaine/

http://www.rivalcir.com.br/
frases/jeanlafontaine.html

http://www.cancaonova.com/portal/canais/
cantinho/cantinho/historias/diversas_view.php?id=19

http://www.gargantadaserpente.com/
fabulosa/lafontaine/lebre_perdiz.shtml

http://www.nossachacara.com/bruno/
fabulas/a_lebre_ea_tartaruga_lafontaine.htm

http://pt.wikisource.org/
wiki/A_Cigarra_e_a_Formiga

http://tonaaula.wordpress.com/
2009/04/01/fabulas-escritas-na-aula/

http://www.qdivertido.com.br/
verpesquisa.php?codigo=7

http://www.vidaslusofonas.pt/
jean_de_la_fontaine.htm

http://cienciahoje.uol.com.br/
controlPanel/materia/view/910

http://www.gutenberg.org/
browse/authors/l#a1758

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Jean_de_La_Fontaine

 

Fundo musical:

Recordar é Viver (Aldacir Louro e de Aluísio Martins)

Fonte:

http://lulluzinha3.ifrance.com/carnaval.htm