LIBERTE-SE DO PASSADO
(1ª Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Informação Preliminar

 

 

 

Este estudo se constitui da 1ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados na obra Liberte-se do Passado (título do original: Freedom From The Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jiddu Krishnamurti

Jiddu Krishnamurti

 

 

 

Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.

 

O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.

 

 

 

Fragmentos Krishnamurtianos

 

 

 

Através das idades, o ser-humano-aí-no-mundo vem buscando uma certa Coisa além de si próprio, além do bem-estar material uma Coisa que se pode chamar Verdade, Deus ou Realidade, um estado atemporal algo que não possa ser perturbado pelas circunstâncias, pelo pensamento ou pela corrupção humana. Mas, não podendo encontrar essa Coisa sem nome e de mil nomes que sempre buscou, o ser-humano-aí-no-mundo cultivou a fé fé em um salvador ou em um ideal, fé que, invariavelmente, sempre gerou a violência.

 

De maneira geral, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais e vazias. Não somos originais. Temos vivido das coisas que nos têm dito ou guiados por nossas inclinações, nossas tendências ou, ainda, impelidos a aceitar os blablablás pelas circunstâncias e pelo ambiente. Somos o resultado de toda espécie de influências, e em nós, como regra, nada existe de novo, nada descoberto por nós mesmos, nada original, inédito, claro. Consoante a história teológica, nos garantem os guias religiosos que, se observarmos determinados rituais, recitarmos certas preces e versos sagrados, obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões e se nos abstivermos dos prazeres sexuais, então, após torturar suficientemente o corpo e o Espírito, encontraremos uma certa Coisa além desta vida desprezível. É isto o que têm feito, no decurso das idades, milhões de indivíduos ditos religiosos, quer pelo isolamento, nos desertos, nas montanhas ou em uma caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente a se ajustar a padrões preestabelecidos. Mas, a mente que foi torturada e subjugada, a mente que deseja fugir a toda agitação, a mente que renunciou ao mundo exterior e se tornou embotada pela disciplina e pelo ajustamento, por mais longamente que busque, o que achar será e estará em conformidade com sua própria deformação.

 

 

 

 

A causa primária da desordem em nós existente é estarmos buscando a realidade prometida por outrem; mecanicamente seguimos todo aquele [e tudo aquilo] que nos promete e nos garante uma vida espiritual confortável.

 

A pergunta sobre se há Deus, Verdade ou Realidade ou como se queira chamá-Lo jamais será respondida pelos livros, pelos sacerdotes, pelos filósofos ou pelos salvadores. Ninguém e nada podem responder a esta pergunta, porém, somente vós mesmos, e esta é a razão por que deveis vos conhecer. Só há falta de madureza na total ignorância de si mesmo. A compreensão de si mesmo é o começo da Sabedoria.

 

Cada um de nós é o depósito de todo o passado. O indivíduo é o ente humano que representa toda a Humanidade. Toda a História Humana está escrita em nós.

 

Desejo de poder, posição, prestígio, nome, sucesso etc. sempre suscitaram ódio, antagonismo, brutalidade e guerras intermináveis.

 

 

Ódio

 

 

Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, pelas revoluções, pelas reformas, pelas leis e pelas ideologias falharam completamente, pois, não mudaram a natureza básica do ser-humano-aí-no-mundo, e, portanto, da sociedade.

 

Haveremos de reconhecer o fato central de que, como indivíduos, como entes humanos seja qual for a parte do Universo em que vivamos, não importando a que cultura pertençamos somos inteiramente responsáveis por toda a situação do mundo. Somos, cada um de nós, responsáveis por todas as guerras, geradas pela agressividade de nossas vidas, pelo nosso nacionalismo, pelo nosso egoísmo, pelos nossos deuses [inventados por nós], pelos nossos preconceitos, pelos nossos ideais, pois, tudo isso está a nos dividir e a nos separar. Assim, só quando percebermos, não intelectualmente, porém realmente, tão realmente como reconhecemos que estamos com fome ou que sentimos dor, que somos os responsáveis por todo este caos, por todas as aflições existentes no mundo inteiro, porque para isso contribuímos em nossa vida diária e porque fazemos parte desta monstruosa sociedade, com suas guerras, suas divisões, sua fealdade, sua brutalidade e sua avidez, só então poderemos [começar a] agir.

 

A Verdade não tem caminho, e esta é a sua beleza; ela é viva. A Verdade é algo que vive, que se move, que não tem pouso, que não tem templo, mesquita ou igreja, e que a Ela nenhuma religião, nenhum instrutor, nenhum filósofo poderá nos levar. Para encontrá-La, não poderemos depender de ninguém. Não há guia, não há instrutor, não há autoridade que nos conduza à Verdade.

 

Normalmente, gostamos de culpar os outros, o que é uma forma de autocompaixão.

 

Quando consideramos o que está ocorrendo no mundo, começamos a compreender que não há processo exterior nem processo interior; há só um processo unitário, um movimento integral, total, sendo que o movimento interior se expressa exteriormente, e o movimento exterior, por sua vez, reage ao interior.

 

A maioria das pessoas não deseja mudar, principalmente aquelas que se acham em relativa segurança, social e economicamente, ou que conservam crenças dogmáticas e se satisfazem em aceitar a si próprias e às coisas tais como são ou em forma ligeiramente modificada.

 

Quando pensamos isto é dificílimo, está fora do meu alcance, fechamos o caminho, cessamos de investigar e, temporariamente, será completamente inútil prosseguir.

 

Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos um sistema, e vós tão sem juízo que o seguísseis, estaríeis meramente a copiar, a imitar, a vos ajustar e a aceitar, e, fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em vós mesmos a autoridade de outrem, da qual resultaria conflito entre vós e essa autoridade. Pensais que deveis fazer esta e aquela coisa porque alguém mandou fazer e, no entanto, sois incapaz de fazê-la. Tendes vossas peculiares inclinações, tendências e pressões, que colidem com o sistema que julgais dever seguir e, por conseguinte, aí existe uma contradição. Levareis, assim, uma vida dupla, entre a ideologia do sistema e a realidade de vossa existência diária. No esforço para vos ajustar à ideologia, recalcais a vós mesmos e, no entanto, o que é realmente verdadeiro não é a ideologia, porém, aquilo que sois. Se tentardes vos estudar de acordo com outrem, permanecereis sempre um ente humano sem originalidade.

 

Poderá, algum dia, a autoridade de algo ou de alguém (de um livro, de um instrutor, da esposa ou do marido, dos pais, de um amigo ou da sociedade) promover a ordem interior em nós? Não. A ordem imposta de fora gera sempre, necessariamente, a desordem.

 

A tradição sempre criou uma colossal indolência, uma escravizante aceitação e uma retrogressiva obediência. Para mudarmos, não poderemos contar com outrem, seja um instrutor, seja um deus, seja uma crença, seja um sistema, seja uma pressão, seja uma influência externa.

 

 

Tradição

 

 

Quando rejeitarmos toda autoridade, não teremos mais medo. Quando rejeitarmos algo falso que, há gerações, trazemos conosco, aumentaremos a nossa energia, e ficaremos com mais capacidade, com mais ímpeto, com maior intensidade e com maior vitalidade. Se ainda não sentimos isto, é porque ainda não largamos a carga, ainda não nos livramos do peso morto da autoridade.

 

 

Andando

 

 

Quando já não contarmos mais com a ajuda de nenhuma pessoa e/ou de nenhuma coisa, estaremos livres para fazer descobertas. Quando há liberdade, há energia. Quando há liberdade, não há medo, e a mente sem medo é capaz de infinito amor. E o amor poderá fazer o que quiser.

 

A compreensão de nós mesmos não requer nenhuma autoridade, nem a do dia anterior nem a de há mil anos, porque somos entidades vivas, sempre em movimento, sempre a fluir e jamais se detendo. Se olharmos a nós mesmos com a autoridade morta de ontem, nunca compreenderemos o movimento vivo, a beleza e natureza deste movimento.

 

Livrar-se de toda autoridade, seja própria, seja de outrem, é morrer para todas as coisas de ontem, para que a mente seja sempre fresca, sempre juvenil, inocente, cheia de vigor e de paixão. Só neste estado é que se aprende e que se observa.

 

Para nos tornarmos livres, não poderemos transportar a carga de opiniões, de preconceitos e de conclusões trastes imprestáveis que juntamos no decurso dos últimos dois mil anos ou mais. Para nos tornarmos livres, deveremos iniciar a marcha como se nada soubéssemos.

 

 

 

 

Deixemos para trás todas as lembranças de ontem!

 

Não há caminho para a realidade, como não o há para a verdade. Toda autoridade, de qualquer espécie que seja, sobretudo no campo do pensamento e da compreensão, é a coisa mais destrutiva e danosa que existe. Os guias destroem os seguidores, e os seguidores acabam destruindo os guias. Tendes de ser vosso próprio instrutor e vosso próprio discípulo. E, neste processo, questionar tudo o que foi aceito como valioso e necessário.

 

 

 

 

Devemos estar cônscios de todo o campo de nosso próprio ser, que é constituído das consciências individual e social. É só quando a mente transcende as consciências individual e social [é isto que eu denomino transrazão], que poderá se tornar a Luz de si mesma, a Luz que nunca se apaga!

 

De nada serve ficar sentado em um canto meditando sobre nós mesmos. Não podemos existir sozinhos. Só existimos em relação com as pessoas, com as coisas e com as idéias. Só estudando a nossa relação com as pessoas e com coisas tanto exteriores como interiores, começaremos a compreender a nós mesmos. Qualquer outra forma de compreensão é mera abstração, e ninguém pode se estudar abstratamente.

 

 

Estamos Todos Interconectados

Estamos Todos Interconectados

 

 

Qualquer mente que leve a carga do passado é uma mente lamentável.

 

Aprender é um movimento ilimitado, sem o passado.

 

Para sermos completamente sensíveis a tudo o que decorre das exigências da vida, não deve haver separação entre o organismo e a psique. Para compreendermos qualquer coisa, teremos de viver com ela, observá-la, conhecer todo o seu conteúdo, toda a sua natureza, toda a sua estrutura e todo o seu movimento.

 

Nossa mente será imprestável, se estiver enredada em opiniões, juízos e valores.

 

Quando condenamos ou justificamos, não podemos ver com clareza, e também não podemos fazê-lo quando nossa mente está a tagarelar incessantemente. Não observamos, então, o que é; só olhamos nossas próprias projeções. Cada um de nós tem uma imagem do que pensa ser ou do que deveria ser, e esta imagem, este retrato, nos impede inteiramente de ver a nós mesmos como realmente somos.

 

 

Mona Monstra

Mona Monstra

 

 

Para podermos nos compreender, necessitaremos ter muita humildade. Um ser-humano-aí-no-mundo seguro de si [ancorado na imutabilidade] é um ente morto.

 

Como poderemos ser livres para olhar e aprender, quando nossa mente, da hora do nascimento à hora da morte, é moldada, por uma determinada cultura, no estreito padrão do ego? O fato é que, há séculos, vimos sendo condicionados pela nacionalidade, pela casta, pela classe, pela tradição, pela religião, pela língua, pela educação, pela literatura, pela arte, pelo costume, pela convenção, pela propaganda de todo gênero, pela pressão econômica, pela alimentação que tomamos, pelo clima em que vivemos, pela nossa família, pelos nossos amigos, pelas nossas experiências — ou seja, por todas as influências possíveis e imagináveis — e, por conseguinte, nossas reações a cada problema são condicionadas.

 

Para entrarmos em contato com uma árvore, teremos de tocá-la com a mão, e a palavra não nos ajudará a tocá-la.

 

 

Árvore

 

 

Reagiremos a qualquer desafio segundo o nosso condicionamento, e como o nosso condicionamento é inadequado, de maneira geral, costumamos reagir sempre inadequadamente.

 

 

Luta

 

 

Os condicionamentos nos fazem viver sempre no passado, com os mortos. O fato é que nos vemos perturbados a respeito da vida, da política, da situação econômica, do horror, da brutalidade e do sofrimento existentes tanto no mundo como em nós mesmos, e esta perturbação nos revela quão estreitamente condicionados estamos. E vivemos culpando sempre, por exemplo, os outros, o nosso ambiente e a situação econômica.

 

De maneira geral, o que acontece é que criamos uma verdadeira rede de fugas, e estamos e vivemos dominados pelo hábito da fuga.

 

 

 

 

O nacionalismo [ufanista] é um perigo. O nacionalismo [ufanista] leva à autodestruição. [Qualquer semelhança desta citação com a Festa da Selma recentíssima em Brasília (8 de janeiro de 2023) não é mera coincidência! Festa da Selma nunca mais!]

 

 

8 de janeiro de 2023
Festa da Selma:
radicais bolsonaristas usaram este código
para organizar a tentativa frustra de golpe de Estado, em Brasília.

 

 

Bandeiras

 

 

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é defender o meu Brasil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é ver contente a Mãe Gentil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é não ter temor servil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é manter o garbo juvenil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é ser um patriota varonil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é fechar o STF abominábil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é expulsar ministro vil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é açular o povão asnil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é fazer Brasília virar brasil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é rasgar a Carta desútil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é chumbo, canhão e fuzil.

Ou ficar a Pátria livre
ou morrer pelo Brasil.
Para mim, savoir-vivre
é Festa da Selma febril.

 

A maioria de nós percorre a vida desatentamente, reagindo sem pensar, de acordo com o ambiente em que fomos criados, e tais reações só acarretam mais servidão, mais condicionamento. Mas, no momento em que aplicamos toda a atenção aos nossos condicionamentos, ver-nos-emos inteiramente livres do passado, e, naturalmente, ele se desprenderá de nós.

 

Se pudermos nos tornar cônscios da totalidade, agiremos sempre com nossa atenção total, e não com uma atenção parcial [limitada e, geralmente, preconceituosa]. Importa compreender isto, porque, quando se está cônscio de todo o campo da consciência, não há atrito [nem preconceitos]. Quando se divide a consciência toda ela constituída de pensamento, de sentimento e de ação em diferentes níveis, então, há atrito. A única maneira de, efetivamente, nos olharmos a nós mesmos é fazê-lo totalmente, imediatamente, fora do tempo. Todavia, só poderemos ver a totalidade de nós mesmos quando nossa mente não estiver mais fragmentada. Então, veremos a Verdade [ainda que relativa].

 

 

 

 

Geralmente, não mudamos porque culpamos os outros, nos satisfazemos com explicações ou temos medo de olhar. Mas, se e quando nos olharmos totalmente, aplicando toda a nossa atenção [e a nossa vontade], todo o nosso ser, tudo o que temos, nossos olhos, nossos ouvidos e nossos nervos, estaremos atentos em meio ao mais completo auto-abandono, e não haverá, então, mais lugar para o medo, para a contradição e, por conseguinte, não haverá mais conflito. Atenção não é a mesma coisa que concentração. A concentração é exclusão; a atenção é percebimento total, que nada exclui. Enfim, a mudança requer percebimento total.

 

Se estivermos sempre a nos medir pelos outros, a nos esforçarmos para ser igual aos outros, então, estaremos negando a nós mesmos. Por conseguinte, estaremos criando uma ilusão. Ao compreendermos que a comparação, em qualquer forma, só leva a uma ilusão e a um sofrimento maiores ainda (tal como acontece quando analisamos a nós mesmos, aumentando o nosso conhecimento pouco a pouco ou nos identificando com algo fora de nós mesmos, como, por exemplo o Estado, um salvador ou uma ideologia) ao compreender, enfim, que todos esses processos só levam a mais ajustamento e a mais conflito, abandonaremos definitivamente qualquer que seja a comparação. E assim, a mente que já não tem ilusão nenhuma poderá, então, se mover em uma dimensão totalmente diferente [mais elevada], na qual não existem conflitos e nenhuma idéia de diferença.

 

Nem palavras nem explicações poderão abrir a Porta. [Ninguém abrirá a Porta por nós ou para nós.] O que abrirá a Porta é o percebimento e a atenção diários percebimento da maneira como falamos, do que dizemos, da nossa maneira de andar, do que pensamos [e de como agimos]. Isto é como limpar e manter em ordem um aposento. Manter o aposento em ordem é importante a um respeito e totalmente sem importância a outro respeito. Deve haver ordem no aposento, mas, a ordem per se não abrirá a Porta ou a Janela. O que abrirá a Porta não serão a nossa volição ou o nosso desejo. Manter o aposento em ordem significa ser categoricamente virtuoso, por amor à virtude, e não pelo que isto nos trará, ou seja, ser equilibrado, racional, ordenado. Então, talvez, se tivermos sorte [se merecermos], a Janela se abrirá e a Brisa entrará. Ou pode ser que não. Tudo dependerá do estado da nossa mente [isto é, das mudanças efetivas que tivermos implementado]. E este estado da mente só pode ser compreendido por nós mesmos, ao observá-lo sem tentar moldá-lo, sem ser parcial, sem contrariá-lo e sem jamais concordar, justificar, condenar ou julgar; quer dizer, estar vigilante sem fazer nenhuma escolha. E, em razão deste percebimento sem escolha, a Porta, talvez, se abrirá, e conheceremos aquela Dimensão em que não existem nem o conflito nem o tempo.

 

A vida não deve ser guiada pelo prazer, pois, o prazer sempre traz, necessariamente, a dor, a frustração, o sofrimento, o medo, e, como resultado do medo, a violência. A mente que está sempre a buscar o prazer encontrará inevitavelmente a sua sombra a dor embora busquemos o prazer e procuremos evitar a dor.

 

A mente que não está tolhida pela memória tem a verdadeira liberdade. Tudo o que é resultado da memória é velho e, por conseguinte, nunca é livre.

 

Se pudermos olhar todas as coisas sem permitir a intrusão do prazer olhar uma rosa, uma ave, a cor de um sari [traje nacional das mulheres indianas, constituído de uma longa peça de pano que envolve e cobre todo o corpo], a beleza de uma extensão de água rutilando ao Sol ou qualquer coisa deleitável se pudermos olhar assim, sem desejarmos que a experiência se repita, então, não haverá dor, nem medo e, por conseguinte, haverá uma alegria infinita. É a luta para repetir e perpetuar o prazer que o converte em dor. A própria exigência da repetição do prazer produz dor, porque ele nunca é a mesma coisa de ontem.

 

Ao buscarmos o prazer, inevitavelmente, haverá dor. Se, entretanto, desejarmos pôr fim ao prazer, o que significa pôr fim à dor, deveremos estar completamente atentos à estrutura total do prazer. Mas, não deveremos repeli-lo, como o fazem os monges e os sannyasins, que, por exemplo, não olham para uma mulher porque é pecado e, desta maneira, destroem a vitalidade da própria compreensão. Cumpre, sim, ver todo o significado e toda a importância do prazer. Encontraremos, então, infinita alegria na vida, ainda que não se possa pensar na alegria. A alegria é uma coisa imediata, e, se nela pensarmos, a converteremos em prazer. Viver no presente é a percepção imediata da beleza e o grande deleite que nela se encontra, sem dela procurar extrair prazer.

 

A vontade de domínio é uma forma de agressão. O santo que busca posição em sua santidade é tão agressivo como as aves que se bicam em um aviário. E, qual é a causa desta agressividade? O medo, não? O medo é um dos mais formidáveis problemas da vida. A mente que está nas garras do medo vive na confusão, no conflito, e, portanto, tem de ser violenta, tortuosa e agressiva. Não ousa se afastar dos seus próprios padrões de pensamento, e isto gera a hipocrisia. Enquanto não nos livrarmos do medo, ainda que galguemos o mais alto cume, ainda que inventemos toda espécie de deuses, ficaremos sempre na escuridão. O medo é uma coisa terrível, que torce, deforma e ensombra os nossos dias. O medo nada mais é do que o movimento do certo para o incerto.

 

Quando percebermos que somos uma parte do medo, que não estamos separados do medo, que o medo está em nós e que nós somos o próprio medo, que nada poderemos fazer a seu respeito, então, o medo terminará totalmente. O observador é o medo e, uma vez isto percebido, não há mais dissipação de energia no esforço para se livrar do medo, e o intervalo de tempo-espaço, entre o observador e a coisa observada, desaparece.

 

Aquele que pensa e diz que a violência nunca terá fim, que jamais acabará, está [mentalmente] emparedado.

 

Viver completamente em paz não significa desejar morrer. Viver completamente em paz significa desejar viver nesta Terra maravilhosa, tão cheia de vida, de riqueza e de beleza! É desejar olhar as árvores, as flores, os rios, os prados, as mulheres, as crianças, e, ao mesmo tempo, viver completamente em paz consigo e com o mundo.

 

Não importa se os outros levam ou não a sério a questão da violência; se nós a levarmos a sério, isto basta.

 

Não podemos nos deter em nenhum ponto; precisamos sempre ir mais adiante.

 

A guerra é apenas um fragmento da violência. A agressividade sempre existiu e existe nos seres-humanos-aí-no-mundo tanto quanto existe nos animais, dos quais todos nós fazemos parte. A violência não é meramente assassinar. Há violência no uso de uma palavra áspera, num gesto de desprezo, na obediência motivada pelo medo. A violência, portanto, não é apenas a carnificina organizada em nome de Deus, da sociedade e da pátria. A violência é muito mais sutil e profunda. Por exemplo: quando nos denominamos indiano, maometano, cristão, europeu ou o que quer que seja, estamos sendo violentos. Sabeis por quê? Porque vos estais vos separando do resto da Humanidade. Quando vos separais por uma crença, por um dogma, por uma idéia, por um princípio, por uma cor, por uma preferência, por um insulto, por uma nacionalidade, por uma bandeira, por um hino, por uma tradição, por um partido político ou por um sistema partidário etc. gerais a violência. Ora, não existe cólera justa! Todos nós precisamos compreender a violência e transcendê-la.

 

Condenamos e/ou justificamos as coisas porque isto faz parte da estrutura social em que vivemos faz parte do nosso condicionamento como alemão, indiano, negro, branco, brasileiro, americano ou o que acaso somos por nascimento, com todo o embotamento mental resultante deste condicionamento. A mente se embota e se torna estúpida por causa do permanente justificar e do persistente condenar. O fato é que, por exemplo, duas guerras medonhas nada nos ensinaram, a não ser a levantar mais e mais barreiras entre os seres humanos, pois, a maioria aceita a violência como maneira de vida.

 

Alma Viver com plenitude no momento presente é viver com o que é, com o real, sem idéia de condenação ou de justificação. Quando se vê claramente um problema, ele está resolvido.

 

 

 

Continua...

 

 

 

Música de fundo:

Symphony Nº 6 (Pastorale), em Fá Maior, opus 68
Compositor: Ludwig van Beethoven

Fonte:

http://www.kunstderfuge.com/beethoven/variae.htm#Symphonies

Observação:

A Sinfonia nº 6 em Fá Maior, opus 68, de Ludwig van Beethoven, também chamada Sinfonia Pastoral, é uma obra musical precursora da música programática. Esta Sinfonia foi completada em 1808, e teve a sua primeira apresentação no Theater an der Wien, em 22 de dezembro de 18081. Dividida em cinco andamentos, tem por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes rurais. Beethoven insistia que essas obras não deveriam ser interpretadas como um quadro sonoro, mas, como uma expressão de sentimentos. É uma das mais conhecidas obras da fase romântica de Beethoven.

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.correio24horas.com.br/

http://bestanimations.com/

https://es.123rf.com/

https://tenor.com/

https://www.vectorstock.com/

http://joshhealey.org/the-tree-hugger/

https://br.pinterest.com/pin/574912708663335691/

https://dribbble.com/

http://www.netanimations.net/

https://www.colourbox.com/

https://www.behance.net/

https://www.linkshideaway.com/

https://giphy.com/

http://www.metalinjection.net/

https://mbtskoudsalg.com/

http://diaconosonhador.blogspot.com/

http://jiddukrishnamurti.net/

https://krishnamurtibox.wordpress.com/downloads/livros/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jiddu_Krishnamurti

 

Direitos autorais:

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