Fragmentos 
      Marxistas
     
     
     
    A 
      aplicação de mais-valia como capital ou a retransformação 
      de mais-valia em capital se chama acumulação de capital.
     
    A 
      mais-valia só é transformável em capital porque o mais-produto, 
      do qual é o valor, já contém os componentes materiais 
      de um novo capital.
     
    A 
      mais-valia capitalizada só pode derivar de trabalho-alheio-não-pago.
     
    Quanto 
      mais um capitalista houver acumulado, tanto mais ele poderá acumular. 
      [É 
      assim que se explica o surgimento das grandes fortunas.]
     
     
    
     
     
    O 
       
      valor da força de trabalho vendida por determinado período 
      de tempo – 
      dia, semana etc. – 
      é sempre menor do que o valor que seu uso cria 
      durante esse tempo.  
      [É 
      assim que se explica o surgimento do lucro e da mais-valia.]
     
    A 
      transformação original do dinheiro em capital se realiza na 
      mais perfeita harmonia com as leis econômicas da produção 
      de mercadorias e com o direito de propriedade delas derivado. Não 
      obstante, ela tem por resultado: 1º) o produto pertence ao capitalista 
      e não ao trabalhador; 2º) o valor desse produto, além 
      do valor do capital adiantado, inclui uma mais-valia, a qual custou trabalho 
      ao trabalhador, mas, nada ao capitalista, mas, que, todavia, se torna propriedade 
      legítima deste; e 3º) o trabalhador continua a manter sua força 
      de trabalho, e poderá vendê-la de novo, caso encontre comprador. 
      
     
    O 
      historiador, ensaísta político e economista suíço 
      Jean Charles Léonard Simonde de Sismondi (Genebra 
      9 de maio de 1773 – Genebra a 25 de junho de 1842) afirmou: 
      Plusieurs échangess 
      successifs n’ont fait du dernier que le représentant du premier. 
      [Várias trocas sucessivas 
      fazem do último apenas o representante do primeiro.] Parmi 
      ceux qui se partagent le revenu national, les uns [os 
      trabalhadores] y acquièrent 
      chaque année un nouveau droit par un noveau travail; les autres 
      [os capitalistas] y 
      ont acquis antérieurement un droit permanent par un travail primitif. 
      [Entre aqueles que repartem entre si a renda nacional, uns (os trabalhadores) 
      adquirem a cada ano um novo direito a esta por meio de um novo trabalho; 
      outros (os capitalistas) já adquiriram anteriormente um direito permanente 
      por meio de um trabalho primitivo.]
     
    A 
      riqueza social, em proporção sempre crescente, se torna propriedade 
      daqueles que estão em condições de se apropriar do 
      trabalho-não-pago de outros.
     
    Capital 
      Variável: corresponde à fração do capital que 
      é despendida na compra da força de trabalho (salários) 
      e é responsável pela reprodução ampliada do 
      capital. Massa dos 
      meios de subsistência que ele representa para o trabalhador ou o assim 
      chamado fundo de trabalho.
     
    Capital 
      Constante: é a parte do valor do capital que é empregada na 
      compra de meios de produção. O valor do capital constante 
      não aumenta durante o processo de produção de bens. 
      Não pode, portanto, ser a origem de aumento do capital inicialmente 
      empregado.
     
    Força 
      de trabalho: é a forma em que o capital variável existe dentro 
      do processo de produção. 
     
    Parte 
      da mais-valia é consumida pelo capitalista como renda, parte é 
      aplicada como capital ou acumulada.
     
    O 
       
      desenvolvimento da produção capitalista faz do contínuo 
      aumento do capital investido numa empresa industrial uma necessidade, e 
      a concorrência impõe a todo capitalista individual as leis 
      imanentes do modo de produção capitalista como leis coercitivas 
      externas. Obriga-o a ampliar seu capital continuamente para conservá-lo, 
      mas, ele só pode ampliá-lo 
      mediante acumulação progressiva. 
     
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Uma só se compraz em entesourar;
      outra só se compraz em prazerar.
      Uma só se compraz em avarezar;
      outra só se compraz em dilapidar.
      Uma só se compraz em acumular;
      outra só se compraz em ostentar.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Como eu poderei apaziguá-las,
      sem deixar de desfrutar?
      Como eu poderei contentá-las,
      sem deixar de lucrar?
      Como eu poderei agradá-las,
      sem deixar de enricar?
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Só martírio e tentação!
      Só sortilégio e sedução!
      Só maravilha e encantação!
      Só pecado e fascinação!
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Pensei, e resolvi o dilema,
      com audácia, vigor e curema.
      Continuarei escravizando,
      até o hoje se tornar quando.
      Insistirei e me locupletarei,
      até o fim dos tempos pintar.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Não posso deixar de ser
      um capitalista explorador.
      Faço isso com grande agudeza,
      pois, esta é a minha natureza.
      Eu nasci para ser senhor,
      e todo senhor é um feitor.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Em mim e para mim, não há bona 
      fide;
      eu penduro tudo no cabide.
      Também 
      não há indulgência;
      eu sempre sou a preferência.
      E tampouco há comiseração;
      o meu advérbio favorito é não.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Como em Manchester, em 1795,
      me empenharei com afinco:
      laborarei por meu sustento,
      explorarei todo o trabalho,
      construirei um castelo de pedra
      e ampliarei meu negócio ao máximo.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Como eu poderei viver sem
      mudar mais-valia em capital?
      Como eu poderei viver sem
      alterar mais-produto em capital? 
      Como eu poderei viver sem
      tomar um bom vinho estrangeiro?
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Alguns haverão de dizer
      que tudo isso é miragem.
      Outros haverão de dizer
      que tudo isso é ilusão.
      Eu até concordo com isso,
      mas, quem subjuga seu dragão?
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Para mim, o 
      proletariado só
      serve para gerar mais-valia.
      Já eu sou uma 
      máquina que 
      converte mais-valia em capital.
      E assim, gira o mundo no tempo:
      uns podem ser; outros jamais serão.
    — 
      Oh! Duas almas diabólicas
      moram em meu peito argentário!
      Este é o legado que deixarei
      e a herança que transmitirei.
      Doutrina atualizada e up-to-date
      que reconforta o meu inferno.
      Testamento de um capitalista
      que sempre foi um demonista.
      
    O 
      clérigo 
      anglicano, economista, matemático e iluminista britânico 
       Thomas Robert Malthus (Rookery, perto de Guildford, condado 
      de Surrey, 13 ou 14 de fevereiro de 1766 – 
      Bath, 23 de dezembro de 1834) defendia uma divisão 
      do trabalho, que atribuía ao capitalista realmente engajado na produção 
      o negócio de acumulação, aos outros participantes da 
      mais-valia, a aristocracia rural, os prebendados do Estado [aqueles 
      que foiram aquinhoados com prebenda (ocupação rendosa e de 
      pouco trabalho; sinecura)], da Igreja etc., o negócio 
      do esbanjamento. É da maior importância, disse Malthus, 
      se manter separadas a paixão pelo gasto e a paixão pela acumulação 
      (the 
      passion for expenditure and the passion for accumulation).
     
    A 
      apropriação de trabalho-não-pago é o segredo 
      da extração de mais-valia.
     
    Glut 
      (saturação 
      do mercado, superprodução) é 
      sinônimo de lucros altos. 
      
     
    O 
      lucro do capital (inclusive juros) é produto 
      da última décima segunda hora de trabalho-não-pago.
     
    Considerando 
      que a mais-valia se divide em capital e renda, a grandeza do capital acumulado 
      se regerá, evidentemente, pela grandeza absoluta da mais-valia.
     
    Todas 
      as circunstâncias que determinam a massa da mais-valia participam 
      na determinação da grandeza da acumulação.
     
    A 
      taxa de mais-valia, em primeira instância, depende do grau de exploração 
      da força de trabalho. 
     
    O 
      trabalho adicional, produzido por um atrelamento mais elevado da força 
      de trabalho, pode aumentar o mais-produto e a mais-valia, isto é, 
      a substância da acumulação, sem aumento proporcional 
      da parte constante do capital.
     
    A 
      massa de mais-valia é determinada pelo número de trabalhadores 
      simultaneamente explorados, e este corresponde, embora em proporção 
      variável, à grandeza do capital.
     
    Dogma: 
      por um lado o trabalhador não tem voz na partilha da riqueza social 
      em meios de satisfação dos não-trabalhadores e em meios 
      de produção; por outro lado, apenas em casos excepcionais 
      favoráveis, ele pode ampliar o assim chamado “fundo de trabalho” 
      à custa da “renda” dos ricos.
    A 
      composição do capital tem de ser compreendida em duplo sentido. 
      Da perspectiva do valor, ela é determinada pela proporção 
      em que se reparte em capital constante ou valor dos meios de produção 
      e capital variável ou valor da força de trabalho, soma global 
      dos salários. Da perspectiva da matéria, como ela funciona 
      no processo de produção, cada capital se reparte em meios 
      de produção e força de trabalho viva. Essa composição 
      é determinada pela proporção entre, por um lado, a 
      massa dos meios de produção utilizados e, por outro lado, 
      o montante de trabalho exigido para seu emprego. Chamo a primeira de composição-valor 
       
      do capital e a segunda de composição-técnica 
      do capital. Entre ambas há estreita correlação. Para 
      expressá-la, chamo a composição-valor do capital, à 
      medida que é determinada por sua composição técnica 
      e espelha suas modificações, de composição orgânica 
      do capital. Onde se fala simplesmente de composição do capital, 
      deve-se entender sempre sua composição orgânica.
     
    O 
      crescimento do capital implica no crescimento de sua parcela variável 
      ou convertida em força de trabalho. Uma parcela da mais-valia transformada 
      em capital adicional precisa ser sempre retransformada em capital variável 
      ou fundo adicional de trabalho. 
     
    Acumulação 
      do capital é multiplicação do proletariado. 
      
     
    Afirmação 
      de John Bellers (1654 – 
      1725) em 1696: As the laboures 
      make men rich, so the more labourers, there will be the more rich men... 
      the labour of the poor being the mines of the rich. Como 
      os trabalhadores tornam as pessoas ricas, então, quanto mais trabalhadores 
      houver, tanto mais ricos existirão... O trabalho dos pobres é 
      a mina dos ricos. 
     
    O 
      próprio mecanismo do processo de acumulação multiplica, 
      com o capital, a massa dos “pobres laboriosos”, isto é, 
      dos assalariados, que transformam sua força de trabalho em crescente 
      força de valorização do capital crescente e, por isso 
      mesmo, precisam perpetuar sua relação de dependência 
      para com seu próprio produto, personificado no capitalista.
     
    Afirmação 
      de  Sir Frederick Morton Eden (1766 – 
      1809), que, segundo Karl Marx, foi o único discípulo de Adam 
      Smith (1723 – 
        1790) que, 
      durante o século XVIII, realizou algo significativo: 
      Pessoas de fortuna independente 
      devem sua fortuna quase inteiramente ao trabalho dos outros e não 
      à habilidade delas mesmas, que não é, de modo algum, 
      maior do que a dos outros. Não é a propriedade de terras ou 
      de dinheiro, mas, o comando sobre o trabalho que distingue os ricos dos 
      pobres. O que convém ao pobre não é uma situação 
      abjeta ou servil, mas, uma condição cômoda e liberal 
      de dependência, e o que convém às pessoas de posses 
      é ter influência e autoridade suficiente sobre aqueles que 
      trabalham para elas. Tal condição de dependência é, 
      como sabem todos os conhecedores da natureza humana, necessária para 
      o conforto do próprio trabalhador. 
     
    Produção 
      de mais-valia ou geração de excedente é a lei absoluta 
      do modo de produção capitalista. Só à medida 
      que mantém os meios de produção como capital, que reproduz 
      seu próprio valor como capital e que fornece em trabalho-não-pago 
      uma fonte de capital adicional é que a força de trabalho é 
      vendável. As condições de sua venda, quer sejam mais 
      quer sejam menos favoráveis para o trabalhador, incluem a necessidade 
      de sua contínua revenda e a contínua reprodução 
      ampliada da riqueza como capital. O salário condiciona sempre, por 
      sua natureza, o fornecimento de determinado quantum de trabalho-não-pago 
      por parte do trabalhador. 
     
    — 
      Não adianta você demandar;
      eu tenho que lhe escravizar,
      pois, esta é a minha natureza.
      Nasci assim; sou assim; pifarei assim.
      Fui, 
      sou e serei um capitalista. 
      
      Não adianta você reclamar;
      eu tenho que mais-valiar.
      Não adianta você protestar;
      você tem que mais-trabalhar.
      Não adianta você chiar;
      eu tenho sempre que lucrar.
      Não adianta você choramingar;
      eu tenho que me locupletar.
      Não adianta você se queixar;
      eu tenho que amontoar e enricar.
      Não adianta você se lamentar;
      você tem que se sujeitar.
      Foi assim que Deus fez o mundo:
      uns são senhores; outros jamais serão.
      Isto se chama exploração econômica,
      que 
      gera a escravização estrutural.
       
      Eu sou rico e sempre serei rico;
      você é escravo e sempre será escravo.
      Você deveria, sim, agradecer;
      pelo menos, você tem o que comer.
      Você deveria, sim, penhorar;
      pelo menos, você tem onde mourejar.
      Você deveria, sim, genuflectir;
      pelo menos, você tem como existir.
      Assim como no fim do dia vem a noite
      e no fim da noite nasce o dia,
      sai noite entra dia, sai dia entra noite,
      você me pertence e eu sou o seu senhor.
      Você integra a massa proletária,
      e o proletariado jamais se alforriará.
      Não há consciência de classe que mude isto.
      A união, a coesão e a luta por melhorias
      não mudarão absolutamente nada.
      Tudo sempre continuará como dantes,
      como no Quartel do Duque d’Abrantes.
      Esta é a vontade do Senhor Deus,
      que foi, é e sempre será a mesma.
     
    Afirmação 
      do filósofo e economista britânico Adam Smith (Kirkcaldy, 5 
      de junho de 1723 – 
      Edimburgo, 17 de julho de 1790): Mesmo 
      com lucros diminuídos, os capitais continuam a aumentar: 
      crescem até mesmo mais depressa do que antes. Um grande capital, 
      mesmo com lucros menores, geralmente, cresce mais depressa do que um capital 
      pequeno com lucros grandes.
     
    Para 
      usar uma expressão matemática: a grandeza da acumulação 
      é a variável independente; a grandeza do salário, a 
      dependente, e não o contrário. Assim, em uma fase de crise 
      do ciclo industrial, a queda geral dos preços das mercadorias se 
      expressa como elevação do valor relativo do dinheiro, e, na 
      fase de prosperidade, a elevação geral dos preços das 
      mercadorias, como queda do valor relativo do dinheiro. 
     
    A 
      lei da produção capitalista redunda simplesmente nisto: a 
      relação entre capital, acumulação e taxa de 
      salário não é nada mais que a relação 
      entre o trabalho não-pago, transformado em capital, e o trabalho 
      adicional necessário à movimentação do capital 
      adicional. Não é, portanto, de modo algum, uma relação 
      de duas grandezas independentes entre si, por um lado a grandeza do capital, 
      por outro o tamanho da população trabalhadora, mas, é, 
      em última instância, muito mais a relação entre 
      o trabalho não-pago e o trabalho pago, da mesma população 
      trabalhadora. Se cresce a quantidade de trabalho não-pago fornecido 
      pela classe trabalhadora e acumulada pela classe capitalista de modo suficientemente 
      rápido, para só com um acréscimo extraordinário 
      de trabalho pago poder se transformar em capital, então, o salário 
      sobe e, permanecendo tudo mais constante, o trabalho não-pago diminui 
      proporcionalmente. Mas, assim que essa diminuição atinge o 
      ponto em que o mais-trabalho, que alimenta o capital, já não 
      é oferecido na quantidade normal, então, ocorre uma reação: 
      uma parte menor da renda é capitalizada, a acumulação 
      se desacelera e o movimento ascendente do salário sofre um contragolpe. 
      A elevação do preço do trabalho permanece, portanto, 
      confinada em limites que não só deixam intocados os fundamentos 
      do sistema capitalista, mas, também, asseguram sua reprodução 
      em escala crescente. A lei da acumulação capitalista, mistificada 
      em lei da Natureza, expressa, portanto, de fato, apenas, que sua natureza 
      exclui todo decréscimo no grau de exploração do trabalho 
      ou toda elevação do preço do trabalho que poderia ameaçar 
      seriamente a reprodução continuada da relação 
      capital e sua reprodução em escala sempre ampliada. Nem poderia 
      ser diferente num modo de produção em que o trabalhador existe 
      para as necessidades de valorização de valores existentes, 
      ao invés de a riqueza objetiva existir para as necessidades de desenvolvimento 
      do trabalhador. Assim como na religião, o ser humano é dominado 
      pela obra de sua própria cabeça, assim, na produção 
      capitalista, ele o é pela obra de sua própria mão.
     
     
    
     
     
     
    Continua...