Fragmentos
Marxistas
Com
a preponderância sempre crescente da população urbana,
que se amontoa em grandes centros, a produção capitalista
acumula, por um lado, a força motriz histórica da sociedade,
mas, perturba, por outro lado, o metabolismo entre homem e terra, isto é,
o retorno dos componentes da terra consumidos pelo homem, sob forma de alimentos
e vestuário, à terra, portanto, a eterna condição
natural de fertilidade permanente do solo. Com isso,
a produção capitalista
destrói simultaneamente a saúde física dos trabalhadores
urbanos e a vida espiritual dos trabalhadores rurais. Mas, ao destruir as
condições desse metabolismo, desenvolvidas espontaneamente,
obriga-o, simultaneamente, a restaurá-lo de maneira sistemática,
como lei reguladora da produção social e numa forma adequada
ao pleno desenvolvimento humano. Tanto na agricultura quanto na manufatura,
a transformação capitalista do processo de produção
aparece, ao mesmo tempo, como martirológio dos produtores, o meio
de trabalho como um meio de subjugação, exploração
e pauperização do trabalhador, a combinação
social dos processos de trabalho como opressão organizada de sua
vitalidade, liberdade e autonomia individuais. A dispersão dos trabalhadores
rurais em áreas cada vez maiores quebra, ao mesmo tempo, sua capacidade
de resistência, enquanto a concentração aumenta a dos
trabalhadores urbanos. Assim como na indústria citadina, na agricultura
moderna o aumento da força produtiva e a maior mobilização
do trabalho são conseguidos mediante a devastação e
o empestamento da própria força de trabalho. E cada progresso
da agricultura capitalista não é só um progresso na
arte de saquear o trabalhador, mas, ao mesmo tempo na arte de saquear o
solo, pois, cada progresso no aumento da fertilidade por certo período
é simultaneamente um progresso na ruína das fontes permanentes
dessa fertilidade. Quanto mais um país, como, por exemplo, os Estados
Unidos da América do Norte, se inicia com a grande indústria
como fundamento de seu desenvolvimento, tanto mais rápido é
esse processo de destruição. Por isso, a produção
capitalista só desenvolve a técnica e a combinação
do processo de produção social ao minar simultaneamente as
fontes de toda a riqueza: a terra e o trabalhador.
A
produção capitalista não é apenas produção
de mercadoria, é, essencialmente, produção de mais-valia.
O trabalhador produz não para si, mas, para o capital. Não
basta, portanto, que produza em geral. Ele tem de produzir mais-valia. Apenas
é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista
ou serve à autovalorização do capital.
O
prolongamento da jornada de trabalho além do ponto em que o trabalhador
teria produzido apenas um equivalente pelo valor de sua força de
trabalho, e a apropriação desse mais-trabalho pelo capital
é a produção da mais-valia absoluta.
Toda
jornada de trabalho está, desde o princípio, dividida em duas
partes: trabalho necessário e mais-trabalho.
O
desmedido prolongamento da jornada de trabalho é o mais característico
da grande indústria.
Resumindo:
Mais-Valia Absoluta: surge quando o operário realiza o trabalho em
determinado tempo que, se fosse calculado em valor monetário, resultaria
na desigualdade entre o trabalho e o salário. Ou seja, o lucro surge
com a intensificação do trabalho pelo aumento de horas na
jornada laboral.
Mais-Valia Relativa: nesse caso, a mais valia é aplicada através
do uso da tecnologia, por exemplo, aumentar o número de máquinas
numa fábrica, no entanto, sem aumentar o salário dos trabalhadores.
Assim, a produção e o lucro aumentam ao mesmo tempo que os
números de trabalhadores e o salário permanecem iguais.
Lucro
= Mais-valia.
[Derivado do criminoso, desfraterno e desumano mais-trabalho escravizador,
acachapante e supressor. Logo, como já cansei de dizer, para um ser-aí
ganhar, outro(s) seres-aí,
de alguma forma ou de diversas formas, terá(ão) que perder.
Portanto, sem qualquer sentimento de crítica, esotericamente, pergunto:
quantos seres-aí
tiveram que perder para, por exemplo, o senhor Elon Reeve Musk (Pretória,
28 de junho de 1971) ter se tornado o homem mais rico do mundo, com uma
fortuna estimada em US$ 282.000.000.000, e crescendo? Milhares? Milhões?
Se transformarmos esses US$ 282.000.000.000 em dias, este número
é maior do que um Dia Filosófico de Brahman (e
uma Noite Filosófica de Brahman), que contém 8.640.000.000
dias mortais! Agora, reflita, e chegue às suas conclusões.]
Elon
Reeve Musk
Simbolicamente
As
grandezas relativas do preço da força de trabalho e da mais-valia
são condicionadas por três circunstâncias: 1ª) a
extensão da jornada de trabalho ou a grandeza extensiva do trabalho;
2ª) a intensidade normal do trabalho ou sua grandeza intensiva, de
modo que determinado quantum de trabalho é despendido em determinado
tempo; e 3ª) a força produtiva do trabalho, de tal forma que,
segundo o grau de desenvolvimento das condições de produção,
o mesmo quantum de trabalho fornece no mesmo tempo um quantum maior ou menor
de produto. Combinações muito diferentes são evidentemente
possíveis, conforme um dos três fatores seja constante e dois
sejam variáveis, ou dois fatores constantes e um variável,
ou, por fim, os três sejam simultaneamente variáveis. Essas
combinações são ainda multiplicadas pelo fato de que,
com variação simultânea de diferentes fatores, a grandeza
e a direção da variação podem ser diferentes.
A
jornada de trabalho de grandeza dada se representa sempre no mesmo produto-valor,
como quer que varie a produtividade do trabalho, com ela a massa de produtos
e, portanto, o preço da mercadoria individual.
O
valor da força de trabalho e a mais-valia variam em sentido oposto.
Variando a força produtiva do trabalho, seu acréscimo ou decréscimo
influem em razão inversa sobre o valor da força de trabalho
e em razão direta sobre a mais-valia.
O
aumento na produtividade do trabalho reduz o valor da força de trabalho
e com isso aumenta a mais-valia, enquanto, ao contrário, a diminuição
da produtividade eleva o valor da força de trabalho e reduz a mais-valia.
O
aumento ou a diminuição proporcional da mais-valia, em virtude
de dada mudança na força produtiva do trabalho, é tanto
maior quanto menor e tanto menor quanto maior tiver sido originalmente a
parte da jornada de trabalho que se representa na mais-valia.
O
aumento ou a diminuição da mais-valia é sempre conseqüência
e jamais causa do correspondente aumento ou diminuição do
valor da força de trabalho.
Taxa
de lucro é a relação da mais-valia com o capital global
adiantado. Taxa de mais-valia é a relação da mais-valia
com a parte apenas variável desse capital.
Se
a jornada de trabalho se atrofiasse até o limite do necessário,
desapareceriam o mais-trabalho [e
também a mais-valia], o que, sob um regime
capitalista, é impossível. [Vou
fazer uma correçãozinha no final da sentença: o
que, sob um regime capitalista, (por
enquanto) é impossível.
Mas, como disse Marx, a
supressão da forma de produção capitalista permite
limitar a jornada de trabalho ao trabalho necessário.
E isto, no futuro, certamente acontecerá.]
Por
enquanto, isto é impossível!
Enquanto
Deus quiser,
eu serei o senhor,
e você será o escravo.
Enquanto
Deus quiser,
eu serei ricalhouço,
e você será um pobretão.
Enquanto
Deus quiser,
eu serei bem-sucedido,
e você ficará a ver navios.
Enquanto
Deus quiser,
eu morarei em uma mansão,
e você em uma palafita.
Enquanto
Deus quiser,
eu terei um plano de saúde,
e você irá ao .
Enquanto
Deus quiser,
eu serei amigo do rei,
e você nem sequer terá amigos.
Enquanto
Deus quiser,
eu terei a mulher que escolherei,
e você nem sequer poderá se casar.
Enquanto
Deus quiser,
eu estarei por cima da carne-seca,
e você nem carne terá para comer.
Enquanto
Deus quiser,
eu estarei na crista da onda,
e você pegará jacaré sem prancha.
Enquanto
Deus quiser,
eu sempre estarei por dentro dos babados,
e você mais por fora que bunda de .
Enquanto
Deus quiser,
continuarão a existir e a aumentar,
o meu lucro e a minha mais-valia.
Enquanto
Deus quiser,
continuarão a existir e a aumentar,
o seu esbulho e o seu mais-trabalho.
Enquanto
Deus quiser,
eu sempre ganharei,
o você sempre perderá.
Enquanto
Deus quiser,
eu comerei caviar,
e beberei champanhota.
Enquanto
Deus quiser,
você comerá farofa com farofa,
e beberá água salobra.
Enquanto
Deus quiser,
eu sempre progredirei,
e você não passará da cepa torta.
Enquanto
Deus quiser,
minha vaca dará muito leite,
e a sua irá para o brejo.
Enquanto
Deus quiser,
converterei grafite em diamante,
e você malhará em ferro frio.
Enquanto
Deus quiser,
jogarei poeira nos seus olhos,
e você continuará cegueta.
Enquanto
Deus quiser,
puxarei o seu tapete,
e você se estatelará no chão.
Enquanto
Deus quiser,
levarei você na conversa,
e você dormirá de touca.
Enquanto
Deus quiser,
para mim, 1 + 1 = 22,
e para você 1 + 1 = – 11.
Enquanto
Deus quiser,
eu
e você não entenderá patavina.
Enquanto
Deus quiser,
sua vida me pertencerá,
e você sempre dirá amém.
Mais-trabalho
=
Trabalho-não-pago. O capital é, portanto, não apenas
comando sobre trabalho, mas, essencialmente, é comando
sobre trabalho-não-pago. Toda mais-valia, qualquer que seja a forma
particular de lucro, renda etc., em que ela se cristalize, é, segundo
sua substância, materialização de tempo de trabalho-não-pago.
Portanto, o segredo da autovalorização do capital se resolve
em sua disposição sobre determinado quantum de trabalho-não-pago.
—
Se você trabalhar para mim mais 1 hora por
dia,
eu lhe darei meio pirulito.
—
Se você trabalhar
para mim mais 2 horas por dia,
eu lhe darei
de pirulito.
—
Se você trabalhar
para mim mais 4 horas por dia,
eu lhe darei 1,1 pirulito.
—
Se você trabalhar
para mim mais 8 horas por dia,
eu lhe darei 2 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim enquanto estiver almoçando,
eu lhe darei 2,1 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim de madrugada todos os dias,
eu lhe darei 2,2 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim todos os sábados e domingos,
eu lhe darei 2,5 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim na Semana Santa,
eu lhe darei 3,03 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim no dia de Corpus Christi,
eu lhe darei 3,44 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim nas férias,
eu lhe darei 4,13 pirulitos.
—
Se você trabalhar
para mim morcegando,
aí, você me dará 13 pirulitos.
—
Fique doente apenas
um dia,
e você me dará uma caixa de pirulitos.
—
Agora, nem pense
em morrer,
senão sua família me dará 17,5 pirulitos todos os dias.
Para
ser vendido no mercado como mercadoria, o trabalho tem de existir antes
de ser vendido. Mas, se o trabalhador pudesse lhe dar existência independente,
então, ele venderia mercadoria e não trabalho.
A
produção capitalista repousa precisamente no trabalho assalariado.
O
valor de uma mercadoria não é determinado pelo quantum de
trabalho realmente objetivado nela, mas, sim, pelo quantum de trabalho vivo
necessário para produzi-la.
O
capitalista sempre faz a força de trabalho funcionar por mais tempo
do que o necessário para a reprodução de seu próprio
valor.
Trabalho-necessário
=
Trabalho-pago.
Mais-trabalho =
Trabalho-não-pago.
O
que, na verdade,
o
capitalista quer é obter o máximo possível de trabalho
pelo mínimo possível de dinheiro.
Fórmulas
juridicamente equivalentes:
—
'Do ut des'. Dou
para que dês.
'Do ut facias'. Dou para que faças.
'Facio ut des'. Faço para que dês.
'Facio ut facias'. Faço para que faças.
—
Mais-trabalhas,
ó escravo, para me servir.
Serves-me, ó escravo, para que eu acumule.
Acumulo, voluptuosamente, para enriquecer.
Enriqueço, pois, esta é a minha natureza.
—
O Capitalismo é a mola do
mundo.
O mundo inexistiria sem a mola do capital.
O capital foi criado pelo Senhor Deus.
E Deus quer que tudo continue assim.
—
Portanto, essa tal de eqüidade
é uma falácia.
A falácia não admite liberdade.
A liberdade se opõe à fraternidade.
A fraternidade nunca vencerá a separatividade.
—
Esta é a síntese
do meu pensamento.
Pensamento que é de todos os capitalistas.
Capitalistas que são a mola do mundo.
Mundo impossível de ser sem a
mola do capital.
—
Parabéns pra você!
'Insostituibile Kapital!'
Felicidade! Saúde! 'Cent'anni!'
Mais-valia! Mais-trabalho! Servidão!
Meia hora é uma hora! Rá! Já! Tim! Bum!
Uma
forma de aumentar a mais-valia é prolongar a jornada de trabalho.
O
trabalho não-pago é a fonte normal do lucro do capitalista.
O
ganho dos intermediários decorre exclusivamente da diferença
entre o preço do trabalho que o capitalista paga e a parte desse
preço que ele realmente deixa chegar ao trabalhador.
A
primeira condição da acumulação é que
o capitalista tenha conseguido vender suas mercadorias e retransformar a
maior parte do dinheiro assim recebido em capital.
A
mais-valia se divide-se em diferentes partes. Suas frações
cabem a categorias diferentes de pessoas e recebem formas diferentes, independentes
umas das outras, tais como lucro, juro, ganho comercial, renda da terra
etc.
Na
medida em que a acumulação se realiza, o capitalista consegue
vender a mercadoria produzida e retransformar em capital o dinheiro recebido
por ela. Além disso, o fracionamento da mais-valia em diversas partes
nada muda em sua natureza nem nas condições necessárias
em que ela se torna elemento da acumulação. Qualquer que seja
a proporção da mais-valia que o produtor capitalista retém
para si mesmo ou cede a outros, ele sempre se apropria dela em primeira
mão. Por outro lado, o fracionamento da mais-valia e o movimento
mediador da circulação obscurecem a simples forma básica
do processo de acumulação.
Abstraindo
toda acumulação, a mera continuidade do processo de produção
ou a reprodução simples transformam, após um período
mais ou menos longo, necessariamente todo capital em capital acumulado ou
mais-valia capitalizada... De trabalho-alheio-não-pago.
Mais-valia
Capitalizada
A
separação entre o produto do trabalho e o próprio trabalho
e entre as condições objetivas do trabalho e sua força
subjetiva de trabalho são a base e o ponto de partida do processo
de produção capitalista.
Por
um lado, o processo de produção capitalista, continuamente,
transforma a riqueza material em capital, isto é,
em meios de valorização e de satisfação para
o capitalista. Por outro, o trabalhador sai do processo sempre como nele
entrou: fonte pessoal de riqueza, mas, despojado de todos os meios para
tornar essa riqueza realidade para si.
Se
o escravo romano estava preso por correntes a seu proprietário, o
trabalhador contemporâneo assalariado está escravizado por
fios invisíveis.
—
Se você não comprar,
como eu poderei lucrar?
Compre! Compre! Compre!
—
Se você não gastar,
como eu poderei me beneficiar?
Gaste! Gaste! Gaste!
—
Se você não consumir,
como eu poderei me locupletar?
Consuma! Consuma! Consuma!
—
Se você não se endividar,
como eu poderei enricar?
Endivide-se! Endivide-se! Endivide-se!
O
processo de produção capitalista reproduz, mediante seu próprio
procedimento, a separação entre força de trabalho e
condições de trabalho. Ele reproduz e perpetua, com isso,
as condições de exploração do trabalhador. Obriga
constantemente o trabalhador a vender sua força de trabalho para
viver e capacita constantemente o capitalista a comprá-la para enriquecer.
O
processo de produção capitalista, considerado como um todo
articulado ou como processo de reprodução, produz não
apenas a mercadoria, não apenas a mais-valia, mas, produz e reproduz
a própria relação capital, de um lado o capitalista,
do outro o trabalhador assalariado.
Continua...