O CAPITAL
(Uma Análise ± Esotérica)

Parte VIII

 

 

 

O Capital

O Capital
(Livro 1, capa da 1ª edição, 1867)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Este rascunho se constitui da 8ª parte de uma coletânea de fragmentos (eventual e esotérico-despretensiosamente comentados e, algumas vezes, ligeiramente editados) de O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx, que constitui uma análise do Capitalismo (crítica da Economia Política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista-marxista. Deste conjunto de livros, o único que foi lançado em vida por Marx foi O Processo de Produção do Capital, em 1867. Os outros foram publicados após a sua morte, ficando as edições a cargo de Friedrich Engels (Barmen, 28 de novembro de 1820 – Londres, 5 de agosto de 1895). Devo enfatizar que este estudo não é para especialistas nem para comunistas; ao prepará-lo, tive em mente a pessoa comum, que nunca leu O Capital ou sequer ouviu falar deste livro. Por isto, não é mais do que um despretensioso rascunho. Meu intento foi compatibilizar (ou incompatibilizar) a obra com alguns princípios esotéricos fundamentais. Seja como for, quantos lembram das passagens a seguir do Evangelho de Mateus? Não ajunteis tesouros na Terra, onde as traças e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem as traças nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso Coração. (Mateus, VI:19 a 21). Disse-lhe Jesus: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem, e me segue. (Mateus, XIX:21). Uma coisa eu tenho certeza: ao longo dos séculos, o próprio Vaticano esqueceu destas recomendações!

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Karl Heinrich Marx

Karl Heinrich Marx

 

 

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) foi um filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. A obra de Marx, em Economia, estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o Capital, além do pensamento econômico posterior. Publicou vários livros durante sua vida, sendo O Manifesto Comunista e O Capital os mais proeminentes.

 

Marx nasceu em uma família de classe média em Tréveris, na Renânia Prussiana, e estudou nas Universidades de Bonn e Berlim, onde se interessou pelas idéias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, escreveu para o Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na Teoria da Concepção Materialista da História. Em 1843, mudou-se para Paris, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres juntamente a sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e a formular suas teorias sobre a atividade econômica e social. Também fez campanha para o Socialismo, e se tornou uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores.

 

As teorias de Marx sobre a sociedade, a Economia e a política – a compreensão coletiva do que é conhecido como Marxismo sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes (um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a produção), e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante, embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. Além disto, Marx previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o Capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema: o Socialismo. Ele argumentava que os antagonismos no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado, seriam conseqüência de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao longo da História. Isto, associado à sociedade industrial e ao acúmulo de Capital, geraria a sua classe antagônica, que resultaria na conquista do poder político pela classe operária e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes e apátrida o Comunismo regida por uma livre associação de produtores. Marx, ativamente, argumentava que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o Capitalismo e provocar mudanças socioeconômicas.

 

Elogiado e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes na História da Humanidade. Muitos intelectuais, sindicatos e partidos políticos em nível mundial foram influenciados por suas idéias, com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é normalmente citado, ao lado de David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 Paris, 15 de novembro de 1917) e Karl Emil Maximilian Weber (Erfurt, 21 de abril de 1864 Munique, 14 de junho de 1920), como um dos três principais arquitetos da Ciência Social moderna.

 

 

 

Fragmentos Marxistas

 

 

 

A máquina é o mais comprovado meio de prolongar a jornada de trabalho.

 

Com o progresso da mecanização e com a experiência acumulada de uma classe própria de operadores de máquinas, aumentou naturalmente a velocidade e, com isso, a intensidade do trabalho. Assim, na Inglaterra o prolongamento da jornada de trabalho avançou durante meio século, paralelamente com a crescente intensificação do trabalho na fábrica. No entanto, se torna compreensível que, num trabalho que não se caracteriza por paroxismos transitórios, mas, por uma uniformidade regular, repetida a cada dia, tem que se alcançar um ponto nodal, em que prolongamento da jornada de trabalho e intensidade do trabalho se excluam mutuamente, de modo que o prolongamento da jornada de trabalho só é compatível com um grau mais fraco de intensidade do trabalho e, vice-versa, um grau mais elevado de intensidade com a redução da jornada de trabalho. Assim que a revolta cada vez maior da classe operária obrigou o Estado a reduzir à força a jornada de trabalho e a ditar, inicialmente às fábricas propriamente ditas, uma jornada normal de trabalho, a partir desse instante, portanto, em que se impossibilitou, de uma vez por todas, a produção crescente de mais-valia mediante o prolongamento da jornada de trabalho, o capital se lançou com força total e plena consciência à produção de mais-valia relativa, por meio do desenvolvimento acelerado do sistema de máquinas. Ao mesmo tempo, ocorreu uma modificação no caráter da mais-valia relativa. Em geral, o método de produção da mais-valia relativa consiste em capacitar o trabalhador, mediante maior força produtiva do trabalho, a produzir mais com o mesmo dispêndio de trabalho no mesmo tempo. O mesmo tempo de trabalho continua a adicionar o mesmo valor ao produto global, embora esse valor de troca inalterado se apresente agora em mais valores de uso e, por isso, caia o valor da mercadoria individual. Outra coisa, porém, ocorre assim que a redução forçada da jornada de trabalho, com o prodigioso impulso que ela dá ao desenvolvimento da força produtiva e à economia das condições de produção, impõe maior dispêndio de trabalho, no mesmo tempo, tensão mais elevada da força de trabalho, preenchimento mais denso dos poros da jornada de trabalho, isto é, impõe ao trabalhador uma condensação do trabalho em um grau que só é atingível dentro da jornada de trabalho mais curta. Essa compressão de maior massa de trabalho em dado período de tempo conta, agora, pelo que ela é: como maior quantum de trabalho. Ao lado da medida do tempo de trabalho como “grandeza extensiva”, surgiu a medida de seu grau de condensação. Mas influência no tempo de trabalho como medida de valor só ocorre também aqui enquanto a grandeza intensiva e a extensiva se colocam como expressões antitéticas e mutuamente excludentes do mesmo quantum de trabalho. A hora mais intensa da jornada de trabalho de 10 horas contém, agora, tanto ou mais trabalho, isto é, força de trabalho despendida, do que a hora mais porosa da jornada de trabalho de 12 horas. Seu produto tem, por isso, tanto ou mais valor do que o da 1 + 1/5 hora mais porosa. Abstraindo a elevação da mais-valia relativa pela força produtiva acrescida do trabalho, agora, por exemplo, 3 + 1/3 horas de mais-trabalho fornecem ao capitalista, para 6 + 2/3 horas de trabalho necessário, a mesma massa de valor fornecida antes por 4 horas de mais-trabalho para 8 horas de trabalho necessário. Pergunta: como o trabalho é intensificado? O primeiro efeito da jornada de trabalho reduzida decorre da lei evidente de que a eficiência da força de trabalho está na razão inversa de seu tempo de efetivação. Por isso, dentro de certos limites, ganha-se em grau de esforço o que se perde em duração. No entanto, que o trabalhador efetivamente movimente mais força de trabalho é assegurado pelo capital mediante o método de pagamento. Em manufaturas, por exemplo na cerâmica, onde o papel desempenhado pela maquinaria é nenhum ou insignificante, a introdução da lei fabril demonstrou de modo flagrante que a mera redução da jornada de trabalho eleva maravilhosamente a regularidade, a uniformidade, a ordem, a continuidade e a energia do trabalho.

 

A redução da jornada de trabalho, que, de início, cria a condição subjetiva para a condensação do trabalho, ou seja, a capacidade de o trabalhador liberar mais força em um tempo dado, se torna obrigatória por lei, e a máquina, na mão do capitalista, se transforma no meio objetivo e sistematicamente aplicado de espremer mais-trabalho no mesmo espaço de tempo. Isso ocorre de duas maneiras: mediante aceleração das máquinas e ampliação da maquinaria a ser supervisionada pelo mesmo operário ou de seu campo de trabalho.

 

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Eu não vou investir
meu rico dinheirinho
para ter prejuízo.

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Para eu poder lucrar
e manter a mais-valia,
você tem que mais-trabalhar.

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Se eu vier a falir,
como você comprará
o leite das suas crianças?

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
E nunca se esqueça:
Aqui, eu sou o senhor,
e você é o meu escravo.

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
A lei? Que lei?
Aqui, eu sou a lei,
e você tem de cumpri-la.

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Direitos trabalhistas?
Você só tem um direito:
morrer mais-trabalhando.

Quer brincar, cara?
Ora, brinque direito.
E não adianta rezar
nem esperar um 'mudagre'
1:
Deus apóia a prosperidade!

 

A limitação da jornada de trabalho obriga o capitalista a controlar mais rigorosamente os custos de produção.

 

Em 1844, Lorde Ashley, Conde de Shaftesbury, fez, na Câmara dos Comuns, a seguinte exposição apoiada em documentos: O trabalho feito pelos ocupados nos processos fabris é agora três vezes maior do que ao terem início tais operações. A maquinaria tem, sem dúvida alguma, realizado uma tarefa que substitui os tendões e ps músculos de milhões de seres humanos, mas, também multiplicou prodigiosamente o trabalho das pessoas dominadas por seu terrível movimento. (...) O trabalho de acompanhar para cima e para baixo, por 12 horas, um par de mules para fiar algodão nº 40 envolvia, em 1815, a necessidade de caminhar uma distância de 8 milhas. Em 1832, para acompanhar um par de mules, produzindo fio do mesmo número, durante 12 horas, a distância a percorrer era de 20 milhas, e freqüentemente mais. Em 1825, o fiandeiro tinha de executar, durante 12 horas, 820 tiradas em cada mule, o que perfazia um total de 1640 para 12 horas. Em 1832, o fiandeiro, durante sua jornada de trabalho de 12 horas, tinha de executar, em cada mule, 2200 tiradas, ao todo 4400; em 1844, 2400 em cada mule, ao todo 4800; e, em alguns casos, o montante de trabalho exigido é ainda maior. (...) Tenho aqui à mão outro documento de 1842, no qual é provado que o trabalho aumenta progressivamente, não só porque é preciso percorrer uma distância maior, mas, porque a quantidade de mercadoria produzida é multiplicada, enquanto o número de braços diminui proporcionalmente; e, além disso, porque agora, com freqüência, fia-se algodão inferior, que exige mais trabalho. (...) Na seção de cardagem, também ocorreu grande aumento de trabalho. Uma pessoa faz lá, agora, o trabalho que antes estava repartido por duas. (...) Na tecelagem, onde está ocupado grande número de pessoas, principalmente do sexo feminino, o trabalho cresceu, nos últimos anos, ao menos 10% em decorrência da maior velocidade da maquinaria. Em 1838, o número de novelos fiados por semana era de 18000; em 1843, alcançava 21000. Em 1819, o número de passadas da lançadeira no tear a vapor era de 60 por minuto; em 1842, era de 140, indicando grande aumento de trabalho.

 

O enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho.

 

Em 1862, na Inglaterra, apesar do número de teares ter aumentado, comparado com 1856, o número global dos operários ocupados diminuiu, porém, o das crianças exploradas aumentou.

 

Embora os inspetores de fábrica ingleses louvem incansavelmente, e com toda razão, os resultados favoráveis das leis fabris de 1844 e 1850, reconhecem, no entanto, que a redução da jornada de trabalho provocou uma intensificação do trabalho destruidora da saúde dos trabalhadores (mortalidade por doenças pulmonares) e, portanto, da própria força de trabalho.

 

Não há a menor dúvida de que a tendência do capital, uma vez que o prolongamento da jornada de trabalho lhe é definitivamente vedado por lei, é de se ressarcir mediante sistemática elevação do grau de intensidade do trabalho, e transformar todo aperfeiçoamento da maquinaria num meio de exaurir ainda mais a força de trabalho, o que logo deve levar a novo ponto de reversão, em que será inevitável outra redução das horas de trabalho. [O que, de fato, acabou acontecendo: 12 horas —› 10 horas —› 8 horas. Só uma observaçãozinha: malditos e perversos pais que ainda vendem seus filhos para serem escravizados e prostituídos! Bem, um dia, os trabalhadores trabalharão apenas 5 dias por semana, e tão-somente, no máximo, 6 horas por dia. O que já é muito!]

 

Toda produção capitalista, à medida que ela não é apenas processo de trabalho, mas, ao mesmo tempo, processo de valorização do capital, tem em comum o fato de que não é o trabalhador quem usa as condições de trabalho, mas, que, pelo contrário, são as condições de trabalho que usam o trabalhador. Só, porém, com a maquinaria é que essa inversão ganha realidade tecnicamente palpável. Mediante sua transformação em autômato, o próprio meio de trabalho se confronta, durante o processo de trabalho, com o trabalhador como capital, como trabalho morto que domina e suga a força de trabalho viva. A separação entre as potências espirituais do processo de produção e o trabalho manual, bem como a transformação das mesmas em poderes do capital sobre o trabalho, se completa na grande indústria erguida sobre a base da maquinaria. A habilidade pormenorizada do operador de máquinas individual, esvaziado, desaparece como algo ínfimo e secundário perante a ciência, perante as enormes forças da Natureza e do trabalho social em massa que estão corporificadas no sistema de máquinas e constituem com ele o poder do “patrão”.

 

A luta entre capitalista e assalariado começa com a própria relação–capital. Ela se agita por todo o período manufatureiro. Mas, só a partir da introdução da maquinaria é que o trabalhador combate o próprio meio de trabalho, a forma de existência material do capital. Revolta-se contra essa forma determinada do meio de produção como base material do modo capitalista de produção... Foi preciso tempo e experiência até que o trabalhador distinguisse a maquinaria de sua aplicação capitalista e, daí, aprendesse a transferir seus ataques do próprio meio de produção para sua forma social de exploração.

 

De maneira geral, a miséria com que a crise oprimiu os trabalhadores foi intensificada e consolada pelo progresso rápido e permanente da maquinaria. No entanto, a maquinaria não atua apenas como concorrente mais poderosa, sempre pronta para tornar trabalhador assalariado “supérfluo”. Aberta e tendencialmente, o capital a proclama e maneja como uma potência hostil ao trabalhador. Ela se torna a arma mais poderosa para reprimir as periódicas revoltas operárias, greves etc. contra a autocracia do capital.

 

Em seu depoimento perante a Trades Union Comission, o engenheiro e inventor escocês James Hall Nasmyth (Edimburgo, 19 de agosto de 1808 7 de maio de 1890), o inventor do martelo a vapor, relatou o seguinte sobre os aperfeiçoamentos da maquinaria introduzidos por ele, em decorrência das grandes e longas 'strikes' dos operários de máquinas, em 1851: O traço característico de nossos modernos aperfeiçoamentos mecânicos é a introdução de máquinas-ferramentas automáticas. O que agora um trabalhador mecânico tem de fazer, e o que qualquer garoto pode fazer, não é ele mesmo trabalhar, mas, supervisionar o belo trabalho da máquina. Já está posta de lado toda a classe de trabalhadores que depende exclusivamente de sua própria habilidade. Antes, eu ocupava 4 garotos para cada mecânico. Graças a essas novas combinações mecânicas, reduzi o número de homens adultos de 1500 para 750. O resultado foi um considerável aumento em meu lucro.

 

O capital, ao pôr a ciência a seu serviço, sempre compele à docilidade o braço rebelde do trabalhador.

 

Os aperfeiçoamentos da mecânica só ocorrem gradualmente. Diminuem o salário dos adultos, desempregando parte deles, com o que seu número excede a necessidade de trabalho. Por outro lado, elas aumentam a demanda de trabalho de crianças e, com isso, o índice salarial delas.

 

Crianças-vendidas...
Crianças-compradas...
Crianças-mercantilizadas...
Crianças-humilhadas...
Crianças-seqüestradas...
Crianças--traficadas...
Crianças-desaparecidas...
Crianças-abandonadas...
Crianças-prostituídas...
Crianças-abusadas...
Crianças-coroinhas...
Crianças-pedofilizadas...
Crianças-que-não-brincam...
Crianças-que-não-estudam...
Crianças-ignorantizadas...
Crianças-analfabetizadas...
Crianças-cegadas...
Crianças-ensurdecidas...
Crianças-emudecidas...
Crianças-apocopadas...
Crianças-abrutalhadas...
Crianças-exploradas...
Crianças-instrumentos-do-capital...
Crianças-instrumentos-de-mais-valia...
Crianças-instrumentos-de-mais-trabalho...
Crianças-sacrificadas...
Crianças-escravas...
Crianças-feitores...
Crianças-espiãs...
Crianças-dedos-duros...
Crianças-diamantes-de-sangue...
Crianças-vapores...
Crianças-olheiros...
Crianças-aviões...
Crianças-fogueteiros...
Crianças-gerentes-de-boca-de-fumo...
Crianças-soldados...
Crianças-assassinas...
Crianças-suicidas...
Crianças-preconceituosas...
Crianças-assassinadas...
Crianças-adultos...
Crianças-desprezadas...
Crianças-sem-esperança...
Crianças-sem-presente...
Crianças-sem-futuro...
Crianças-sem-rumo...
Crianças-sem-eira-nem-beira...
Crianças-a-trouxe-mouxe...
Crianças-claudicantes...
Crianças-famintas...
Crianças-subalimentadas...
Crianças-bem-alimentadas...
Crianças-problemas...
Crianças-mendigos...
Crianças-pedintes...
Crianças-vendedores-ambulantes...
Crianças-inocentes-úteis...
Crianças-bucha-de-canhão...
Crianças-massa-de-manobra...
Crianças-instrumentalizadas...
Crianças-autômatos...
Crianças-manipuladas...
Crianças-leva-e-traz...
Crianças-mal-educadas...
Crianças-bem-educadas...
Crianças-esquecidas...
Crianças-sem-Sol...
Crianças-sem-nada...
Crianças-que-não-sonham...
Crianças-que-não-sorriem...
Crianças-tristonhas...
Crianças-anoitecidas...
Crianças-cemitério...
Crianças-casa-dos-horrores...
Crianças-sem-lágrimas...
Crianças-com-lágrimas...
Crianças-adoentadas...
Crianças-que-não-vivem...
Crianças-mortas-vivas...
Crianças-vivas-mortas...
Crianças-mortas-mortas...
Crianças-...
Crianças-...
Crianças-...

Nós, crianças, hoje,
se nos esforçarmos, no futuro,
seremos Deuses Conscientes!

 

Já houve, no passado, quem tivesse exortado os operários fabris a elevarem uma oração de graças à Providência que, por meio da maquinaria, lhes proporcionou o lazer para meditar sobre seus interesses imortais!

 

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso mexericar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso intrigalhar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso embuçalar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho como viver.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso cantar e dançar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso jogar futebol.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso jogar no bicho.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me banhar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que comer.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que beber.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho onde morar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que vestir.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que calçar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me casar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso furunfar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me benzer.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso a Deus rogar.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho onde morrer.

Graças a Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
no céu irei morar.

 

Mais cedo ou mais tarde, capital e trabalho precisam se reencontrar, e é quando se dará a compensação. As provações dos trabalhadores deslocados pela maquinaria são, portanto, tão transitórias quanto as riquezas deste mundo.

 

 

Capital + Trabalho = Grande Encontro
(Em um futuro ainda distante, não
haverá mais este tipo de desunião.)

 

 

Para os trabalhadores, os meios de subsistência não existem como capital, mas como mercadorias, e os trabalhadores mesmos não existem para essas mercadorias como assalariados, mas, como compradores.

 

 

 

 

A maquinaria, através da consagrada lei da oferta e da procura põe, não só no ramo da produção em que é introduzida, mas, também, nos ramos da produção em que não é introduzida, trabalhadores no olho da rua. [Por quê? Porque o capital topa qualquer parada, menos perder dinheiro e deixar de ter lucro. Demissão de trabalhadores ou substituição por outros com menor salário é um dos diversos estratagemas de evitar uma debacle.]

 

Assim que a maquinaria libera parte dos trabalhadores até então ocupados em determinado ramo industrial, o pessoal de reserva também é redistribuído e absorvido em outros ramos de trabalho, enquanto as vítimas originais, em grande parte, decaem e perecem no período de transição. [Esta é uma das maiores crueldades do sistema capitalista.]

 

As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria não existem porque decorrem da própria maquinaria, mas, de sua utilização capitalista! Já que, portanto, considerada em si, a maquinaria encurta o tempo de trabalho, enquanto utilizada como capital aumenta a jornada de trabalho. Em si, facilita o trabalho, utilizada como capital aumenta sua intensidade. Em si, é uma vitória do homem sobre as forças da Natureza, utilizada como capital submete o homem por meio da força da Natureza. em si, aumenta a riqueza do produtor, utilizada como capital o pauperiza. Et cetera.

 

O resultado mais próximo da maquinaria é aumentar a mais-valia e, ao mesmo tempo, a massa de produtos em que ela se representa, portanto, a substância de que a classe dos capitalistas e seu cortejo se nutrem, fazendo crescer essas camadas sociais. Sua riqueza crescente e a diminuição relativamente constante dos trabalhadores exigidos para a produção dos gêneros de primeira necessidade geram, além de novas necessidades de luxo, simultaneamente, novos meios para sua satisfação. Uma parte maior do produto social se transforma em produto excedente e uma parte maior do produto excedente é reproduzida e consumida em formas mais refinadas e mais variadas. Em outras palavras: cresce a produção do luxo [e do supérfluo].

 

 

 

 

A força produtiva extraordinariamente elevada nas esferas da grande indústria, acompanhada como é por exploração da força de trabalho ampliada intensiva e extensivamente em todas as demais esferas da produção, permite ocupar de forma improdutiva uma parte cada vez maior da classe trabalhadora e assim reproduzir maciçamente os antigos escravos domésticos sob o nome de “classe serviçal”, como criados, empregadas, lacaios etc. [E desta forma, continuamos a alimentar a Grande Heresia da Separatividade, que parece não ter fim! Entretanto, terá.]

 

 

Grande Heresia da Separatividade
(Esta animação não está em escala; apenas, simboliza uma idéia.)

 

 

Todos os representantes confiáveis da Economia Política reconhecem que a introdução de nova maquinaria age como uma peste sobre os trabalhadores dos artesanatos e das manufaturas tradicionais, com os quais ela inicialmente compete. Quase todos deploram a escravidão do operário de fábrica. E qual é o grande trunfo que todos eles põem na mesa? Que a maquinaria, depois do pavor de seu período de introdução e desenvolvimento, aumenta, em última instância, os escravos do trabalho, ao invés de finalmente diminuí-los! Sim, a Economia Política se rejubila com o teorema repelente, repelente para qualquer “filantropo” que acredite na eterna necessidade natural do modo de produção capitalista, de que mesmo a fábrica baseada na produção mecanizada, depois de certo período de crescimento, depois de maior ou menor “período de transição”, esfalfa mais trabalhadores do que ela originalmente pôs no olho da rua! [Isto significa que o progresso é um mal e que deveria ser interrompido ou abolido? Não; de forma alguma. O que deve ser interrompido e abolido é a escravidão. O que deve ser interrompido e abolido é a desfraternidade. O que deve ser interrompido e abolido é a Grande Heresia da Separatividade. O que deve ser interrompido e abolido é o lucro. O que deve ser interrompido e abolido é a sobrevalia. O que deve ser interrompido e abolido é o sobretrabalho. O que deve ser interrompido e abolido é a vida que não é Vida. O que deve ser interrompido e abolido é a morte que não é Morte.]

 

 

De modo geral, a vida da indústria é uma seqüência de períodos de vitalidade média, prosperidade, superprodução, crise e estagnação. A insegurança e a instabilidade a que a produção mecanizada submete a ocupação e, com isso, a situação de vida dos trabalhadores se tornam normais com essas oscilações periódicas do ciclo industrial. Descontados os tempos de prosperidade, impera entre os capitalistas a mais intensa luta em torno de sua participação individual no mercado. Essa participação está em relação direta com a barateza do produto. Além dessa rivalidade, produzida por esse fato, no uso de maquinaria aperfeiçoada, que substitui a força de trabalho e de novos métodos de produção, surge toda vez um ponto em que o barateamento de toda a mercadoria é buscado mediante diminuição forçada dos salários abaixo do valor da força de trabalho... O crescimento do número de trabalhadores das fábricas é condicionado pelo crescimento proporcionalmente muito mais rápido do capital global investido nas fábricas. Esse processo só se realiza, porém, dentro dos períodos de maré alta e de maré baixa do ciclo industrial. Além disso, constantemente, ele é interrompido pelo progresso técnico, que ora substitui virtualmente trabalhadores, ora os desloca de fato. Esta mudança qualitativa na produção mecanizada afasta constantemente trabalhadores da fábrica ou cerra seus portões ao novo fluxo de recrutas, enquanto a expansão apenas quantitativa das fábricas engole, além dos expulsos, novos contingentes. Assim, os trabalhadores são ininterruptamente repelidos e atraídos, jogados de um lado para outro, e isso numa mudança constante de sexo, idade e habilidade dos recrutados.

 

O meu capital será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu lucro será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha mais-valia será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha riqueza será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha prosperidade será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha fartura será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu bem-estar será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu 'status' será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu luxo será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha extravagância será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha nababia será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu esbanjamento será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu champanhe será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu caviar será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha estabilidade será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha vida será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu futuro será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

O meu sempre será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

A minha alegria de viver será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.

Sabe de uma coisa? Eu não estou nem aí
se você agüenta ou não, se sofre ou não,
se vive ou morre. Em 1º lugar sempre eu.

 

Em Birmingham e adjacências, o excesso de trabalho, para maiores e menores de idade, assegurou a diversas gráficas de jornais e livros o honroso nome de “matadouro”.

 

Com a prática da jornada de trabalho ilimitada, do trabalho noturno e da livre devastação de seres humanos, toda dificuldade naturalmente desenvolvida é logo considerada uma eterna “barreira natural” à produção.

 

O desperdício de tempo numa parte do dia ou da semana pode ser posteriormente compensado por trabalho extra ou trabalho noturno, método que embrutece os trabalhadores adultos e arruína suas companheiras imaturas e do sexo feminino. Embora essa irregularidade no dispêndio da força de trabalho seja uma reação primitiva e natural contra o enfado de uma labuta monótona e maçante, ela se origina, no entanto, em grau incomparavelmente mais elevado, da anarquia da própria produção, que, por sua vez, pressupõe novamente exploração desenfreada da força de trabalho pelo capital. Além das variações periódicas gerais do ciclo industrial e das oscilações específicas do mercado, em cada ramo de produção, surge ainda a assim chamada temporada, com base quer na periodicidade das estações do ano mais favoráveis à navegação, quer na moda e na premência de grandes encomendas a serem atendidas no menor prazo. Esse costume se expandiu com as ferrovias e a telegrafia.

 

Nas fábricas e manufaturas ainda não sujeitas à lei fabril, periodicamente, reina o mais terrível excesso de trabalho durante a assim chamada temporada, em fluxos imprevisíveis devido a encomendas súbitas. No departamento externo da fábrica, da manufatura ou da casa comercial, na esfera do trabalho domiciliar, já por si totalmente irregular, completamente dependente dos caprichos do capitalista para a obtenção de matéria-prima e de encomendas, a qual aqui não está sujeita a nenhuma preocupação com a valorização de prédios, máquinas etc., e que aqui, tampouco, arrisca coisa alguma, exceto a pele do próprio trabalhador, é criado, assim, sistematicamente, um exército industrial de reserva sempre disponível, durante parte do ano dizimado por um trabalho forçado desumano, enquanto durante outra parte está na miséria por falta de trabalho. Na época, um sapateiro afirmou: Nossos patrões são uns tipos gozados. Eles pensam que não faz nenhum mal a um rapaz se matar de tanto trabalhar metade do ano e ser quase obrigado a vagabundear durante a outra metade.

 

O livre-cambismo [ou livre-câmbio é a teoria que propugna a liberdade de comércio internacional, livre de qualquer barreira ou limitação, seja de caráter alfandegário ou de qualquer outra natureza], numa sociedade com interesses antagônicos [e egoístas], faz com que cada qual promova o bem comum mediante a busca de sua vantagem particular.

 

Reiteradas vezes, com unanimidade, os médicos ingleses declararam que 500 pés cúbicos de ar por pessoa constituem o mínimo absolutamente necessário em condições de trabalho continuado.

 

O que melhor poderia caracterizar o modo de produção capitalista do que a necessidade de que lhe sejam impostas, por meio de coação legal do Estado, as mais simples providências de higiene e de saúde?

 

Honoré Gabriel Riqueti, Conde de Mirabeau, (Bignon-Mirabeau, Loiret, 9 de março de 1749 Paris, 2 de abril de 1791), jornalista, escritor, político e grande orador parlamentar francês: Impossible? Ne me dites jamais ce bête de mot! [Impossível? Jamais me diga essa palavra estúpida.]

 

 

 

Continua...

 

 

 

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Nota:

1. 'Mudagre' = Mudança por milagre.

 

Música de fundo:

L'internationale
Composição: Eugène Pottier (letra) & Pierre Chretien De Geyter (música)

Fonte:

http://drapeaurouge.free.fr/inter.html#fr

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.shutterstock.com/pt/

https://id.pngtree.com/

https://blog.tio.digital/

https://es.dreamstime.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital

https://pcb.org.br/portal2/7333/ler-o-capital/

 

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