Fragmentos
Marxistas
A
máquina é o mais comprovado meio de prolongar a jornada de
trabalho.
Com
o progresso da mecanização e com a experiência acumulada
de uma classe própria de operadores de máquinas, aumentou
naturalmente a velocidade e, com isso, a intensidade do trabalho. Assim,
na Inglaterra o prolongamento da jornada de trabalho avançou durante
meio século, paralelamente com a crescente intensificação
do trabalho na fábrica. No entanto, se torna compreensível
que, num trabalho que não se caracteriza por paroxismos transitórios,
mas, por uma uniformidade regular, repetida a cada dia, tem que se alcançar
um ponto nodal, em que prolongamento da jornada de trabalho e intensidade
do trabalho se excluam mutuamente, de modo que o prolongamento da jornada
de trabalho só é compatível com um grau mais fraco
de intensidade do trabalho e, vice-versa, um grau mais elevado de intensidade
com a redução da jornada de trabalho. Assim que a revolta
cada vez maior da classe operária obrigou o Estado a reduzir à
força a jornada de trabalho e a ditar, inicialmente às fábricas
propriamente ditas, uma jornada normal de trabalho, a partir desse instante,
portanto, em que se impossibilitou, de uma vez por todas, a produção
crescente de mais-valia mediante o prolongamento da jornada de trabalho,
o capital se lançou com força total e plena consciência
à produção de mais-valia relativa, por meio do desenvolvimento
acelerado do sistema de máquinas. Ao mesmo tempo, ocorreu uma modificação
no caráter da mais-valia relativa. Em geral, o método de produção
da mais-valia relativa consiste em capacitar o trabalhador, mediante maior
força produtiva do trabalho, a produzir mais com o mesmo dispêndio
de trabalho no mesmo tempo. O mesmo tempo de trabalho continua a adicionar
o mesmo valor ao produto global, embora esse valor de troca inalterado se
apresente agora em mais valores de uso e, por isso, caia o valor da mercadoria
individual. Outra coisa, porém, ocorre assim que a redução
forçada da jornada de trabalho, com o prodigioso impulso que ela
dá ao desenvolvimento da força produtiva e à economia
das condições de produção, impõe maior
dispêndio de trabalho, no mesmo tempo, tensão mais elevada
da força de trabalho, preenchimento mais denso dos poros da jornada
de trabalho, isto é, impõe ao trabalhador uma condensação
do trabalho em um grau que só é atingível dentro da
jornada de trabalho mais curta. Essa compressão de maior massa de
trabalho em dado período de tempo conta, agora, pelo que ela é:
como maior quantum de trabalho. Ao lado da medida do tempo de trabalho como
“grandeza extensiva”, surgiu a medida de seu grau de condensação.
Mas influência no tempo de trabalho como medida de valor só
ocorre também aqui enquanto a grandeza intensiva e a extensiva se
colocam como expressões antitéticas e mutuamente excludentes
do mesmo quantum de trabalho. A hora mais intensa da jornada de trabalho
de 10 horas contém, agora, tanto ou mais trabalho, isto é,
força de trabalho despendida, do que a hora mais porosa da jornada
de trabalho de 12 horas. Seu produto tem, por isso, tanto ou mais valor
do que o da 1 + 1/5 hora mais porosa. Abstraindo
a elevação da mais-valia relativa pela força produtiva
acrescida do trabalho, agora, por exemplo, 3 + 1/3 horas de mais-trabalho
fornecem ao capitalista, para 6 + 2/3 horas de trabalho necessário,
a mesma massa de valor fornecida antes por 4 horas de mais-trabalho para
8 horas de trabalho necessário. Pergunta: como o trabalho é
intensificado? O primeiro efeito da jornada de trabalho reduzida decorre
da lei evidente de que a eficiência da força de trabalho está
na razão inversa de seu tempo de efetivação. Por isso,
dentro de certos limites, ganha-se em grau de esforço o que se perde
em duração. No entanto, que o trabalhador efetivamente movimente
mais força de trabalho é assegurado pelo capital mediante
o método de pagamento. Em manufaturas, por exemplo na cerâmica,
onde o papel desempenhado pela maquinaria é nenhum ou insignificante,
a introdução da lei fabril demonstrou de modo flagrante que
a mera redução da jornada de trabalho eleva maravilhosamente
a regularidade, a uniformidade, a ordem, a continuidade e a energia do trabalho.
A
redução da jornada de trabalho, que, de início,
cria a condição subjetiva
para a condensação do trabalho, ou seja, a capacidade de o
trabalhador liberar mais força em um tempo dado, se torna obrigatória
por lei, e a máquina, na mão do capitalista, se transforma
no meio objetivo e sistematicamente aplicado de espremer mais-trabalho no
mesmo espaço de tempo. Isso ocorre de duas maneiras: mediante aceleração
das máquinas e ampliação da maquinaria a ser supervisionada
pelo mesmo operário ou de seu campo de trabalho.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Eu não vou investir
meu rico dinheirinho
para ter prejuízo.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Para eu poder lucrar
e manter a mais-valia,
você tem que mais-trabalhar.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Se eu vier a falir,
como você comprará
o leite das suas crianças?
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
E nunca se esqueça:
Aqui, eu sou o senhor,
e você é o meu escravo.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
A lei? Que lei?
Aqui, eu sou a lei,
e você tem de cumpri-la.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
Direitos trabalhistas?
Você só tem um direito:
morrer mais-trabalhando.
—
Quer
brincar, cara?
Ora, brinque direito.
E não adianta rezar
nem esperar um 'mudagre'1:
Deus apóia a prosperidade!
A
limitação da jornada de trabalho obriga o capitalista a controlar
mais rigorosamente os custos de produção.
Em
1844, Lorde Ashley, Conde de Shaftesbury, fez, na Câmara dos Comuns,
a seguinte exposição apoiada em documentos: O
trabalho feito pelos ocupados nos processos fabris é agora três
vezes maior do que ao terem início tais operações.
A maquinaria tem, sem dúvida alguma, realizado uma tarefa que substitui
os tendões e ps músculos de milhões de seres humanos,
mas, também multiplicou prodigiosamente o trabalho das pessoas dominadas
por seu terrível movimento. (...) O trabalho de acompanhar para cima
e para baixo, por 12 horas, um par de mules para fiar algodão nº
40 envolvia, em 1815, a necessidade de caminhar uma distância de 8
milhas. Em 1832, para acompanhar um par de mules, produzindo fio do mesmo
número, durante 12 horas, a distância a percorrer era de 20
milhas, e freqüentemente mais. Em 1825, o fiandeiro tinha de executar,
durante 12 horas, 820 tiradas em cada mule, o que perfazia um total de 1640
para 12 horas. Em 1832, o fiandeiro, durante sua jornada de trabalho de
12 horas, tinha de executar, em cada mule, 2200 tiradas, ao todo 4400; em
1844, 2400 em cada mule, ao todo 4800; e, em alguns casos, o montante de
trabalho exigido é ainda maior. (...) Tenho aqui à mão
outro documento de 1842, no qual é provado que o trabalho aumenta
progressivamente, não só porque é preciso percorrer
uma distância maior, mas, porque a quantidade de mercadoria produzida
é multiplicada, enquanto o número de braços diminui
proporcionalmente; e, além disso, porque agora, com freqüência,
fia-se algodão inferior, que exige mais trabalho. (...) Na seção
de cardagem, também ocorreu grande aumento de trabalho. Uma pessoa
faz lá, agora, o trabalho que antes estava repartido por duas. (...)
Na tecelagem, onde está ocupado grande número de pessoas,
principalmente do sexo feminino, o trabalho cresceu, nos últimos
anos, ao menos 10% em decorrência da maior velocidade da maquinaria.
Em 1838, o número de novelos fiados por semana era de 18000; em 1843,
alcançava 21000. Em 1819, o número de passadas da lançadeira
no tear a vapor era de 60 por minuto; em 1842, era de 140, indicando grande
aumento de trabalho.
O
enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais
intensiva da força de trabalho.
Em
1862, na Inglaterra, apesar do número de teares ter aumentado,
comparado com 1856, o número global dos operários ocupados
diminuiu, porém, o das crianças exploradas aumentou.
Embora
os inspetores de fábrica ingleses louvem incansavelmente, e com toda
razão, os resultados favoráveis das leis fabris de 1844 e
1850, reconhecem, no entanto, que a redução da jornada de
trabalho provocou uma intensificação do trabalho destruidora
da saúde dos trabalhadores (mortalidade por doenças pulmonares)
e, portanto, da própria força de trabalho.
Não
há a menor dúvida de que a tendência do capital, uma
vez que o prolongamento da jornada de trabalho lhe é definitivamente
vedado por lei, é de se ressarcir mediante sistemática elevação
do grau de intensidade do trabalho, e transformar todo aperfeiçoamento
da maquinaria num meio de exaurir ainda mais a força de trabalho,
o que logo deve levar a novo ponto de reversão, em que será
inevitável outra redução das horas de trabalho. [O
que, de fato, acabou acontecendo: 12 horas —› 10 horas
—› 8 horas. Só uma observaçãozinha:
malditos e perversos pais que ainda vendem seus
filhos para serem escravizados e prostituídos! Bem, um dia, os trabalhadores
trabalharão apenas 5 dias por semana, e tão-somente, no máximo,
6 horas por dia. O que já é muito!]
Toda
produção capitalista, à medida que ela não é
apenas processo de trabalho, mas, ao mesmo tempo, processo de valorização
do capital, tem em comum o fato de que não é o trabalhador
quem usa as condições de trabalho, mas, que, pelo contrário,
são as condições de trabalho que usam o trabalhador.
Só, porém, com a maquinaria é que essa inversão
ganha realidade tecnicamente palpável. Mediante sua transformação
em autômato, o próprio meio de trabalho se confronta, durante
o processo de trabalho, com o trabalhador como capital, como trabalho morto
que domina e suga a força de trabalho viva. A separação
entre as potências espirituais do processo de produção
e o trabalho manual, bem como a transformação das mesmas em
poderes do capital sobre o trabalho, se completa na grande indústria
erguida sobre a base da maquinaria. A habilidade pormenorizada do operador
de máquinas individual, esvaziado, desaparece como algo ínfimo
e secundário perante a ciência, perante as enormes forças
da Natureza e do trabalho social em massa que estão corporificadas
no sistema de máquinas e constituem com ele o poder do “patrão”.
A
luta entre capitalista e assalariado começa com a própria
relação–capital. Ela se agita por todo o período
manufatureiro. Mas, só a partir da introdução da maquinaria
é que o trabalhador combate o próprio meio de trabalho, a
forma de existência material do capital. Revolta-se contra essa forma
determinada do meio de produção como base material do modo
capitalista de produção... Foi preciso tempo e experiência
até que o trabalhador distinguisse a maquinaria de sua aplicação
capitalista e, daí, aprendesse a transferir seus ataques do próprio
meio de produção para sua forma social de exploração.
De
maneira geral, a miséria com que a crise oprimiu os trabalhadores
foi intensificada e consolada pelo progresso rápido e permanente
da maquinaria. No entanto, a maquinaria não atua apenas como concorrente
mais poderosa, sempre pronta para tornar trabalhador assalariado “supérfluo”.
Aberta e tendencialmente, o capital a proclama e maneja como uma potência
hostil ao trabalhador. Ela se torna a arma mais poderosa para reprimir as
periódicas revoltas operárias, greves etc. contra a autocracia
do capital.
Em
seu depoimento perante a Trades Union Comission, o engenheiro e inventor
escocês James Hall Nasmyth (Edimburgo, 19 de agosto de 1808 –
7 de maio de 1890), o inventor do martelo a vapor, relatou o seguinte sobre
os aperfeiçoamentos da maquinaria introduzidos por ele, em decorrência
das grandes e longas 'strikes' dos operários de máquinas,
em 1851: O traço
característico de nossos modernos aperfeiçoamentos mecânicos
é a introdução de máquinas-ferramentas automáticas.
O que agora um trabalhador mecânico tem de fazer, e o que qualquer
garoto pode fazer, não é ele mesmo trabalhar, mas, supervisionar
o belo trabalho da máquina. Já está posta de lado toda
a classe de trabalhadores que depende exclusivamente de sua própria
habilidade. Antes, eu ocupava 4 garotos para cada mecânico. Graças
a essas novas combinações mecânicas, reduzi o número
de homens adultos de 1500 para 750. O resultado foi um considerável
aumento em meu lucro.
O
capital, ao pôr a ciência a seu serviço, sempre compele
à docilidade o braço rebelde do trabalhador.
Os
aperfeiçoamentos da mecânica só ocorrem gradualmente.
Diminuem o salário dos adultos, desempregando parte deles, com o
que seu número excede a necessidade de trabalho. Por outro lado,
elas aumentam a demanda de trabalho de crianças e, com isso, o índice
salarial delas.
Crianças-vendidas...
Crianças-compradas...
Crianças-mercantilizadas...
Crianças-humilhadas...
Crianças-seqüestradas...
Crianças--traficadas...
Crianças-desaparecidas...
Crianças-abandonadas...
Crianças-prostituídas...
Crianças-abusadas...
Crianças-coroinhas...
Crianças-pedofilizadas...
Crianças-que-não-brincam...
Crianças-que-não-estudam...
Crianças-ignorantizadas...
Crianças-analfabetizadas...
Crianças-cegadas...
Crianças-ensurdecidas...
Crianças-emudecidas...
Crianças-apocopadas...
Crianças-abrutalhadas...
Crianças-exploradas...
Crianças-instrumentos-do-capital...
Crianças-instrumentos-de-mais-valia...
Crianças-instrumentos-de-mais-trabalho...
Crianças-sacrificadas...
Crianças-escravas...
Crianças-feitores...
Crianças-espiãs...
Crianças-dedos-duros...
Crianças-diamantes-de-sangue...
Crianças-vapores...
Crianças-olheiros...
Crianças-aviões...
Crianças-fogueteiros...
Crianças-gerentes-de-boca-de-fumo...
Crianças-soldados...
Crianças-assassinas...
Crianças-suicidas...
Crianças-preconceituosas...
Crianças-assassinadas...
Crianças-adultos...
Crianças-desprezadas...
Crianças-sem-esperança...
Crianças-sem-presente...
Crianças-sem-futuro...
Crianças-sem-rumo...
Crianças-sem-eira-nem-beira...
Crianças-a-trouxe-mouxe...
Crianças-claudicantes...
Crianças-famintas...
Crianças-subalimentadas...
Crianças-bem-alimentadas...
Crianças-problemas...
Crianças-mendigos...
Crianças-pedintes...
Crianças-vendedores-ambulantes...
Crianças-inocentes-úteis...
Crianças-bucha-de-canhão...
Crianças-massa-de-manobra...
Crianças-instrumentalizadas...
Crianças-autômatos...
Crianças-manipuladas...
Crianças-leva-e-traz...
Crianças-mal-educadas...
Crianças-bem-educadas...
Crianças-esquecidas...
Crianças-sem-Sol...
Crianças-sem-nada...
Crianças-que-não-sonham...
Crianças-que-não-sorriem...
Crianças-tristonhas...
Crianças-anoitecidas...
Crianças-cemitério...
Crianças-casa-dos-horrores...
Crianças-sem-lágrimas...
Crianças-com-lágrimas...
Crianças-adoentadas...
Crianças-que-não-vivem...
Crianças-mortas-vivas...
Crianças-vivas-mortas...
Crianças-mortas-mortas...
Crianças-...
Crianças-...
Crianças-...
Nós,
crianças, hoje,
se nos esforçarmos, no futuro,
seremos Deuses Conscientes!
Já
houve, no passado, quem tivesse
exortado os operários fabris a elevarem uma oração
de graças à Providência que, por meio da maquinaria,
lhes proporcionou o lazer
para meditar sobre seus interesses imortais!
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso mexericar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso intrigalhar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso embuçalar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho como viver.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso cantar e dançar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso jogar futebol.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso jogar no bicho.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me banhar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que comer.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que beber.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho onde morar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que vestir.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho o que calçar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me casar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso furunfar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso me benzer.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
posso a Deus rogar.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
tenho onde morrer.
—
Graças a
Deus!
Sou escravizado,
mas, pelo menos,
no céu irei morar.
Mais
cedo ou mais tarde, capital e trabalho precisam se reencontrar, e é
quando se dará a compensação. As provações
dos trabalhadores deslocados pela maquinaria são, portanto, tão
transitórias quanto as riquezas deste mundo.
Capital
+ Trabalho = Grande Encontro
(Em um futuro ainda distante, não
haverá mais este tipo de desunião.)
Para
os trabalhadores, os meios de subsistência não existem como
capital, mas como mercadorias, e
os trabalhadores mesmos não existem
para essas mercadorias como assalariados, mas, como compradores.
A
maquinaria, através da consagrada
lei da oferta e da procura põe, não só
no ramo da produção em que é introduzida, mas, também,
nos ramos da produção em que não é introduzida,
trabalhadores no olho da rua. [Por
quê? Porque o capital topa qualquer parada, menos perder dinheiro
e deixar de ter lucro. Demissão de trabalhadores ou substituição
por outros com menor salário é um dos diversos estratagemas
de evitar uma debacle.]
Assim
que a maquinaria libera parte dos trabalhadores até então
ocupados em determinado ramo industrial, o pessoal de reserva também
é redistribuído e absorvido em outros ramos de trabalho, enquanto
as vítimas originais, em grande parte, decaem e perecem no período
de transição. [Esta
é uma das maiores crueldades do sistema capitalista.]
As
contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização
capitalista da maquinaria não existem porque decorrem da própria
maquinaria, mas, de sua utilização capitalista! Já
que, portanto, considerada em si, a maquinaria encurta o tempo de trabalho,
enquanto utilizada como capital aumenta a jornada de trabalho. Em si, facilita
o trabalho, utilizada como capital aumenta sua intensidade. Em si, é
uma vitória do homem sobre as forças da Natureza, utilizada
como capital submete o homem por meio da força da Natureza. em si,
aumenta a riqueza do produtor, utilizada como capital o pauperiza. Et cetera.
O
resultado mais próximo da maquinaria é aumentar a mais-valia
e, ao mesmo tempo, a massa de produtos em que ela se representa, portanto,
a substância de que a classe dos capitalistas e seu cortejo se nutrem,
fazendo crescer essas camadas sociais. Sua riqueza crescente e a diminuição
relativamente constante dos trabalhadores exigidos para a produção
dos gêneros de primeira necessidade geram, além de novas necessidades
de luxo, simultaneamente, novos meios para sua satisfação.
Uma parte maior do produto social se transforma em produto excedente e uma
parte maior do produto excedente é reproduzida e consumida em formas
mais refinadas e mais variadas. Em outras palavras: cresce a produção
do luxo [e
do supérfluo].
A
força produtiva extraordinariamente elevada nas esferas da grande
indústria, acompanhada como é por exploração
da força de trabalho ampliada intensiva e extensivamente em todas
as demais esferas da produção, permite ocupar de forma improdutiva
uma parte cada vez maior da classe trabalhadora e assim reproduzir maciçamente
os antigos escravos domésticos sob o nome de “classe serviçal”,
como criados, empregadas, lacaios etc.
[E desta forma, continuamos a alimentar a Grande Heresia da Separatividade,
que parece não ter fim! Entretanto, terá.]
Grande
Heresia da Separatividade
(Esta animação
não está em escala; apenas, simboliza uma idéia.)
Todos
os representantes confiáveis da Economia Política reconhecem
que a introdução de nova maquinaria age como uma peste sobre
os trabalhadores dos artesanatos e das manufaturas tradicionais, com os
quais ela inicialmente compete. Quase todos deploram a escravidão
do operário de fábrica. E qual é o grande trunfo que
todos eles põem na mesa? Que a maquinaria, depois do pavor de seu
período de introdução e desenvolvimento, aumenta, em
última instância, os escravos do trabalho, ao invés
de finalmente diminuí-los! Sim, a Economia Política se rejubila
com o teorema repelente, repelente para qualquer “filantropo”
que acredite na eterna necessidade natural do modo de produção
capitalista, de que mesmo a fábrica baseada na produção
mecanizada, depois de certo período de crescimento, depois de maior
ou menor “período de transição”, esfalfa
mais trabalhadores do que ela originalmente pôs no olho da rua! [Isto
significa que o progresso é um mal e que deveria ser interrompido
ou abolido? Não; de forma alguma. O que deve ser interrompido e abolido
é a escravidão. O
que deve ser interrompido e abolido é a desfraternidade. O
que deve ser interrompido e abolido é a Grande Heresia da Separatividade.
O
que deve ser interrompido e abolido é o lucro.
O
que deve ser interrompido e abolido é a sobrevalia.
O
que deve ser interrompido e abolido é o sobretrabalho.
O
que deve ser interrompido e abolido é a vida que não é
Vida.
O
que deve ser interrompido e abolido é a morte que não é
Morte.]
De
modo geral, a vida da indústria é uma seqüência
de períodos de vitalidade média, prosperidade, superprodução,
crise e estagnação. A insegurança e a instabilidade
a que a produção mecanizada submete a ocupação
e, com isso, a situação de vida dos trabalhadores se tornam
normais com essas oscilações periódicas do ciclo industrial.
Descontados os tempos de prosperidade, impera entre os capitalistas a mais
intensa luta em torno de sua participação individual no mercado.
Essa participação está em relação direta
com a barateza do produto. Além dessa rivalidade, produzida por esse
fato, no uso de maquinaria aperfeiçoada, que substitui a força
de trabalho e de novos métodos de produção, surge toda
vez um ponto em que o barateamento de toda a mercadoria é buscado
mediante diminuição forçada dos salários abaixo
do valor da força de trabalho... O crescimento do número de
trabalhadores das fábricas é condicionado pelo crescimento
proporcionalmente muito mais rápido do capital global investido nas
fábricas. Esse processo só se realiza, porém, dentro
dos períodos de maré alta e de maré baixa do ciclo
industrial. Além disso, constantemente, ele
é interrompido pelo progresso técnico, que
ora substitui virtualmente trabalhadores, ora os desloca de fato. Esta mudança
qualitativa na produção mecanizada afasta constantemente trabalhadores
da fábrica ou cerra seus portões ao novo fluxo de recrutas,
enquanto a expansão apenas quantitativa das fábricas engole,
além dos expulsos, novos contingentes. Assim, os trabalhadores são
ininterruptamente repelidos e atraídos, jogados de um lado para outro,
e isso numa mudança constante de sexo, idade e habilidade dos recrutados.
— O
meu capital será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu lucro será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha mais-valia será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha riqueza será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha prosperidade será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha fartura será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu bem-estar será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu 'status' será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu luxo será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha extravagância será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha nababia será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu esbanjamento será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu champanhe será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu caviar será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha estabilidade será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha vida será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu futuro será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— O
meu sempre será eternamente mantido
mediante a diminuição do seu
salário
abaixo do valor da força de trabalho.
— A
minha alegria de viver será eternamente mantida
mediante a diminuição do seu salário
abaixo do valor da força de trabalho.