O CAPITAL
(Uma Análise ± Esotérica)

Parte VII

 

 

 

O Capital

O Capital
(Livro 1, capa da 1ª edição, 1867)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Este rascunho se constitui da 7ª parte de uma coletânea de fragmentos (eventual e esotérico-despretensiosamente comentados e, algumas vezes, ligeiramente editados) de O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx, que constitui uma análise do Capitalismo (crítica da Economia Política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista-marxista. Deste conjunto de livros, o único que foi lançado em vida por Marx foi O Processo de Produção do Capital, em 1867. Os outros foram publicados após a sua morte, ficando as edições a cargo de Friedrich Engels (Barmen, 28 de novembro de 1820 – Londres, 5 de agosto de 1895). Devo enfatizar que este estudo não é para especialistas nem para comunistas; ao prepará-lo, tive em mente a pessoa comum, que nunca leu O Capital ou sequer ouviu falar deste livro. Por isto, não é mais do que um despretensioso rascunho. Meu intento foi compatibilizar (ou incompatibilizar) a obra com alguns princípios esotéricos fundamentais. Seja como for, quantos lembram das passagens a seguir do Evangelho de Mateus? Não ajunteis tesouros na Terra, onde as traças e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem as traças nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso Coração. (Mateus, VI:19 a 21). Disse-lhe Jesus: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem, e me segue. (Mateus, XIX:21). Uma coisa eu tenho certeza: ao longo dos séculos, o próprio Vaticano esqueceu destas recomendações!

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Karl Heinrich Marx

Karl Heinrich Marx

 

 

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) foi um filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. A obra de Marx, em Economia, estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o Capital, além do pensamento econômico posterior. Publicou vários livros durante sua vida, sendo O Manifesto Comunista e O Capital os mais proeminentes.

 

Marx nasceu em uma família de classe média em Tréveris, na Renânia Prussiana, e estudou nas Universidades de Bonn e Berlim, onde se interessou pelas idéias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, escreveu para o Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na Teoria da Concepção Materialista da História. Em 1843, mudou-se para Paris, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres juntamente a sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e a formular suas teorias sobre a atividade econômica e social. Também fez campanha para o Socialismo, e se tornou uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores.

 

As teorias de Marx sobre a sociedade, a Economia e a política – a compreensão coletiva do que é conhecido como Marxismo sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes (um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a produção), e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante, embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. Além disto, Marx previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o Capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema: o Socialismo. Ele argumentava que os antagonismos no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado, seriam conseqüência de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao longo da História. Isto, associado à sociedade industrial e ao acúmulo de Capital, geraria a sua classe antagônica, que resultaria na conquista do poder político pela classe operária e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes e apátrida o Comunismo regida por uma livre associação de produtores. Marx, ativamente, argumentava que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o Capitalismo e provocar mudanças socioeconômicas.

 

Elogiado e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes na História da Humanidade. Muitos intelectuais, sindicatos e partidos políticos em nível mundial foram influenciados por suas idéias, com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é normalmente citado, ao lado de David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 Paris, 15 de novembro de 1917) e Karl Emil Maximilian Weber (Erfurt, 21 de abril de 1864 Munique, 14 de junho de 1920), como um dos três principais arquitetos da Ciência Social moderna.

 

 

 

Fragmentos Marxistas

 

 

 

A divisão social do trabalho surgiu por meio do intercâmbio entre esferas de produção originalmente diferentes, porém, independentes entre si. Onde a divisão fisiológica do trabalho constitui o ponto de partida, os órgãos particulares de um todo diretamente conexos se desprendem uns dos outros, se decompõem, para cujo processo de decomposição o intercâmbio de mercadorias com comunidades estranhas dá o impulso principal, e se autonomizam até o ponto em que a conexão entre os diferentes trabalhos é medida pelo intercâmbio dos produtos como mercadorias. Em um caso, é a dependência do que era autônomo; no outro, a autonomização dos que antes eram dependentes.

 

A especialização e o parcelamento do homem levaram Adam Ferguson (1º de julho de 1723 22 de fevereiro de 1816), professor de Adam Smith (Kirkcaldy, 5 de junho de 1723 Edimburgo, 17 de julho de 1790), a exclamar: Estamos criando uma nação de hilotas [hilota, em Esparta, era um escravo do Estado, que cultivava o campo; figurativamente, pessoa de ínfima condição social ou que foi reduzida ao grau extremo da miséria, da servilidade ou da ignorância] e não existem livres entre nós.

 

Se o criador de gado, por exemplo, produz peles, o curtidor transforma as peles em couro e o sapateiro converte o couro em botas, só a forma final acabada é o produto combinado de seus trabalhos específicos. O que caracteriza esta divisão manufatureira do trabalho? Que o trabalhador parcial não produz mercadoria. Só o produto comum dos trabalhadores parciais se transforma em mercadoria.Criador de gado + curtidor de peles + sapateiro = força de trabalho combinada.

 

A concorrência e a coerção exercida pela pressão de interesses recíprocos, do mesmo modo que no reino animal, como registrou o matemático, teórico político e filósofo inglês Thomas Hobbes (5 de abril de 1588 4 de dezembro de 1679) na sua obra Leviathan [um dos exemplos mais antigos e mais influentes da teoria do contrato social], leva a bellum omnium contra omnes [guerra de todos contra todos], preservando, grotescamente, mais ou menos, as condições de existência de todas as espécies. A mesma consciência burguesa, que festeja a divisão manufatureira do trabalho, a anexação do trabalhador por toda a vida a uma operação parcial e a subordinação incondicional dos trabalhadores parciais ao capital, como uma organização do trabalho que aumenta a força produtiva, denuncia com igual alarido qualquer controle e regulação social consciente do processo social de produção, como uma infração dos invioláveis direitos de propriedade, da liberdade e da genialidade autodeterminante do capitalista individual. É muito característico que os mais entusiásticos apologistas do sistema fabril não saibam dizer nada pior contra toda organização geral do trabalho social além de que ela transformaria toda a sociedade em uma fábrica.

 

Na sociedade do modo de produção capitalista, a anarquia da divisão social do trabalho e o despotismo da divisão do trabalho se condicionam reciprocamente.

 

A divisão manufatureira do trabalho é uma criação totalmente específica do modo de produção capitalista.

 

A divisão do trabalho marca o trabalhador manufatureiro com ferro em brasa como propriedade do capital. A divisão do trabalho (conversão em trabalho parcial) mutila o trabalhador.

 

O que os trabalhadores parciais perdem se concentra no capital com que se confrontam. O capital se completa na grande indústria, que separa do trabalho a ciência como potência autônoma de produção e a força a servir ao capital. O enriquecimento do trabalhador coletivo e, portanto, do capital em força produtiva social, é condicionado pelo empobrecimento do trabalhador em forças produtivas individuais. Sobre isso, Adam Ferguson (1º de julho de 1723 22 de fevereiro de 1816), professor de Adam Smith (Kirkcaldy, 5 de junho de 1723 Edimburgo, 17 de julho de 1790) escreveu: A ignorância é a mãe da indústria, como da superstição. A reflexão e a imaginação estão sujeitas ao erro, mas, o hábito de movimentar o pé ou a mão não depende nem de uma nem da outra. As manufaturas prosperam, portanto, mais onde mais se dispensa o espírito, de modo que a oficina pode ser considerada uma máquina cujas partes são seres humanos.

 

Um manda,
o outro obedece.
Um quer,
o outro supre.

Um ganha,
o outro perde.

Um locupletação,
o outro carência.
Um sonhos,
o outro pesadelos.
Um sucesso,
o outro fracasso.
Um realização,
o outro esperança.
Um efetivação,
o outro malogro.

Um enriquecimento,
o outro empobrecimento.
Um lucro,
outro sobretrabalho.
Um ri,
o outro chora.
Um se diverte,
o outro se desagrada.
Um come,
o outro passa fome.
Um caviar,
o outro farofa com farofa.
Um bebe,
o outro tem sede.
Um champanhota,
o outro água salobra.
Um plano de saúde,
o outro .
Um ,
o outro carro de boi.
Um Côte d'Azur,
o outro Cidade de Deus.
Um cresce,
o outro encolhe.
Um palácio,
o outro palafita.
Um dia de Sol,
o outro noite de chuva.
Um verão,
o outro inverno e frio.
Um ar-condicionado,
o outro ventarola.
Um rendimento,
o outro dívida.

Um ,
o outro .
Um tudo,
o outro nada.

 

Quanto a essa questão da divisão social do trabalho (trabalhadores parciais envolvidos apenas em operações simples), o filósofo e economista britânico nascido na Escócia Adam Smith (Kirkcaldy, 5 de junho de 1723 – Edimburgo, 17 de julho de 1790) assim se pronunciou: A inteligência da maior parte dos homens, necessariamente, se desenvolve a partir e por meio de suas ocupações diárias. Um homem que despende toda a sua vida na execução de algumas operações simples não tem nenhuma oportunidade de exercitar sua inteligência. Ele se torna, geralmente, tão estúpido e ignorante quanto é possível a uma criatura humana... A uniformidade de sua vida estacionária corrompe naturalmente também a coragem de sua mente. Ela destrói mesmo a energia de seu corpo e o incapacita a empregar suas forças com vigor e perseverança, a não ser na operação parcial para a qual foi adestrado. Sua habilidade em seu ofício particular parece assim ter sido adquirida à custa de suas virtudes intelectuais, sociais e guerreiras. Mas, em toda sociedade industrial e civilizada, esse é o estado no qual, necessariamente, tem de cair o pobre que trabalha (the labouring poor), isto é, a grande massa do povo.

 

 

Panela nova é bem melhor do que panela velha!

 

'Para mim, o que importa é a pessoa.
Não me interessa se ela é coroa,
panela velha é que faz comida boa.'

Não me importo se é novo ou velho.
Não me importo se é coroa ou anelho.
Se não produzir, eu meto o relho.

Se ele exercita sua inteligência,
é problema só da sua ambiência.
Só me interessa a sua adimplência.

Aqui, é mais-trabalho e mais-valia,
lucro diário, para me trazer alegria,
todas as horas, entra dia, sai dia.

Quem é pobre tem que trabalhar.
O zé-povinho que se escravizar.
E eu, é claro, tenho que enricar.

Desde o tempo do 'botinhas',1 a realeza
soube explorar direitinho a alheia destreza.
Essa sempre foi a magna lei da esperteza.

Quem prega exclusivamente prega.
Quem fumega unicamente fumega.
Quem carrega somente carrega.

Quem enrenda apenas enrenda.
Quem legenda apenas legenda.
Quem remenda apenas remenda.

Galinha nasceu pra botar ovo.
Caranguejo é pescado com covo.
Eu oprimo. O que nisso há de novo?

Oprimir é parte do meu DNA.
'La Vita Ultraterrena?' 'Al di là?'
Ora bolas, eu vivo no lado de cá!

O outro? Ele não é meu amigo.
Até que eu seja enfiado no jazigo,
só cuidarei do meu próprio umbigo.

A tal da Lei da Causa e do Efeito?
Que faz entrar nos eixos o malfeito?
O bom Pedroca é meu amigo do peito!

E assim, numa boa, eu vou levando.
Cada vez mais, só vou me locupletando.
Quem quiser que me chame de infando.

 

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 – Berlim, 14 de novembro de 1831) foi mais longe, e sentenciou: Subdividir um homem significa executá-lo... A subdivisão do trabalho é o assassinato de um povo.

 

Por exemplo, a divisão manufatureira do trabalho cria, por meio da análise da atividade artesanal, da especificação dos instrumentos de trabalho, da formação dos trabalhadores especiais, de sua agrupação e combinação em um mecanismo global, a graduação qualitativa e a proporcionalidade quantitativa de processos sociais de produção, portanto, determinada organização do trabalho social, e desenvolve, com isso, ao mesmo tempo, nova força produtiva social do trabalho. Como forma especificamente capitalista do processo de produção social e sob as bases preexistentes ela não poderia se desenvolver de outra forma, a não ser na capitalista é apenas um método especial de produzir mais-valia relativa ou aumentar a autovalorização do capital, o que se denomina riqueza social, wealth of nations [riqueza das nações] etc., à custa dos trabalhadores. Ela desenvolve a força produtiva social do trabalho não só para o capitalista, em vez de para o trabalhador, mas, também, por meio da mutilação do trabalhador individual. Produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho. Ainda que apareça, de um lado, como progresso histórico e momento necessário de desenvolvimento do processo de formação econômica da sociedade, por outro, ela surge como um meio de exploração civilizada e refinada.

 

Partindo do pressuposto de que línguas diversas designam entes idênticos com palavras diferentes, pode-se chegar logo à conclusão de que a (ou uma) tradução é possível, porque os entes referidos são os mesmos. Ou seja, verificando que, em vez de dizer “casa”, em outra língua se diz “house” ou “maison”, ou que, em vez de “cavalo” é dito “horse” ou “cheval”, em suma, que o ente A é designado numa língua pela palavra a e que, em outra língua, este mesmo ente seja designado pela palavra a’, conclui-se: a tradução é possível porque, se A = A, então, a = a. Entretanto, na tradução de textos estritamente literários, nem sempre a tradução “correta” é efetivamente a melhor tradução: as perdas e os acréscimos em tais processos de transposição podem, às vezes, ser de tal monta, que é necessário criar novos termos, literalmente mais exatos, e o dicionário pode, inclusive, não ser o melhor conselheiro. Por isto, com reserva, prudência e recato, se pode dizer: traduttori, traditori (tradutores, traidores). A tradução deve ser um diálogo com o original, e deve acompanhá-lo como se fosse a sua sombra, ainda que traduzir seja administrar desequilíbrios e carências. Para não ir tão longe nos conceitos de forma, conteúdo, coisa significada, significante e o que é tornado significativo, o que foi dito acima quer dizer o quê? O fato é que pode ocorrer que ainda que A B, se tenha a = b’. Nesse sentido, o Idealismo se engana ao pressupor, de modo absoluto, que se tem primeiro a língua e depois, em decorrência, o real. Acerta, porém assim como o Materialismo Vulgar acerta ao partir dos entes quando insiste na não-correspondência exata entre palavras de línguas diferentes, bem como no fato de elas configurarem uma divisão e uma ênfase diferenciada do real. E isso gera o quê? Nunca se tem uma correspondência exata de uma língua para outra, mas, exatamente, a diferença é que coloca a possibilidade e a necessidade desse diálogo, que é a tradução. Todavia, qualquer tradução não é pura identidade, mas, diálogo em busca de identificação, ou seja, de encontro de diferenças. Nenhuma tradução pode ser a reprodução absoluta da identidade do original, porque o próprio original não tem essa identidade absoluta, pois, é sempre uma recriação a partir do presente, e guarda, em seus passos, as contradições do seu tempo. O fato é que não há tradução sem interpretação, e essa interpretação busca a identidade através das diferenças de língua e de cultura, através do complexo jogo de identidade e de diferenças entre palavras e entes, acrescido do complicador que, geralmente, os tradutores tendem a ser escritores de nível inferior ao dos autores, produzindo uma tradução que se inclina a ser um texto de qualidade inferior à do original. A situação se torna ainda mais grave quando são feitas traduções a partir de traduções, o que é muito comum. Seja como for, a boa tradução deve ser o próprio original funcionando na língua-receptora como um original. Então, considerando o Materialismo Vulgar, o Idealismo e o Materialismo Histórico-Dialético, tem-se:

1. Tese: MATERIALISMO VULGAR

Sendo A, B, C, D... = a, b, c, d...
e A, B, C, D...
= a’, b’, c’, d’...

como A, B, C, D... =A, B, C, D...
então, a, b, c, d...
= a’, b’, c’, d’...

2. Antítese: IDEALISMO

Sendo a, b, c, d... =A, B, C, D...
e a’, b’, c’, d’...
= A’, B’, C’, D’...

como A, B, C, D... A’, B’, C’, D’...
então, a, b, c, d...
a’, b’, c’, d’...

3. Síntese: MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO

Sendo A, (B), C, D... a, (b), c, d...
e A’, B’, (C’), D’... a’, b’, (c’), d’...

como A, (B), C, D... A’, B’, (C’), D’...
então, a, (b), c, d... a’, b’, (c’), d’...

 

O filósofo e economista britânico John Stuart Mill (Londres, 20 de maio de 1806 Avignon, 8 de maio de 1873), em seus Princípios da Economia Política, registrou: É de se duvidar que todas as invenções mecânicas até agora feitas aliviaram a labuta diária de algum ser humano. Tal não é também de modo algum a finalidade da maquinaria utilizada como capital. Igual a qualquer outro desenvolvimento da força produtiva do trabalho, ela se destina a baratear mercadorias e a encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador precisa para si mesmo, a fim de encompridar a outra parte da sua jornada de trabalho, que ele dá de graça para o capitalista. Ela é meio de produção de mais-valia. [De maneira geral, s.m.j., penso que se possa afirmar que nenhuma invenção tenha como intento primário favorecer a Humanidade; pelo contrário, a intenção é o benefício fruitivo de quem a inventa.]

 

O caráter cooperativo do processo de trabalho vem se tornando, progressivamente, uma necessidade técnica ditada pela natureza do próprio meio de trabalho.

 

Como qualquer outro componente do capital constante, a maquinaria não cria valor, mas transfere seu próprio valor ao produto para cuja feitura ela serve. À medida que tem valor, e, por isso, transfere valor ao produto, ela se constitui num componente de valor do mesmo. Ao invés de barateá-lo, encarece-o proporcionalmente a seu próprio valor. E é evidente que máquina e maquinaria desenvolvidas sistematicamente o meio característico de trabalho da grande indústria contêm desproporcionalmente mais valor, em comparação com os meios de trabalho do artesanato e da manufatura.

 

À medida que a maquinaria tornou a força muscular dispensável, ela se tornou o meio de utilizar trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento corporal imaturo, mas, com membros de maior flexibilidade. Por isso, o trabalho de mulheres e de crianças foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria! Com isso, esse poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores se transformou rapidamente num meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da família dos trabalhadores, sem distinção de sexo nem de idade, sob o comando imediato do capital. O trabalho forçado para o capitalista usurpou não apenas o lugar do folguedo infantil, mas, também, o trabalho livre no círculo doméstico, dentro de limites decentes, para a própria família.

 

A maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o valor da força de trabalho do homem por toda sua família. Ela desvaloriza, portanto, sua força de trabalho. A compra de uma família parcelada, por exemplo, em 4 forças de trabalho, custa, talvez, mais do que anteriormente a compra da força de trabalho do cabeça da família, mas, em compensação, surgem 4 jornadas de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente ao excedente de mais-trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho de um. Agora, quatro precisam fornecer não só trabalho, mas, mais-trabalho para o capital, para que uma família possa viver. Assim, a maquinaria, desde o início, ampliou o material humano de exploração, o campo propriamente de exploração do capital, assim como, ao mesmo tempo, o grau de exploração. O capital, assim, passou a comprar menores ou semidependentes. Anteriormente, o trabalhador vendia sua própria força de trabalho, da qual dispunha como pessoa formalmente livre. Agora vende mulher e filhos. Torna-se mercador de escravos. A procura por trabalho infantil se assemelha, freqüentemente também na forma, à procura de escravos negros, como se costumava ler em anúncios de jornais americanos.

 

A ruína física que a maquinaria submete à exploração do capital, primeiro diretamente nas fábricas, que rapidamente crescem com base nela, e, depois, indiretamente, em todos os demais ramos industriais, produz como resultado a monstruosa mortalidade de filhos de trabalhadores em seus primeiros anos de vida. Como demonstrou, na Inglaterra, uma investigação médica oficial, em 1861, abstraindo circunstâncias locais, as altas taxas de mortalidade se devem, principalmente, à ocupação extradomiciliar das mães e ao descuido e aos maus-tratos das crianças daí decorrentes — entre outras coisas, alimentação inadequada, falta de alimentação, administração de opiatos etc. — além da alienação antinatural das mães contra seus filhos, e, conseqüentemente, esfomeação e envenenamento propositais.

 

Tanto karma...
E mais karma!
E bota karma nisso!
E toma de compensação e de dor!
Oh! Irresponsabilidade!

Tanto karma...
E mais karma!
E bota karma nisso!
E toma de compensação e de dor!
Oh! Crueldade!

Tanto karma...
E mais karma!
E bota karma nisso!
E toma de compensação e de dor!
Oh!Impiedade!

Tanto karma...
E mais karma!
E bota karma nisso!
E toma de compensação e de dor!
Oh! Anormalidade!

Vidas e mais vidas...
Desperdiçadas!
Vidas e mais vidas...
Desbaratadas!
Vidas e mais vidas...
Apocopadas!
Vidas e mais vidas...
Inutilizadas!

Hoje... Foi ontem.
Ontem... Foi sempre.
Sempre... Não será para sempre.
Ou será LLuz ou será entropia.
Ou será VIDA ou será morte.
Para tudo há um limite,
até para o próprio limite,
que não pode ultrapassar um certo limite.

A escuridade não prevalecerá.
A insanidade não prevalecerá.
A separatividade não prevalecerá.

A Unimultiplicidade preponderará.
A Unimultifraternidade predominará.
O Amor Categórico sobreexcederá.

Oh! Até quando repetirei essas coisas?
Oh! Até quando chorarei as mesmas dores?
Oh! Até quando invocarei LLuz, Bem e Beleza?

Oh! Quanto tempo durará o suplício,
e teremos que esperar pela rosa de abril,
que só abre no início da primavera?

 

Exploração Capitalista do Trabalho de Mulheres + Crianças = Degradação Moral.

 

Transformação de Pessoas Imaturas em Meras Máquinas de Produção de Mais-valia = Devastação Intelectual.

 

No passado, por exemplo, na Escócia, os fabricantes procuravam excluir e não contratar, na medida do possível, crianças obrigadas a freqüentar a escola, pois, eram completamente avessos e demonstravam grande hostilidade contra as cláusulas educacionais.

 

A produtividade da maquinaria é inversamente proporcional à grandeza da parcela de valor por ela transferida para o produto. Quanto mais longo o período em que funciona, tanto maior a massa dos produtos sobre a qual se reparte o valor por ela adicionado, e tanto menor a parte do valor que ela adiciona à mercadoria individual.

 

Logo que se introduz maquinaria em qualquer ramo da produção, aparecem, passo a passo, novos métodos para reproduzi-la mais barato, e aperfeiçoamentos que atingem não só partes ou dispositivos isolados, mas, toda a sua construção. Por isso, em seu primeiro período de vida, esse motivo especial para o alongamento da jornada de trabalho atua de modo mais agudo.

 

Para um capitalista fominha, é sempre desejável um prolongamento sempre crescente da jornada de trabalho.

 

A máquina produz mais-valia relativa não só ao desvalorizar diretamente a força de trabalho e, indiretamente, ao baratear as mercadorias que entram em sua reprodução, mas, também, em suas primeiras aplicações esporádicas, ao transformar em trabalho potenciado o trabalho empregado pelo dono das máquinas, ao elevar o valor social do produto da máquina acima de seu valor individual, possibilitando ao capitalista assim substituir, com uma parcela menor de valor do produto diário, o valor diário da força de trabalho. Durante esse período de transição, em que a produção mecanizada permanece uma espécie de monopólio, os lucros são, por isso, extraordinários, e o capitalista procura explorar ao máximo essa “lua-de-mel” por meio do maior prolongamento possível da jornada de trabalho. A grandeza do ganho estimula a voracidade por mais ganho.

 

Eu não estou satisfeito
com um lucro de só 10%;
quero mais, quero 20%.

Eu não estou satisfeito
com um lucro de só 20%;
quero mais, quero 30%.

Eu não estou satisfeito
com um lucro de só 30%;
quero mais, quero 50%.

Eu não estou satisfeito
com um lucro de só 50%;
quero mais, quero 100%.

Eu não estou satisfeito
com um lucro de só 100%;
quero mais, quero tudo%.

 

A massa da mais-valia é determinada por dois fatores: a taxa de mais-valia e o número de trabalhadores simultaneamente ocupados.

 

Com a generalização da maquinaria em um mesmo ramo de produção, cai o valor social do produto da máquina para seu valor individual e se impõe a lei de que a mais-valia não se origina das forças de trabalho que o capitalista substituir pela máquina, mas, pelo contrário, das forças de trabalho que ocupa com ela. A mais-valia só se origina da parte variável do capital, e a massa da mais-valia é determinada por dois fatores: a taxa de mais-valia e o número de trabalhadores simultaneamente ocupados. Dada a duração da jornada de trabalho, a taxa de mais-valia é determinada pela proporção em que a jornada se divide em trabalho necessário e mais-trabalho. O número de trabalhadores simultaneamente ocupados depende, por sua vez, da proporção entre a parte variável do capital e a constante. Agora, é claro que a produção mecanizada, como quer que expanda, mediante o aumento da força produtiva do trabalho, o mais-trabalho à custa do trabalho necessário, só alcança esse resultado ao diminuir o número de operários ocupados por dado capital. Ela transforma parte do capital, que antes era variável, isto é, que se convertia em força de trabalho viva, em maquinaria, portanto em capital constante, que não produz mais-valia. É impossível, por exemplo, espremer tanta mais-valia de 2 empregados quanto de 24. Se cada um dos 24 trabalhadores fornecer de cada 12 horas apenas 1 hora de mais-trabalho, juntos eles fornecem 24 horas de mais-trabalho, enquanto o trabalho global dos 2 trabalhadores só compreende 24 horas. Há, portanto, na aplicação da maquinaria à produção de mais-valia, uma contradição imanente, já que dos dois fatores da mais-valia que um capital de dada grandeza fornece ela só aumenta um, a taxa de mais-valia, porque reduz o outro fator, o número de trabalhadores. Essa contradição imanente se evidencia assim que, com a generalização da maquinaria em um ramo da indústria, o valor da mercadoria produzida mecanicamente se torna o valor social que regula todas as mercadorias da mesma espécie, e é essa contradição que, por sua vez, impele o capital, sem que ele tenha consciência disso, ao prolongamento mais violento da jornada de trabalho, para compensar a redução do número relativo de trabalhadores explorados por meio do aumento do mais-trabalho não só relativo, mas também absoluto.

 

Se a aplicação capitalista da maquinaria produz, por um lado, novos e poderosos motivos para o prolongamento desmedido da jornada de trabalho e revoluciona o próprio modo de trabalho, bem como o caráter do corpo social de trabalho, de tal maneira que quebra a oposição contra essa tendência, ela produz, por outro lado, em parte mediante a incorporação do capital de camadas da classe trabalhadora antes inacessíveis, em parte mediante a liberação dos trabalhadores deslocados pela máquina, uma população operária excedente, compelida a aceitar a lei ditada pelo capital. Daí o notável fenômeno na história da indústria moderna de que a máquina joga por terra todos os limites morais e naturais da jornada de trabalho. Daí o paradoxo econômico de que o meio mais poderoso para encurtar a jornada de trabalho se torna o meio infalível de transformar todo o tempo de vida do trabalhador e de sua família em tempo de trabalho disponível para a valorização do capital. Se, sonhava Aristóteles, cada ferramenta, obedecendo às ordens, ou mesmo pressentindo-as, pudesse realizar a obra que lhe coubesse, como os engenhos de Dédalo, que se movimentavam por si mesmos, ou as trípodes de Hefaísto, que iam por si mesmas ao trabalho sagrado, se as lançadeiras tecessem por si mesmas, não seriam, então, necessários auxiliares para o mestre-artesão nem escravos para o senhor.

 

Por que, , escravizamos?
Escravizamos porque consideramos o outro uma mercadoria.
Escravizamos porque somos ignorantões.
(Ignorantão = Muito ignorante, porém, pretensioso.)
Escravizamos porque somos genocidas.
Escravizamos porque somos fominhas.
Escravizamos porque somos mesquinhos.
Escravizamos porque somos unhas-de-fome.
Escravizamos porque somos delirantes egoístas.
Escravizamos porque somos reles e ordinários.

Escravizamos porque somos desfraternos.
Escravizamos porque somos campeões
da Grande Heresia da Separatividade.

Escravizamos porque, por dentro, estamos mortos.
Escravizamos porque, mortos, vivemos
surdos para a Voz do nosso Deus Interior.
Escravizamos porque, mortos, vivemos
cegos para a LLuz do nosso Sol Interior.
Escravizamos, enfim, porque somos fiéis
não a nobres imperativos categóricos,
não à Unimultiplicidade Cósmica,
não ao Summum Bonum e à Beleza,
não ao Amor, à Justiça e à Eqüidade,
não à Misericórdia, ao Altruísmo e à Solidariedade,
não ao FIAT VOLUNTAS TUA,
não a 1 + 1 = 1 nem a 1 – 1 = 1,
não a 666 – que não é 666
não ao ESPAÇO-TEMPO – que não é espaço-tempo
não ao HOJE – que não é hoje
não ao QUERER – que não é querer
não ao SABER – que não é saber
não ao OUVIR – que não é ouvir
não ao CALAR – que não é calar
não à VIDA – que não é vida
não ao O-QUE-É – que não é o-que-é
mas, sim, sempre, só às nossas torpes miralusões,
sob o comando do nosso Manipura
– porque, primeiro, ainda somos escravos de nós mesmos,

O que precisamos ter em mente é que,
em nossa peregrinação, já passamos do meio da Estrada!

 

 

 

Continua...

 

 

 

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Nota:

1. Caio Júlio César Augusto Germânico (em latim, Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, 31 de agosto de 12 d.C. – 24 de janeiro de 41), também conhecido como Caio César ou Calígula (Caligula), foi imperador romano de 16 de março do ano 37 d.C., até ao seu assassinato, em 24 de janeiro de 41. Foi o terceiro imperador romano e membro da dinastia júlio-claudiana, instituída por Augusto. Ficou conhecido pela sua natureza extravagante, cruel e pervertida. Foi assassinado pela guarda pretoriana, em 41 d.C., aos 28 anos. A sua alcunha Calígula, a qual significa "botinhas" em português, foi posta pelos soldados das legiões comandadas pelo pai, que achavam graça em vê-lo mascarado de legionário, com pequenas cáligas (sandálias militares) nos pés.

 

Música de fundo:

L'internationale
Composição: Eugène Pottier (letra) & Pierre Chretien De Geyter (música)

Fonte:

http://drapeaurouge.free.fr/inter.html#fr

 

Páginas da Internet consultadas:

https://dribbble.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital

https://pcb.org.br/portal2/7333/ler-o-capital/

 

Direitos autorais:

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