Karl
Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14
de março de 1883) foi um filósofo, sociólogo, jornalista
e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde
se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres,
no Reino Unido. A obra de Marx, em Economia, estabeleceu a base para muito
do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com
o Capital, além do pensamento econômico posterior. Publicou
vários livros durante sua vida, sendo O Manifesto Comunista
e O Capital os mais proeminentes.
Marx
nasceu em uma família de classe média em Tréveris,
na Renânia Prussiana, e estudou nas Universidades de Bonn e Berlim,
onde se interessou pelas idéias filosóficas dos jovens hegelianos.
Depois dos estudos, escreveu para o Rheinische Zeitung, um jornal
radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na Teoria
da Concepção Materialista da História. Em 1843, mudou-se
para Paris, onde começou a escrever para outros jornais radicais
e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e
colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres juntamente a
sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e a formular suas teorias
sobre a atividade econômica e social. Também fez campanha
para o Socialismo, e se tornou uma figura significativa na Associação
Internacional dos Trabalhadores.
As
teorias de Marx sobre a sociedade, a Economia e a política –
a compreensão coletiva do que é conhecido como Marxismo
–
sustentam que as sociedades
humanas progridem através da luta de classes (um conflito entre
uma classe social que controla os meios de produção e a
classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a produção),
e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante,
embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse
comum de todos. Além disto, Marx previu que, assim como os sistemas
socioeconômicos anteriores, o Capitalismo produziria tensões
internas que conduziriam à sua autodestruição e substituição
por um novo sistema: o Socialismo. Ele argumentava que os antagonismos
no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado, seriam conseqüência
de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao
longo da História. Isto, associado à sociedade industrial
e ao acúmulo de Capital, geraria a sua classe antagônica,
que resultaria na conquista do poder político pela classe operária
e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes e apátrida
–
o Comunismo
–
regida por uma
livre associação de produtores. Marx, ativamente, argumentava
que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária
organizada para derrubar o Capitalismo e provocar mudanças socioeconômicas.
Elogiado
e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes
na História da Humanidade. Muitos intelectuais, sindicatos e partidos
políticos em nível mundial foram influenciados por suas idéias,
com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é
normalmente citado, ao lado de David Émile Durkheim (Épinal,
15 de abril de 1858
– Paris,
15 de novembro de 1917) e Karl Emil Maximilian Weber (Erfurt, 21 de abril
de 1864
– Munique,
14 de junho de 1920), como um dos três principais arquitetos da Ciência
Social moderna.
Fragmentos
Marxistas
Sempre,
inevitavelmente, em todo o Planeta, o trabalhador emprega uma parte significativa
da sua jornada de trabalho para produzir uma mais-valia, que várias
pessoas, sob diversos pretextos, repartem entre si. [O
que isto gera? Abismo crescente entre classes sociais, sofrimento e Grande
Heresia da Separatividade, pois, os capitalistas vão ficando
cada vez mais ricos e o povo trabalhador vai ficando cada vez mais pobre.]
E
disse Jesus:
—
Se queres ser perfeito,
vai, vende os teus bens,
dá o dinheiro aos pobres,
e terás um tesouro no céu.
Depois, vem e me segue.
Contrapôs
o diabo:
—
Ser perfeito para quê?
Eu nunca vi um perfeito que fosse rico.
Seguir? Um delirante ex-crucificado?
Para acabar igualzinho a Ele?
Golgotizado? Entre dois salafras?
Envilecido? Sofrendo? Sangrando?
Ora, isso não tem o menor cabimento.
Você, capitalista, investiu e se arriscou,
portanto, com todas as honras, merece ser rico.
O deputado Justo Veríssimo tinha razão:
pobre tem mais é que explodir.
Não dê nada a ninguém;
cada qual que se vire e se safe.
Essas coisas de igualdade social,
ausência de diferenças, direitos humanos,
sociedade igualitária são papos-furados.
Não esqueça a famosa frase atribuída
a Quincas Berro d'Água:
Cada qual cuide de
seu enterro,
impossível não há.
Se você não cuidar do seu capital,
ele virará pó e você empobrecerá.
Eu sei que não é isso o que você quer.
O mundo pertence aos malandros;
zé-dos-anzóis babaca é zé-dos-anzóis
'jodido y mal pagado'.
E tem mais, meu amigo:
o céu é muito chato;
é sempre a mesma coisa.
É anjo tocando harpa,
é santo cantando litania,
é felicidade sem motivo.
Pior é impossível.
No inferno é diferentaço;
é sacanagem da boa diariamente.
É balbórdia sem parar,
é mixórdia sem poupar,
é felicidade com motivo.
Melhor é impossível.
Respondeu
o capitalista:
—
Dúvidas, estou cheio de dúvidas.
'Nescio si cogito vel si dormio',
não sei se dou ou se junto,
não sei se oprimo ou se alivio,
não sei se peco ou se me arrependo.
O que eu sei – e sei
muito bem –
é que caviar é uma delícia,
champanhota dá o maior barato
e não há nada que substitua o possuir.
Por enquanto, acho que ficarei na minha.
Um dia, quem sabe,
doarei tudo o que tenho,
e tentarei ouvir a Voz do Silêncio
e colar no meu Deus Interior.
Por enquanto, nem seguirei Jesus
nem acatarei os conselhos do diabo.
Mais-valia não é apropriação indébita;
é uma coisa absolutamente legal.
Lucrar, com a força de trabalho,
nunca pôs ninguém na cadeia.
Lucrar não é pior nem melhor,
não é justo nem injusto,
não é ético nem anético,
não é feio nem bonito:
é normal; é uma Lei da Natureza.
Nós, capitalistas, somos honestos;
apenas sonhamos em ter uma gancinha.
Desde quando isso é pecado?
Desde quando isso é indecoroso?
O mundo sempre foi assim,
é
assim e sempre será assim:
muitos são pobres e desvalidos,
poucos são ricos e bem-postos,
e Deus é Pai de todos.
Eu dei sorte e sou rico!
Haverá
coisa mais absurda do que o grau de exploração da força
de trabalho ser de 100% e, às vezes, até mais?
Mais-valia
Mais-trabalho.
A
rapacidade [no
caso, avidez de lucro] acredita em milagres, e
nunca faltam exemplos históricos que a prova.
Parte
do produto em que representa a mais-valia
Mais-produto.
Como
a produção de mais-valia é o objetivo determinante
da produção capitalista, não é a grandeza absoluta
do produto, mas, a grandeza relativa do mais-produto que mede o grau de
riqueza. A soma do trabalho necessário e do mais-trabalho, dos períodos
em que o trabalhador produz o valor de reposição de sua força
de trabalho e a mais-valia, formam a grandeza absoluta de seu tempo de trabalho
, isto é, a jornada de trabalho ('working day').
Se
supusermos que a jornada de trabalho possa ser representada por ,
então, o prolongamento
representará a duração do mais-trabalho.
A
jornada de trabalho esbarra em limites morais. O trabalhador precisa de
tempo para satisfazer suas necessidades espirituais e sociais, cuja extensão
e número são determinados pelo nível geral de sua cultura.
A variação da jornada de trabalho se move, portanto, dentro
de barreiras físicas e sociais. Ambas as barreiras são de
natureza muito elástica, e permitem as maiores variações.
Dessa forma, encontramos jornadas de trabalho de 8, 10, 12, 14, 16, 18 horas,
portanto, com as mais variadas durações. [Fica
evidente que quanto maior for jornada de trabalho maior será a mais-valia.]
O
capital tem um único impulso vital: o impulso de se valorizar, de
criar mais-valia, de absorver, com sua parte constante, os meios de produção,
ou seja, a maior massa possível de mais-trabalho. O capital, em si,
é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros,
chupando trabalho vivo, e que vive tanto mais quanto mais trabalho vivo
chupa. O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante
o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou. Se
o trabalhador consome seu tempo disponível para si, então
rouba ao capitalista. O capitalista se apóia, pois, sobre a lei do
intercâmbio de mercadorias. Ele, como todo comprador, procura tirar
o maior proveito do valor de uso de sua mercadoria.
—
Trabalhei 8 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 10% mais rico.
—
Trabalhei 9 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 20% mais rico.
—
Trabalhei 10 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 30% mais rico.
—
Trabalhei 11 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 40% mais rico.
—
Trabalhei 12 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 50% mais rico.
—
Trabalhei 13 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 60% mais rico.
—
Trabalhei 14 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 70% mais rico.
—
Trabalhei 15 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 80% mais rico.
—
Trabalhei 16 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 90% mais rico.
—
Trabalhei 17 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 100% mais rico.
—
Trabalhei 18 horas,
e o meu patrão-capitalista
ficou 110% mais rico.
—
Pifei esgotado e doente,
e o meu patrão-capitalista
nem foi ao meu enterro!
De
repente, porém, a voz do trabalhador se levanta,
que estava emudecida pelo estrondo do processo de produção:
a mercadoria que te vendi se distingue da multidão das outras mercadorias,
pelo fato de que seu consumo cria valor e valor maior do que ela mesma custa.
Essa foi a razão por que a compraste. O que, do teu lado, aparece
como valorização do capital é da minha parte dispêndio
excedente de força de trabalho. Tu e eu só conhecemos, no
mercado, uma lei: a lei do intercâmbio de mercadorias. E o consumo
da mercadoria não pertence ao vendedor, que a aliena, mas, ao comprador,
que a adquire. A ti pertence, portanto, o uso de minha força de trabalho
diária. Mas, por meio de seu preço diário de venda,
tenho de reproduzi-la diariamente, para poder vendê-la de novo. Sem
considerar o meu desgaste natural pela idade etc., preciso ser capaz, amanhã,
de trabalhar com o mesmo nível normal de força, de saúde
e de disposição que hoje. Tu me predicas constantemente o
evangelho da parcimônia e da abstinência. Pois bem! Quero gerir
meu único patrimônio, a força de trabalho, como um administrador
racional, parcimonioso, me abstendo de qualquer desperdício tolo
da mesma. Eu quero, diariamente, fazer fluir, converter em movimento, em
trabalho, somente tanto dela quanto seja compatível com a sua duração
normal e o seu desenvolvimento sadio. Mediante prolongamento desmesurado
da jornada de trabalho, podes em 1 dia fazer fluir um quantum de minha força
de trabalho que é maior do que o que posso repor em 3 dias. O que
tu assim ganhas em trabalho, eu perco em substância de trabalho. A
utilização de minha força de trabalho e a espoliação
dela são duas coisas totalmente diferentes... Eu exijo, portanto,
uma jornada de trabalho de duração normal, e a exijo sem apelo
a teu coração, pois, em assuntos de dinheiro cessa a boa vontade.
Poderás ser um cidadão modelar, talvez, até sejas membro
da sociedade protetora dos animais. Podes até estar em odor de santidade,
mas, a coisa que representas diante de mim é algo em cujo peito não
bate nenhum coração. O que parece bater aí é
a batida de meu próprio coração. A partir de hoje,
eu exijo uma jornada normal e condigna de trabalho.
—
A velhice chegou...
A geringonça enferrujou...
Então, fiquei cansado.
—
A doença sombreou...
A minha hora pintou...
Parti. Tudo acabado.
—
Pifei esgotado e doente,
e o meu patrão-capitalista
nem foi ao meu enterro!
—
Um dia, ele também pifou.
Do lado de lá, eu o vi chegar,
e o recebi como um irmão querido!
—
Renasci na 6ª Raça-raiz.
Outro tempo! Já não havia
mais-valia nem mais-trabalho!
—
Já não havia escravização,
exploração e injustiça.
Todos sabiam que somos
Abstraindo
limites extremamente elásticos, da natureza do próprio intercâmbio
de mercadorias não resulta nenhuma restrição à
jornada de trabalho, portanto, nenhum obstáculo ao mais-trabalho,
[e, portanto,
nenhum impedimento à mais-valia]. O capitalista
afirma seu direito como comprador, quando procura prolongar o mais possível
a jornada de trabalho e transformar, onde for possível, uma jornada
de trabalho em duas. Por outro lado, a natureza específica da mercadoria
vendida implica um limite de seu consumo pelo comprador, e o trabalhador
afirma seu direito como vendedor quando quer limitar a jornada de trabalho
a determinada grandeza normal. Ocorre aqui, portanto, uma antinomia, direito
contra direito, ambos apoiados na lei do intercâmbio de mercadorias.
Entre direitos iguais decidem o poder e a força. E assim a regulamentação
da jornada de trabalho tem se apresentado, na história da produção
capitalista, como uma confrontação ao redor dos limites da
jornada de trabalho – uma luta inacabável e desleal entre o
capitalista individual ou coletivo, isto é, a classe dos capitalistas
[faminta, insaciável,
ambiciosa, ávida, sôfrega e cobiçosa], e
o trabalhador coletivo, ou seja, a classe trabalhadora [espoliada,
desapoderada, privada, desrespeitada, despojada e pilhada].
O
capitalista: —
Você
é meu, portanto,
eu decido de quantas horas
será a sua jornada
de trabalho.
O
trabalhador:
— Eu
não sou seu, sou meu.
Só trabalho o que reza no contrato.
Hora 'de grátis'? Nem que a vaca tussa.
O
capitalista: —
Ah!
É assim? 'Teje demissionado'.
Aqui, na fábrica, quem manda sou eu.
O que eu cismar e quiser, você fará.
O
trabalhador:
—
Não é bem assim.
'Num tejo'.
Há uma legislação trabalhista.
Ela vale igualzinho para nós dois.
O
capitalista: —
Ora, vivemos numa ditadura do
capital.
Pergunte só ao Grande Camarada Kim Jong-un.
O que Ele determinar, eu cumprirei.
O
trabalhador: —
O Kim e o senhor estão
delirando.
Aqui é a República Federativa do Brasil,
e vige o Estado Democrático de Direito.
O
capitalista: —
Mas, os modelos de utilidade
são meus.
O capital investido também é meu.
A fábrica sempre foi minha. Tudo é meu.
O
trabalhador: —
Mas, há um Direito do
Trabalho,
que regula a relação jurídica entre nós,
baseado nos princípios e nas leis trabalhistas.
O
capitalista: —
Então, o que farei?
Tango eu não aprendi a dançar.
Prejuízo eu não vou encaixar.
O
trabalhador: —
O senhor precisa aprender a dialogar.
Com mão de ferro acabará perdendo tudo.
Não dá mais para amarrar cachorro com lingüiça.
O
capital não inventou o mais-trabalho. Onde quer que parte da sociedade
possua o monopólio dos meios de produção, o trabalhador,
livre ou não, tem de adicionar ao tempo de trabalho necessário
à sua autoconservação um tempo de trabalho excedente
destinado a produzir os meios de subsistência para o proprietário
dos meios de produção, seja esse proprietário aristocrata
ateniense, teocrata etrusco, cidadão romano, barão normando,
escravocrata americano, boiardo da Valáquia [senhor
feudal, grande proprietário de terras nos países eslavos]
ou senhor de terras, moderno ou capitalista. É claro, entretanto,
que se numa formação socioeconômica predominar não
o valor de troca, mas, o valor de uso do produto, o mais-trabalho é
limitado por um círculo mais estreito ou mais amplo de necessidades,
ao passo que não se origina nenhuma necessidade ilimitada por mais-trabalho
do próprio caráter da produção. O sobretrabalho
se mostra tenebrosamente na Antigüidade, por conseguinte, onde se trata
de ganhar o valor de troca em sua figura autônoma de dinheiro, na
produção de ouro e prata. Trabalho forçado até
a morte é aqui a forma oficial de sobretrabalho. Basta ler Diodorus
Siculus, que relata: Não
se pode ver esses infelizes (nas
minas de ouro entre o Egito, Etiópia e Arábia)
que nem podem manter limpos os próprios corpos nem cobrir sua nudez
sem lamentar seu miserável destino, pois, lá não se
encontra remissão nem indulgência para os doentes,
para os débeis, para os
velhos, nem para a fragilidade feminina. Todos têm de continuar trabalhando,
forçados por pancadas, até que a morte ponha fim aos seus
sofrimentos e à sua desgraça. Entretanto,
estas constituem exceções no mundo antigo. Tão logo,
porém, os povos, cuja produção se move ainda nas formas
inferiores do trabalho escravo, corvéia [na
França feudal, serviço gratuito que se prestava ao soberano
ou ao senhor] etc. são arrastados a um mercado mundial,
dominado pelo modo de produção capitalista, o qual desenvolve
a venda de seus produtos no exterior como interesse preponderante, os horrores
bárbaros da escravatura, da servidão etc. são coroados
com o horror civilizado do sobretrabalho. Por isso, o trabalho dos negros
nos Estados sulistas da União Americana preservou um caráter
moderadamente patriarcal, enquanto a produção se destinava,
sobretudo, ao autoconsumo direto. Todavia, na medida em que a exportação
de algodão se tornou interesse vital daqueles Estados, o sobretrabalho
dos negros, aqui e ali o consumo de suas vidas em 7 anos de trabalho, se
tornou fator de um sistema calculado e calculista. Já não
se tratava de obter deles certa quantidade de produtos úteis. Tratava-se,
agora, da produção da própria mais-valia. Algo semelhante
sucedeu com a corvéia nos principados do Danúbio.
Enquanto
houver escravização,
predominará a opressão.
Enquanto houver opressão,
predominará a dominação.
Enquanto houver dominação,
predominará a coação.
Enquanto houver coação,
predominará a subordinação.
Enquanto houver subordinação,
predominará a exploração.
Enquanto houver exploração,
predominará a aproveitação.
Enquanto houver aproveitação,
predominará a mais-valia.
Enquanto houver mais-valia,
predominará a mais-laboração.
Enquanto houver mais-laboração,
predominará a deseqüidade.
Enquanto houver deseqüidade,
predominará a disparidade social.
Mas, havendo uma delas,
patentemente, haverá todas as outras,
pois, todas são irmãs gêmeas univitelinas,
e têm a mesma significância maldita
e a mesma finalidade objetiva:
lucro espoliativo e desumano.
O que
tudo
isso significa?
Tudo isso significa uma coisa só:
E o que é ignorância?
Porta dos fundos.
Permanecer escravo.
Permanecer desventurado.
Permanecer demônio.
Medo da Porta da Frente.
Medo de ser Livre.
Medo de ser Feliz.
Medo de ser um Deus Consciente.
Mas,
é possível vencer a ignorância?
Sim. Pelo Bom Combate.
Bom Combate
Raramente,
a corvéia se originou da servidão; a servidão, ao contrário,
sim, muito mais da corvéia. [Georg
Ludwig Maurer (2 de novembro de 1790 – 9 de maio de 1872) explicou:
Isso se aplica também
à Alemanha e especialmente à Prússia, a leste do Elba.
No século XV, o camponês alemão estava mais submetido
em quase toda parte a certas prestações em produtos e em trabalho,
mas, era de fato, quanto ao resto, um homem livre. Os colonos alemães,
em Brandenburgo, Pomerânia, Silésia e Prússia Oriental,
eram até mesmo juridicamente considerados livres. A vitória
da nobreza na Guerra dos Camponeses pôs fim a isso [A
Guerra dos Camponeses (em alemão, Deutscher Bauernkrieg)
foi uma revolta popular generalizada nos países da língua
alemã, na Europa Central, entre 1524 e 1525. Falhou por causa da
intensa oposição da aristocracia, que abateu até 100
mil dos 300 mil camponeses e agricultores mal armados e mal conduzidos.
Os sobreviventes foram multados e obtiveram poucos ou nenhum de seus objetivos.].
Não apenas os camponeses vencidos da Alemanha
meridional se tornaram de novo servos. Já, desde meados do século
XVI, os camponeses livres da Prússia Oriental, de Brandenburgo, da
Pomerânia e da Silésia e pouco depois os de Schleswig-Holstein
foram rebaixados à categoria de servos.]
O
sr. Broughton, um county magistrate [Juiz
de condado], como presidente de uma reunião realizada
na Prefeitura da Cidade de Nottingham [uma
cidade da Inglaterra, no Reino Unido], em 14 de janeiro de 1860,
declarou que no setor da população urbana que vivia da fabricação
de rendas reinava um grau de sofrimento e miséria desconhecido no
resto do mundo civilizado. (...) Às 2, 3, 4 horas da manhã,
crianças de 9 a 10 anos são arrancadas de suas camas imundas
e obrigadas, para ganhar sua mera subsistência, a trabalhar até
as 10, 11 ou 12 horas da noite, enquanto seus membros definham, sua estatura
se atrofia, suas linhas faciais se embotam e sua essência se imobiliza
num torpor pétreo, cuja aparência é horripilante. (...)
Não nos surpreendemos que o sr. Mallett e outros fabricantes tenham
se manifestado em protesto contra qualquer discussão. (...) O sistema,
como o reverendo Montagu Valpy o descreveu, é um sistema de ilimitada
escravidão, escravidão no sentido social, físico, moral
e intelectual. (...) O que se deve pensar de uma Cidade que realiza uma
assembléia pública para peticionar que o tempo de trabalho
para homens se limite a 18 horas por dia! (...) Peroramos contra os plantadores
da Virgínia e da Carolina. É, entretanto, seu mercado de negros,
com todos os horrores do látego e do tráfego de carne humana,
por acaso mais ignóbil do que essa lenta imolação de
seres humanos, praticada a fim de que se produzam véus e colarinhos
em proveito dos capitalistas?
Dos
séculos XVIII, XIX e XX para cá,
muito, muito pouca coisa mudou.
Vivemos em uma Idade Média disfarçada,
açucarada, mas, em certos aspectos, piorada, pois,
a violência apresenta contornos hediondos.
No
que concerne ao Kapital,
é tergiversação, é desculpa...
É descalabro, é exploração...
É usurpação, é despojamento...
É injustiça, é deseqüidade...
É luta engalfinhada de classes...
São visões antagônicas e díspares...
É primeiro-eu, é você-muito-depois...
É individualismo, é insolidariedade...
Para muitos, o pronome nós não existe.
Aumenta
aqui, aumenta ali,
majora aqui, majora ali,
escamoteia aqui, escamoteia ali,
um pedacinho de tempo aqui,
um pedacinho de tempo ali,
prolonga a jornada de trabalho aqui
(tempo adicional aqui),
prolonga a jornada de trabalho ali
(tempo adicional ali),
hora extra não paga aqui,
hora extra não paga ali,
chupa o sangue aqui, chupa o sangue ali,
bifa a personalidade-alma aqui, bifa a personalidade-alma ali,
direitos negados aqui, direitos negados ali,
mais-valia aqui, mais-valia ali,
mais-trabalho aqui, mais-trabalho ali,
um lucro extra aqui, um lucro extra ali,
submissão aqui, escravização ali,
vantagem aqui, vantagem ali,
caviar com champanhota aqui,
farinha com farinha ali,
não-sei-o-quê aqui, não-sei-o-quê
ali...
E,
devagar, devagarinho...
Os 12 meses do ano viram 13!
Isso porque ainda não foi bolado um jeito
de transformar 13 em 14!
O
fato é que sempre foi assim, e, de certa forma,
mais ou menos, continua a ser assim:
Escreveu Marx: Quanto
menos negócios são feitos,
tanto maior deve ser
o ganho sobre o negócio feito.
Quanto menos tempo pode ser trabalhado,
tanto mais tempo excedente de trabalho
deve ser trabalhado...
A formação de mais-valia por meio
do mais-trabalho não é nenhum segredo.
Átomos
de tempo são os elementos do lucro.
Não escapam nem os elétrons dos átomos.
E, disfarçado e fantasiado,
o escravagismo não acaba.
E,
mascarada e dissimulada,
a separatividade não acaba.
Mas, inflexível e imperturbável,
a Lei da Causa e do Efeito
continua a educar e a fazer compensar.
E –
como 1 + 1 = 2 e 1 – 1 =
0 –
continuamos a nascer sem
a morrer sem
e a viver sem
Ignorantes, continuamos a preferir
ser demônios a nos tornar
Todavia, como devo educar e informar,
preciso repetir e insistir muitas vezes:
se continuarmos assim –
a trouxe-mouxe –
perderemos o Bonde da História,
não conheceremos a 6ª Raça-raiz
e, lamentavelmente, teremos que ser afastados
desta Onda Evolutiva Terrenal.
Se o afastamento será temporário ou definitivo,
isto irá depender de...
Entretanto, isto poderá ser
alterado?
Sim: Esforço + Mérito + Bom Combate.
E quando esta alteração deverá ser feita?
Hoje. Já. Agora. Neste instante.
Mas, Esforço + Mérito + Bom Combate
não significam Comunismo nem religiosismo!
Nem interrupção das conexões, nem eremitismo...
Nem automortificação, nem uma severa renúncia...
O
coroamento do Esforço + Mérito + Bom Combate
será
a
O
trabalho além de 12 horas tende a minar a saúde do trabalhador,
fá-lo envelhecer antes do tempo e morrer prematuramente e, portanto,
causa infelicidade às famílias dos trabalhadores, que, no
momento em que mais necessitam, são roubadas (are
deprived) do cuidado e do apoio do chefe de família.
[Este
argumento foi usado na Irlanda, por volta de 1860. Quer dizer: mais de 12
horas de trabalho era considerado malsão, deletério e insalubre;
11 horas e cinqüenta e nove minutos
de trabalho podia,
pois, era considerado aceitável, razoável e plausível.
Fossem crianças, fossem adultos.]
Já
aconteceu, em um passado muito próximo, de crianças terem
a saúde sacrificada para satisfazer a avareza de seus pais e a sovinice
de seus empregadores. Crianças esfarrapadas, meio famintas, totalmente
desamparadas e não educadas, com jornadas de trabalho variando entre
12, 14 e 15 horas, com trabalho noturno, refeições irregulares,
em regra, no próprio local de trabalho. Com relação
a isso, o escritor, poeta e político florentino Dante Alighieri (Florença,
entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 d.C. –
Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321 d.C.) sentiria
ultrapassadas suas fantasias mais
cruéis sobre o Inferno. [A
Divina Comédia, originalmente Comedìa,
de Dante
Alighieri, é uma obra Iniciática. Portanto não deve
ser lida à letra, isto é, em sentido estrito, literalmente,
textualmente.]
Dante
Alighieri
Ao
capital é indiferente, de início, o caráter técnico
do processo de trabalho, do qual se apossa. No começo, ele o toma
como o encontra. [Na
verdade, o capital é indiferente a tudo; não importa o sofrimento,
não importa que a mula manque. Só uma coisa interessa: multiplicar
o capital
ad infinitum.]
A
ocupação, uma arte quase instintiva da Humanidade, em si e
para si irrepreensível, se torna, em virtude do excesso de trabalho,
destruidora do homem.
O
capital constante e os meios de produção só existem,
considerados do ponto de vista do processo de valorização,
para absorver trabalho, e com cada gota de trabalho um quantum proporcional
de mais-trabalho. Na medida em que não fazem isso, constitui sua
mera existência prejuízo negativo para o capitalista, pois,
durante o tempo em que estão ociosos, representam adiantamento inútil
de capital, e esse prejuízo se torna positivo tão logo a interrupção
exigir gastos adicionais para o reinício do trabalho. O prolongamento
da jornada de trabalho, além dos limites do dia natural por noite
adentro, serve apenas de paliativo, apenas mitiga a sede vampiresca por
sangue vivo do trabalho. Apropriar-se de trabalho durante todas as 24 horas
do dia é, por conseguinte, o impulso imanente da produção
capitalista. Sendo, porém, fisicamente impossível sugar as
mesmas forças de trabalho continuamente, dia e noite, necessita,
pois, para superar esse obstáculo físico, do revezamento entre
as forças de trabalho consumidas de dia e de noite, um revezamento
que admite diferentes métodos, por exemplo, podendo ser ordenado
de tal forma que parte do pessoal operário faça numa semana
o trabalho diurno, na outra, o trabalho noturno etc.
—
Eu
sei que você só tem 12 anos
e que está na flor da idade,
mas, não me importo com o seu sofrimento,
não me importo se você vomita, peida ou arrota,
não me importo com o sofrimento da sua família,
não me importo com a sua juventude perdida,
não me importo se você continuará analfabeto,
não me importo se o seu futuro será infesto e insalubre,
não me importo se a mula manca,
não me importo com necas de pitibiribas.
Para mim, você é apenas um parafuso
na minha endentação de fazer dinheiro.
É assim que é; é assim que sempre será.
—
Eu
não tenho pena, nem misericórdia,
nem piedade, e não dou a mínima,
se você gosta ou se não gosta,
se agüenta ou se não agüenta,
se vai viver ou se vai adoecer
e morrer de tanto trabalhar.
Escravização não admite solidariedade,
simpatia, empatia ou ternura.
É ripa na chulipa! E ponto final.
—
Simplesmente,
você é meu,
tem que me obedecer cegamente
e tem que trabalhar para mim 16 horas
todos os dias da semana,
inclusive nos feriados e aos domingos.
Você tirará férias trabalhando
e ganhando a mesma coisa.
Para se distrair um pouquinho,
se quiser, poderá jogar caxangás,
e até fazer zigue-zigue-zá.
—
Eu
sou o dono desta fábrica,
e, aqui, quem manda sou eu.
Aqui, a lei sou eu, e sou eu
quem estabelece o regime de trabalho.
E o regime de trabalho está apoiado em três pilares:
mais-trabalho, mais-valia e lucro crescente.
Os insurretos serão demitidos sumariamente,
sem direito a lhufas de bulhufas.
—
Deus
poderá até me condenar,
os céus poderão até estrondear,
a Terra poderá até rachar ao meio,
os arcanjos poderão até chorar,
o papa poderá até me excomungar,
o diabo poderá até me ameaçar,
a sociedade poderá até me odiar,
meus amigos poderão até me abandonar,
minha mãe poderá até se envergonhar,
mas, eu não ligo nem um pouco.
É assim que a banda toca.
Eu não sou Carolina
pra ficar vendo o tempo passar na janela.
Custe o quanto custar
e doa o quanto tiver que doer,
eu não posso ter prejuízo.
De jeito maneira;
eu só quero dinheiro.
Eu preciso me locupletar
e decuplicar o meu capital.
Quero ser mais rico do que o Tio Patinhas.
—
Essas
extravagâncias fantásticas, fictícias e utópicas
de defesa do meio ambiente,
de preservação da Floresta Amazônica,
de desenvolvimento ético e sustentável,
de liberdade e de cidadania,
de direitos humanos fundamentais
e de direitos dos trabalhadores
são invenções de comunistas safados,
e comunista bom é comunista morto.
O
trabalhador, no Sistema Capitalista, durante toda a sua existência,
de modo geral, nada mais é que força de trabalho e, por isso,
todo seu tempo disponível é por natureza e por direito tempo
de trabalho, portanto, pertencente à autovalorização
do capital. Tempo para educação humana, para o desenvolvimento
intelectual, para o preenchimento de funções sociais, para
o convívio social, para o jogo livre das forças vitais físicas
e espirituais, mesmo o tempo livre de domingo –
e mesmo nos países do sábado santificado –
é pura futilidade! Mas, em seu impulso cego, desmedido,
em sua voracidade por mais-trabalho, o capital atropela não apenas
os limites máximos morais, mas, também, os puramente físicos
da jornada de trabalho. Usurpa o tempo para o crescimento, para o desenvolvimento
e para a manutenção sadia do corpo. Rouba o tempo necessário
para o consumo de ar puro e de luz solar. Escamoteia tempo destinado às
refeições para incorporá-lo onde for possível
ao próprio processo de produção, suprindo o trabalhador,
enquanto mero meio de produção, de alimentos, como a caldeira,
de carvão, e a maquinaria, de graxa ou óleo. Reduz o sono
saudável para a concentração, renovação
e restauração da força vital a tantas horas de torpor
quanto a reanimação de um organismo absolutamente esgotado
torna indispensáveis. Em vez da conservação normal
da força de trabalho determinar o limite da jornada de trabalho,
é, ao contrário, o maior dispêndio possível diário
da força de trabalho que determina, por mais penoso e doentiamente
violento, o limite do tempo de descanso do trabalhador. O capital não
se importa com a duração de vida da força de trabalho.
O que interessa a ele, pura e simplesmente, é um maximum de força
de trabalho que, em uma jornada de trabalho, poderá ser feita fluir.
Atinge esse objetivo encurtando a duração da força
de trabalho, como um agricultor ganancioso que consegue aumentar o rendimento
do solo por meio do saqueio da fertilidade do solo.
A
produção capitalista, que é essencialmente produção
de mais-valia e absorção de mais-trabalho, produz, com o prolongamento
da jornada de trabalho, não apenas a atrofia da força de trabalho,
a qual é roubada de suas condições normais, morais
e físicas, de desenvolvimento e atividade. Ela produz a exaustão
prematura e o aniquilamento da própria força de trabalho.
Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador num prazo
determinado mediante o encurtamento de seu tempo de vida.
Après
moi, le déluge!
Esta [foi e ainda]
é, [neste século
XXI, com raríssimas exceções,] a divisa
de todo capitalista e de toda nação capitalista. [Isto
significa que, normalmente, só o lucro importa; o restolho é
o restolho.] Ainda hoje, o capital não tem a menor consideração
pela saúde e pela duração da vida do trabalhador, a
não ser quando é coagido pela sociedade [e
pela legislação] a ter algum tipo de complacência
e de condescendência. À queixa sobre degradação
física e mental, morte prematura e tortura por sobretrabalho, ele
responde: deverá esse tormento nos preocupar, já que ele aumenta
o nosso gozo (o lucro)? De modo geral, porém, isso também
não depende da boa ou da má vontade do capitalista individual.
A livre-concorrência impõe a cada capitalista individualmente,
como leis externas inexoráveis, as leis imanentes da produção
capitalista. [E os ajustes
acabam surgindo, mesmo contra a vontade dos capitalistas. E, às vezes,
dá em insolvência, quebra e bancarrota.]
—
Transformarei
trabalho em mais-trabalho.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
mais-trabalho em desespero sem igual.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
vida digna em mais-valia.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
mais-valia em super-mais-valia.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
necessidade em ganho.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
habilidade alheia em proveito e vantagem.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
escravização em lucro.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
esperança em inferno dantiano.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
sangue infantil em capital.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
homens livres em escravos.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
meio-dia em meia-noite.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
meia-noite em trevas eternas.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
juventude em velhice prematura.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
saúde em doença degenerativa.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
homens em múmias paralíticas.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
a vida humana em subserviência.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
8 horas em 12, e, se possível, em 16.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
5 dias em 6, e, se possível, em 7.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
pobreza e miséria em trabalho forçado.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
trabalho forçado em caixinha da Dona Baratinha.
Après
moi, le déluge!
Quem
quer casar
com a Dona ,
que tem fita no cabelo
e na caixinha?
Quem
quer casar
com a Dona ,
que tem ganhame na cachola
e na bolsinha?
Quem
quer casar
com a Dona ,
que tem mais-valia no bestunto
e na saquinha?
—
Transformarei
trabalho comedido em descomedimento.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
o local de trabalho em 'house of terror'.2
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
cada dia de trabalho no dia do Juízo Final.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
liberdade em prisão perpétua.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
eqüidade em iniqüidade.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
fraternidade em separatividade.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
descanso em labor ininterrupto.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
diversão em imbecilização.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
a Floresta Amazônica num deserto tropical.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
as terras indígenas em garimpos ilegais.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
o cuidado com a Natureza em ecocídio.3
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
os ambientalistas em cadáveres esquecidos.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
faina exaustiva em 'roastbeef and pudding'.
Après
moi, le déluge!
—
Transformarei
minha avareza em compensação necessária.
Après
moi, la Loi Universelle de Cause à Effet!
O
capital sempre celebrou suas orgias. A liberdade e os direitos dos trabalhadores
sempre foram conquistados em conta-gotas. Em um passado não tão
distante, na antropologia capitalista, a idade infantil acabava aos 10 anos
ou, quando muito, aos 11.
O
capital sempre celebrou suas orgias, [e
nunca faltou língua-de-sogra!] A liberdade
e os direitos dos trabalhadores sempre foram conquistados a conta-gotas,
[microgota por microgota.]
Em um passado não tão distante, na ferina antropologia capitalista,
a idade infantil acabava aos 10 anos ou, quando muito, aos 11. [Mas,
às vezes, era menos!]
—
Ou
sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e tomarei uma libra da tua carne.4
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás a quem reclamar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e nem por 12 receberás.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que respirar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que comer.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que beber.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que vestir.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás o que calçar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como te alegrar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como sorrir.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como dançar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como cantar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde morar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás como te agasalhar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde te abrigar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e ficarás ao relento e no frio.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde dormir.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde descansar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como folgar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como casar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não constituirás uma família.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás como gozar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde viver.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde envelhecer.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás para onde escapar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde rezar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás a quem rogar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que te degradar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que te prostituir.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e terás que, como Jean Valjean5a,
pães furtar para saciar a tua fome,
e conhecerás a ira do inspetor Javert5b.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e vivo não permanecerás.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás futuro para sonhar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás remédios para tomar.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás razão para existir.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde morrer.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e não terás onde ser enterrado.
Ou sobretrabalhas 15 horas diariamente
ou eu, num piscar de olhos, te demitirei,
e o meu ódio será a tua herança.
—
Eu
sou teu dono e teu patrão,
e tu sempre serás meu escravo.
Eu direi o que podes ou não
fazer,
e tu sempre terás que me obedecer.
Com o teu permanente sobretrabalho,
a minha mais-valia estará assegurada.
Eu sou a lei e a ordem, eu sou
o senhor;
tu não tens direito a bulhufas.
E a lei que está em vigor
é:
trabalhar e se esfalfar até a morte.
Meus direitos senhoriais especiais
não podem ser contestados,
seja por Deus, seja pelo demônio.
O teu sangue me pertencerá
ad æternum,
e nem Deus poderá mudar isso.
Depois
de terem os magnatas industriais se conformado e se reconciliado com o inevitável,
enfraqueceu gradualmente a força de resistência do capital,
enquanto, ao mesmo tempo, a força de ataque da classe trabalhadora
cresceu com o número de seus aliados nas camadas sociais não
diretamente interessadas. Daí o progresso relativamente rápido
a partir de 1860.
Recordando:
a produção de mais-valia e a extração
de mais-trabalho constituem o conteúdo e o objetivo específico
da produção capitalista, abstraídas as transformações
do próprio modo de produção que possam surgir da subordinação
do trabalho ao capital. Apenas o trabalhador independente e, portanto, legalmente
emancipado, contrata como vendedor de mercadorias com o capitalista.
Continua...
______
Notas:
1. Après
moi, le déluge! Depois de mim, o dilúvio.
Essas palavras teriam sido ditas por Jeanne-Antoinette Poisson, Marquesa
de Pompadour (Paris, 29 de dezembro de 1721 – Palácio de Versalhes,
15 de abril de 1764) – mais conhecida como Madame de Pompadour, e
que foi uma cortesã francesa e amante do Rei Luís XV, da França,
considerada uma das figuras francesas mais emblemáticas do século
XVIII – quando alguém da Corte externou a preocupação
de que os constantes festins e festividades luxuosos teriam por conseqüência
forte aumento da dívida pública da França. Qualquer
semelhança com a esculhambação das contas públicas
brasileiras (deficit
fiscal + dívida bruta) não é mera coincidência!
Só que aqui, como regra, não são festins, festividades,
folguedos ou banquetes, mas, corrupção, mensalão, petrolão,
orçamento secreto, sacanagens orçamentárias, fundão
eleitoral e por aí vai. Tudo paguinho pelo contribuinte!!!
2. A
house of terror
(casa de terror)
para os pobres, com a qual ainda sonhava a alma do capital, em 1770, ergueu-se,
poucos anos depois, como gigantesca casa de trabalho para os próprios
trabalhadores da manufatura. Chamou-se fábrica. E, dessa vez, o ideal
empalideceu em face da realidade.
3. Ecocídio é
uma expressão que pode ser usada para fazer referência a qualquer
destruição em larga escala do meio ambiente ou à sobreexploração
de recursos não-renováveis. O termo foi também usado
em relação aos danos ambientais devidos à guerra, como
por exemplo o uso de desfolhantes na Guerra do Vietnã. Ecocida é
também um termo utilizado para uma substância que dizima espécies
num ecossistema o suficiente para desestabilizar a sua estrutura e função.
Um exemplo pode ser uma alta concentração de um pesticida
no meio ambiente devido a um derrame. O teórico e ativista ambiental
Patrick Hossay acredita que a espécie humana está a cometer
ecocídio, por via dos efeitos da civilização industrial
no ambiente global. Já os críticos do ecocídio normalmente
dizem que os impactos causados pelos humanos não são suficientemente
sérios a ponto de ameaçar a habilidade da Terra para suportar
vida complexa. Uma outra definição de ecocídio é
aquela em que um organismo destrói outros ecossistemas que o dele
próprio (exemplo: cancro). Por exemplo, pode ser dito que durante
o Período Pré-câmbrico (período de tempo desde
a formação da Terra, há cerca de 4 600 milhões
de anos até ao início do Período Cambriano, entre 542
milhões e 488 milhões de anos), as cianobactérias (grupo
de bactérias que obtém energia por fotossíntese) cometeram
ecocídio sobre a ecologia prevalecente, através da libertação
de oxigênio no meio ambiente, de tal maneira que os organismos para
os quais o oxigênio era venenoso desapareceram, enquanto as algas
e outros organismos se adaptaram. De acordo com esta interpretação,
a espécie humana pode estar a cometer ecocídio em vários
sistemas ecológicos à volta do mundo, mas, segundo alguns
especialistas, a destruição destes ecossistemas menores não
tem impacto material na sobrevivência humana. Sob este ponto de vista,
segundo eles, o ecocídio pode ser estética e moralmente reprovável,
mas, não material e economicamente. Eu não concordo com isso,
pois, para mim, qualquer ecocídio é estética, moral
e espiritualmente reprovável e passível de futuras compensações.
No coração do conceito de ecocídio estão questões
práticas e morais, como, por exemplo: estará a atividade humana
a destruir sistemas ecológicos que suportam a sua própria
sobrevivência? A
advogada, escritora e ecologista escocesa Pauline Helène Higgins
(Glasgow, 4 de julho de 1968 – Stroud, 21 de abril de 2019), se destacou
na luta para transformar o crime de ecocídio em crime internacional
contra a paz. Foi descrita pelo The Guardian como uma
das figuras mais inspiradoras do movimento verde, isto
é, do cuidado com a Natureza. No Brasil, um dos maiores representantes
da defesa dos temas socioambientais é o professor e jornalista brasileiro,
especializado em jornalismo ambiental, André Trigueiro (Rio de Janeiro,
30 de julho de 1966).
Pauline
Helène Higgins
4. Na peça The
Merchant of Venice (O Mercador de Veneza), do dramaturgo inglês
William Shakespeare, Shylock é um agiota judeu que empresta dinheiro
a seu rival cristão, Antônio, colocando como fiança
uma libra da carne de Antônio. Quando este, após se ver falido,
não consegue pagar o empréstimo, Shylock exige a libra de
carne, como vingança por Antônio tê-lo insultado e cuspido
anteriormente.
Shylock
Depois do Julgamento (Shylock
After the Trial)
(De John Gilbert – fim do século XIX)
5a e 5b. Jean Valjean
é o protagonista do romance de Victor Hugo Les
Misérables (Os Miseráveis), de 1862. A história
retrata a luta de 19 anos do personagem para levar uma vida normal, depois
de cumprir uma pena de prisão por roubar pão para alimentar
os filhos de sua irmã durante um período de depressão
econômica e de várias tentativas de escapar da prisão.
Valjean também é conhecido no romance como Monsieur Madeleine,
Ultime Fauchelevent, Monsieur Leblanc e Urbain Fabre. Já o inspetor
Javert é um policial metódico e racionalista ao extremo, que,
cego pela lei e pela ordem, dedica a sua vida a combater o crime e a perseguir
aqueles que o sentido lato da legislação define como criminosos.
Confuso e perdido, aos 52 anos, Javert se suicidou nas águas do Sena.
O que este romance nos ensina? Ensina que o fanatismo ideológico,
o rigor comportamental e a mania de perfeição acabam levando
o pirado à loucura. Há muitos anos, eu conheci um professor
de Geometria Descritiva rigorosíssimo, severíssimo e inflexibilíssimo
consigo e com todos, para quem tudo era muito
perigoso, que, na velhice, embirutou de vez e se tornou pedófilo.
Só não
foi em cana porque o caso foi abafado, mas, a esposa o deixou imediatamente.
Bem, uma ligeira e eventual inconseqüência sadia, como, por exemplo,
tirar meleca e comer, faz bem à saúde. Seja como for, precisamos
aprender a fazer as coisas da nossa maneira – and
more, much more than this, I did it my way – não
como querem ou mandam os outros. A nossa saúde físico-mental
é-está diretamente dependente de termos sinceros, bons e úteis
pensamentos, de sermos diuturnamente misericordiosos, alegres e bem-humorados
e de bebermos muita água. Dê uma pesquisada nas propriedades
do suco de uva (sem álcool e sem açúcar).
Jean
Valjean como Monsieur Madeleine
(Ilustração de Gustave Brion)
Javert
(Ilustração de Gustave Brion)
Música
de fundo:
L'internationale
Composição: Eugène Pottier (letra) & Pierre Chretien
De Geyter (música)
Fonte:
http://drapeaurouge.free.fr/inter.html#fr
Páginas
da Internet consultadas:
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Valjean
https://pt.wikipedia.org/wiki/Javert
https://pt.wikipedia.org/wiki/Shylock#
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Mais-Trabalho-Sadi-Dal-Rosso/dp/8575591193
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https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital
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neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
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