DAS KAPITAL
(Uma Análise ± Esotérica)
Parte II

 

 

 

O Capital

O Capital
(Livro 1, capa da 1ª edição, 1867)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Este rascunho se constitui da 2ª parte de uma coletânea de fragmentos (eventual e esotérico-despretensiosamente comentados e, algumas vezes, ligeiramente editados) de O Capital (em alemão: Das Kapital) – um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx, que constitui uma análise do Capitalismo (crítica da Economia Política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista-marxista. Deste conjunto de livros, o único que foi lançado em vida por Marx foi O Processo de Produção do Capital, em 1867. Os outros foram publicados após a sua morte, ficando as edições a cargo de Friedrich Engels (Barmen, 28 de novembro de 1820 – Londres, 5 de agosto de 1895). Devo enfatizar que este estudo não é para especialistas nem para comunistas; ao prepará-lo, tive em mente a pessoa comum, que nunca leu O Capital ou sequer ouviu falar deste livro. Por isto, não é mais do que um despretensioso rascunho. Meu intento foi compatibilizar (ou incompatibilizar) a obra com alguns princípios esotéricos fundamentais. Seja como for, quantos lembram das passagens a seguir do Evangelho de Mateus? Não ajunteis tesouros na Terra, onde as traças e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem as traças nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso Coração. (Mateus, VI:19 a 21). Disse-lhe Jesus: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem, e me segue. (Mateus, XIX:21). Uma coisa eu tenho certeza: ao longo dos séculos, o próprio Vaticano esqueceu destas recomendações!

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Karl Heinrich Marx

Karl Heinrich Marx

 

 

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 – Londres, 14 de março de 1883) foi um filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida em Londres, no Reino Unido. A obra de Marx, em Economia, estabeleceu a base para muito do entendimento atual sobre o trabalho e sua relação com o Capital, além do pensamento econômico posterior. Publicou vários livros durante sua vida, sendo O Manifesto Comunista e O Capital os mais proeminentes.

 

Marx nasceu em uma família de classe média em Tréveris, na Renânia Prussiana, e estudou nas Universidades de Bonn e Berlim, onde se interessou pelas idéias filosóficas dos jovens hegelianos. Depois dos estudos, escreveu para o Rheinische Zeitung, um jornal radical publicado em Colônia, e começou a trabalhar na Teoria da Concepção Materialista da História. Em 1843, mudou-se para Paris, onde começou a escrever para outros jornais radicais e conheceu Friedrich Engels, que se tornaria seu amigo de longa data e colaborador. Em 1849, foi exilado e se mudou para Londres juntamente a sua esposa e filhos, onde continuou a escrever e a formular suas teorias sobre a atividade econômica e social. Também fez campanha para o Socialismo, e se tornou uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores.

 

As teorias de Marx sobre a sociedade, a Economia e a política – a compreensão coletiva do que é conhecido como Marxismo sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta de classes (um conflito entre uma classe social que controla os meios de produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a produção), e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante, embora seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de todos. Além disto, Marx previu que, assim como os sistemas socioeconômicos anteriores, o Capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema: o Socialismo. Ele argumentava que os antagonismos no sistema capitalista, entre a burguesia e o proletariado, seriam conseqüência de uma guerra perpétua entre a primeira e as demais classes ao longo da História. Isto, associado à sociedade industrial e ao acúmulo de Capital, geraria a sua classe antagônica, que resultaria na conquista do poder político pela classe operária e, eventualmente, no estabelecimento de uma sociedade sem classes e apátrida o Comunismo regida por uma livre associação de produtores. Marx, ativamente, argumentava que a classe trabalhadora deveria realizar uma ação revolucionária organizada para derrubar o Capitalismo e provocar mudanças socioeconômicas.

 

Elogiado e criticado, Marx tem sido descrito como uma das figuras mais influentes na História da Humanidade. Muitos intelectuais, sindicatos e partidos políticos em nível mundial foram influenciados por suas idéias, com muitas variações sobre o seu trabalho base. Marx é normalmente citado, ao lado de David Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 Paris, 15 de novembro de 1917) e Karl Emil Maximilian Weber (Erfurt, 21 de abril de 1864 Munique, 14 de junho de 1920), como um dos três principais arquitetos da Ciência Social moderna.

 

 

 

Fragmentos Marxistas

 

 

 

Se as mercadorias pudessem falar, diriam: É possível que nosso valor de uso interesse ao homem. Ele não nos compete enquanto coisas. Mas, o que nos compete enquanto coisas é nosso valor. Nossa própria circulação como coisas mercantis demonstra isso. Nós nos relacionamos umas com as outras somente como valores de troca. Ouçamos agora como a fala do economista revela a alma da mercadoria: Valor (valor de troca) é propriedade das coisas, riqueza (valor de uso) do homem. Valor, nesse sentido, implica necessariamente troca, riqueza não. Riqueza (valor de uso) é um atributo do homem, valor um atributo das mercadorias. Um homem, ou uma comunidade, é rico; uma pérola ou um diamante, é valiosa. Uma pérola ou um diamante têm valor como pérola ou diamante.

 

 

 

 

Os personagens econômicos, encarnados pelas pessoas, nada mais são do que as personificações das relações econômicas, como portadores das quais elas se defrontam.

 

 

 

 

O que distingue sobretudo o possuidor de mercadoria desta última é que para ela cada outro corpo de mercadoria conta apenas como forma de manifestação de seu próprio valor. Igualitária e cínica nata, a mercadoria está sempre disposta a trocar não só a alma, como também o corpo, com qualquer outra mercadoria, mesmo quando esta seja tão desagradável como Maritornes. [Maritornes é uma personagem do romance Don Quijote de la Mancha, escrito pelo romancista, dramaturgo e poeta castelhano Miguel de Cervantes (Alcalá de Henares, 29 de setembro de 1547 – Madrid, 22 de abril de 1616).] Esse sentido, que falta à mercadoria, para apreciar o concreto do corpo da mercadoria, o dono da mercadoria supre por meio dos seus cinco ou mais sentidos. Sua mercadoria não tem para ele nenhum valor de uso direto. Do contrário não a levaria ao mercado. Ela tem valor de uso para outros. Para ele, ela tem diretamente apenas valor de uso de ser portadora do valor de troca e, portanto, meio de troca. Por isso, ele quer aliená-la por uma mercadoria cujo valor de uso o satisfaça. Todas as mercadorias são não-valores de uso para seus possuidores e valores de uso para seus não-possuidores. Elas precisam, portanto, universalmente, mudar de mãos. Essa mudança de mãos constitui sua troca, e essa troca as refere como valores entre si e as realiza como valores. As mercadorias têm que se realizar, portanto, como valores, antes de poderem se realizar como valores de uso. Por outro lado, as mercadorias têm de se comprovar como valores de uso, antes de poderem se realizar como valores, pois, o trabalho humano, despendido em sua produção, conta somente na medida em que seja despendido de forma útil para outros. Se o trabalho for útil para outros, se, portanto, seu produto satisfizer as necessidades alheias, somente sua troca poderá demonstrar.

 

Para todo possuidor de uma mercadoria, as mercadorias alheias funcionam como equivalentes particulares de sua própria mercadoria, e sua mercadoria, portanto, como equivalente geral de todas as outras mercadorias. Mas, como todos os possuidores de mercadorias fazem o mesmo, nenhuma mercadoria é um equivalente geral, e, por isso, as mercadorias não possuem também nenhuma forma de valor geral relativo, na qual elas possam se equiparar como valores e se comparar como grandezas de valor. Portanto, elas não se defrontam, de modo algum, como mercadorias, mas, apenas, como produtos quiméricos ou valores de uso. [E, muitas vezes, para mau uso e fakes cruéis.]

 

 

 

 

Os homens fizeram, freqüentemente, do próprio homem, na figura do escravo, a matéria original de dinheiro, porém, nunca as terras. Tal idéia somente poderia surgir numa sociedade burguesa já desenvolvida. Data do último terço do século XVII e só se tentou concretizá-la, em escala nacional, um século mais tarde, na revolução burguesa dos franceses.

 

A dificuldade não reside em compreender que dinheiro é mercadoria, porém, como, por quê, por meio de que mercadoria é dinheiro.

 

 

Dinheiro é camisinha e camisinha dinheiro!

 

 

A conduta meramente atomística dos homens em seu processo de produção social e, portanto, a figura reificada [coisificada] de suas próprias condições de produção, que é independente de seu controle e de sua ação consciente individual, se manifestam inicialmente no fato de que seus produtos de trabalho assumem em geral a forma mercadoria. O enigma do fetiche do dinheiro é, portanto, apenas o enigma do fetiche da mercadoria, tornado visível e ofuscante.

 

A primeira função do ouro consiste em fornecer ao mundo das mercadorias o material para sua expressão de valor ou em representar os valores das mercadorias como grandezas de mesma denominação, qualitativamente iguais e quantitativamente comparáveis. Assim, ele funciona como medida geral dos valores, e é apenas por meio dessa função que o ouro, a mercadoria equivalente específica, inicialmente, se torna dinheiro.

 

 

 

 

O valor, isto é, o quantum de trabalho humano contido, por exemplo, numa tonelada de ferro, é expresso num quantum imaginário da mercadoria monetária, que contém a mesma quantidade de trabalho. Por isso, conforme ouro, prata ou cobre sirvam de medida do valor, o valor da tonelada de ferro recebe expressões de preço inteiramente diferentes ou é apresentado em quantidades de ouro, prata ou cobre totalmente diversas.

 

Coisas que, em si e para si, não são mercadorias, como por exemplo consciência, honra, dignidade, nobreza etc. podem ser postas à venda por dinheiro pelos seus possuidores, e, assim, receber, por meio de seu preço, a forma de mercadoria. Por isso, uma coisa pode, formalmente, ter um preço, sem ter um valor.

 

 

 

 

A forma preço implica a alienabilidade das mercadorias contra dinheiro e a necessidade dessa alienação. Por outro lado, o ouro funciona somente como medida ideal de valor, porque já está circulando no processo de troca, como mercadoria monetária. Na medida ideal dos valores espreita, por isso, o dinheiro sonante.

 

 

 

 

O processo de troca das mercadorias encerra relações contraditórias e mutuamente exclusivas. O desenvolvimento das mercadorias não suprime essas contradições, mas, gera a forma dentro da qual elas podem se mover. Esse é, em geral, o método com o qual contradições reais se resolvem. É uma contradição, por exemplo, que um corpo caia constantemente em outro e, com a mesma constância, fuja dele. A elipse é uma das formas de movimento em que essa contradição tanto se realiza como se resolve. Na medida em que o processo de troca transfira mercadorias da mão em que elas são não-valores de uso para a mão em que elas são valores de uso, ele é metabolismo social. O produto de uma modalidade útil de trabalho substitui o da outra. Uma vez tendo alcançado o lugar em que serve de valor de uso, a mercadoria cai da esfera de intercâmbio das mercadorias na esfera do consumo. Por isso, a metamorfose das mercadorias media o metabolismo social. A interpretação inteiramente defeituosa dessa mudança de forma, deixando de lado a falta de clareza sobre o próprio conceito do valor, é devida à circunstância de que cada mudança de forma de uma mercadoria se realiza na troca de duas mercadorias: a mercadoria comum e a mercadoria monetária. Atendo-se somente a esse momento material, o intercâmbio de mercadorias por ouro, deixamos de ver o que deve ser visto, isto é, o que ocorre com a forma. Não se percebe que o ouro, como simples mercadoria, não é dinheiro, e que as outras mercadorias em seus preços se relacionam a si mesmas com ouro, como sua própria figura monetária. O processo de intercâmbio das mercadorias se completa, portanto, na seguinte mudança de forma:

Mercadoria A —› Dinheiro —› Mercadoria B
MA
—› D —› MB,

de tal maneira que, MA —› D = salto mortal da Mercadoria A. Neste sentido, a transformação de uma mercadoria em dinheiro acaba sendo, ao mesmo tempo, transformação de dinheiro em mercadoria, isto é, MA —› D, e, concomitantemente, D —› MB, de tal maneira que, D — MB, a compra, é, simultaneamente, a venda MA — D, o que, como agentes da venda nos torna vendedores, e como agentes da compra, compradores. Caso esta transformação falhe, não é a mercadoria que é depenada, mas, sim, o possuidor dela. Presos juntos, juntos enforcados. The course of true love never did run smooth. A jornada de um amor verdadeiro nunca é fácil. A substituição de uma mercadoria por outra mercadoria deixa, ao mesmo tempo, a mercadoria monetária nas mãos de um terceiro. A circulação exsuda, constantemente, dinheiro. Enfim, como mediador da circulação das mercadorias, o dinheiro assume a função do meio circulante.

 

 

Elipse

 

Compra laranja, laranja, laranja, doutor,
que ainda dou uma de quebra pro senhor.

Compra hidroxicloroquina, doutor,
que ela acabará curando a tua dolor.
Compra , doutor,
que possuirás um apê no Arpoador.
Compra ações da , doutor,
que logo te chamarão de meu amor.

Compra alguns quitutes, doutor,
que cairás nas graças da Dona Flor.
Compra umas indulgências, doutor,
que não serás vitimado pelo tentador.
Compra um terço de madrepérola, doutor,
que, com certeza, não virarás alcanfor.
Compra a Água da Vida Eterna, doutor,
que, do Bom Deus, só receberás amor.
Compra, já, agora, uma , doutor,
que o negrume se converterá em brancor.
Compra, rapidinho, um , doutor,
que a tua ignorância se tornará incolor.
Compra farinha de qualidade, doutor,
que não passarás por nenhum dissabor.
Compra mil e uma alabardas, doutor,
que vencerás a Batalha de Azamor.
Compra trocentas , doutor,
que abrandarás o teu sexual furor.
Compra um diploma fajuto, doutor,
que o poviléu te chamará de sor.
Compra seja lá o que for, doutor,
que fará desaparecer teu amargor.

Compra miragens e ilusões, doutor,
que te sentirás com um novo vigor.

 

 

O resultado da circulação substituição de uma mercadoria por outra mercadoria aparece, portanto, intermediado não pela própria mudança de forma, porém, pela função do dinheiro como meio circulante, o qual circula as mercadorias em si mesmas inertes, transferindo-as das mãos nas quais elas são não-valores de uso para as mãos nas quais elas são valores de uso, sempre em direção contrária ao seu próprio curso. O dinheiro afasta as mercadorias constantemente da esfera de circulação, ao se colocar, continuamente, em seus lugares na circulação e, com isso, se distanciando de seu próprio ponto de partida. Embora o movimento do dinheiro seja apenas a expressão da circulação de mercadorias, a circulação de mercadorias aparece, ao contrário, apenas como resultado do movimento do dinheiro.

 

O aumento de preços de certo número de artigos líderes [petróleo, por exemplo], em um caso, ou a queda de seus preços, em outro [energia elétrica, por exemplo], basta para que a soma de preços a ser realizada de todas as mercadorias em circulação aumente ou diminua, e, portanto, para colocar mais ou menos dinheiro em circulação. Quer a mudança de preços das mercadorias reflita reais mudanças de valores ou meras oscilações dos preços de mercado, o efeito sobre o volume do meio circulante permanece o mesmo.

 

 

Aumenta o preço do barril de petróleo
—› aumenta o preço do arroz com feijão

 

 

Soma dos preços das mercadorias = Volume do dinheiro funcionando como meio circulante.

 

Como o volume de dinheiro, que pode funcionar como meio circulante, é dado a determinada velocidade média, tem-se, por exemplo, apenas de jogar na circulação determinada quantidade de notas de 1 libra, para expulsar outros tantos 'sovereigns' [soberanos] proeza muito bem conhecida de todos os bancos.

 

A quantidade global do dinheiro funcionando como meio circulante, em cada período, é determinada, por um lado, pela soma de preços do mundo das mercadorias circulantes; por outro, pelo fluxo mais lento ou mais rápido de seus processos antitéticos de circulação, do qual depende que fração dessa soma de preços pode ser realizada por intermédio das mesmas peças monetárias. A soma de preços das mercadorias depende, porém, tanto do volume como dos preços de cada espécie de mercadoria. O movimento dos preços, o volume de mercadorias circulantes e a velocidade de circulação do dinheiro podem, no entanto, mudar em direções e proporções diferentes, de modo que a soma de preços a realizar e, por conseguinte, o volume do meio circulante por ela determinado podem, portanto, passar por numerosas combinações.

 

Subindo, em geral, os preços das mercadorias, o volume do meio circulante pode permanecer constante, se a massa das mercadorias em circulação diminuir na mesma proporção em que seu preço aumenta ou se a velocidade de circulação do dinheiro aumentar tão rapidamente quanto a subida dos preços, enquanto a massa de mercadorias em circulação permanecer constante. O volume do meio circulante pode diminuir, porque a massa de mercadorias decresce mais rapidamente ou a velocidade de giro cresce mais rapidamente do que os preços.

 

A lei, segundo a qual a quantidade do meio circulante é determinada pela soma de preços das mercadorias em circulação e pela velocidade média de circulação do dinheiro, pode ser expressa assim: dadas a soma de valores das mercadorias e a velocidade média de suas metamorfoses, a quantidade do dinheiro ou do material monetário em circulação depende de seu próprio valor. A ilusão de que, ao contrário, os preços das mercadorias são determinados pelo volume do meio circulante, e o último, por seu lado, pelo volume do material monetário existente em um país, tem suas raízes nos representantes originais da insossa hipótese de que mercadorias sem preço e dinheiro sem valor entram no processo de circulação, e lá, então, uma parte alíquota do angu formado pelas mercadorias é intercambiada por uma parte alíquota da montanha de metal.

 

Nos diversos uniformes nacionais vestidos pelo ouro e pela prata, enquanto moedas e dos quais são desvestidos no mercado mundial, aparece o divórcio entre as esferas internas ou nacionais de circulação das mercadorias e a sua esfera geral, o mercado mundial.

 

Basta que o dinheiro exista apenas de forma simbólica num processo, que o faz passar, continuamente, de mão em mão. Sua existência funcional absorve, por assim dizer, sua existência material. Reflexo objetivado evanescente dos preços das mercadorias, funciona apenas como signo de si mesmo e, por isso, pode ser substituído por outros signos.

 

Vendem-se mercadorias não para comprar mercadorias, mas, para substituir a forma mercadoria pela forma dinheiro. De simples intermediação do metabolismo, essa mudança de forma se torna fim em si mesma. A figura alienada da mercadoria é impedida de funcionar como sua figura absolutamente alienável ou como sua forma dinheiro apenas evanescente. O dinheiro se petrifica, então, em tesouro, e o vendedor de mercadorias se torna um entesourador... O impulso para entesourar é, por natureza, sem limite.

 

Precisamente, no começo da circulação de mercadorias, apenas o excesso de valores de uso se converte em dinheiro. Ouro e prata se tornam, assim, por si mesmos, expressões sociais do excedente ou da riqueza. Essa forma ingênua de entesouramento se eterniza naqueles povos em que o modo de produção tradicional e orientado à auto-subsistência corresponde a um círculo de necessidades fortemente delimitado. Tal como acontece com os asiáticos, nomeadamente os indianos. Jacob Vanderlint (? † fevereiro de 1740), que acreditava serem os preços das mercadorias determinados pela massa de ouro e de prata existente num país, perguntava-se por que as mercadorias indianas são tão baratas. Resposta: porque os indianos enterram o dinheiro. De 1602 a 1734, eles enterraram 150 milhões de libras esterlinas em prata, que vieram originariamente da América para a Europa. De 1856 a 1866, em dez anos, portanto, a Inglaterra exportou para a Índia e para a China (o metal exportado para a China reflui, em grande parte, para a Índia) 120 milhões de libras esterlinas em prata, a qual, antes, havia sido trocada por dinheiro australiano.

 

O ouro é uma coisa maravilhosa! Quem o possui é senhor de tudo o que deseja. Com o ouro se pode até fazer entrar almas no paraíso. [Cristóvão de Colombo (Gênova, entre 22 de agosto e 31 de outubro de 1451 Valladolid, 20 de maio de 1506), em carta da Jamaica, 1503.]

 

 

Provável Retrato de Colombo
(Por Sebastiano del Piombo, 1519. Não há retratos autenticados de Colombo.)

 

 

Tudo se torna vendável e comprável. A circulação se torna a grande retorta social, na qual se lança tudo, para que volte como cristal monetário. E não escapam dessa alquimia nem mesmo os ossos dos santos nem as res sacrosanctæ [coisas mais sagradas] extra commercium hominum [fora do contato humano].

 

Qualitativamente ou segundo a sua forma, o dinheiro é ilimitado, isto é, é o representante geral da riqueza material, pois, pode ser trocado diretamente por qualquer mercadoria. Entretanto, ao mesmo tempo, toda a soma efetiva de dinheiro é quantitativamente limitada, portanto, também apenas meio de compra de eficácia limitada. Essa contradição entre a limitação quantitativa e o caráter qualitativamente ilimitado do dinheiro impulsiona incessantemente o entesourador ao Trabalho de Sísifo1 da acumulação. Acontece a ele como ao conquistador do mundo, que com cada novo país somente conquista uma nova fronteira. Laboriosidade, poupança e avareza são, portanto, as virtudes cardeais do entesourador. Vender muito e comprar pouco são o resumo de sua Economia Política.

 

Sejamos ricos ou pareçamos ricos. [Denis Diderot (Langres, 5 de outubro de 1713 Paris, 31 de julho de 1784).]

 

Para que a massa de dinheiro realmente circulante corresponda, a todo momento, ao grau de saturação da esfera de circulação, é necessário que o quantum de ouro e de prata existente num país exceda o quantum absorvido pela função monetária. Essa condição é satisfeita por meio do dinheiro em forma de tesouro. As reservas de tesouro servem, ao mesmo tempo, de canais de adução e de derivação do dinheiro circulante, o qual, por isso, nunca transborda os canais de seu curso.

 

Uma classe de mercadorias requer mais tempo, outra menos tempo para ser produzida. A produção de diversas mercadorias depende das diversas estações do ano. Uma mercadoria nasce no lugar de seu mercado, outra tem de viajar para um mercado distante. Assim, um possuidor de mercadorias poderá se apresentar como vendedor antes que outro como comprador. Com constante repetição das mesmas transações entre as mesmas pessoas, as condições de venda das mercadorias se regulam pelas suas condições de produção. Por outro lado, se vende o uso de certas classes de mercadorias, por exemplo, uma casa, por determinado espaço de tempo. Somente após o decurso do prazo fixado recebe o comprador realmente o valor de uso da mercadoria. Ele a compra, portanto, antes de pagá-la. Um possuidor de mercadorias vende mercadorias que já existem, o outro compra como simples representante do dinheiro ou como representante de dinheiro futuro. O vendedor se torna credor, o comprador, devedor. Como a metamorfose da mercadoria ou o desenvolvimento de sua forma valor se altera aqui, o dinheiro assume outra função. Converte-se em meio de pagamento.

 

No mundo antigo, a luta de classes se apresenta, principalmente, sob a forma de uma luta entre credor e devedor, e termina em Roma com a decadência do devedor plebeu, que é substituído pelo escravo. Na Idade Média, essa luta termina com a decadência do devedor feudal, que perde seu poder político com sua base econômica. Contudo, a forma dinheiro a relação entre credor e devedor possui a forma de uma relação monetária somente reflete o antagonismo de condições de existências econômicas mais profundas.

 

A velocidade de circulação dos meios de pagamento é condicionada por duas circunstâncias: o encadeamento das relações entre credor e devedor, pelas quais A recebe o dinheiro de seu devedor B, e paga com ele ao seu credor C etc., e o lapso de tempo entre os diversos prazos de pagamento.

 

Quanto mais maciça for a concentração de pagamentos, tanto menor será relativamente o saldo e, portanto, a massa dos meios de pagamento em circulação.

 

A função do dinheiro, como meio de pagamento, implica uma contradição direta. Na medida em que os pagamentos se compensam, ele funciona apenas idealmente, como dinheiro de conta ou medida de valor. Na medida em que se tem de fazer pagamentos efetivos, ele não se apresenta como meio circulante, como forma apenas evanescente e intermediária do metabolismo, senão como a encarnação individual do trabalho social, existência autônoma do valor de troca, mercadoria absoluta. Essa contradição estoura no momento de crises comerciais e de produção, a que se dá o nome de crise monetária. Ela ocorre somente onde a cadeia em processamento dos pagamentos e um sistema artificial para sua compensação estão plenamente desenvolvidos. Havendo perturbações as mais gerais desse mecanismo, seja qual for a sua origem, o dinheiro se converte súbita e diretamente de figura somente ideal de dinheiro de conta em dinheiro sonante. Torna-se insubstituível por mercadorias profanas. O valor de uso da mercadoria se torna sem valor, e seu valor desaparece diante de sua própria forma de valor. Ainda há pouco o cidadão, se presumindo esclarecido e ébrio de prosperidade, proclamava o dinheiro como uma paixão inútil. Somente a mercadoria é dinheiro. Apenas o dinheiro é mercadoria, clama-se agora por todo o mercado mundial. E como o cervo que grita por água fresca, assim grita a sua alma por dinheiro, a única riqueza. Na crise, a antítese entre a mercadoria e sua figura de valor, o dinheiro, é elevada a uma contradição absoluta. A forma de manifestação do dinheiro é aqui, portanto, também indiferente. A fome de dinheiro é a mesma, quer se tenha de pagar em ouro ou em dinheiro de crédito, em notas de banco, por exemplo.

 

 

 

Continua...

 

 

 

_____

Nota:

1. Na Mitologia Grega, Sísifo, filho do rei Éolo, da Tessália, e de Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Sísifo se tornou conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para lhe mostrar que os mortais não têm a liberdade dos Deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo, pois, se concentrar e se comprometer com os afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude, se tornando criativos na repetição e na monotonia.

 

Sísifo
(Por Tiziano, 1549)

 

 

 

Música de fundo:

L'internationale
Composição: Eugène Pottier (letra) & Pierre Chretien De Geyter (música)

Fonte:

http://drapeaurouge.free.fr/inter.html#fr

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo

https://pt.vecteezy.com/

https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/veronica-laino/
2021/06/15/beneficios-do-arroz-com-feijao.htm

https://gifer.com/en/NAq

https://cocalc.com/

https://br.pinterest.com/reginaldene/caricatura/

https://www.deviantart.com/

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https://www.artsy.net/

https://gifer.com/en/FWfv

https://www.baamboozle.com/study/502708

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https://br.pinterest.com/pin/482237072602077615/

https://giphy.com/explore/economy

https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital

https://pcb.org.br/portal2/7333/ler-o-capital/

 

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