KARL JASPERS - Pensamentos

 

 

 

Karl Jaspers

Karl Jaspers

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo resumido objetiva apresentar para reflexão alguns pensamentos do filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Karl Jaspers foi um filósofo e psiquiatra alemão que nasceu no dia 23 de fevereiro de 1883, em Oldemburgo, e morreu em 1969, em Basiléia, Suíça.

 

Quando terminou os seus estudos no secundário, Jaspers foi encaminhado pelo pai para estudar Direito, que ele acabou por abandonar após três semestres, escolhendo estudar Medicina. Formou-se em Medicina, 1909, pela Universidade de Heildeberg, onde se tornou assistente voluntário na clínica psiquiátrica que fazia parte da mesma Universidade.

 

Dedicou-se à Psiquiatria e percorreu um caminho profissional da Psiquiatria à Metafísica. A sua formação intelectual foi simultaneamente científica e filosófica. Fez o seu doutoramento em 1909 e, em 1921, era professor pleno de Filosofia em Heildeberg. Por razões políticas, foi expulso pelo regime nacional-socialista e perdeu a sua cátedra em 1937, mas voltou a ensinar na mesma Universidade em 1945.

 

Jaspers figura entre os primeiros pensadores contemporâneos que se apresentaram em público com trabalhos de orientação existencialista.

 

Foi influenciado pelas idéias de Kant nas suas questões fundamentais sobre a Ciência, a verdade e o homem, que vão ser base para a sua própria Filosofia. Outra influência foi a de Kierkegaard, que o despertou para a Filosofia com um pensar consciente, metódico e fundado em si mesmo. Os seus pensamentos e a sua investigação filosófica prendem-se a três conceitos fundamentais: a orientação no mundo, o esclarecimento da existência e a Metafísica.

 

O conceito jaspersiano de 'ser-em-situação' fundamenta-se na realidade empírica que se impõe a todos, ou seja, diz respeito ao dado puro e simples que se refere a qualquer realidade humana ou mundana, quer física ou psíquica, onde o transcender a situação é a verdadeira busca pela existência que poderá vir-a-ser. O 'ser-em-situação' é o ponto de apoio da existência, ou seja, o problema do ser está indissoluvelmente ligado ao da verdade. Esta existência tem a sua realização no Silêncio Individual pois, para Jaspers, o agrupamento de indivíduos é um 'ser-sem-existência'.

 

Apesar de a própria existência, na sua tentativa de auto-satisfação, não conseguir preencher o vazio da separação de Deus, o encontro com a Essência é que atenderá as exigências do ser limitado. Jesus, o Cristo, é a Essência, como parte da Trindade que se faz homem. Portanto, para Jaspers, Ele representa a única possibilidade de satisfação na existência. Mas a existência de Cristo é uma opção de fé.

 

As suas obras consideradas mais importantes são: Filosofia (1932), em três volumes, sendo o primeiro Orientação Filosófica do Mundo, o segundo Esclarecimentos da Existência, e o terceiro Metafísica; Razão e Existência (1935); Filosofia da Existência (1938); A Fé Filosófica (1948); e Introdução à Filosofia (1950).

 

 

 

Pensamentos Jaspersianos

 

 

 

Nenhuma realidade é mais essencial para a nossa autocertificação do que a História. A História nos mostra o mais largo horizonte da Humanidade, nos oferece os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, nos indica os critérios para avaliação do presente, nos liberta da inconsciente ligação à nossa época e nos ensina a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis. Não podemos melhor aproveitar os nossos ócios do que nos familiarizando com as magnificências do passado, conservando viva esta recordação e, ao mesmo tempo, contemplando as calamidades em que tudo se subverteu. A experiência do presente é mais bem compreendida quando refletida no espelho da História. O que a História nos transmite se vivifica à luz da nossa época. A nossa vida se processa no esclarecimento recíproco do passado e do presente. Só de perto, na intuição concreta e sensível, e prestando atenção aos pormenores, a História realmente interessa. Filosofando procedemos a considerações que se mantêm abstratas.

 

 

 

 

O problema crucial é o seguinte: a Filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer.

 

Mal podemos acreditar no filósofo a quem tudo deixa indiferente. Não acreditamos na tranqüilidade do estóico, não desejamos sequer a impavidez, porque a própria condição humana nos lança na paixão e no medo, e são as lágrimas e o júbilo que nos permitem conhecer o que é. Eis porque somente o impulso ascendente nos libertará das perturbações anímicas, e não será jamais pela supressão que nos encontraremos. Temos, pois, que nos arriscar a ser homens e, enquanto homens, fazermos o que pudermos para alcançar a independência desejada. Sofreremos, então, sem queixume, desesperar-nos-emos sem nos afundarmos, abalados, mas nunca completamente derrubados quando suspensos na íntima independência que em nós se gera. A Filosofia, porém, é a escola desta independência, não a sua posse.

 

A Filosofia busca tornar a existência transparente a ela mesma.

 

O simples saber é uma acumulação; a Filosofia é uma unidade. O saber é racional e igualmente acessível a qualquer inteligência. A Filosofia é o modo do pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.

 

A Filosofia entrevê os critérios últimos, a abóbada celeste das possibilidades, e procura, à luz do aparentemente impossível, a via pela qual o homem poderá se enobrecer em sua existência empírica.

 

Mesmo diante de um desastre possível e total, a Filosofia continuaria a preservar a dignidade do homem em declínio.

 

Mesmo o conhecimento científico não é uma observação aleatória de objetos aleatórios, pois, a objetividade crítica do conhecimento significativo só é atingida através de uma prática filosófica derivada de uma ação interior.

 

 

 

 

O homem pode sempre mais e coisa diversa daquilo que se esperaria dele. O homem é inacabado e inacabável e sempre aberto ao futuro. Não há homem total e não o haverá jamais. Por isto há dois modos de pensar o futuro do homem. Posso concebê-lo como um processo natural, análogo àquele que respeita aos objetos, e formular probabilidades. Ou, então, posso imaginar as situações que vão ocorrer sem saber a resposta que lhes dará o homem, sem saber como, através delas, mas espontaneamente, ele se encontrará a si próprio. No primeiro caso, aguardo um desenrolar necessário que poderia conhecer em princípio, mesmo se não o conheço. No segundo caso, o futuro, longe de ser o desenvolvimento de necessidades causais implicadas pela realidade dada, depende do que será realizado e vivido em liberdade. As inúmeras pequenas ações dos indivíduos, todas as suas livres decisões e todas as coisas que realizam têm um alcance ilimitado. No primeiro caso, submeto-me a uma necessidade contra a qual nada posso. No segundo, procuro a fonte original que está na base da liberdade humana. Faço um apelo à vontade. Caminhamos para um futuro que não pode ser conhecido na sua totalidade, e que não está decidido. A imagem que dele temos é incessantemente corrigida pela experiência. O conhecimento do Ser na sua totalidade continua a ser inacessível. O saber que temos da superabundante realidade não se completa. A nossa consciência está sempre em marcha. A uma consciência que desejaria se ter por definitiva opõe-se a realidade do Ser que não deixa de se mostrar novo, diferente, através dos fenômenos que surgem incessantemente, forçando, assim, a nossa consciência a se transformar indefinidamente. Predizer verdadeiramente o futuro do homem seria já realizá-lo. Aqui predizer significa produzir. Se conseguíssemos nos certificar do que é a condição humana, com as definidas perspectivas das suas possibilidades infinitas, nunca mais poderíamos desesperar definitivamente do homem. Simbolicamente: o homem foi criado por Deus à sua imagem. Por muito perdido que ele esteja, tal semelhança não pode desaparecer completamente. É incontestável, em primeiro lugar, que não nos criamos a nós mesmos e que estamos no mundo graças a alguma coisa que não somos nós. Tomamos consciência deste fato quando pensamos simplesmente que seria possível não existirmos.2 É incontestável, em segundo lugar, que não somos livres graças a nós próprios, mas sim graças ao que, no fundo da nossa liberdade, se nos oferece a nós próprios: ainda que o queiramos, isto não chega para nos tornarmos livres.3 No auge da liberdade ganhamos consciência do fato de sermos para nós um dom: a nossa liberdade nos faz viver, mas não podemos nós próprios consegui-la pela força. Esta coisa pouca que não podemos conquistar – nem pela «revolta de Prometeu», nem isolando o nosso «Eu» até torná-lo o centro do ser, nem nos arrancando nós ao pântano pelos próprios cabelos, como Munchhausen – de onde poderá ela nos vir? E de onde virá o socorro? Este não se manifesta como um processo do mundo. Não vem do exterior. Porque, sentimo-lo, é no mais profundo de nós que nós nos encontramos quando nos tornamos nós próprios. Em parte alguma a transcendência4 fala de maneira direta, ninguém a tem diante de si, ela não se deixa captar. Deus não fala senão através da nossa liberdade. A decisão fundamental é aquela de que depende a maneira de apreender conscientemente a nossa condição de homem. Enquanto homem, não nos bastamos nunca, não somos o nosso único fim. Estamos vinculados à transcendência. Ela nos exalta e, ao mesmo tempo, nos torna transparentes a nós próprios, nos dando consciência do pouquinho que somos. (Grifo meu).

 

A independência do filósofo se torna falsa quando se mescla com o orgulho. No homem autêntico, o sentimento de independência sempre está acompanhado de um sentimento de impotência.5

 

A inocência ignorante da unidade aparentemente natural entre conhecimento empírico e juízo de valor é uma falha de tomada de consciência, falha, por assim dizer, auto-infligida. Todavia, dela podemos nos desvencilhar.

 

O amor, iluminado pela razão filosófica, liga-se a uma confiança – inexplicável, sem objeto, intelectualmente incompreensível – no fundamento último das coisas.

 

A ânsia de uma orientação filosófica da vida nasce da obscuridade em que cada um se encontra, do desamparo que sente quando, em carência de amor, fica o vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, súbito acorda assustado e pergunta: quem sou eu, que estou descurando, que deverei fazer? O auto-esquecimento é fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronômetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes, que cada vez menos satisfazem o homem enquanto homem, leva-o ao extremo de se sentir peça imóvel e insubstituível de um maquinismo, de tal modo que, liberto da engrenagem, nada é e não sabe o que há de fazer de si. E, mal começa a tomar consciência, logo este colosso o arrasta novamente para a voragem do trabalho inane e da inane distração das horas de ócio. Porém, o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana. O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em hábitos, em irrefletidas trivialidades e rotinas fixas. Filosofar é nos decidirmos a despertar em nós a origem, é nos reencontrarmos e agir, é nos ajudarmos a nós próprios com todas as forças. Na verdade, a existência é o que palpavelmente está em primeiro lugar: as tarefas materiais que nos submetem às exigências do dia-a-dia. Não se satisfazer com elas, porém, e entender esta diluição nos fins como via para o auto-esquecimento, e, portanto, como negligência e culpa, eis o anelo de uma vida filosoficamente orientada. E, além disto, tomar a sério a experiência do convívio com os homens: a alegria e a ofensa, o êxito e o revés, a obscuridade e a confusão. Orientar filosoficamente a vida não é esquecer, é assimilar; não é se desviar, é recriar intimamente; não é julgar tudo resolvido, é clarificar. E assim, são dois os caminhos: a meditação solitária por todos os meios de conscientização e a comunicação com o semelhante por todos os meios da recíproca compreensão, no convívio da ação, do colóquio ou do silêncio.

 

Só alcançamos a verdade do nosso pensamento quando incansavelmente nos esforçamos por pensar colocando-nos no lugar de qualquer outro. É preciso conhecer o que é possível ao homem. Se tentarmos pensar seriamente aquilo que outrem pensou, aumentaremos as possibilidades da nossa própria verdade, mesmo que nos recusemos a este outro pensamento. Só ousando nos integrar totalmente nele o podemos conhecer. O mais remoto e estranho, o mais excessivo e excepcional, mesmo o aberrativo, incitam-nos a não passar ao largo da verdade por omissão de algo de original, por cegueira ou por lapso.

 

 

 

 

Só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu-mesmo: ser livre significa ser eu-mesmo.

 

Somente como indivíduo um homem pode se tornar filósofo.

 

A Filosofia é somente aprender a morrer.

 

Em Filosofia, as perguntas são mais essenciais do que as respostas.

 

Ser homem é ser livre. O sentido da História é que nos convertamos realmente em homens.5

 

A razão é como um segredo que pode se tornar conhecido a qualquer um a qualquer momento; é o espaço tranqüilo em que todos podem entrar através de seu próprio pensamento.6

 

Com a perda de Deus,7 o homem perde os seus valores.

 

No momento atual, a segurança coerente da Filosofia, que existiu de Parmênides a Hegel, está perdida.

 

Quando a linguagem é utilizada sem real importância, perde a sua finalidade como meio de comunicação e se converte em um fim em si mesma.

 

Os problemas e os conflitos podem ser a fonte de uma derrota, uma limitação para a nossa potencialidade, mas, também, podem levar a uma maior compreensão da vida e ao nascimento de uma maior unidade de tempo.

 

Aqueles que esperam a certeza absoluta para agir acabam não realizando nada. Quem busca o caminho correto deve estar preparado para correr o risco de se equivocar.

 

Tudo o que sabemos do homem e tudo o que cada um dos homens sabe de si mesmo não corresponde ao homem.

 

A reverência não eleva o homem ao nível da Divindade. O homem humilíssimo e o grande homem são aparentados.

 

A dignidade do homem reside no fato de ele ser indefinível. O homem é o que é, porque reconhece esta dignidade em si mesmo e nos outros homens. Kant o disse de maneira maravilhosamente simples: nenhum homem poder ser, para outro, apenas meio; cada homem é um fim em si mesmo.8

 

Os políticos são diferentes. Oportunistas, facciosos, forjadores de mentiras e de intrigas, inescrupulosamente agem em nome da liberdade contra a liberdade.

 

A divisão das responsabilidades gera a irresponsabilidade. A Democracia degenera em oligarquia de partidos. O que se tem por cultura não passa de bolhas de sabão em salões literários. O espírito perde densidade.9

 

A questão final é se do fundo da escuridão um ser poderá brilhar.10

 

Fidelidade ou é absoluta ou é nada.11

 

Tudo depende de encontrar o pensamento em sua fonte. Tal pensamento é a realidade do ser do homem, que alcançou a consciência e a compreensão de si mesmo por ele.

 

Eu descobri que o estudo de filósofos do passado é de pouco uso, a menos que a nossa própria realidade esteja inserida no contexto filosófico do pensador estudado. Nossa realidade só permite perguntas cujas respostas se tornem compreensíveis.12

 

A demanda por saber a maneira como a História [do homem] está a se desenvolver é uma das conseqüências da prática filosófica.

 

Pela meditação filosófica, poderemos atingir o nosso Eu [Interior] e o próprio Ser. A meditação filosófica não é um pensamento parcial que estuda um assunto qualquer com indiferença.

 

A Humanidade produziu uma ordem de vida que segue canais estruturados e regulamentados, que conecta indivíduos em uma organização tecnicamente funcional, mas esta ordem não funciona para tentar explicar a historicidade da alma humana.

 

A partir de fatos particulares, o entendimento é alcançado no âmbito de um movimento circular.

 

 

 

Culpa Metafísica Falta de solidariedade absoluta com o ser humano como tal.

 

Cada um de nós é culpado [responsável pela desarmonia] na medida em que permanece inativo.

 

A grandeza de espírito se torna objeto de amor somente quando a intenção posta em movimento tem um caráter nobre.

 

Em Filosofia, não existem trivialidades nem informações simples.

 

Diante do Ser, vemo-nos presa do espanto, e indagamos de nós próprios acerca do sentido e da missão de nossa existência.

 

A Filosofia é universal. Nada existe que a ela não diga respeito. Quem se dedica à Filosofia se interessa por tudo. A Filosofia é o modo de pensamento que termina por constituir a essência mesma de um ser humano.

 

Para que a seiva do conhecimento se transforme em alimento espiritual, importa que esteja presente não apenas a inteligência, mas, em sua plenitude, o homem, que, pensando, apresa o conhecimento. E, para se fazer revigorante, o ar puro das regiões filosóficas precisa se constituir na realidade que se vive e que se respira.

 

O Silêncio não é o abrigo do nada, mas, é o momento no qual a própria essência do homem encontra meios de lhe falar mediante o seu Eu Interior, através de suas necessidades, da razão, do amor.

 

O Universo não é um espaço de apenas três dimensões, mas é curvo, sem limites e finito.

 

O Universo sensível corresponder tão-somente ao primeiro plano do Universo real, que só pode ser pensado. Mas não representado.

 

As hipóteses matemáticas se enchem de sentido quando é possível corroborá-las pelas observações e pelas medições, mas se tornam indiferentes quando é impossível comprová-las por meio de experimentações.

 

 

 

 

Todos os corpos são aparências e não realidades fundamentais. A essência da matéria permanece indefinida.13

 

O nosso mundo, este mundo esplêndido e cruel, está indubitavelmente ligado à matéria, mas é infinitamente mais do que ela, e não pode ser compreendido a partir dela.

 

A vida não é apenas um corpo vivo que implica em uma intimidade (o ser considerado) e em uma exterioridade (o meio, o mundo). Há a existência sobre a qual a vida age. Os aparelhos orgânicos, seu quimismo finalista e os órgãos dos sentidos são produzidos pela vida, mas, ainda não são a vida mesma. Os cientistas descobrirão e produzirão formas biológicas não sonhadas, porém, serão sempre incapazes de criar a vida.

 

'Quando vejo um minúsculo inseto pousar no papel em que faço cálculos, tenho desejo de exclamar: Allah é grande, e com toda a glória de nossa ciência não passamos de micróbios miseráveis.' (Registro de Albert Einstein em 1952, apud Karl Jaspers).

 

'O mistério do todo está implícito no nível mais baixo.' (Albert Einstein, apud Karl Jaspers).

 

O mistério não está na realidade mesma, porém, naquilo que a Matemática não permite resolver. (Pensamento de Albert Einstein subscrito por Karl Jaspers).

 

Realizando surpreendentes descobertas 'in partibus', a Ciência de nossos tempos não tem feito senão adensar o mistério 'in toto'.

 

Recorrer a processos mágicos é não só desarrazoado na prática, mas falta de lealdade: o homem trai a própria razão.14

 

No fundo, tudo é integralmente inteligível.

 

A Matemática não esgota o mundo, sendo apenas um elemento da Natureza e uma das formas de conhecimento do homem.' (Nicolau de Cusa, apud Karl Jaspers).

 

 

 

 

Alturas e profundezas, sentido de ascensão e de queda, céu e Terra, éter luminoso e abismos escuros, deuses olímpicos e abissais, mesmo nos dias de hoje, sempre os vemos diversamente. Mas a falsa desmitificação trouxe ao homem cegueira de alma.

 

Onde quer que a Ciência penetre, novos inteligíveis se manifestam, brotados do espanto e geradores de um novo espanto. A Ciência autêntica se contenta com apreender o possível, avançando rumo ao infinito, sem, entretanto, perder a noção das próprias limitações.

 

A infelicidade do gênero humano começa quando se identifica o cientificamente conhecido ao próprio Ser, e se considera não-existente tudo quanto foge a esta forma de conhecimento. A Ciência dá, então, lugar à superstição da ciência, e esta, sob a máscara de uma pseudociência, lembra um amontoado de extravagâncias, onde não está presente nem Ciência nem Filosofia nem fé.

 

A superstição da ciência ameaça destruir a Filosofia. A missão da Filosofia é romper essas barreiras e trazer o homem de volta a si mesmo.15

 

Uma Realidade Incognoscível precede a possibilidade de conhecer, e não é alcançada pelo conhecimento [ordinário].

 

Há, no Universo, uma Linguagem cifrada [Verbum Universalis]. Os caracteres enigmáticos desta Linguagem nada são para a ciência, que não os pode provar nem refutar.

 

O Universo não existe para nós. Platão, Nicolau de Cusa e Kant, por exemplo, ensinaram a contemplar o Universo como tal, e não como algo criado exclusivamente para os homens.16

 

A partir da natureza permanente do homem, são produzidos os fenômenos históricos, que nunca se repetem de forma idêntica.

 

Pela pureza do seu conteúdo, a Ciência se distingue dos mitos e da História Sagrada. Os documentos da História Sagrada não atestam fatos, mas convicções do estilo 'acreditamos que...'

 

Face ao infinito das realidades cósmicas e históricas, adquirimos consciência do passageiro e do insignificante caráter da nossa existência. Todavia, temos não apenas consciência, mas consciência de nós mesmos. Nesta consciência não há tão-somente revelação, mas a revelação da consciência de si para si mesma.

 

O Abrangente = Conjunto de sujeito + objeto (que, em si mesmo, não é sujeito nem objeto). Tudo o que é se traduz, obrigatoriamente, no abrangente da dicotomia sujeito-objeto.17

 

O 'amor intellectualis Dei', de Baruch Spinoza, pretende significar que a razão pura – modo supremo de conhecimento, superior à inteligência e via de liberdade para o homem se confunde com o amor a Deus. Espinosa não espera, entretanto, que Deus retribua o amor. Com efeito, Deus não é um ser humano entregue ao amor e o amor espinosiano é desinteressado.

 

O amor iluminado pela razão filosófica se liga à uma confiança inexplicável, sem objeto, intelectualmente incompreensível no fundamento último das coisas.

 

Toda vida está posta entre dois parênteses: nascimento e morte. Em verdade, vivendo, não nos preocupamos realmente com a morte, embora ela constitua a maior de todas as certezas.

 

Para que haja liberdade, é inevitável que a verdade [informação] desça às massas, ao burburinho sonoro e confuso dos homens. A alternativa seria o domínio das massas, a censura, a educação padronizada. E os seres humanos se tornariam matéria-prima para os déspotas.

 

Independência Quietude sem violência e sem orgulho.

 

Para além de todos os enigmas, o pensamento penetra no Silêncio pleno de insondável [Trans]razão.

 

Que brilho irradia dos homens que são eles próprios!

 

 

 

O Brilho dos Homens

 

 

 

Que brilho irradia dos homens

que são eles próprios!

Que brilho irradia dos homens

eximidos de opróbrios!

 

Que brilho irradia dos homens

Que brilho irradia dos homens

que venceram as ilusões!

 

Que brilho irradia dos homens

que escolheram a LLuz!

Que brilho irradia dos homens

que pintaram sua Cruz!

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Sim, todos nós somos mais ou menos impotentes porque somos limitados, e vice-versa. A própria encarnação é limitante, mas, ao mesmo tempo, é libertadora. No que concerne à encarnação, há, paradoxalmente, uma aparente falta de nexo ou de lógica, pois, somos limitados, e, pela encarnação, continuamos limitados (e, algumas vezes, nos tornamos mais limitados ainda). Todavia, é na encarnação, e só na encarnação, que está a semente da compreensão que gera a libertação. Por isto, a impotência/limitação do homem não deve dominá-lo, contê-lo. Quanto mais nos esforçarmos, quanto mais recusarmos a influência dos desejos, das cobiças e das paixões, quanto mais perseguirmos a Santa LLuz, menos prisioneiros (de nós mesmos) seremos, e mais nos libertaremos, e, conseqüentemente, menos limitados seremos. É isto que a Iniciação oferece ao humilde postulante.

2. Todavia, o fato é que, de uma forma ou de outra, nós e todas as coisas sempre existimos.

3. Nada chega para nos tornarmos livres, pois a Liberdade absoluta e total (Cósmica), pelo esforço puramente cultural/racional, em princípio, não poderá ser alcançada. Para que a Liberdade Cósmica fosse absoluta e totalmente alcançada, a compreensão de tudo seria o requisito fundamental. Entretanto, a compreensão de tudo é possível, no Tempo que não é tempo, no Espaço que não é espaço. Mas, se e/ou quando isto acontecer, a própria liberdade individual já não importará mais, pois a nossa liberdade individual terá desaparecido (se desintegrado) como liberdade individual, já que estaremos amalgamados com a Liberdade Cósmica e seremos a própria Liberdade Cósmica.

4. Transcendência é limitação. Tudo o que nos transcende ou o que pensamos e admitimos que nos transcende é devido às nossas limitações. Somar... Subtrair... Dividir... Multiplicar... Limite... Derivada... Integral... Bóson de Higgs...

5. Em um certo sentido, homens todos nós já somos. Logo, o sentido da História não é que nos convertamos realmente em homens, mas, sim, em super-homens. No Nietzschianismo, Super-homem ou Além-do-homem (Übermensch) é cada um dos indivíduos que um dia será capaz de desenvolver plenamente a condição humana, criando novos valores e sentidos para a realidade, e afirmando intensamente a vida (e a Santa Vida), a despeito das inevitáveis atribulações do dia-a-dia e das impedições pessoais e cármicas. Vencer o carma é preciso! Todavia, o conceito de Übermensch em nada se aproxima do ideal arianizante, que Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) sempre desprezou. Por outro lado, Nietzsche jamais aceitou a doutrina de recompensa e castigo – processo exotérico inaugurado pelo apóstolo Paulo, que operou uma transmenorização canhestra nos ensinamentos de Jesus, deturpada e amesquinhada para mil vezes pior pelos desvairados que o seguiram, e que impuseram à cristandade dois mil anos de muletas. E continuam a impor! Enfim, um Super-homem não aceita a imposição de um Deus fabricado, egregórico, coletivo, particular e principalmente porque não precisa e não depende desta fantasia inútil. Iniciaticamente, Übermensch significa Libertação (relativa) pela Compreensão (relativa).

6. O segredo da compreensão/libertação não está na razão, mas, sim, na Transrazão.

 

 

 

6. Deus e a Palavra (Verbum Dimissum) não estão propriamente perdidos; estão, sim, temporariamente ocultos ou desconhecidos. Como Deus e o Verbum poderiam estar perdidos, se nós somos, in potentia, o próprio Deus e o próprio Verbum?

7. Isto poderia muito bem ser denominado de dialética do erro, pois, na verdade, cada síntese é um erro (equívoco) que será oportunamente corrigido, de tal sorte que, presumidamente, o erro2 será menor do que o erro1. O fato é que somos um pedaço de nossos pecados, como somos um pedaço do pecado do outro. E, se isto é assim, jamais poderá haver Liberdade para o mesmo se não houver Liberdade para o outro.

 

 


 

8. Já o sofista da Grécia Antiga Protágoras de Abdera (480 a.C. – 410 a.C.) disse: O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são.

9. Isto é porque a responsabilidade não pode ser dividida. Se for dividida, ela diminui, se amesquinha e acaba se dissolvendo (implodindo) em si mesma. O que se pode dividir são as tarefas, os ofícios, os empreitos. O coração é o coração, os pulmões são os pulmões, os rins são os rins e o sangue é o sangue, mas o corpo é um só. Sem um corpo, isolados, coração, pulmões, rins e sangue servem para quê?

 

 

 

 

10. Poder brilhar todos nós pode(re)mos. O busílis é se seremos dignos o suficiente e se conseguiremos.

11. Nada é absoluto, nem mesmo a fidelidade, pois, se hoje somos fiéis a uma idéia ou ao que seja, amanhã, mudadas as coordenadas, principalmente o nosso entendimento espiritual, poderemos vir a ser fiéis a outra(s) coisa(s) – o que, sob nenhuma alegação, autoriza a traição. Se assim é, até a morte é relativa! Ao morrermos, poderemos, de fato, morrer ou, por mérito, Viver. Viver significa ter o Privilégio de conseguir um Passaporte para a próxima etapa ou viagem. Logo, não há Passaporte para sempre. A cada encarnação e a cada inevitável transição, precisamos merecer adquirir um novo Passaporte, pois o antigo sempre perde a validade. Logo, tudo é relativo. Fixar-se é emburricar.

 

 

 

12. Isto não é bem assim, porque as dúvidas cosmogenéticas e as angústias existenciais do homem contemporâneo são praticamente as mesmas do homem da Antigüidade. Continuamos querendo saber quem somos, de onde viemos, por que estamos aqui e para onde iremos. Como as respostas a estas perguntas não se compram em quitandas ou em supermercados, as pessoas, geralmente, buscam-nas nas religiões. Se aceitam as quimeras fideístas religiosas, ficam satisfeitas; se não, acabam trocando de religião. Neste sentido, não há filósofo do passado mais atual do que Platão (Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.).

13. Isto permite que se faça a seguinte especulação metafísica: admitindo-se que o Bóson de Higgs – com massa prevista ligeiramente acima dos limites experimentais atuais e ao redor 120 GeV ou menos, predito primeiramente em 1964 pelo físico britânico Peter Higgs (que fora da comunidade científica é mais conhecido como a Partícula de Deus ou Partícula-Deus, do original God Particle) – venha a ter comprovada a sua existência, o que virá depois? Enfim, se o Bóson de Higgs, partícula elementar bosônica prevista pelo Modelo Padrão de partículas, é considerado a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares, qual a origem do próprio Bóson de Higgs? Quem concertadamente responder a esta pergunta, certamente, mais do que um algodão-doce, ganhará o Prêmio Nobel de Física. Eu, nesta matéria, estou mais por fora do que umbigo de vedete, não sou candidato a ganhar coisa alguma e não estou nem um tico preocupado com quaisquer críticas que possa vir a receber. Por isto, vou me arriscar a dar um pitaquinho muito simples, que nem original é: penso que, em todo o Kosmos, haja uma Energia Primária, dual, bipolar, pulsante, desde sempre existente, incriada e indestrutível, que, na verdade, é a Essentia Mater do próprio Universo. Esta Energia Primária, através de condensações sucessivas, justificadas pela relatividade especial einsteiniana – que admite que qualquer massa possui uma energia associada e vice-versa (E = mc2) – dá origem a tudo o que existe, através de uma diminuição do número de vibrações por segundo em sua manifestação, pois o que diferencia as coisas existentes e evidenciadas é exatamente o número de vibrações por segundo. Se o Bóson de Higgs é ou não é a primeira destas condensações, isto cabe à Ciência provar. Mas, um fato é inconteste: o Bóson de Higgs, per se, não pode vir a existir como Bóson de Higgs, ou melhor, não pode se autocriar, não pode se auto-originar; ele, como tudo, deriva desta Energia Primária – Essência não-criada do próprio Universo, o Universo mesmo. É isto que justifica o entendimento de que somos todos um, do ínfimo ao colossal, dos nucleotídeos aos ácidos nucleicos (RNA e DNA), dos monômeros aos polímeros, da ameba ao dinossauro, do grão de areia ao deserto. Bem, quando digo Essência não-criada é simplesmente porque o nada não gera nada, e, se esta Essência não-criada eventualmente tivesse sido criada, o que à ela deu origem seria a própria Essência não-criada. Logo, o começo-sem-começo de tudo é uma Essência ou Energia Primária existente desde sempre por si mesma. Como isto é assim? Sei lá, mas é assim que é, mânvântârizando e prâlâyando desde sempre e ad æternum!

 

 

Unidade

 

 

14. Aqui é necessário estabelecer uma diferença entre magia marca roscofe e Magia Místico-Iniciática: magia é crendice, superstição – crença ou noção sem base científica ou Iniciática; Magia é Ciência, ShOPhIa, Libertação. Haverá Magia mais poderosa do que vocalizar, com uma finalidade, o Mantra OM? Haverá Magia mais poderosa do que ser um instrumento desapaixonado, imparcial e categórico do Summum Bonum (o Bem Maior)?

15. Se isto é fato, todos nós podemos ficar tranqüilos, pois a Santa ShOPhIa jamais poderá ser destruída.

16. Se eu tivesse que eleger a tríplice boçalidade secular imaginada/admitida seria a admissibilidade de que o Universo foi criado exclusivamente para deleite ou playground para os homens, que o homem é a criatura mais importante do Universo e que, no Universo, só há vida (consciente) na Terra. Na verdade, este tipo de boçalidade está andrajado com as roupas da vaidade, da estupidez e da intolerância. Ora, o Universo não foi criado porque não foi criado; se tivesse sido criado, não haveria de ser para seres tão enfermiços como nós. Nesta matéria, como em muitas outras, as teologias e os fideístas ainda estão na Idade da Pedra. Lascada!

 

 

 

 

 

17. Logo, nem o mesmo poderia existir sem o outro, nem o outro poderia persistir sem o mesmo. Então, ao invés de se admitir uma abrangente dicotomia sujeito-objeto, melhor seria pensarmos em uma Unidade indesfazível sujeito-objeto. E assim, o que seria do ouvinte, se não houvesse o falante? O que seria do pedinte, se faltasse o abençoante? O que seria do subinte, se não existisse o acabante? O que seria do nosso Ser, se não jungíssemos o não-ser? O que seria das possibilidades, se só admitíssemos impossibilidades? Então, por mais estranho que possa parecer, todos os sujeitos-objetos formam uma Unidade. Enfim, não fariam sentido a existência e a manifestação de Jesus, o Cristo, se a Humanidade não existisse! Vida Morte Outro Mesmo Dentro Fora Aqui Em cima Embaixo 4 10 666 999 ALef TaV...

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Jaspers

http://www.arthursclipart.org/silhouettes/misc1.htm

http://transportation.phillipmartin.info/
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Equival
%C3%AAncia_massa-energia

http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%B3son_de_Higgs

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http://parisgraphics.tumblr.com/page/6

http://www.fecra.edu.br/admin/arquivos/Introducao
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http://www.infopedia.pt/$karl-jaspers

http://www.goodreads.com/author/
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http://pt.alklibri.com/cit.php?id=5786

http://download.amplific.org/
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http://pauloqueiroz.net/
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http://www.fragmentosdeumavirgula.com.br/
2011/04/dialetica-do-erro.html

http://www.quotableonline.com/
frases/KarlJaspers.html

http://www.frasesypensamientos.com.ar/
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http://www.proverbia.net/
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http://www.quemdisse.com.br/

http://disney-clipart.com/
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http://www.citador.pt/textos/
o-elogio-da-historia-karl-jaspers

http://gallery.fanserviceftw.com/
post/view/866

http://www.citador.pt/textos/
o-futuro-do-homem-karl-jaspers

http://www.citador.pt/textos/
a-independencia-do-homem-karl-jaspers

http://www.citador.pt/textos/orientar
-filosoficamente-a-vida-karl-jaspers

http://pt.wikiquote.org/wiki/Karl_Jaspers

 

Música de Fundo:

Anno Domini
Composição: Miklos Rozsa

Fonte:

http://abmp3.com/mp3/miklos-rozsa-king-of-kings.html

 

Direitos autorais:

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