KALIDASA
(Pensamentos Poéticos)

 

 

 

Kalidasa

Kalidasa

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Texto

 

 

 

Este texto é uma coletânea de excertos poéticos do renomado poeta e dramaturgo sânscrito clássico Kalidasa.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Kalidasa (servo de Kali), também referido como Kalidaça ou Calidaça, foi um renomado poeta e dramaturgo clássico, amplamente considerado como o maior poeta e dramaturgo no idioma sânscrito. O período em que viveu não pode ser datado com precisão, mas é mais provável que seja dentro do período Gupta, provavelmente nos séculos IV, V ou VI.

 

Seu lugar na Literatura Sânscrita é semelhante ao de Shakespeare na inglesa. Suas peças de teatro e poesias são principalmente baseadas na Mitologia e Filosofia Hindus.

 

Kalidasa é o mais notável dos dramaturgos sânscritos e o maior nome da Literatura Sânscrita depois de Asvaghosas (século III a.C. – cerca de 375 a.C.). Sua vida está oculta por um véu de lendas. Deve ter sido um estrangeiro convertido à via brâmane. Era a mais brilhante das nove gemas na corte de Vikramaditya de Ujjain. Eminente nas artes e ciências do seu tempo, desde a Astronomia à Política.

 

A tradução do seu Sakuntala, no princípio do século XIX, foi entusiasticamente aclamada por Goethe, e revelou a toda a Europa as realizações de alto nível que a Literatura Sânscrita atingira. O estilo de Kalidasa é rigoroso, formalmente rebuscado e catarticamente intenso.

 

Conta a lenda que Kalidasa foi assassinado por uma cortesã no Sri Lanka, durante o reinado de Kumaradasa.

 

 

 

Pensamentos Poéticos de Kalidasa

 

 

 

Teu Coração de fato eu não conheço.
O meu, porém – oh! cruel – o amor
aquece de dia e de noite,
e todas as minhas virtudes
estão em ti concentradas.
Tu, ó esguia donzela,
o amor apenas aquece,
mas, a mim ele queima.
Como a estrela do dia,
não apenas sufoca
a fragrância da flor noturna,
mas, extingue o próprio orbe da Lua.
Este meu Coração
– oh, tu que és, de todas as coisas,
a que lhe é mais cara –
não terá nenhum propósito
que não sejas tu.

 

Almas nobres usam sua riqueza com o propósito de amenizar a miséria e o sofrimento daqueles vitimados pelo infortúnio.

 

Não há ninguém que esteja sempre feliz e confortável e ninguém que se sinta sempre desgraçado e miserável. Felicidade e tristeza se alternam como o aro de uma roda que sobe e desce.

 

O que não é um adorno para uma bela forma?

 

Para as pessoas de caráter, quando em um dilema, se a conduta ou a ação particular será boa ou má, a sua própria Voz Interior ou Consciência é o árbitro final.

 

Árvores carregadas se vergam, de modo que as pessoas podem colher e desfrutar os frutos. Nuvens carregadas de água descem em forma de chuva resfriando a terra e regando as plantas e as árvores. Da mesma forma, os homens nobres não se tornam vaidosos quando a fortuna os abraça, mas, usam sua riqueza para ajudar os outros. Esta é a natureza das pessoas que estão sempre ansiosas para ajudar outros seres humanos.

 

Aquele que é cego joga fora até uma guirlanda de flores colocada em sua cabeça, pensando que é uma cobra.

 

 

 

A Luta de Kumara Contra o Demônio Taraka

 

Um bando temível de aves do mal,
prontas para o prazer de comer o exército de demônios,
voou sobre o anfitrião dos deuses,
e encobriu o Sol.

Um vento fazia tremer continuamente seus pára-sóis e bandeiras
e confundia seus olhos com nuvens de poeira em redemoinho,
de modo que os cavalos, os elefantes trêmulos,
e as grandes carruagens não podiam ser vistos.

De repente, serpentes monstruosas, negras como a fuligem,
espalhando veneno de suas cabeças erguidas,
terríveis em forma,
surgiram no caminho do exército.

O Sol vestiu um traje medonho
de cobras grandes e terríveis, enrodilhadas junto,
como para assinalar sua alegria
pela morte do demônio inimigo.

E, diante do próprio disco do Sol,
chacais latiram juntos,
como se dispostos a lamber ferozmente o sangue
do rei dos inimigos dos deuses, tombado em batalha.

Iluminando o céu de uma ponta a outra,
com chamas lampejando por toda a volta,
e um choque terrível que estremeceu a Terra de pavor,
um relâmpago caiu de um céu sem nuvens.

O céu derramou torrentes de cinzas em brasa,
a que estavam misturados sangue e ossos humanos,
até que os extremos incendiados do céu estivessem cheios de
fumaça
e apresentassem a cor pardacenta do pescoço de um asno.

Como a ameaça trovejante do raivoso deus da morte,
um grande choque rompeu as paredes dos ouvidos,
em som estilhaçante, rasgando os cimos das montanhas,
e enchendo todo o ventre do céu.

A hoste do inimigo foi amontoada.
Os grandes elefantes tropeçaram, os cavalos caíram
e todos os infantes se agarraram com medo,
enquanto a Terra tremeu e os oceanos se elevaram para abalar
as montanhas.

E diante da hoste dos inimigos dos deuses
os cães ergueram os focinhos para olhar o Sol.
E, então, ganindo juntos com gritos que rompiam os tímpanos,
eles furtivamente se retiraram.

 

 

As grandes almas são como as nuvens: recolhem para dar (reúnem-se para compartilhar).

 

Um diamante valioso não procura; ele é procurado.

 

 

 

A amizade com pessoas cujo Coração não conhecemos bastante facilmente se transforma em inimizade.

 

A felicidade que se obtém após um período de luto é mais agradável. Aquele que está aflito pelo intenso calor do Sol goza melhor a sombra dada por uma árvore do que aquele que não é exposto aos raios do Sol.

 

Os atributos conflitantes de riqueza e de aprendizagem raramente coexistem em uma pessoa.

 

Olhe para este dia,
pois é a vida – a própria vida da Vida.
No seu breve curso,
deitam-se todas as verdades e realidades de sua existência:
a bem-aventurança do crescimento,
a glória da ação,
o esplendor da realização.
Mas, são experiências do tempo.

Ontem é apenas um sonho;
amanhã será apenas uma visão.
E, hoje, bem vivido, faz
do ontem, um sonho de felicidade,
e todo o amanhã uma visão de esperança.
Vejam bem, portanto, este dia:
esta é a saudação
ao amanhecer sempre novo.

 

Escute agora, ó nuvem, que eu lhe explico o caminho que deve ser seguido. Você prestará bastante atenção. Eu vou lhe dizer sobre quais cumes, você, extenuada pelo cansaço, irá posar, os rios dos quais, exaurida, você beberá a água doce.

Eu posso prever, minha amiga, que apesar do seu desejo de ir depressa para encontrar minha bem-amada, você passará algum tempo sobre todas estas colinas perfumadas pelo jasmim. Acolhida pelos pavões, com os olhos úmidos cujos gritos lhe desejam as boas vindas, decida-se a deixá-los sem mais tardar.

Quanto seu cansaço passar, continue seu caminho, regando os jardins com suas gotas de água fresca, os botões em cachos dos jasmins nascidos às margens do Vannadi, derramando por um instante sua sombra familiar sobre os rostos das moças que colhem as flores que enrugam e murcham, a secar o suor de suas faces, os lótus de suas orelhas.

Seria desviá-la caminho que deve ser seguido em direção ao Norte; mas não deixe de visitar os palácios de Ujjayini. Seria realmente uma pena não experimentar o charme dos olhos matreiros das citadinas, assustadas ao ver cintilar as suas guirlandas de relâmpagos.

À sua chegada, os Daçarnas verão os canteiros de seus jardins se esbranquiçarem de ketaka, cujos botões desabrocham; os santuários de suas cidades se encherão de pássaros alimentados pelas oferendas domésticas, ocupados com a construção de seus ninhos; o reflexo azulado dos frutos maduros marcarão os bosques de macieiras-rosas e os cisnes viajantes ali ficarão durante alguns dias.

Pousada sobre a colina no gracioso cume do qual te falei, reduza logo de tamanho, para chegar depressa ao tamanho de um jovem elefante; você poderá, então, com um dos relâmpagos pálidos, bem pálido, tal qual o luar de um enxame de vagalumes, lançar um olhar no interior do palácio.

Ali, tendo despertado de um sopro que refresca suas gotas de água, depois de tê-la reanimado com o perfume dos pequenos botões de jasmim, escondendo seus relâmpagos, envie a palavra grave do seu trovão a esta bela tão recatada, cujos olhos se fixam sobre a janela estreita onde você se mantém.

Nas visões do meu sono, você aparece e eu estendo os braços no vazio, tentando lhe segurar com um abraço apaixonado. As Divindades da Terra sempre vendo esta cena não podem conter as lágrimas que, pesadas como as pérolas, descem sobre os galhos das árvores.

Estas brisas vindas das Montanhas Nevadas fizeram se quebrar bruscamente os brotos sobre os ramos dos déodars, e correm em direção ao sul, perfumadas pela resina derramada. Eu abro meus braços para elas, virtuosa esposa. Se, pelo menos, elas tivessem tocado o seu corpo!

 

Ei-la de volta, ó minha bem-amada,
a estação dos calores, o Sol queimando
como fogo, as mais puras noites
de Lua, os longos banhos em que
nossos corpos perfuram o espelhos das águas,
e estes deliciosos fins de dia
no ardor apaziguado do amor.

 

Os sábios dizem que a morte é uma coisa natural e que a vida é um acidente. Mas, se alguém for capaz de respirar e de estar vivo por apenas um segundo, isto deverá ser considerado um ganho.

 

Como entidades externas poderiam causar sofrimento a uma pessoa sábia?

 

O perfume que os leques de seda
Espalham sobre os seios das belas mulheres,
As pérolas sobre a pele bronzeada,
As canções, o som das harpas
E o canto das aves,
Tudo isso desperta o deus do amor,
Fazendo nascer novas alegrias e novos tormentos.

 

Alguém só poderá ser considerado um Dheera [uma pessoa corajosa] se sua mente não for perturbada ou sobrepujada por emoções, mesmo na presença de objetos de desejo.

 

Na maioria dos casos, o Criador Brahma reluta em colocar todas as boas qualidades em um só lugar [pessoa].

 

Pesados com flores se inclinam
Os ramos das árvores.
E, por cima, brilham
Gotas de orvalho prateadas.
Um pesado perfume se espalha
Através do úmido espaço,
E enche de langor
Os amantes que se procuram.

 

Quem poderá reverter o curso de duas coisas, a saber: a mente que está firmemente aprisionada ao objeto desejado e a água que sempre flui do nível superior para o nível inferior?

 

O corpo humano é o primeiro instrumento para trilhar o Caminho do 'Dharma.'

 

 

 

 

O desejo a impele ao encontro do amante;
O receio a detém por um momento.
Parece a seda de um estandarte,
Que ora se abandona ora se furta ao vento.

 

O professor que pensa que o que importa
é, da cátedra, estar a ganhar a vida,
sem estudar mais, deixando que em si morra
a controvérsia, que ao pensar acende,
não é senão mesquinho traficante,
que a obra dos outros a retalho vende.

 

Ao amanhecer, com um espelho na mão, um ritus sobre a face, uma jovem mulher acompanha sobre os róseos lábios os ferimentos que lhe fizeram os dentes do amante – o cruel amante que lhe bebeu a alma pela boca!

 

Ah! Que esta estação, companheira do frio, seja propícia aos teus desejos! Possa ela te arrebatar a alma das mulheres pelas suas paisagens recobertas por espessas searas de arroz e pelo canto dos pássaros que pousam sobre a neve!

 

Melhor é uma poesia por ser antiga?
Então, é sempre má, se for moderna?
Só o amador conhece a luta eterna,
e o crítico que espere o que ele diga.

 

Cuida deste dia!
Ele é a vida – a própria Essência da Vida!
Em seu breve curso,
estão todas as verdades
e realidades da tua existência:
a benção do crescimento,
a glória da ação
e o esplendor da realização.
Pois, o dia de ontem
não é senão um sonho,
e o amanhã somente uma visão.
Mas, o dia de hoje, bem vivido,
transforma os de ontem
em um sonho de ventura,
e os de amanhã
em uma visão de esperança.
Cuida bem, pois, do dia de hoje!
Eis a saudação da alvorada.

 

A lágrima que ficava
tremia em seu lábio inferior.
E eu assisti indiferente, perdido na ilusão.
Agora vou enxugá-la, minha amada,
para me libertar do remorso.

 

A pureza ou não do ouro só poderá ser testada quando ele for colocado no fogo.

 

O Conhecimento transmitido apenas para um destinatário produzirá o resultado desejado.

 

As pessoas têm gostos variados; ora gostam, ora não gostam.

 

Os tolos ridicularizam as grandes almas, cuja conduta e comportamento são diferentes dos mortais comuns, que, por isto, não podem admitir razões para esta diferença.

 

Implorar a uma pessoa nobre e não se conseguir o que se quer é muito melhor do que implorar a uma pessoa medíocre e se conseguir o que se quer.

 

Pela vaziez de riqueza, de conhecimento, de boas qualidades etc. perde-se a dignidade e o respeito na sociedade. A plenitude de riqueza, de conhecimento de boas qualidades etc., por outro lado, atrai a dignidade e o respeito da sociedade.

 

Quando a rede de pesca se rasga e o peixe pula na água, o pescador fica deprimido, e se consola dizendo: — O peixe teve mérito.

 

Só um tolo é cegamente conduzido pelo que os outros dizem.

 

Mesmo uma pessoa que enxergue bem só será capaz de ver um objeto na escuridão com o auxílio de uma lâmpada.

 

Até o tolo se torna inteligente pela associação com os sábios...

 

Que todos ultrapassem suas eventuais dificuldades. Que todos possam participar de coisas boas e auspiciosas. Que todos as aspirações dignas se cumpram. Que todos, em todos os lugares, sejam felizes.

 

 

 

 

 

Pinga-pinga

 

 

 

Já fui fumaça viageira;

já fui seixo rotundinho.

Já fui neve na cumeeira;

já fui urubu sem ninho.

 

Já fui religioso canalha;

já fui covarde e sacana.

Já fui um puta bandalha;

já fingi que era bacana.

 

Já fui escarlate na rinha;

já fui areiinha lá no erg.

Já fui aragem mansinha;

já fui uva johannisberg.

 

Já fui noite e já fui dia;

já fui reles pau-mandado.

Já fui itinerante bóia-fria;

já fui um bolsilho furado.

 

Já fui pai e já fui filho;

já fui u'a pedra-sabão.

Já fui fosco e lustrilho;

já fui até assombração!

 

Já fui tasco de chumbo;

lapis e ouro eu nunca fui.

Já fui um cafuzo matumbo;

senhor feudal também fui.

 

pedra-inca, abanga, bicho

e padrinho do Sujismundo.

Cada vez, um novo nicho!

 

Estive até em Pasárgada;

Pasárgada: quimera sem lei.

Lá, dei com uma transviada,

e foi aí que eu me enforquei!

 

 

 

 

Hoje, Rodolfo Pizzinga,

amanhã, o que eu serei?

Na base do pinga-pinga,

eu me tornarei meu Rei!

 

O que agora eu não mudar

virará catalisador-adimplência,

para eu conseguir me libertar

desta mendicidade-sofrência.

 

Mas, não vencerei sozinho;

comigo, você precisará vir.

Ouça aí, que é comezinho:

para todos, há um só devir!

 

 

 

Há um só devir!


 

 

 

 

Música de fundo:

Main Koi Aisa Geet Gaon

Fonte:

http://suri-midi.tripod.com/surimidi/id2.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Kalidasa

http://www.cecpj.com.br/Campanhas/

http://vinzi88.deviantart.com/art/
Ubuntu-Dharma-59565471

http://imgfave.com/view/4104450

http://www.animateit.net/details.php?image_id=8061

http://prramamurthy1931.blogspot.com.br/2010
/11/quotable-quotes-from-sanskrit-classics.html

http://www.goodreads.com/author/
quotes/186034.K_lid_sa

http://www.animaldreamguide.com/page/18

http://clubedospensadores.blogspot.com.br/
2009/09/dia-calmo.html

http://el-caballero-de-las-letras-perdidas.blogspot.
com.br/2009/10/salutacion-al-alba-de-kalidasa.html

http://www.frasesgo.com/autores/
frases-de-kalidasa.html

http://revistaesfinge.com.br/frases/

http://www.escritas.org/pt/
poema/4381/de-kalidasa

http://mixdansayoga.blogspot.com.br/2011
/05/poesia-indiana-kalidasa-ronda-das.html

http://marinquieto.blogspot.com.br/
2006/01/de-kalidasa.html

http://socomento1.blogspot.com.br/
2009/11/kalidasa-india.html

http://arteseyoga.blogspot.com.br/
2010/06/estacao-da-chuva-kalidasa.html

http://arteseyoga.blogspot.com.br/
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http://memorialdemauna.blogspot.com.br/
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http://jardinephemere.blogspot.com.br/
2007/09/lenda-de-kalidasa.html

http://william-infinito.blogspot.com.br/2010/
12/pensamentos-soltos-kalidasa.html

http://www.quemdisse.com.br/

http://indianidades.blogspot.com.br/
2008/04/kalidasa.html

http://poesiamusicadocoracao.blogspot.com.br/
2012/03/poema-sakuntala-autor-kalidasa.html

 

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