KÂLA HAMSA

 

 

Rodolfo Domenico PIzzinga

 

 

 

 

 

Diz a Grande Lei: Para te tornardes o Conhecedor do Eu Total, deves, primeiro, ser o conhecedor do Eu. Para alcançar o conhecimento deste Eu, tens de renunciar o Eu ao Não-Eu, o Ser ao Não-Ser, e, então, poderás repousar entre as asas da Grande Ave. Sim, doce é o repouso entre as asas do que não nasce nem morre, mas é o AUM1 através das idades eternas.2 (A Voz do Silêncio, Fragmento I, nº 19).

 

Cavalga a Ave da Vida [Kâla Hamsa] se queres saber. (A Voz do Silêncio, Fragmento I, nº 20).

 


Helena Petrovna Blavatsky (1831 - 1891)

 

 

 

 

 

 

 

 

morto-estive; fui eu-não-sou.

Hoje, Eu-Sou-o-que-Eu-Sou.

 

 

AUM-Hamsa Sou-Serei.

Venci todas as vaidades;

livrei-me das indignidades.

Hoje Sou-Deus; hoje Sou-Rei.

 

 

 

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Notas:

1. Atenta para o fato de que o teu Senhor está sempre alerta. (Surata Al Fajr, versículo 14). O teu Senhor está sempre alerta, simbolicamente, significa o Olho Que Tudo Vê ou o Olho da Providência. No Islamismo, Hamsa representa a mão de Fátima, filha do Profeta Muhammad, que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele, e significa os cinco Mandamentos fundamentais que todo muçulmano precisa cumprir (os chamados cinco pilares do Islã – Arkan Al-Islam): 1- jejuar no mês do Ramadã; 2 - fazer, pelo menos, durante a vida, uma peregrinação à Cidade Sagrada de Meca; 3 - orar diariamente; 4 - fazer caridade; e 5 - declarar a Chahada (ou Shahada, profissão de fé ou testemunho que atesta a crença do devoto muçulmano em Deus e no Profeta Muhammad – Não há outra Divindade além de Allah; Muhammad é o seu Profeta). Hamsa aparece também, por exemplo, como parte da iconografia da Maçonaria. O Olho Que Tudo Vê é uma espécie de lembrete para os Maçons de que sempre são observados pelo Grande Arquiteto do Universo. Por outro lado, Hamsa (Hamesh) é um símbolo utilizado pela comunidade sefaradi, muito ligada à parte mística e cabalística da Torá. O Hamesh é uma mão estilizada representando os cinco níveis da alma, o órgão/canal através do qual uma pessoa abençoa outra, simbolizando, portanto, bênçãos e proteção. No Gnosticismo, voando sobre as Águas da Vida, o Cisne Celestial Kâla Hamsa (ou Hansa) representa o Terceiro Logos (ou Mente Universal, responsável pela manifestação, modelando a matéria do plano tridimensional). Hamsa é também uma ave mística do Esoterismo, análoga ao Pelicano dos Rosacruzes. Nesta palavra, está contido o mistério alquímico universal – a doutrina da identidade da essência humana com a Essência Divina (identidade a ser alquímica e misticamente alcançada no processo evolutivo). Na eternidade do tempo – que é tempo e que não é tempo – corresponde ao conceito zarathustriano Eu-sou-o-que-Eu-Sou. Hamsa representa, por último, a Sabedoria Divina, na obscuridade e fora do alcance objetivo e sensorial humano. Teosoficamente, Hamsa está intimamente relacionada com a Sagrada Palavra AUM: A = asa direita de Hamsa; U = asa esquerda; M = cauda. Enfim, AUM – que é equivalente a OM e que corresponde ao Triângulo Superior (Manas, Buddhi, Athma) – significa reto procedimento, que deve ser traduzido em atos. AUM é um Nome composto de duas vogais (A e U) e da semivogal M (esta deve ser prolongada). Santa e exatamente pronunciado, projeta a vida na Santa Vida, libertando o ser das misérias fabricadas da necessária existência condicionada. Não é, portanto, um mero som simplesmente pronunciado pelos lábios, até porque se for apenas pronunciado pelos lábios e não for sentido pelo e no Coração não terá qualquer efeito. Cabalisticamente, de AUM derivou AMeN (conhecido no Ocidente como amém), de valor numérico igual a 91, igual à soma de YHVH (10 + 5 + 6 + 5 = 26) e ADoNaY (1 + 4 + 50 + 10 = 65). Já o Mantra AUM MANI PADME HUM [ou OM MANI PADME HUM], explica Helena Petrovna Blavatsky no volume VI de sua Doutrina Secreta, provocará, consciente ou inconscientemente, resultados inevitáveis. Se for pronunciado por um Iniciado, poderá orientar uma corrente benéfica ou protetora, e, deste modo, fazer o bem a indivíduos e até a nações inteiras, e ajudá-los. Se for pronunciado por um ser humano bom e bem-intencionado, mas não-Iniciado, embora sem o perceber, este bom ser humano passará a ser um escudo que dará proteção a todos os que estiverem a seu lado. Este Sagrado Mantra jamais poderá ser empregado em momentos de cólera ou para produzir o mal. Primeiro, não funcionará; segundo, exporá o vocalizador a perigos inimagináveis, e aquele que insistir e assim o fizer será a primeira vítima de sua própria maldade. Seja como for, a individualidade egoística é a raiz de todos os males, e, conseqüentemente, a vertente de todas as aflições humanas. Os Shylocks haverão de ter uma baita surpresa quando passarem para o lado de lá!

2. Entre os orientais, eternidade tem um significado completamente diferente daquele entendido no Ocidente. Pode corresponder a um Mânvântâra (ou Kalpa), durando, no total, 4.320.000.000 anos, ou a um Maha-Mânvântâra (Maha-Kalpa = 100 Anos de Brahman), com duração de 311.040.000.000.000 anos. Logo, a interminável eternidade – sem começo nem fim – tem começos e fins cosmicamente determinados e repetidos/reproduzidos, em um Grande Dia expansível (Maha-Mânvântâra) seguido por uma Grande Noite retraível (Maha-Prâlâya), de igual duração. Ad æternum. A animação em flash que abre este trabalho pretende, didaticamente, mostrar esta Lei Cósmica irredutível. Enfim, as duas grandes questões teológicas que atormentam os religiosos são: 1ª) quem criou tudo isto?; e 2ª) quem governa tudo isto? Ora, se, por hipótese, admitirmos que houve um Criador-Governador em um tempo qualquer da existência do Universo, este Criador-Governador teve de ser criado por um Criador-Governador que o antecedeu, e assim, para trás, sucessivamente e sem limite. Mas, como o Nada não pode dar origem a nada, como resolver este impasse metafísico e tentar chegar à origem Criadora-Governadora do Kosmos? Haverá uma origem Criadora-Governadora do Kosmos? Para o Ser nunca houve começo – explica o Mestre Alden (Dr. Harvey Spencer Lewis, Ph. D., FRC) – porque o Nada não pode dar origem a alguma coisa. Todavia, esta afirmação, per se, continua a não resolver e a não explicar a dúvida metafísica que amargura as consciências. Mas há uma saída! Se aprendermos a consultar a Voz Silenciosa que fala em nossos Corações, compreenderemos tudo isto de uma forma que não poderá jamais ser expressa por palavras. In Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus.

 

 

 

 

311.040.000.000.000 anos