Rodolfo Domenico Pizzinga
Música de
fundo: La Donna Imobile (Verdi) Fonte: http://www.damadanoite.adm.br/classicas.htm
Assim peregrina a Humanidade... Eu julgo... Tu julgas...
Eu julguei e condenei o meu pai E fui injusto no meu julgamento. Depois, julguei e condenei a minha mãe E igualmente fui parcial no meu julgamento.
Eu julguei um dependente de drogas E desconstruí uma longa amizade. Esqueci minhas próprias dependências Agindo sem amor e sem fraternidade.
Eu critiquei um judeu ortodoxo Por não compreender a sua religião. E também depreciei um muçulmano Desrespeitando sua fé e sua religião.
Eu escarneci de uma prostituta Sem misericórdia no coração. Também julguei um homossexual Com inclemência no meu coração.
Entretanto, não me incomodei em julgar Mesmo tendo ido a Pasárgada namorar. Lá, não tomei banhos de mar, E esqueci que não consegui me consolar!
Eu acusei um político de depravação Esquecendo a minha própria corrupção. E julguei desfavoravelmente um juiz revel Distraindo-me de minha própria ambição.
Também julguei e condenei Saddam Hussein Por suas conhecidas irregularidades. Mas adorei apoiar a Coalizão Em todas as suas atrocidades!
Eu julguei ferozmente a religião alheia E chutei a imagem de Maria Mãe Santíssima. Mas o que julguei e chutei foi minha própria mãe, Cometendo uma iconoclastia boçalíssima!
Por apenas furtar um pão, condenei um sofredor Sendo eu mesmo um reles ladrão. Julguei sim. Julguei imodestamente meu irmão Sem me importar com a sua fome e a sua dor.
E julguei mais: julguei minha companheira Sem me importar com os seus motivos. Contudo, não julguei a mim mesmo Nem avaliei os meus próprios motivos.
Mas julguei porque inventei meu próprio Deus À minha fútil imagem e deformada semelhança. Isso porque, para mim, a única verdade é esse Deus — Minha salvífica fé e minha única esperança.
Assim, julguei porque apenas vi com os olhos Uma justificação de meios para alcançar certos fins. Criminalizei, acusei, julguei e sentenciei Entropizando doentiamente meu Eu Interior.
O homem ainda é um tubo vertical Que vive (estará morto?) por dezesseis horas! E também é um tubo horizontal Que morre (estará vivo?) por oito horas!
E assim, as amebas do passado Hoje julgam e incriminam outras amebas. Mas... O que reservará o futuro Para os homens e as amebas?
Enfim, quem sou eu para julgar Meu irmão que está dentro de mim? Não posso nem julgar a mim mesmo, Pois ainda fujo da LLuz que está em mim!
Eu-pecador me confesso Um julgador preconceituoso. Urgentemente preciso extirpar esse abscesso Pútrido, contaminador e malcheiroso.
CONVITE
http://svmmvmbonvm.org/judge.htm
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