O JULGAMENTO DE JESUS

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Eu Sou a Rosa de Sharon,
o Lírio dos Vales.
(Cânt. II, 1)

 

 

 

O defensor de Jesus: — Senhoras e senhores: este é um triste dia para os Deuses, para o Universo e para todos nós. Haveremos de lamentá-lo por milênios! Eu pergunto: como é possível condenar Jesus apenas pelas suas convicções? E pergunto: como é possível condenar Jesus apenas por ter tocado o Coração dos homens pela Sabedoria de seus discursos? Como é possível condenar Jesus por ter tirado para fora os que haviam entrado e posto para dentro os que haviam saído? Como é possível condenar Jesus por ter expulsado os vendilhões do templo, que incitavam os incautos a fazer negócios com Deus? Como é possível condenar Jesus por ter recomendado que entremos em nossa habitação, que fechemos a Porta e que oremos ao nosso Pai, que, em Silêncio, está escondido? Como é possível condenar Jesus por ter bem-aventurado os simples de Coração? Como é possível condenar Jesus por ter dado de beber aos sedentos e dado de comer aos famintos? Como é possível condenar Jesus por ter advertido que sem LLuz ninguém poderá se contemplar a si mesmo? Como é possível condenar Jesus por ter prevenido que é conveniente que cumpramos tudo aquilo que é justo? Como é possível condenar Jesus por ter avisado que, se não recebermos a ressurreição em vida, nada receberemos ao morrer? Como é possível condenar Jesus por ter informado que o Homem Perfeito não só não poderá ser detido como nem sequer poderá ser visto? Como é possível condenar Jesus por ter vaticinado que aquele que, pela Graça e pelo Mérito, depois de haver alcançado a Liberdade, se se vender a si mesmo novamente como escravo, não poderá voltar a ser livre? Como é possível condenar Jesus por ter ensinado que a ignorância é escravidão e que a Sabedoria Espiritual é Liberdade? Como é possível condenar Jesus por ter exposto que quem não receber a LLuz na Sagrada Câmara Nupcial não A receberá em nenhum outro lugar? Como é possível condenar Jesus por ter ensinado que somos nós que fazemos existir o pecado, quando agimos conforme os hábitos da nossa natureza adúltera? Como é possível condenar Jesus por ter assegurado que só peca quem é escravo do pecado? Como é possível condenar Jesus por ter comentado que aquele que encontrar ficará perturbado, maravilhado e dominará tudo? Como é possível condenar Jesus por ter mostrado que o Reino tanto está dentro como está fora? Como é possível condenar Jesus por ter admoestado que só quando dois se tornarem um é que se tornarão Filhos do Homem? Como é possível condenar Jesus por ter prevenido que é maldita a personalidade-alma que depende da carne? Como é possível condenar Jesus por ter solicitado que aquele que se tornou rico que renuncie ao mundo? Como é possível condenar Jesus por ter observado que devemos ser transeuntes? Como é possível condenar Jesus por ter comunicado que quem conhece tudo, mas, se estiver desprovido em si, estará absolutamente desprovido? Como é possível condenar Jesus por nos ter avisado para tomarmos cuidado para que não nos afastemos do Santo Caminho? Como é possível condenar Jesus por ter dito que onde está a Mente há um Tesouro? Como é possível condenar Jesus por ter disseminado que é deplorável o corpo que depende de um corpo, e que é deplorável a personalidade-alma que depende destes dois? Como é possível condenar Jesus por ter ensinado que é por meio da Água e do Fogo que tudo é purificado e renovado? Como é possível condenar Jesus por ter insistido que o Homem não será capaz de se tornar eterno se não se tornar primeiramente um Pequenino? Como é possível condenar Jesus por nos ter censurado por nos louvarmos a nós mesmos e por nos entregarmos à insolência? Como é possível condenar Jesus por ter nos lembrado para não provocarmos a divisão? Como é possível condenar Jesus por nos ter pedido para compartilharmos tudo com nossos irmãos? Como é possível condenar Jesus por nos ter recomendado para detestar toda a hipocrisia? Como é possível condenar Jesus por, gnosticamente, ter asseverado que a Sagrada ShOPhIa é a Mãe do Universo? Como é possível condenar Jesus por ter provocado: 'aquele que estiver isento de mácula atire a primeira pedra?' Este homem só fez o bem. Para libertar o Espírito da carne, reescreveu a Oração do Pai Nosso e ensinou que o maior dos Mandamentos é amar o próximo como a si mesmo. Se a Sua Doutrina é superior à doutrina vigente, por que não tentar entendê-La? A inveja é a mãe do preconceito, e o preconceito é o filho adulterino da ignorância. E quem morre em ignorância não poderá se acercar da Santa LLuz. Condená-Lo, aqui, hoje, é condenar o Bem, é condenar a Beleza, é condenar a Paz e é condenar a LLuz. Aquele que condena é um assassino da Humanidade, e todo assassino é um suicida.

 

O acusador de Jesus: — Disseste bem, digno defensor, mas, não podemos aceitar o nascimento virginal de Jesus. Não podemos aceitar que Ele seja o Filho de Deus. Não podemos aceitar que Ele seja o Messias. Não podemos aceitar que Ele blasfeme contra a Lei de Moisés. Não podemos aceitar que Ele diga que o amor seja a razão da existência. Não podemos aceitar que Jesus tenha descoberto os Mistérios do Templo. Não podemos aceitar mudanças nas tradições antigas; as tradições são imexíveis e invioláveis. Não podemos aceitar a superioridade de Sua Doutrina. Não podemos aceitar os prodígios a Ele atribuídos, como, por exemplo, a cura de doentes, a ressuscitação de mortos e a adivinhação das coisas ocultas. Não podemos aceitar que Ele tenha revelado ao povo a Verdade; a Verdade é um privilégio exclusivo dos Sacerdotes. Não podemos aceitar quem deseja apresentar uma síntese religiosa universal. Não podemos aceitar que Ele e seu Pai sejam um. Não podemos aceitar que Ele tenha entrado triunfalmente em Jerusalém, e, depois, tenha promovido um tumulto no templo. Não podemos aceitar que Ele seja um rei, e, por isto, não podemos tolerar que Ele seja superior nem a César nem a Pontius Pilatus. Por isto, ele deverá ser condenado à morte, carregar a própria cruz e morrer crucificado no Golgotha. Esta é a sentença irrevogável para este traidor.

 

 

 

Eterificação Mística
do Sangue de Jesus
Jorrado no Golgotha

 

 

 

Observação:

Este curto diálogo foi inspirado na obra A Ciência dos Espíritos, de autoria de Éliphas Lèvy, no Evangelho de Tomé, no Evangelho de Felipe e no Evangelho de Maria Madalena.

 

Música de fundo:

Jesus Bleibet Meine Freude
Compositor: Johann Sebastian Bach

Fonte:

http://www.free-scores.com/download-sheet-music.php?pdf=540

 

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