Pensamentos de John Steinbeck

 

 

 

John Steinbeck

 

 

 

 

 

 

uando uma luz se apaga, fica mais escuro do que se jamais ela tivesse brilhado.

 

A liberdade depende da quantia que uma pessoa pode pagar por ela.

 

Não force a fé até a altura do vôo dos pássaros e não rastejará como os vermes.

 

Chorar é fácil; o difícil é agüentar firme.

 

A nossa espécie é a única espécie criativa, e tem apenas um único instrumento criativo, a mente e espírito – únicos de cada homem. Nunca nada foi criado por dois homens. Não existem boas colaborações, seja em arte, seja na música, seja na poesia, seja na Matemática, seja na Filosofia. De cada vez que o milagre da criação acontece, um grupo de pessoas pode construir com base nela e aumentá-la, mas, o grupo em si nunca inventa nada. A preciosidade reside na mente solitária de cada homem. E, agora, existem forças que enaltecem o conceito de grupo, e que declararam uma guerra de exterminação à esta preciosidade – a mente do homem. Através das mais variadas formas de pressão, de repressão, de culto e de outros métodos violentos de condicionamento, a mente livre tem sido perseguida, roubada, drogada, exterminada. E este é um rumo de suicídio coletivo que a nossa espécie parece ter tomado. E é nisto que eu acredito: que a mente livre e criativa do homem individual é a coisa mais valiosa no mundo. E é por isto que eu estou disposto a lutar: pela liberdade da mente tomar qualquer direção que queira, sem direção. E é contra isto que eu vou lutar com todas as minhas forças: qualquer religião e qualquer Governo que limitem ou destruam o indivíduo. É isto que eu sou e é esta a minha causa. Posso até compreender que um sistema baseado em um padrão tenha que destruir a mente livre, pois, esta é a única coisa que pode inspecionar e destruir um sistema deste tipo. Com certeza que compreendo, mas, lutarei contra isto por forma a preservar a única coisa que nos separa das restantes espécies. Pois, se a mente livre for morta, estaremos perdidos.

 

Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode ser medida a cultura de um povo.

 

Creio que nós todos (ou quase todos) somos guardiães daquela ciência do século XIX, que negava existência a tudo o que ela não podia medir ou explicar. As coisas que não sabíamos explicar continuavam certamente a existir, mas, sem as nossas bênçãos. Não víamos o que não sabíamos explicar; enquanto isso, uma grande parte do mundo ficava entregue a crianças, malucos, idiotas e místicos, que se interessavam mais pelo que existe do que pelo motivo por que aquilo existe. De modo que, muitas coisas antigas e encantadoras se acham armazenadas no sótão do mundo, pelo fato de não as querermos ao nosso redor e não nos atrevermos a jogá-las fora.

 

Às vezes, penso que gostaria de saber a natureza dos pensamentos noturnos. Eles se assemelham a sonhos. Às vezes, posso digeri-los; outras vezes, desembestam e avançam contra mim como cavalos vigorosos e selvagens.

 

As palavras não têm sentido, salvo quando há sentimento.

 

Como a maioria dos homens de hoje, não acredito em magia nem em profecias, mas, como quase todas as criaturas, passo a maior parte de meu tempo a praticá-las.

 

As pessoas que mais têm medo de seus sonhos se convencem de que nunca sonham, mas, isto, de modo algum, torna a coisa menos assustadora.

 

Acreditei sempre que é preciso ler um escritor, não vê-lo.

 

A arte do descanso é uma parte da arte de trabalhar.

 

De todos os animais da Criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada o que dizer.

 

É curioso como uma desgraça nos parece longínqua quando não nos atinge pessoalmente!

 

 

 

Somos animais solitários. Nós gastamos toda a nossa vida tentando ser menos solitários.

 

Antes, o homem era dono do seu saber. Hoje, o seu saber é o seu domínio.

 

A disciplina da palavra escrita pune tanto a estupidez quanto a desonestidade.

 

Coisas que admiramos nos homens: bondade, generosidade, franqueza, honestidade, compreensão e sentimento. Coisas que detestamos: violência, ganância, cobiça, maldade, egoísmo e auto-interesse.

 

Tente entender as pessoas. Se você conseguir entender o outro será gentil com todos. Tente entender cada um.

 

Todo o meu esforço tem sido tentar fazer as pessoas se entender mutuamente.

 

Um escritor só pode escrever sobre o que ele admira.

 

As idéias são como coelhos. Você tem um casal de coelhos, aprende a lidar com eles e logo você tem uma dúzia.

 

Nada é importante ou tudo é importante.

 

Cuidado! Você nunca sairá deste mundo vivo!

 

O poder não corrompe. O que corrompe é o medo... Talvez, o medo da perda do poder.

 

Em total solidão, um escritor tenta explicar o inexplicável.

 

O escritor deve acreditar que o que está fazendo é a coisa mais importante do mundo. E deve manter esta convicção, mesmo quando ele sabe que não é verdade.

 

Ninguém nunca vai para o céu... Isto só acontece em sua cabeça.

 

 

 

O homem, ao contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica no Universo, cresce para além do seu trabalho, sobe as escadas de seus conceitos, surge à frente de suas realizações.

 

Se a honra vier a ser morta, estaremos perdidos.

 

É uma experiência comum que um problema difícil seja resolvido durante noite, após a comissão do sono tem trabalhado nele.

 

De que serve a um homem conquistar o mundo inteiro e voltar para sua casa com uma úlcera gástrica, a próstata arrebentada e óculos bifocais?

 

Alguém deveria escrever um ensaio sobre os efeitos morais, físicos e estéticos do Ford Modelo T na nação americana. Duas gerações de americanos conheceram melhor uma bobina de Ford que o clitóris, o sistema planetário de engrenagens melhor que o sistema solar de estrelas. Com o Modelo T, parte do conceito de propriedade privada desapareceu. Os alicates deixaram de ser propriedade privada, e uma bomba de pneu passou a pertencer ao último homem que a pegava. A maioria dos bebês da época foi concebida em Fords Modelo T, e não foram poucos os que neles nasceram. A teoria do lar anglo-saxão ficou tão abalada que nunca mais se recuperou inteiramente.

 

Existem duas reações possíveis ao ostracismo social: ou um homem emerge determinado a ser melhor, mais puro e mais generoso ou desanda para o mal, desafia o mundo e faz coisas ainda piores. A segunda é a reação mais comum ao estigma social.

 

O ódio implacável foi crescendo com o inverno, um ódio frio, silencioso, um ódio que aguardava o momento de se manifestar. Um homem pode ser um soldado por muitas horas durante o dia, por muitos meses durante o ano. Mas, quando ele quer ser um homem novamente, deseja a companhia de uma moça. Sente vontade de beber, de ouvir música, de rir e de se divertir. E quando tais coisas lhe são negadas, tornam-se, então, irresistivelmente desejáveis.

 

Um homem que vale alguma coisa não deve se deixar levar pelas possibilidades de viver ou morrer. Ele deve apenas levar em consideração se o que está fazendo é certo ou errado.

 

O espírito de um homem desarmado não pode enfrentar uma metralhadora.

 

O homem muda, e as mudanças costumam vir como um vento suave, como o perfume das flores silvestres escondidas furtivas na grama.

 

Ninguém quer conselho, só corroboração.

 

Para estar vivo é preciso ter cicatrizes.

 

Nenhum homem pode realmente saber como os outros seres humanos são. O melhor que podemos fazer é admitir que eles são como são.

 

O ser humano é uma massa assustadora de medidores, de mostradores e de registros, e podemos ler apenas alguns, e, talvez, não exatamente.

 

A Literatura é tão antiga quanto o discurso. Ela cresceu a partir da necessidade humana, e não mudou, exceto em se tornar mais necessária.

 

A Humanidade vem passando por um momento cinza, desolado e confuso.

 

Temos usurpado muitos poderes que antes atribuídas só a Deus.

 

Medrosos e despreparados, assumimos o senhorio sobre a vida e a morte de todo o mundo – de todas as coisas vivas.

 

Se você está em apuros, procure as pessoas pobres. Elas são as únicos que irão ajudar – as únicas.

 

Uma alma triste pode matar mais rápido do que um germe.

 

A viagem é a pessoa-em-si; não há duas iguais.

 

O homem é o único tipo de verme que cria sua própria armadilha, põe as iscas e, então, pisa nela.

 

Gastamos nosso tempo em busca de segurança, e odiamos quando a obtemos.

 

Quando a chuva está caindo, podem ser encontradas muitas dores.

 

Uma viagem é como um casamento. É um erro pensar que poderemos controlá-los.

 

Um livro é como um homem: inteligente e maçante, corajoso e covarde, bonito e feio.

 

O tempo é o único crítico sem ambição.

 

 

 

Eu me pergunto quantas pessoas eu vi toda a minha vida sem nunca ter visto nenhuma delas.

 

Uma mulher amorosa é indestrutível.

 

Vou me vingar da maneira mais cruel que você pode imaginar. Vou deixar para lá.

 

O dinheiro não transforma a doença, apenas os sintomas.

 

A reputação de quem tem dinheiro é quase tão negociável quanto o dinheiro em si.

 

Não existe essa coisa de dinheiro bastante. Só há duas medidas: sem dinheiro e dinheiro que não basta.

 

Sobre o norte-americano: Conseguiram combinar com êxito pirataria e puritanismo, que, no fundo, não são coisas assim tão diferentes. Ambos nutriam desprezo intenso pela oposição, e ambos viviam de olho na propriedade alheia. Quando as duas coisas se combinaram, produziram um bando de macacos sobreviventes, resistentes a tudo.

 

Um dia, em sua totalidade, não é uma coisa, mas, muitas. Ele se transforma não somente de acordo com a luz que vai crescendo e caminhando em direção ao zênite, e entra em declínio mais uma vez, mas, na textura e no humor, no tom e no significado, envolto em milhares de fatores relativos à estação, ao calor ou ao frio, a ventos parados ou múltiplos, retorcidos por odores, pelos sabores e pelas tramas de gelo ou de grama, de botão ou de folha ou de galhos nus pretejados. E, à medida que o dia se transforma, o mesmo acontece com seus súditos, insetos e pássaros, gatos, cães, borboletas e pessoas.

 

Você sabe como são os conselhos. A gente só aceita quando estão de acordo com o que faríamos de qualquer maneira.

 

Por mais errado que um sujeito esteja, ele vai ter uma teoria para explicar porque está errado.

 

Quando a gente tem muita certeza, geralmente está errado.

 

Se quiser esconder seus motivos, diga a verdade.

 

Somos capazes de lançar foguetes ao espaço, mas, não podemos curar a raiva nem o descontentamento.

 

Todos os homens são cheios de moral. Só os vizinhos deles é que não são.

 

Fico pensando nas pessoas que dizem não ter tempo para pensar. Talvez, não ter tempo para pensar seja não ter vontade de pensar.

 

Um dos nossos mitos mais antigos e mais desacreditados é que os pensamentos dos homens aparecem no rosto, que os olhos são as janelas da alma. Isto não acontece. A única coisa que aparece é a doença, a derrota e o desespero, que são tipos de doenças.

 

Olhe para o mundo com novos olhos ou simplesmente com novas lentes, e pronto: um novo mundo!

 

O homem é uma coisa solitária.

 

Estou principalmente aprendendo o quanto eu não sei.

 

Até logo tem um doce som de relutância. Adeus é curto e definitivo, uma palavra com dentes afiados que rói a corda que amarra o futuro.

 

Não apenas os corajosos morrem. Mas, os corajosos têm maior chance de morrer.

 

As acusações continuam sendo lembradas, mesmo depois que um homem é considerado inocente.

 

O que se pode esconder não existe.

 

Escrever, para mim, é uma função profundamente pessoal, secreta mesmo, e, quando o produto é liberado, ele se separa de mim, e não tenho mais sensação de que é meu. É como uma mulher tentando recordar como é o parto. Ela não consegue.

 

Devemos nos lembrar de que vamos morrer, e tentar viver de forma que a nossa morte não traga nenhum prazer para o mundo.

 

É um absurdo que nós não entendamos os anjos e os demônios, uma vez que fomos nós que os inventamos.

 

Quem é [interiormente] jovem nunca será velho.

 

 

Eu nunca ficarei assim!

 

As pessoas gostam que você seja alguma coisa; de preferência, o que elas são.

 

Toda guerra é um sintoma do fracasso do homem como um animal pensante.

 

A boa história está nas coisas semicontadas, que devem ser completadas pela própria experiência do ouvinte.

 

Por que o progresso se parece tanto com a destruição?

 

É fácil ganhar dinheiro, se é dinheiro que você deseja. No entanto, com poucas exceções, o que as pessoas querem não é o dinheiro. Querem o fausto, querem amor e querem admiração.

 

Você não deve ter qualquer esperança de encontrar pessoas que compreendam o que fazem. Muitas coisas são feitas instintivamente.

 

É possível se gabar de alguma coisa quando é a única que se tem. Quanto menos se tem, provavelmente, maior é a necessidade de se gabar.

 

O homem se torna um estúpido quando se permite fazer uma coisa que sua inteligência proíbe.

 

É verdade que somos fracos, doentes, feios e briguentos. Mas, se isto é tudo o que sempre fomos, há milênios teríamos desaparecido da face da Terra.

 

Talvez, todos os homens tenham uma grande alma de que todos fazem parte.

 

No final, é a Palavra; e a Palavra é e está no homem.

 

 

 

 

Observação:

John Ernst Steinbeck III (27 de fevereiro de 1902 – 20 de dezembro de 1968) foi um dos mais conhecidos e mais lidos escritores norte-americanos do século XX. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1962, é mais conhecido por seu romance Of Mice and Men (1937) e pelo romance vencedor do Prêmio Pulitzer The Grapes of Wrath (1939), os quais examinam a vida da classe trabalhadora e os trabalhadores migrantes durante a Grande Depressão – por vezes chamada de Crise de 1929, considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX, foi uma grande depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial.