JOAQUIM DE CARVALHO
(Pensamentos)

 

 

 

Joaquim de Carvalho

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo oferece para reflexão alguns pensamentos de Joaquim de Carvalho, especialista de reputação internacional no pensamento spinoziano e um dos maiores cidadãos portugueses do século XX, que, segundo Eduardo Lourenço, se impunha normalmente pela sua sabedoria, pelo seu ar paternal e pela sedução discursiva. Foi dito que o único objetivo de Joaquim de Carvalho foi Portugal – um português que foi, de fato, o criador da história das idéias literárias, filosóficas e científicas da era moderna, como António Pedro Pita soube bem dizer.

 

Eu gosto muito de fazer e de apresentar para vocês estudos como este, porque permitem e estimulam a concentração do espírito sobre si próprio, sobre suas representações, sobre suas idéias e sobre seus sentimentos, tendo por catalisador metafísico o pensamento de autores conhecidos ou de autores pouco conhecidos, como é o caso presente de Joaquim de Carvalho, autor pouco conhecido nomeadamente no Brasil.

 

E, como sempre digo, repito: concordar ou discordar de um autor é um privilégio bendito e inalienável do nosso livre-arbítrio. E, sendo assim, eu, particularmente, confesso que não concordo com esta afirmação de Joaquim de Carvalho, que você – claro! – poderá concordar e subscrever: O espetáculo que o Universo incessantemente nos apresenta de continuidade, de geração, de extinção e de renovo de sucessivas gerações, assim como a variedade infinita das coisas e de eventos que nele se dão – astros e infusórios, consciências e minerais, flores e monstros – tudo por igual dimana, e com igual necessidade, do ser imanente ao próprio Universo. Admito que o que existe possa ser necessário, sim, pois não há superfluidade cósmica (tudo é Um); mas esta necessidade – se for realmente necessária! – não é panteística, e muito menos é dependente e é devida a um ser imanente ao próprio Universo.

 

Compreendo que muitos admitam e religiosa e psicologicamente dependam de um Ens Omnipotens – seja transcendente, seja imanente – simplesmente porque este abstruso e incomprovado conceito lhes foi enfiado goela abaixo, quando ainda eram pequerruchinhos e incapazes de raciocinar ou de dizer: não topo. Entretanto, respeitando convicções ou razões íntimas diferentes das minhas, penso que não haja, efetivamente, como coisa criada, uma ou qualquer natura naturata, como admito, superlativamente, que não haja uma ou qualquer Natura Naturans, como coisa criadora, mantenedora, providencial ou milagrenta.

 

A Vitam Æternam é o que sempre foi; não cria nem descria a bangu, por descuido, por impulso ocasional, por solidão et cetera. Não há um Patrem Omnipotentem creatorem cæli et Terræ; não há remissionem peccatorum nem carnis resurrectionem. No Tempo Cósmico, que não é tempo, a Vida Eterna, entre o repouso praláico e a atividade manvantárica, apenas inconscientemente varia, não tendo derivado de um nada inespecífico nem tendo uma meta escatológica específica in perpetuum tempus. Esta intelecção, reconheço, pode gerar para alguns uma certa insegurança; mas, se compreendermos que nunca houve princípio para este movimento alternado e que jamais poderá haver um fim, talvez, esta mesma insegurança aflitiva possa se transformar Iniciaticamente em Paz Profunda. A libertação do que quer que seja e do que quer que não seja só advirá pela compreensão; não há outra hipótese ou outro caminho. Não há Criss Angel nem mesmo um mestre espiritual que possam nos ajudar nesta matéria; isto cabe a nós e depende só de nós.

 

 

 

Libertas consilii
(Liberdade de decisão)

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Joaquim de Carvalho

 

 

 

Joaquim de Carvalho (Figueira da Foz, 10 de junho de 1892 – Coimbra, 27 de outubro 1958) foi um professor de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde lecionou a disciplina Filosofia Moderna.

 

Instaurou as bases modernas da história da cultura portuguesa, matéria em que alcançou grande projeção nacional, nomeadamente através dos textos que dedicou a Platão, Hegel, Husserl e, sobretudo, a Spinoza, de quem se tornou um especialista de reputação internacional.

 

Foi ainda diretor da Imprensa da Universidade de Coimbra, tendo promovido a publicação de centenas de livros e encorajado diversas linhas de investigação, em particular na história da ciência e dos pensadores portugueses. Acalentou o projeto de escrever a História da Filosofia em Portugal.

 

Joaquim de Carvalho deixou expresso o desejo de que o seu corpo fosse envolto nas bandeiras de Portugal e do Brasil. Em 28 de outubro de 1958, p. 6, o Diário de Lisboa assim se referiu a Joaquim de Carvalho (sic): O prof. Joaquim de Carvalho, que esta noute faleceu em Coimbra, era uma figura admirável de intelectual e de mestre. Homem integro, de uma generosidade sem limites, o professor Joaquim de Carvalho era o tipo perfeito de mestre universitário, criador de uma obra vasta e inteligente em que a síntese e a análise se completavam, simultaneamente ampla e profunda, marcada de personalidade e novidade. Formou gerações, impressionando fortemente a juventude, para a qual era mais do que um simples professor. Na cátedra de História da Filosofia, o professor Joaquim de Carvalho tornou-se a maior autoridade portuguesa e mesmo uma alta figura do pensamento europeu, ensinando sem impor num plano superior de dignidade intelectual e tolerância...

 

 

 

 

Pensamentos

 

 

 

Em política, como em tudo que é sério, sempre que pretendemos captar idéias claras e distintas, não temos mais remédio que atravessar a nado o pélago da Metafísica. Descartes deu-nos o exemplo e Karl Marx também porque só se estrangulam idéias com tenazes de outras idéias. Nestas coisas, os fatos são como a arena dos circos: servem para neles se montar o trampolim e a corda bamba, mas quem salta e sobe a pulso é a mente do homem.

 

Só há uma única coisa no mundo que nos seja óbvia e imediatamente presente – a Consciência.

 

No homem singular, é onde tem ser e valor a verdade ou o conhecimento científico, a beleza ou a expressão pela arte, o bem ou a conduta moral, a justiça ou o império social do Direito e a técnica ou a vitória instrumental da Natureza.

 

A consciência tem um domínio próprio e inviolável... que nenhum poder tem o direito de devassar...

 

A Democracia nasceu de três idéias diferentes: a idéia de soberania do povo, a idéia de igualdade de direitos e a idéia de liberdade individual como limitadora do poder público.

 

A reflexão do filósofo nasce com o cunho da época e da sociedade, e este vinco determina uma conexão indissolúvel entre a matéria da reflexão, o filósofo que reflete e o 'ethos' e as apetências da sociedade e da época em que ele vive.

 

O filósofo1 sistematizou a sua concepção de mundo e da vida – partindo de uma noção de Deus – obedecendo ao ritmo interno como que em um movimento de processão2 de Deus para a alma humana em Deus, por forma que uma especulação metafísica se remata em reintegração ou, talvez, mais propriamente, em redenção moral.

 

Deus – Ser absoluto e infinito – é a substância constituída por infinitos atributos dos quais procedem todas as determinações concretas das coisas e eventos; a razão de ser e a unidade de tudo que existe; a única realidade ontologicamente absoluta, na qual se identificam a essência, a existência e a atividade criadora.

 

Em Deus e em a Natureza, há uma Identidade e uma Unidade, de tal sorte que esta Unidade deve ser entendida como Unidade Ontológica e Razão de Ser Lógica de tudo o que existe.

 

Deus é a condição da pensabilidade e da explicabilidade ontológica e lógica do Universo, e não o ser real infundido nas coisas e subjacente ao acontecer físico.

 

A substância sendo em si, por si e de infinitos atributos basta-se a si mesma e explica satisfatoriamente a coexistência e o paralelismo do pensamento e a extensão, considerados como atributos de uma só substância e não como substâncias independentes.

 

Estruturalmente, o spinozismo é uma maneira de conceber a vida e de fruir a sensação de eternidade pela inefável identificação com Deus.

 

Nenhum homem é uma ilha. A experiência humana é uma experiência social.

 

 

Nenhum homem é uma ilha
Ainda que sejamos todos Um,
para todos nós há aventuras e desventuras!

 

 

Por tradição lírica peninsular e circunstancialismos históricos de Portugal como reconquistador de território [fronteiras instáveis] e país marítimo [descobrimentos], este sentimento [a saudade] ganhou entre nós um caráter metafísico não presente na mentalidade de outros povos.3

 

O mundo do 'examen rerum'4 é um todo único no qual a substância real é, a um tempo, matéria e força. Daí, a vida se dar por toda parte onde se dê a matéria, e não haver matéria e, portanto, vida onde não se dêem o calor e a umidade, que são essenciais e fundamentais no processo cósmico.

 

A Filosofia medieval nasceu e, em grande parte, gravitou em torno das religiões, ou melhor, das teologias, das quais era solidária, quando não subordinada. Esta relação, verdadeira para toda a Idade Média, é-o duma forma muito particular para Portugal, pois é quase exclusivamente na esfera dos problemas patrísticos e da teologia cristã que se move o vago e tênue espírito filosófico. Este espírito, em Portugal, como alhures, nem sempre é ortodoxo, e é até interessante notar que as suas manifestações mais vivas assumiram por vezes uma feição heterodoxa.

 

A Filosofia não foi para todos os verdadeiros pensadores medievais a 'ancilla theologiæ';5 mas na cultura portuguesa só na aurora da Renascença se discrimina a separação nítida e progressiva dos dois conceitos. Antes do século XIII, são tenuíssimos os vestígios da cultura filosófica em Portugal; mas depois deste século, com a criação da Universidade de Lisboa-Coimbra, com o desenvolvimento das escolas monacais e, sobretudo, com a larga emigração de estudantes para as universidades de além-fronteiras, observamos um progresso apreciável. A atividade destas escolas exercia-se obscuramente na repetição incansável dos mesmos textos, e do quadro dos seus estudos só a Dialética, ou como hoje diríamos a Lógica, estimularia a cultura filosófica. Não foi, assim, por mera casualidade, que o mais afamado dialético medieval, Pedro Hispano, o pontíficie João XXI, viu a luz em Portugal, talvez em Lisboa. As suas Summulæ Logicales tiveram uma extraordinária fortuna escolar, constituindo o texto do ensino da Lógica em todos os países, desde o século XIV até princípios do século XVI...

 

Três correntes intervieram ativamente na crítica da escolástica em Portugal, durante o século XVIII, a saber: o Cartesianismo, o Empirismo e o Ecletismo. Nenhuma gerou qualquer movimento especulativo possante e original, mas todas concorreram para o descrédito da filosofia da Escola: o Cartesianismo, mais pela divulgação das concepções físicas do que pela irradiação de sua Metafísica e do racionalismo das idéias claras e distintas; o Empirismo, pelo desapreço da problemática tradicional e correlativo interesse pelos resultados da observação e da experimentação concreta; e o Ecletismo, pela liberdade de opinião e pelo repúdio do espírito de sistema.

 

As concepções físicas do cartesianismo impressionaram mais de perto o pensamento português do que o seu método ou a Doutrina do 'Cogito'.6

 

Há muito que a cultura e a vida civil reconhecem os direitos da religião e do espírito falarem linguagens diversas. Mas, para além destas inevitáveis diversidades, hoje, como ontem, o amor da paz na comunidade dos homens é o 'desideratum' supremo, e este amor tem de ser ditado pela razão, isto é, pela harmonia do entendimento e da vontade. Spinoza guarda intacto o valor incomensurável do homem que sentiu, pensou e realizou, sob certos aspectos de eternidade, este anelo das consciências. A sua mensagem à posteridade tem, sem dúvida, feições históricas, e, como tal, perecíveis; mas a intimidade com o seu pensamento – fonte perene de equilíbrio intelectual e moral – inundará as almas deste amor, e por ele, em Portugal, como alhures, se alcançará a verdadeira vitória do spinozismo, na medida em que a realidade consente o domínio da razão sobre o espírito de violência... e sobre as desordens do egoísmo.

 

Deus é não só o Ser Essente de onde tudo promana, mas também a Razão Inteligível, em virtude da qual todas as coisas se deduzem da Essência ou Natureza Divina, com a mesma necessidade com que da definição de triângulo se deduzem as respectivas propriedades.

 

 

 

 

O espetáculo que o Universo incessantemente nos apresenta de continuidade, de geração, de extinção e de renovo de sucessivas gerações, assim como a variedade infinita das coisas e de eventos que nele se dão – astros e infusórios, consciências e minerais, flores e monstros – tudo por igual dimana, e com igual necessidade, do ser imanente ao próprio Universo.

 

Os atributos são as essências constitutivas da substância mediante as quais são apreendidas pelo intelecto.

 

A equação Substância = Deus = Natureza não foi obtida gradualmente por via de dedução lógica, porque desde a primeira hora sempre esteve presente como fio na meditação de Spinoza. Ao convertê-la, porém, em teoria sistemática, pensada e exposta 'more geometrico',7 apresentou-a com elos de filiação lógica, os quais são anteriores à sua gênese e, de algum modo, demonstram produtividade interna e infinita fecundidade.

 

Sobre a pesquisa filosófica: uma escalada de dificuldades que a razão põe a si mesma; expressão profunda da cultura humana, especialmente instável e sempre em crise.

 

A saudade dá-se em e é sempre saudade de algo, isto é, o acontecer da saudade é um acontecer que a consciência íntima pode comunicar mas não transferir para outrem, e cuja vivência se acompanha da presença espiritual de seres ausentes ou de circunstância e estados transactos... Este sentimento presente à consciência é um sentimento evocativo, triste melancólico, sentido subjetivamente, e não é passível de se manifestar por atos físicos nem transferido para outra consciência, apenas comunicado.

 

 

Oh!, que saudade do Piu-piu!

 

São de sempre, na nossa gente, os testemunhos do amor do livro e da consideração por quem os escreve, os aprecia, os ajunta e conserva. Espontâneos ou refletidos, de ignorantes ou de letrados, eles denotam a disposição moral para se atribuir à civilização um sentido de hierarquia espiritual e dão a conhecer uma faceta da nossa compleição, que através das mutações políticas, da transformação das condições de existência e das inovações dos recursos técnicos jamais deixou de prezar o trabalho intelectual como a aplicação mais alta da atividade humana, mormente se desinteressado e de honradas intenções. Sendo de sempre, e portanto constantes, nem por isso os testemunhos do amor do livro têm sido unilineares e por igual provenientes de todas as camadas e maneiras de ser que compõem a sociedade portuguesa, pois a amplitude crescente das suas manifestações está em correlação direta com a generalização do acesso ao prazer da leitura. Para quem viveu com plenitude a hora alta de alegrias e as depressões fundas da desilusão e da amargura, o mundo que os livros despertam, como aliás todo o fluir vivencial da existência, está sulcado de coordenadas intelectuais e afetivas, de preferências e de repulsas, de travos e de doçuras. Dia virá, em que, com o socorro de documentos e de testemunhos, o historiador e o analista possam sondar com equânime objetividade o mundo interior de D. Manuel. Hoje, talvez, ainda seja cedo, e, além disto, faltam os documentos contrastantes, que são condição essencial e apelo exigente da equanimidade da consciência e da imparcialidade do juízo. Temos apenas diante de nós o pouco que deliberada e meditadamente deu ao prelo, nos Livros Antigos, mas esse pouco diz muito do mundo subjetivo do rei êxule, não tanto no que proclama como, sobretudo e principalmente, no que cala. Da sua pena não saiu uma palavra de ressentimento mesquinho, de ódio vingativo, de incitação pugnaz, e tudo o que neste livro escreveu, seja qual for a densidade da exatidão ou a consistência da travação lógica, teve em vista um fim supremo: Portugal.

 

O livro é, porventura, um dos maiores tóxicos do civilizado, envenenando-o e, sobretudo, afastando-o de si próprio e do convívio com as coisas simples da Natureza, fora das quais a simplicidade não raro faz figura de impostora... Oh!, a deliciosa responsabilidade de afagar livros raros oferecidos por grandes nomes, com o encargo moral de os transmitir por morte a quem seja digno de os apreciar e conservar!

 

Apesar de contestada [a Filosofia Portuguesa] por uns, indiferente à maior parte, mas aproveitada por estranhos, pensAmos sempre que o Gênio Nacional, como unidade viva e livre, se deveria refletir na Filosofia. Com efeito, se uma nacionalidade é em si um produto espiritual, para nós mais representativo do que a comunidade de interesses, sentimentos, tradições, língua, caracteres étnicos, autonomia do poder político etc. com que ordinariamente é definida, se, por outro lado, a Filosofia não é estéril e vão exercício da inteligência, mas uma exigência imperiosa do espírito, o que impede teoricamente que um povo livre, na plenitude da sua autonomia, se afirme e reconheça, independentemente doutras manifestações, na Filosofia? Se sobre todas as coisas reina a dignidade da consciência humana, qualquer ideário político, qualquer arquitetura do Estado que a esqueça, esmague ou remova para o fundo do cenário, é intrinsecamente falsa e moralmente pecaminosa. Quando um país tem a dita de possuir uma oligarquia de políticos, claros nos propósitos, selecionados e confirmados pelo voto de opinião, honrados com o adversário quando lhe chega a hora de governar, o povo vive subtraído às oscilações extremistas das leis do pêndulo e podem chover estrelas ou picaretas que não se abalará a paz interna. Se esta meia-dúzia de homens se desentender, se se deixar atrair pela sereia do mando, tapando os ouvidos à frágil voz do Servir, na bigorna da política soa o timbre das espadas, com as quais, como advertiu Talleyrand,8 se podem fazer muitas coisas, salvo sentar-se alguém nas pontas. Sempre assim foi e será, assim como, pelo contrário, sempre foi e será o diálogo claro e público entre os dirigentes políticos – o bastião inabalável da paz civil. Governe a direita, governe a esquerda, o essencial é que, no círculo dos oligarcas, quem governe saiba se demitir, e quem quer o poder saiba esperar.

 

A probabilidade constitui o domínio próprio da discussão porque a evidência e o absurdo são, por natureza, excluídos – aquela porque não precisa ser demonstrada; este porque não o pode ser. De sorte que problemas dialéticos9 são os que podem receber soluções contrárias ou que ultrapassando os limites da razão humana têm uma solução definitiva impossível.

 

A Regra que São Bento estatuiu e singulariza a Congregação Beneditina não contém disposições escolares expressas; não obstante, estabeleceu preceitos de decisiva influência docente. 'Ora et Labora' é a divisa e o supremo preceito da Regra.

 

Claro que o bonito, o difícil, o decente, consiste em extrair do particularismo nacional o universalismo humano, e em combinar a consideração temporal da convivência com a espacial da coexistência. E aqui para nós – e que ninguém nos oiça nesta manhã de cinco de outubro de 1946 em que escrevo, e, se o ouvirem, não o vão dizer, por favor – ainda não se inventou mais fina, delicada e digna combinação que a da Liberdade com a Democracia...

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Este fragmento se refere a Baruch de Spinoza (24 de novembro de 1632 – 21 de fevereiro de 1677), um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdão, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.

2. Na doutrina católica, a processão é a crença de que o Filho provém do Pai, e de que o Espírito Santo provém de ambos, no mistério da Santíssima Trindade, ou seja, processão é a geração de um ser a partir de outro. Segundo esta mesma doutrina, há duas processões em Deus: 1ª) Processão de Geração, na qual o Filho é gerado pelo Pai; e 2ª) Processão de Espiração, na qual o Espírito é espirado pelo Pai e pelo Filho.

3. Do fadista português Alfredo Marceneiro (Lisboa, 25 de fevereiro de 1891 – Lisboa, 26 de Junho de 1982):

Cabelo branco é saudade
Da mocidade perdida.
Às vezes, não é da idade;
São os desgostos da vida
.

4. Observação das coisas.

5. Ancila da teologia; escrava da teologia.

6. O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico, isto é, duvida-se de cada idéia que não seja clara e distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir ou porque assim deve ser, Descartes instituiu a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisto, Descartes buscou provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo – ego cogito ergo sum – eu que penso, logo existo) e de Deus. O método cartesiano de quatro regras básicas: 1ª) verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou da coisa estudada; 2ª) analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples; 3ª) sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e 4ª) enumerar todas as conclusões e os princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.

7. More geometrico ou ordine geometrico significa demonstrado segundo a maneira geométrica ou o costume geométrico.

8. Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (Paris, 13 de fevereiro de 1754 – Paris, 17 de maio de 1838), mais conhecido por Talleyrand, foi um político e diplomata francês. Acusado em vida de cínico e imoral, alegava servir à França, e não aos regimes políticos. Foi ao lado de Joseph Fouché (Pellerin, 21 de maio de 1763 – Trieste, 25 de dezembro de 1820) uma das figuras mais polêmicas da França.

9. Como explica Joaquim de Carvalho, foi neste último sentido que Kant considerou a Dialética.

 

Bibliografia:

OBRA COMPLETA DE JOAQUIM DE CARVALHO. Filosofia e história da Filosofia. Volume I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1978.

_____. Filosofia e história da Filosofia. Volume II. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981.

_____. História da cultura. Volume III. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

_____. História da cultura. Volume IV. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.

_____. História e crítica literárias; história da ciência. Volume V. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

_____. História das instituições e pensamento político. Volume VI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.gartic.com.br/
RoHh/fs_gallery/5769

http://seculoemquenascemos.blogspot.com/
2008_03_01_archive.html

http://almocrevedaspetas.blogspot.com/
2005_10_01_archive.html

http://books.google.com.br/

http://www.scribd.com/doc/7330132/
Programa-Homenagem-Dr-Joaquim-Carvalho

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ren%C3%A9_Descartes

http://www.institutodehumanidades.com.br/
arquivos/vol_ii_problemas_filosofia_brasileira.pdf

http://joaquimcarvalho2008.blogspot.com/

http://cvc.instituto-camoes.pt/
figuras/joaquimdecarvalho.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Joaquim_de_Carvalho

http://www.citador.pt/cliv.php?op
=10&bymonth=200910&firstrec=10

http://www.consciencia.org/
spinozadanilo.shtml

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Bento_de_Espinoza

http://www.uc.pt/fluc/dfci/
publicacoes/ainda_o_problema

http://ler.letras.up.pt/
uploads/ficheiros/1843.pdf

 

Fundo musical:

Foi Deus (Alberto Janes)

Fonte:

http://www.damadanoite.adm.br/internacionais.htm