JORGE AMADO – Pensamentos

 

 

 

Jorge Amado

Jorge Amado

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Jorge Amado

Jorge Amado

 

 

 

Há tanta gente boa, decente e importante que eu gostaria de ver morando aqui, no Pax Profundis! Mas, sei lá, acho que não vai dar tempo. Como a televisão, geralmente, só mostra desgraças, porque isto açula as paranóias paranóicas dos paranóicos e dá um puta IBOPE, sendo ou não paranóicos, acabamos pensando que a vida é uma merda. Mas, não é assim; muito pelo contrário. Há mais gracilidade do que fealdade, mais bondade do que perversidade, mais amorosidade do que animosidade. Os horríveis, os cruéis e os rancorosos são minoria. Eu acho que é assim. E um desses caras maravilhosos – grácil, bondoso e carinhoso – é (foi) Jorge Amado, romancista, jornalista, contista, dramaturgo, cronista e crítico literário, que, hoje, passa a residir aqui. Para visitá-lo, é só clicar. Todos estão convidados.

 

Antes, leia só o que disse Marcel Vejmelka, professor da Universidade Johannes Gutenberg de Mogúncia (Johannes Gutenberg-Universität Mainz), sobre Jorge amado: A particularidade de Jorge Amado, mesmo se não olharmos para os seus livros de uma perspectiva científica, é que ele consegue criar uma ligação direta e humana com o leitor. Esta é uma qualidade muito importante da Literatura para ser internacional. Através desta ligação, Jorge Amado transmite ao leitor toda uma quantidade de informações, características e jeitos especiais da cultura brasileira. Os seus romances estão repletos de descrições detalhadas do dia-a-dia das pessoas simples, das suas conversas, receitas de cozinha, música e hábitos. Resulta, assim, uma imagem muito viva do Brasil, que é transmitida de alguma maneira juntamente com a trama. Também entram em jogo o contexto histórico e aspetos de crítica social. Um exemplo ainda muito atual são as suas descrições de elementos afro-brasileiros. Jorge Amado não descreve apenas os ritmos, os sons e os movimentos da capoeira, como também dá uma idéia da sua importância sociocultural no seio da população afro-brasileira. Quem ler a Seara Vermelha aprende muito sobre as relações históricas complexas entre as secas no nordeste, o êxodo em massa e a emigração interna do interior para as grandes cidades do sudeste, sobretudo São Paulo, o desenvolvimento das favelas e os seus subseqüentes conflitos sociais. Nesse aspeto, Jorge Amado é um autor excepcional, pois ele possibilita de maneira exemplar, através da Literatura, o acesso a um novo país e a uma nova cultura.

 

Jorge Amado viveu exclusivamente dos direitos autorais dos seus livros. Ninguém jamais ousou acusá-lo de fazer qualquer cambalacho. Amou a vida e por ela foi Amado.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Jorge Amado

Jorge Amado

 

 

 

 

Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 – Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.

 

Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres.

 

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.

 

Jorge Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo – o romance ficcional – não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões.

 

Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 6 de abril de 1961, ocupando a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar. De sua experiência acadêmica, bem como para retratar os casos dos imortais da ABL, escreveu Farda, Fardão, Camisola de Dormir, numa alusão clara ao formalismo da entidade e à senilidade de seus membros, então.

 

 

 

Pensamentos Amadianos

 

 

 

Você sabe qual é a melhor coisa do mundo?
Qual é, minha tia?
Adivinhe.
Mulher...
Não
Cachaça...
Não.
Feijoada...
Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, branco montava em negro...

 

Quem guarda os caminhos da Cidade do Salvador da Bahia é Exu, orixá dos mais importantes na liturgia dos candomblés, orixá do movimento, por muitos confundido com o diabo no sincretismo com a religião católica, pois ele é malicioso e arreliento, não sabe estar quieto, gosta de confusão e de aperreio. Postado nas encruzilhadas de todos os caminhos, escondido na meia-luz da aurora ou do crepúsculo, na barra da manhã, no cair da tarde, no escuro da noite, Exu guarda sua cidade bem-amada. Ai de quem aqui desembarcar com malévolas intenções, com o coração de ódio ou de inveja, ou para aqui se dirigir tangido pela violência ou pelo azedume: o povo dessa Cidade é doce, e cordial e Exu tranca seus caminhos ao falso e ao perverso.

 

A solução dos problemas humanos terá que contar com a Literatura, a música, a pintura, enfim, com as artes. O homem necessita de beleza como necessita de pão e de liberdade. As artes existirão enquanto o homem existir sobre a face da Terra. A Literatura será sempre uma arma do homem em sua caminhada pela Terra, em sua busca de felicidade.

 

 

 

 

Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças, e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos, e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração, e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias e escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama.

 

A velhice é uma porcaria.

 

Os líderes e os heróis são vazios, tolos, prepotentes, odiosos e maléficos. Mentem quando se dizem intérpretes do povo e pretendem falar em seu nome, pois a bandeira que empunham é a da morte. Para subsistir, necessitam da opressão e da violência.

 

Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom.

 

A sorte me acompanha, tenho corpo fechado à inveja, a intriga não me amarra os pés, sou imune ao mau-olhado...

 

Na vida, só valem o amor e a amizade. O resto é tudo pinóia, é tudo presunção, não paga a pena...

 

Custava-lhe esforço aquela decência tranqüila, aquela face calma, nervosa, no cansaço da noite maldormida, da luta inglória contra o desejo em brasa do seu ventre. Por fora água parada, por dentro uma fogueira acesa.

 

Não se pode dormir com todas as mulheres do mundo, mas deve-se fazer esforço.

 

O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
[sic]
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.

 

... o importante é tentar, mesmo o impossível.

 

Não sou religioso, mas tenho assistido a muita mágica. Sou supersticioso e acredito em milagres. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres.

 

O humor não é coisa da juventude. O jovem tem força criadora, elã, paixão, entusiasmo e ímpeto, uma coisa que depois você tem menos. Depois, você tem a experiência, e o humor é da experiência.

 

 

 

 

Neste momento de música, eles se sentiram donos da cidade. E se amaram uns aos outros, se sentiram irmãos porque eram todos eles sem carinho e sem conforto, e agora tinham o carinho e conforto da música.

 

Não pode haver criação literária mais popular – que fale mais diretamente ao coração do povo – do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e sente sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais.

 

Também Maneca Dantas não sabe por que diabo essa gente engana marido, com tanto perigo, e ainda se dá ao luxo de escrever cartinhas de amor. Coisa de idiota...

 

Mesmo a mais forte paixão tem seu tempo de vida. Chega seu dia, se acaba, nasce outro amor. Por isso mesmo, o amor é eterno, porque se renova. Terminam as paixões; o amor permanece.

 

Peste, fome e guerra, morte e amor, a vida de Tereza Batista é uma história de cordel.

 

Porque sendo Curió um incurável romântico, noivava freqüentemente, vítima de paixões fulminantes. Cada noivado era devidamente comemorado, com alegria ao se iniciar, com tristeza e filosofia ao se encerrar.

 

A alegria daquela liberdade era pouca para a desgraça daquela vida.

 

Não gosto de falar de mim mesmo. Tem gente que adora falar de si próprio. Alguns porque não têm importância nenhuma e falam para se dar importância, e outros, que são importantes, falam porque gostam. Agora, eu não sou importante e não gosto de falar sobre mim; aliás, não gosto nem de ouvir falar a meu respeito: fico encabuladíssimo, fico assim sem jeito... Eu não gosto, é uma maneira de ser.

 

A infância é um tempo muito importante na vida da gente.

 

Fui interno no Ginásio Ipiranga, que era um internato muito brando e muito mais livre do que o Antônio Vieira. A gente pulava o muro todas as noites, e ia para as casas de putas, ia para as festas, para a rua Carlos Gomes, pro beco de Maria Paz... Posso dizer que a minha educação, em grande parte, se processou nas casas de raparigas. Eu fui amigado com uma rapariga chamada Benedita, e, então, toda noite, à meia-noite, pulava o muro e ia ficar com ela.

 

Foi quando eu passei a viver misturado com o povo da Bahia que o problema racial começou a me afetar. Foi, sobretudo, a minha relação com o povo dos candomblés, vendo a perseguição terrível de que eram objeto os cultos afro-brasileiros. Mas, eu nunca tive dúvidas: o problema racial é conseqüência do problema social. Não existe um problema racial isolado do contexto social. Se você isolar, vai errar na apreciação do problema e na busca das soluções. A solução não é você botar os pretos e os brancos a se matarem entre si.

 

Não há outra solução para o problema de raça no mundo senão a mistura. Não há outra e, se alguém tiver, que me apresente... Quero ver! Não é um racismo diferente, seja racismo preto, seja racismo árabe, seja racismo judeu que vai acabar com o problema. Você não acaba com o racismo botando racismo contra racismo. Isso é uma coisa idiota, que está na moda, mas, é uma moda superficial... É como uma dessas erupções que se tem na pele, brotoejas, coceiras, que acabam passando.

 

Desde criança eu vivo misturado com o povo dos candomblés. Em 43, quando a polícia do Rio me soltou e me forçou a viver em Salvador e eu vivi aqui dois anos, até 44 – não fiz outra coisa senão ir à polícia buscar as armas de santo e todas as coisas dos candomblés que a polícia, ao invadir, tomava os emblemas sagrados e os levava. Eu ia lutar para tirar meus amigos da cadeia... Fui amigo de Procópio, de Aninha, a mãe-de-santo Aninha, uma figura extraordinária de mulher. Quando ela morreu, em 38, o enterro dela foi acompanhado por 5 mil pessoas um enterro nagô, magnífico.

 

Em Tenda dos Milagres, que é o romance meu que mais gosto, à certa altura, o professor de Medicina pergunta a Pedro Archanjo como é que ele, sendo um materialista, conciliava isso com sua atividade no candomblé. Pedro Archanjo respondeu que 'o meu materialismo não me limita'. Eu sou materialista, mas meu materialismo não me limita. Então, se o povo dos candomblés me dá um título e eu aceito, eu tenho que cumprir as obrigações desse título. Senão, eu não estaria tendo com eles o mesmo tipo de relacionamento e de amizade que eles têm comigo. Por isto, quando entro no Axé Opô Afonjá, com meus colares, faço tudo o que tenho que fazer e faço exatamente tudo com o maior prazer... Eu não poderia escrever sobre a Bahia, ter a pretensão de ser um romancista da Bahia, se não conhecesse realmente por dentro, como eu conheço, os candomblés, que é a religião do povo da Bahia.

 

Meu contato com o Partido Comunista é anterior a 1945. Em 45, minha militância fica pública. Eu era ligado à juventude. Naquele tempo, havia a Juventude Comunista.

 

Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há. [Frase derradeira de Quincas Berro Dágua, segundo Quitéria do Olho Arregalado, mulher de uma só palavra, que estava ao seu lado].1

 

Foram muitas as encruzilhadas marcantes de minha vida; eu teria de escrever um livro se quisesse citar todas elas. Por isto, cito apenas uma: o encontro com Zélia [Gattai Amado] nos começos de 1945, nos quadros da luta política contra o Nazismo, pela Democracia.

 

A Revolução Socialista de Outubro – a Revolução Soviética buliu com a vida de todo mundo e modificou a vida de todo mundo, inclusive a minha. A descoberta da Revolução Socialista, com a sua proposta de solução dos problemas da sociedade, com a sua oferta generosa de uma sociedade justa, fraterna, uma sociedade sem classes, tocou todos os jovens do mundo. Eu fui um desses jovens. Em 1931, tomei contato com os comunistas, e, a partir de 1932, militei na Juventude Comunista, depois no Partido, até dezembro de 1955. O que me levou a ingressar no Partido foi o conhecimento das terríveis condições de vida do povo brasileiro. O PC pareceu-me, então, a melhor trincheira para lutar pela modificação da sociedade injusta e opressora. E, como eu já tinha um conhecimento vivido da vida dos trabalhadores nas plantações de cacau — eu mesmo havia nascido em uma plantação de cacau e nela tinha decorrido toda a minha infância — eu me voltei para fazer um tipo de Literatura que era inteiramente diferente daquela que marcou meu primeiro livro. Deixei de estar sob a influência da literatura européia, elitista e intelectualizada, para estar influenciado diretamente pela vida e pela realidade do meu País, de uma forma ainda muito estreita, muito esquemática, mas já com outra visão.

 

Os valores trazidos pela Revolução Soviética vão perdurar além de todos os desmoronamentos de um falso mundo socialista. O que fracassou foi a ideologia. A ideologia é a desgraça do nosso tempo — eu digo isso naquele pequeno livro de memórias da infância, O Menino Grapiúna. A ideologia limita o homem, dogmatiza, estreita o pensamento, impede a livre discussão. A ideologia é que determinou o afastamento da Revolução Soviética das suas metas, do seu destino. Ela oferecia a felicidade para o homem, mas a ideologia transformou-a em uma ditadura que, em geral, foi feita contra o homem. O que eu acho é que os valores nascidos da Revolução de Outubro persistem. Você veja. A Revolução Francesa – há duzentos anos – modificou a face da Humanidade. A Humanidade era uma antes da Revolução Francesa e passou a ser outra. Depois da Revolução, você teve Napoleão, a volta da monarquia… No entanto, esses acontecimentos não acabaram com os valores fundamentais da Revolução Francesa. Da mesma maneira, eu acho que, hoje, os acontecimentos que se passam, o ruir de todo esse sonho, de todo aquele que foi o sonho de gerações e gerações, a esperança, o motivo de vida, a luta, não acabam com os valores fundamentais da Revolução Soviética. Esses valores prosseguem. Veja o Brasil, um país que você conhece bem. O fim desse mundo, dessas ilusões, o fim dessas ideologias não modifica a situação no Brasil. Isso não faz com que no Brasil seja menor a miséria. Então, você tem de continuar a lutar para modificar a situação. Apenas tem de buscar soluções que sejam as soluções brasileiras, legitimas e próprias.

 

Eu não sou muito admirador dos intelectuais. Eu acho que os intelectuais desempenham, sem dúvida, um papel importante, eminente, no desenvolvimento da sociedade. Mas, por vezes, a condição intelectual conduz muito facilmente a uma condição elitista, a uma condição distante do povo. O intelectual se julga acima, superior. Ele sabe, ele tem um poder enorme que lhe é dado porque possui valores que o povo não possui – ao menos ele pensa que o povo não possui – valores de cultura, de conhecimento, de sabedoria, e, então, ele está um pouco por cima, ele dita as regras para o povo. Aí está, a meu ver, o perigo. No Brasil, por exemplo, eu sinto muito que os intelectuais, inclusive os mais radicais de esquerda, são intelectuais muito distantes do povo, que, sobretudo, não conhecem o povo nem a vida do povo. Eles querem falar pelo povo, em nome do povo, sem, no entanto, ter realmente um conhecimento profundo da vida. O conhecimento, em geral, lhes é dado pelos livros, muitas vezes mal lidos. Eu não me considero um intelectual; eu sou um escritor. Acho que existem valores inteiramente diferentes entre um romancista, um poeta, um contista, entre os criadores de vida e os intelectuais, aqueles que proclamam as teorias, as leis, que impõem as ideologias e terminam por se corromper na busca e no exercício do poder. Eu tenho muito medo dos intelectuais.

 

Tenho um livro – Tocaia Grande – em que a idéia de liberdade, de um mundo livre, de uma criação de vida na base não de ideologias, não de teorias, não de leis ditadas, mas, na base da fraternidade e da solidariedade humana está muito viva. O livro termina quando a lei chega. Antes, houve a enchente, a catástrofe natural, e o homem pode superá-la e vencê-la; depois houve a peste, o mal destruidor da vida, e o homem pode vencer e prosseguir; mas, a lei é pior do que a catástrofe e do que a enfermidade. Tocaia Grande é um livro onde se define bastante bem o meu pensamento: afirmo ali que eu digo “não”, quando os outros dizem “sim”. Acho que é esse o meu único compromisso.

 

Em meus livros, muitas das minhas heroínas foram mulheres da vida. Eu quis botar na boca e nas mãos daquelas figuras mais castigadas pela sociedade, mais desprezadas, mais humildes, a missão, digamos, de modificar a própria sociedade.

 

O tema da maternidade não está presente nos meus livros em uma forma constante, é verdade. No entanto, em Tocaia Grande, este sentimento da maternidade está muito presente em uma mulher, não por ela ser mãe, mas por ela ser parteira. No fim do livro, quando eles vão morrer – o capitão Notário e a Coroca, que foi puta e depois se transformou em parteira ela diz que nada é mais belo do que 'aparar menino', ver nascer uma criança.

 

Na verdade, eu escrevo porque não sei fazer outra coisa. Há um número de coisas que todo mundo sabe fazer e eu não sei fazer. Então, primeiro, eu escrevo porque, bem ou mal, é a única coisa que sei fazer; segundo, porque é um ofício que, sendo difícil, duro, por vezes dramático mesmo, é um ofício que dá também muita alegria, uma certa satisfação por ter feito alguma coisa. Quando alguém – e isso acontece com muita freqüência – me escreve ou me procura e diz: 'Eu li tal livro seu e isso foi importante para mim, ajudou minha vida'; quando um jovem vem e me diz: 'Eu li Capitães de Areia, e, então, eu posso sentir o problema das crianças' etc., isso me dá uma grande satisfação.

 

Eu sou muito pouco sensível a prêmios, a sessões solenes. Essas coisas me tocam menos, ainda que as receba com alegria e com emoção. O que me toca realmente muito dentro do meu ofício, na minha profissão, é saber que houve, em várias partes do mundo, e não só no Brasil, mulheres que, por exemplo, porque leram Teresa Batista, se sentiram com força para realizar determinadas coisas.

 

Talvez eu escreva por não poder deixar de escrever, de escrever romances, de recriar a vida.

 

O amor nos meus livros é uma coisa limpa, não é uma coisa suja, nem triste. É uma coisa nobre e alegre que até eleva o ser humano e o faz melhor.2 Eu diria que meus livros transmitem essa limpeza, essa pureza do amor. As coisas colaterais ao ato de amor também existem, e, às vezes, falo nelas. Dizem que as minhas figuras de mulheres são lutadoras e simbolizam a luta da mulher brasileira por uma condição melhor, menos oprimida. É verdade. Isso não impede que essas mulheres gostem de fazer amor. Uma dessas mulheres chama-se Tieta. Entre as coisas que ela pratica na cama há o ipsilone simples e o ipsilone duplo. Um dia recebi uma longa carta de uma senhora que se dizia casada, que tinha um marido que não era dessas coisas e que tinha morrido, e que, então, ela descobriu a vida e… foi pra frente. Ela pedia que eu contasse o que era o ipsilone, porque agora ela conhecia tudo, menos o ipsilone. Eu respondi dizendo: 'Minha senhora, eu também gostaria de saber. Tieta nunca me disse…'. E é verdade. Anos depois, em Madrid, durante um encontro no Centro Iberoamericano, aparece uma senhora que se apresenta, dizendo: 'Sou eu a senhora do y simples e do y duplo!' E eu: 'Se já descobriu, me conte!' Ela ainda não tinha descoberto!

 

O autor não é dono de seus personagens. O personagem, para ser realmente uma figura de romance, ou seja, uma figura viva, de carne e osso, tem de pensar por sua cabeça e fazer o que bem entender. Eu sempre digo... que não sei contar histórias, no sentido de inventar uma história e contá-la. As minhas histórias são feitas pelos personagens, passo a passo. Em geral, quando paro de escrever, eu não sei o que vai acontecer depois, ou muito dificilmente; às vezes, os personagens não aceitam o que eu pensei. Veja essa pequena história ligada à Dona Flor. Eu já estava no fim. O primeiro marido tinha voltado do além e queria dormir com ela. Mas, Dona Flor, mulher honesta, cheia de pudicícia pequeno-burguesa, e agora com outro marido, recusava. No entanto, suas forças fraquejavam, porque quem tinha chamado Vadinho era ela, quem necessitava de fazer amor com Vadinho era ela. Naquela luta, tinha recorrido a uma feitiçaria de candomblé para o Vadinho voltar ao nada de onde tinha vindo. Aí, chegou na Bahia uma sobrinha minha, perguntando como eu ia terminar o livro. Eu respondi que não sabia, mas que tinha esta idéia: tendo conta do caráter de Dona Flor, que é pudica, recatada, mas, ao mesmo tempo, muito sensual, eu achava que ela ia se entregar a Vadinho, mas ia ficar terrivelmente infeliz, desgraçada, porque tinha traído o marido, o farmacêutico, e, pois, se ela tinha feito um ebó, eu pensava que Vadinho ia voltar, e que Dona Flor iria com ele, em uma espécie de delírio muito poético. Continuei a escrever. Dona Flor, como era previsto, dormiu com Vadinho, e ficou contentíssima. Aí, eu parei de escrever e fui dormir. No outro dia, voltei para a máquina de escrever, mas o que é que aconteceu? Aconteceu que depois que o Vadinho saiu, o marido, o farmacêutico doutor Teodoro, entrou no quarto, vestiu seu pijama, deitou-se e fez amor com ela, e ela gostou e ficou com os dois. E o meu fim poético? Foi para a cucuia.

 

 

Vladimir Ilitch Lenin & Iosif Vissarionovich Stalin

 

Com [Mikhail] Gorbachev, que é um grande estadista do nosso tempo, o perigo de uma guerra atômica [guerra nuclear] – que iria acabar com a vida sobre a Terra – diminuiu muito.

 

Uma imagem de TV que me impressionou foi transmitida durante a comemoração do aniversário da Revolução de Outubro. Durante uma manifestação de cento e cinqüenta mil pessoas, em Moscou, dois cartazes me marcaram muito. Um dizia: 'Setenta anos para chegar a nada'. E outro: 'Proletários de todo o mundo, perdoai-nos'. São dois negócios terríveis.

 

Eu me desorientei – e muito – antes, quando descobri que Stalin não era o pai dos povos, ao contrário do que sempre pensei. Aquele [mudanças no Leste Europeu e na União Soviética] foi um processo doloroso, difícil, cruel e demorado. A maioria das causas dos acontecimentos atuais, talvez, já fosse clara para mim. Mas, os acontecimentos são de uma rapidez imensa. Jantei com Costa Gavras, meu amigo. Discutimos esta situação: não é só um mundo que acabou. É tudo o que foi a vida e o objetivo de luta de milhões de pessoas. É gente que lutou com generosidade e coragem e foi presa e torturada por lutar por uma coisa que – de repente – se acaba. A pergunta que você pode me fazer agora é a seguinte: é o Socialismo que não presta ou é a falsificação do Socialismo? O que é que acontece nestes países? Já não são regimes socialistas nem a Polônia nem a Hungria nem a Tchecoslováquia nem a Alemanha oriental. Já estão deixando de ser socialistas a Bulgária, a Romênia e até a Albânia! Mas, não acredito que o Socialismo, como idéia, deixe de ser o que representa como avanço e como um passo adiante. Nunca houve Socialismo, como nunca houve Democracia. Como a implantação dos regimes socialistas foi baseada naquilo que é fundamentalmente errado a ditadura de classe – houve, então, uma falsificação total e completa! O mundo era um antes da Revolução de Outubro, na Rússia. Passou, depois, a ser outro. Estados ditos socialistas – mas que não eram, na realidade – podem deixar de existir. Isto não quer dizer, no entanto, que os valores novos trazidos pela Revolução de Outubro – como uma consciência coletiva maior e fraternal – não persistam. Persistem. O que acontece é que o mundo não será mesmo igual. Já não é. O Capitalismo de hoje também já não é o mesmo de antes. Não sou sociólogo. Eu via sempre, na televisão, no Brasil, que todo dia apareciam dois, três cientistas políticos. É cientista político pra burro. É uma quantidade imensa. São formidáveis. Não sou cientista político – infelizmente – nem crítico literário. Mas, vem à minha casa gente que lutou a vida toda. De repente, um mundo vem abaixo! Durante o encontro com Costa Gavras, eu disse que – de repente – estou me dando conta da importância da televisão. Via na TV as imagens do muro de Berlim. Vi o homem parando os tanques na China. E as imagens do ditador da Romênia? Reuniu duzentas mil pessoas para aplaudi-lo, mas, de repente, a multidão começou a vaiá-lo. A imagem do ditador na tribuna é inesquecível. Outra imagem: uma imensa estátua de Lênin com uma corda no pescoço. E o pessoal puxando para derrubá-la. Devo dizer a você que aquilo me picou o coração. É todo um mundo que vem se acabando – e desabando em cima da cabeça da gente. É terrível para algumas pessoas – que devem se sentir suicidas, sem ter o que fazer da vida. Não sou sociólogo, mas sem Democracia não se pode construir o Socialismo. O coletivo não é o oposto do indivíduo, como foi nestes países. Sem considerar o indivíduo como ser humano, você não pode pensar em Socialismo.

 

Sem Democracia, não se pode construir o Socialismo. O coletivo não é o oposto do indivíduo... Sem considerar o indivíduo, o ser humano, não se pode pensar em Socialismo. O que vai existir é, sempre, uma falsificação. São coisas que, para mim, ficaram claras, dentro de um processo sofrido, longo e cruel.

 

Uma das coisas mais tristes da vida literária é ver um sujeito cavando um prêmio. É um horror. Quando me dão, fico satisfeito. Eu me admiro por que é que eu haveria de ganhar o Prêmio Nobel. É um prêmio para grandes, grandes escritores. Não me considero como tal. Eu escrevo muito mal. Há quem diga que não existe quem escreva pior do que eu. A crítica sempre foi polêmica em torno do meu trabalho. Também sou uma negação como contista. O que aparece como conto meu por aí é sobra de romance, coisas que não foram adiante ou que não usei.

 

Minha tendência é vagabundar, andar, ver pessoas e coisas, ler livros.

 

O sincretismo cultural e religioso é algo presente na maioria dos meus romances.

 

Somos misturas do negro, do ibérico, de gente vindas de todas as partes. E disso essa nossa doçura...

 

Talvez se esteja pagando muito caro pelo chamado progresso, que, às vezes, não é exatamente progresso. O crescimento é feito não em função do povo, mas, às vezes, às expensas do povo... Mas, tenho para mim que os valores fundamentais do povo ainda estão conservados: a sua resistência, a sua capacidade de alegria... A vida é muito dura, é muito difícil para o povo. Viver é quase um milagre, e esse milagre o povo realiza diariamente. No entanto, apesar dessa dificuldade, dessa dureza, o povo não perde sua capacidade de rir, não perde sua capacidade de superar tudo isso, e ir para adiante.

 

'Tenda dos Milagres' é o meu melhor romance. É a melhor coisa que fiz. É um relato da luta do povo baiano, do povo brasileiro por conseqüência, contra o preconceito racial, contra o atraso, na luta pela mestiçagem, que eu acho uma coisa muito importante para o Brasil.

 

O homem é capaz de construir seu destino e tem a possibilidade de levar adiante o grande sonho humano de fazer alguma coisa além daquilo que limitações de toda ordem – sociais, econômicas, em fim, de todo o tipo tentam impedir que ele faça.3

 

Charlie Chaplin [Charles Spencer Chaplin, conhecido, no Brasil, como Carlitos] foi o maior homem de nossa época. Este homem, eu acho, foi aquele que mais contribuiu, mais do que qualquer estadista, mais do que qualquer outro homem, para a Humanidade, no nosso século XX. Chaplin deu à Humanidade uma contribuição enorme, imensa, inigualável.

 

 

 

 

Sobre a obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista: Um instrumento anti-social e extremamente elitista.

 

Quando questionado por que não trocava sua velha máquina de escrever mecânica por uma eletrônica: Continuo batendo com dois dedos e errando muito. Devo dizer que sou um dos homens mais incapazes do mundo. A lista de minhas incapacidades é enorme.4

 

O tema da infelicidade tem engendrado montanhas de livros horríveis, umas masturbações insuportáveis.

 

Acho que você não deve fazer nada que não o divirta, que não lhe dê prazer. Também não deve exercer um ofício para o qual é incompetente.

 

Eu continuo firmemente pensando em modificar o mundo, e acho que a Literatura tem uma grande importância.

 

Pode haver muita deficiência no livro de um jovem, mas haverá também nele uma coisa fundamental – a força da juventude.

 

A juventude é um bem imenso que você não prolonga. A juventude se acaba, nem que você queira se iludir com esse negócio de jovem de espírito. Jovem é jovem. Ponto final.

 

Em 1988, sobre o Nobel não ter sido concedido a escritores brasileiros: Eu vou te responder. A minha resposta é a seguinte: eu acho prêmio em geral uma bestice.

 

O Socialismo não depende de você, nem de mim, nem de ninguém. O Socialismo é a marcha inexorável da Humanidade, que marcha pra frente.

 

Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja pra morrer, nós deve dividir essas terras, tomar elas para gente. Mesmo que seja um dia só que a gente tenha elas, paga a pena de morrer.

 

Eu acho que o escritor verdadeiro é aquele que escreve sobre o que ele viveu.5

 

A adaptação de qualquer obra de um autor é sempre uma violência, mas, considero as versões de meus romances para a televisão muito positivas, porque levam a obra a milhões de pessoas que não leriam o livro.

 

Em 1991, após a queda do Muro de Berlim: O Capitalismo conserva-se o mesmo sistema frágil e injusto, produtor de guerras, de miséria, baseado no lucro e na ânsia por dinheiro. São razões muito miseráveis.

 

Sobre as conseqüências da ditadura no Brasil: Acho que o mais terrível foi a degradação do caráter. Primeiro, você teve a tortura; em segundo lugar, a ditadura institucionalizou a corrupção. Hoje, esse mal faz parte dos costumes.

 

O que está acontecendo no Brasil é como uma coceira. Muita gente pensa que é lepra, mas, é só uma coceira. Vai acabar.

 

O senhor não se envergonha de estar nesse meio, padre? Um sacerdote do Senhor? Um homem de responsabilidade no meio desta gentalha...

 

Para mim, o sexo sempre foi uma festa. Aos 82 anos, a festa é muito diferente do que era aos 20, aos 50, mesmo aos 60: é uma festa que é feita da experiência, do refinamento.6

 

Creio que na França há mais respeito pela privacidade das pessoas. No Brasil, existe carinho, muito carinho, mas, nenhum respeito.

 

Acho que o Socialismo é o futuro. A queda do Muro [de Berlim] significou o fim de ditaduras medonhas, que existiam em nome do Comunismo, mas, na realidade, não eram Comunismo. Acredito no avanço do homem em direção a um futuro melhor.

 

Nossas elites são, de fato, extremamente preconceituosas; não merecem grande atenção.

 

 

 

Daqui a cinqüenta anos, eu gostaria de ser lembrado como um baiano romântico e sensual. Eu me pareço com meus personagens; às vezes, também com as mulheres.

 

 

 

 

 

 

É Tudo Mesmo Pinóia

 

 

 

tudo mesmo pinóia.

É o buraco na estrada,

é o cagarrão que bóia,

é o cuspe na calçada.

 

tudo mesmo pinóia.

É subtrair da velhinha,

é matar por uma jóia,

é assar a penosinha.

 

tudo mesmo pinóia.

É vivisseção no ratinho,

é esporear a forróia,

é dar chute no gatinho.

 

tudo mesmo pinóia.

É deixarsemprepralá,

é embirrar na anóia,

é estorvar o abdalá.

 

tudo mesmo pinóia.

É retrasar com fofoca,

é dar azo à lambisgóia,

é ser poltrão e piroca.

 

tudo mesmo pinóia.

É lograr e mais-valiar,

é apertar como jibóia,

é encravar e vantajar.

 

tudo mesmo pinóia.

É torcer para afundar,

é não emprestar a bóia,

é empuxar para afogar.

 

tudo mesmo pinóia.

É cafungar a farinha,

é entornar a pilóia,

é traçar uma bolinha.

 

tudo mesmo pinóia.

É a contenda sem fim,

é o Cavalo de Tróia,

é exorar aos Elohim.

 

tudo mesmo pinóia.

É dar uma de furbesco,

é contar uma relambóia,

é negar o parentesco.

 

tudo mesmo pinóia.

É impingir na cabeça,

é derribar a sequóia,

é o troféu-de-cabeça.

 

tudo mesmo pinóia.

É petar na alfândega,

é gostar de ser tipóia,

é pândega + pândega.

 

tudo mesmo pinóia.

É enrolar o padreca,

é tramar u'a tramóia,

é impingir uma fubeca.

 

tudo mesmo pinóia.

É comprar o furtado,

é ser um puta vedóia,

é enganar[ao quadrado].

 

tudo mesmo pinóia.

É atarraxar a torneira,

é fechar a clarabóia,

é viciar a balança da feira.

 

tudo mesmo pinóia.

É rejeitar a ShOPhIa,

é sucumbir de agnóia,

é cabeça que atrofia.

 

tudo mesmo pinóia.

É Ouvido moucarrão,

é Olho que não óia,

é desértica solidão.

 

tudo mesmo pinóia.

É ensurdar para a Voz,

é lambuzar na rambóia,

 

 

 

 

 

 

_____

Nota:

1. Morre o homem,/Fica a memória./Quem era Quincas?/Quem foi Joaquim?/Certa vez, já morto o homem,/Morreu aquele que se diz./Quincas o marinheiro,/Defunto que sorri,/Foi levado a uma festança/Onde pôs fim ao seu destino/De viver preso em cova rasa,/Morto vivo e infeliz./Saltou para a liberdade/Onde, ainda que morto,/Seria feliz./Quincas Berro Dágua,/O homem que se diz. (Ana Luiza Libânio Dantas). A propósito da morte do Berrito (como Quitéria do Olho Arregalado chamava Quincas Berro Dágua por entre os dentes mordedores nos momentos de maior ternura, segundo Jorge Amado), quando me perguntam se a morte dói, eu costumo dizer: — A morte, fisicamente, não dói nada. Morreu, morreu; e pronto. Se doesse ou estorvasse, quem é enterrado sentiria uma baita falta de ar, e quem é cremado morreria pela segunda vez: de calor. Agora, resumidamente, como grudadinha em nós há uma personalidade-alma, que vai se libertando na transição, ela, sim, a depender de diversos fatores e de mais (maiores) ou menos (menores) excrescências, passará por angústias e aflições morais e espirituais, mais ou menos intensamente. Quanto mais a personalidade-alma for ou estiver ligada à Terra, quanto mais se mantiver imantada a desejos, cobiças e/ou paixões, maior e mais doloroso, digamos assim, será o pesadelo do lado de lá. A coisa funciona mesmo meio que como um sonho aflitivo de repetição, do qual a personalidade-alma, por um tempo mais ou menos longo, quer se livrar, mas não consegue, pois prevalece uma mixórdia atormentadora e inexcedível, todavia, provisória, de apego à vida que se extinguiu, de intranqüilidade e preocupação com os parentes e amigos que ficaram, de remorso lastimoso, de inaceitabilidade, de incapacidade para compreender, de decepção, de revolta, de perturbação et cetera. Mas, acaba havendo uma ajudinha, e, oportunamente, depois de uma relativa e incipiente compreenção e de uma bem-aceita e benfazeja calmaria, a personalidade-alma vai sendo lentamente liberada do sofrimento espiritual, para poder se preparar para a sua próxima encarnação. Novos projetos... Reafirmação de compromissos... Renovada confiança... Bem, isto é um resumo resumidíssimo, porque entre o A e Z deste processo há 24 letras, que precisam ser cumpridas integralmente. Educativamente cumpridas, pois, punição inexiste. A animação abaixo mostra como é isto pictoricamente. Agora, cada um deverá fazer um quadro desta inexorável experiência, e se preparar o melhor possível para ela. Revisitar, todas as noites, as sacanagens praticadas durante o dia que se encerrou e se comprometer a evitar repeti-las é a melhor prática para, depois da morte, não ficar gramando (quase) indefinidamente nesse tal pesadelo aflitivo-educativo de repetição. Tenha em mente e aprecie como exemplo que Os realmente e efetivamente Illuminados e Realizados passam por esta necessária revisitação por uns cinco ou dez minutos. Se tanto! Ora, o Mestre Jesus – o Crestos – não morreu crucifixado no Gólgota, não foi sepultado no túmulo que José de Arimatéia havia mandado escavar recentemente na rocha, não desceu aos infernos para ressuscitar dos mortos apenas no terceiro dia, nem subiu aos céus e nem está sentado à direita de Deus Pai Onipoderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Julgar? Isto nem sequer pode ser considerado uma alegoria nem pode ser aproveitado simbolicamente. Tudo bobagem derivada de uma insciência multissecular que não aceita se ilustrar, e prefere morrer a mudar. E assim, para quem crê é fé. E ponto final. Seja como for, com ou sem fé, quanto mais (e mais) nos alforriarmos das nossas idiossincrasias, das nossas manias e das nossas tropelias, menos tempo teremos de cumprir em nosso inferno pessoal. É por isto que tenho dito sistematicamente, e – não se zangue comigo – vou dizer de novo: tudo depende só de nós. Alegórica e simbolicamente, quem quiser ir para o céu deverá construí-lo aqui, agora, em vida. No inferno dos outros até poderemos entrar, mas, no céu dos outros ninguém entra.

 

Todas as letrinhas haverão de ser
educativa e totalmente cumpridas.
Réptil indolente não papa sapinho.

 

 

2. Eu também, ainda muito jovem, a partir de um certo momento profundamente compreensivo e iluminante, passei, digamos assim, a fazer sexo exclusivamente com delicadeza, com limpeza, com nobreza, com beleza e, principalmente, com amor, sempre procurando dar mais do que receber. E, quanto a isto, não mudei um infinitésimo a partir daí, mesmo quando namorava gostosamente as mulheres-damas muito queridas da minha vida (não querendo dizer com isto que estas mulheres-damas fossem ou pudessem ser, em qualquer sentido, menos do que eu). E, assim, o tempo passou, e acabei participando da fabricação espiritual de dois filhos: Adrian e Vivian. Digo participando porque ninguém faz filho sozinho, e fabricação espiritual porque soube antecipadamente quem eles eram. Na verdade, nunca vi o sexo como coisa suja, pecaminosa ou tentação do diabo. Mas, não sou estúpido, nem inexperto, nem nefelibata; conheci e passei por (quase) tudo nos meus 67 anos incompletos de vida. E isto foi muito importante na formação e no concerto da minha personalidade, porque pude, com uma relativa expertise, sempre perceber a diferença entre uma abóbora-de-pau e uma abóbora-de-porco, tanto quanto pude divisar o que distingue uma burrinha-de-padre de um saci-pererê, o que não quer dizer que eu não tenha cometido muitos equívocos na minha vida. Cometi. Então, sem muito esforço, acho que descobri direitinho o que é ipsilone simples e o que é ipsilone duplo. Veja se não é isto (ou se não pode ser isto): ipsilone simples é brincar de papai e mamãe (o que é bonitinho e é ótimo); e ipsilone duplo é o tal do sessenta e nove. O termo 69 deriva do fato de os números 6 e 9 serem iguais quando rodados 180 graus. Além disto, o próprio formato dos números lembra corpos voltados um para o outro, com um deles (o seis) de cabeça para baixo. Bem, a maldade e a baixeza não estão no sexo, em si, ou nas mil e uma posições em que ele pode ser praticado – como ensina o Kamasutram, geralmente conhecido no mundo ocidental como Kama Sutra, que não é um manual de sexo nem um trabalho sagrado ou religioso – sexo que nunca foi, não é e jamais poderá ser pecado; a maldade e a baixeza estão, sim, no bestunto limitado, podre e preconceituoso de alguns retrógrados, geralmente onanistas profissionais e fideístas abissais, papa-crendices, papa-absurdos e papa-preconceitos que se acham donos da verdade – verdade, na maioria das vezes, inventada e articulada por eles mesmos, verdade nefanda que, por séculos, deu amparo às inquisições, às intolerâncias, às decepagens, às dolores e à outras desgraças esquizofrênico-crudelíssimas. Agora, aberrações, monstruosidades e deformidades, como a zoofilia e a pedofilia, por exemplo, são absurdidades inconsistentes, e não podem mesmo ser aceitáveis ou consideradas, por assim dizer, normais e aceitáveis. Enfim, pergunto: por que fingir não ver o que existe e o que acontece? Por que ir para debaixo da cama ou se esconder no armário quando relampeja e troveja? Por que acusar, criticar e menoscabar o que não se gosta de praticar? Gostar ou não gostar de fazer ou de realizar alguma coisa é um privilégio do livre-arbítrio de cada um, e ninguém tem nada com isto. É o raio do intrometimento que faz solar o bolo. O pecado (que não existe como simples pecado-em-si) não está na cabeça dos outros; está na nossa. Caviar, como disse Vadinho (José Wilker) no filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, tem cheiro e gosto de xibiu, mas, nem só de caviar pode viver o homem. E, por isto, e porque tudo o que é demais é moléstia, não posso deixar de pedagogicamente comentar o que se seguirá, e cada um deverá se esforçar para entender da melhor maneira possível: 1º) quem derrama é responsável pelo derrame; 2º) quanto maior e mais sistemático for o derrame, seja da maneira que for, menor será a compreensão, e, conseqüentemente, mais distante estará a libertação. Kundalini (em sânscrito: ) é incompatível com excessos e derramamentos.

 

 

3. Na verdade, cada um de nós é o maestro e a orquestra ao mesmo tempo, em que, digamos assim, cada instrumento simboliza, como experiência vivida, uma encarnação anterior, não importando se foi boa ou má. Foi uma encarnação experiencial; é isto o que importa. O que precisamos, todos nós, é (saber) aproveitar, de uma forma ou de outra, mas, da melhor maneira possível, esta rica experiência experimentada.

4. Igualzinho a mim. Digito com dois dedos, e erro pra caramba, às pampas, à beça! Às vezes, chego a me irritar com tantos erros de digitação. Como escrevo os textos diretamente no Adobe Dreamweaver, antigo Macromedia Dreamweaver, quando acabo, antes de divulgá-lo, passo no Microsoft Word, para corrigir os erros que não percebi. E olha, sempre há erros. É um horror que não acaba! Quanto à lista de minhas incapacidades, acho que é bem maior do que a de Jorge Amado.

5. Também acho que deva ser assim, mas, em termos Esotéricos e Iniciáticos, isto nem sempre pode ser assim. Neste campo, há coisas (experiências pessoais, particularmente) que se forem divulgadas, prejudicarão mais que auxiliarão. Como disse Horácio, in Satiræ, 1.1.106, Est modus in rebus; sunt certi denique fines, quos ultra citraque nequit consistere rectum. Em todas as coisas há um meio-termo; existem, afinal, limites definidos, além ou aquém dos quais não se pode manter o bem. Solidariedade não pode ser confundida com intrometibilidade.

6. Desconcorde, se o rap não for assim:

Do busílis de brochar
ninguém pode se safar.
Aos 20, se maconhar...
Mas, dá pra retomar!
Aos 50, se entornar...
Pode dar de dormitar!
Aos 70, se melindrar...
O tempo é de matar!
Se tentar recomeçar,
é vergonha de vexar!
Aos 104, dá pra falar?
E não adianta chiar!
E o arquiteto Oscar

Hoje, está em bom lugar,
fulo por não poder obrar.
Mas, quando reencarnar,
Oscar poderá arquitetar
ou outra coisa realizar.
Eu já decidi: irei Medicinar
e, também, Alquimiar.
E aos Illustríssimos auxiliar!
Mas, se outro for o bailar,
ora, não irei nem ligar.
Um noviço tem que topar,
e, se preciso for, redirecionar.
E prontinho deve estar.
Saber. Querer. Ousar. Calar.
Sempre, sempre, Caridar.
Sempre, sempre, Humildar.
Sempre, sempre, Irmanar.
Sempre, sempre, Transmutar.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.homedepot.ca/
product/4-in-nickel-number-6/942192

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Kama_Sutra

http://www.picgifs.com/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Jorge_Amado

http://www.releituras.com/
jorgeamado_bio.asp

http://www.tumblr.com/tagged/
pride-and-prejudice-gif-challenge

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jorge-amado/pag/2.html

http://www.frasesfamosas.com.br/
de/jorge-amado.html

http://www.hkocher.info/
minha_pagina/dicionario/e04.htm

http://jorgeamado-blog.blogspot.com.br/2011/
05/entrevista-de-jorge-amado-ariovaldo.html

http://www.clownlink.com/2010/10/charlie-in-the-hea
rtland-chaplin-conference-oct-28-30-zanesville-oh/

http://g1.globo.com/platb/

http://tickergrail.blogspot.com.br/
2010_12_01_archive.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Kundalini

http://pt.wikipedia.org/wiki/69_
(posi%C3%A7%C3%A3o_sexual)

http://aviagemdosargonautas.net/2012/08/10/
entrevista-com-jorge-amado-por-giovanni-ricciardi/

http://analuizalibanio.com/2010/04/21/cada-qual
-cuide-de-seu-enterro-impossivel-nao-ha/

http://www.alemdoarcoiris.com/BIBLIOTECA
/AMorteEAMortedeQuincasBerroDagua.doc

http://perguntodromo.blogspot.com.br/
2012/08/jorge-amado-1981.html

http://getartisan.wordpress.com/
2012/06/08/pinocchios-test/

http://www.animated-gifs.eu/
leisure-circus-clowns/013.htm

http://pensador.uol.com.br/
frases_de_jorge_amado/

http://www.citador.pt/cliv.php?
op=7&author=1109&firstrec=0

http://pt.wikiquote.org/wiki/Jorge_Amado

 

Música de fundo:

Modinha Para Teresa Batista
Composição: Jorge Amado e Dorival Caymmi
Interpretação: Simone Caymmi

Fonte:

http://mp3crop.org/music/

 

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.