Este
estudo objetiva apresentar para meditação alguns pensamentos
do poeta jacobita inglês, pregador e o maior representante dos poetas
metafísicos da sua época John Donne.
Nota
Biográfica
John
Donne (1572 – 1631) foi um poeta jacobita inglês, pregador e
o maior representante dos poetas metafísicos da época. Sua
obra é notável por seu estilo sensual e realista, incluindo-se
sonetos, poesias amorosas, poemas religiosos, traduções do
latim, epigramas, elegias, canções, sátiras e sermões.
Sua poesia é célebre por sua linguagem vibrante e metáfora
engenhosa, especialmente quando comparada à poesia de seus contemporâneos.
Apesar
de sua boa educação e seu talento para a poesia, Donne viveu
na pobreza por muitos anos, contando demasiadamente com amigos ricos para
sobreviver. Em 1615, tornou-se um pastor anglicano e, em 1621, foi nomeado
decano da St. Paul Cathedral, em Londres. Alguns estudiosos acreditam que
as obras literárias de Donne refletem as seguintes tendências:
poesia amorosa e sátiras quando era mais jovem e sermões religiosos
em sua velhice. Outros estudiosos, tais como Helen Gardner, questiona a
validade desta periodização, pois, muitos de seus poemas foram
publicados postumamente (1633). Exceção feita a Anniversaries,
que foi publicado em 1612 e Devotions Upon Emergent Occasions,
publicado em 1623. Seus sermões também são datados,
algumas vezes de forma específica, informando dia, mês e ano.
John
Donne foi redescoberto pelos poetas românticos, como Samuel Taylor
Coleridge e Robert Browning, embora seu renascimento no início do
século XX por poetas como T. S. Eliot tendem a vê-lo como um
anti-romântico.
Pensamentos
de John Donne
Nenhum
homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos os homens são
parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra
for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída,
como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos
ou o teu próprio. A morte de qualquer homem me diminui, porque sou
parte do gênero humano. E, por isto, não pergunte por quem
os sinos dobram; eles dobram por vós.1
Donne
escreveu seu testamento no dia de Santa Lúcia, 13 de dezembro, data
que o poema descreve como: Meia-noite profunda, tanto do dia
quanto do ano.
Morte,
não se orgulhe, embora alguns a tenham chamado/Poderosa
e terrível, não trabalhe assim.
Nenhuma
beleza primaveril ou de verão tem tanta graça como vi em uma
face outonal.
O
amor construído sobre a beleza morre com a beleza.
Como
encadernação vistosa, feita para iletrados, a mulher se enfeita.
Mas, ela é um livro místico, e a poucos, a quem tal graça
se consente, é dado lê-la.
Infinitude
dos Amantes
Se até agora ainda não possuo todo o teu amor,
Querida, nunca o terei de todo.
Não posso soltar mais um suspiro, comover-me,
Nem suplicar a mais outra lágrima que corra;
E todo o meu tesouro, que deveria comprar-te –
Suspiros, lágrimas, juras e cartas – já gastei.
Entretanto, nada mais me poderá ser devido,
Além do proposto no negócio acordado:
Se então a tua dádiva de amor foi parcial,
Que parte a mim, parte a outros, caberia,
Querida, nunca te possuirei totalmente.
Mas, se,
então, me deste tudo,
Tudo seria apenas o tudo que ao tempo tinhas;
E se em teu coração, desde então, existe ou venha
A existir novo amor gerado por outros homens,
Cujos haveres estejam intactos e possam, em lágrimas,
Em suspiros, em juras e cartas, exceder a minha oferta,
Este novo amor pode suscitar novos receios,
Dado que um tal amor não foi jurado por ti.
Mas, se foi, sendo as tuas dádivas gerais,
O terreno — o teu coração — é meu, e o
que quer
Que nele cresça, querida, pertence-me totalmente.
Entretanto,
também não o quereria todo ainda,
Porque quem tudo tem nada mais pode possuir.
E visto que o meu amor deve aceitar, a cada dia,
Um novo aumento, deverias reservar-me novas recompensas.
Não podes me dar o teu coração todos os dias,
Porque, se pudesses, é porque nunca mo tinhas dado.
E tais são os enigmas do amor: ainda que teu coração
parta,
Fica em casa; e ao perdê-lo, tu o salvaste.
Mas, nós encontraremos um caminho mais nobre
Do que a troca de corações: poderemos uni-los, e, assim,
Seremos um, e o todo de cada um.
Se
te possuir em sonhos, és minha, pois, não há prazer
que não seja representado.
Mas,
por que precisarei olhar para uma caveira em um anel, se já tenho
uma no rosto?
O
Câmbio do Amor
Amor,
qualquer outro diabo que não tu
Daria, por uma alma, algo em troca.
Na Corte, teus colegas, todos os dias,
Dão a arte da rima, da caça, ou do jogo,
Por aquelas que antes a si se pertenciam;
Somente eu, o que mais dei, nada tenho,
Mas – infeliz – por ser mais vil, sou aviltado.
Não
peço agora permissão
Para fingir uma lágrima, suspiro, jura;
Não te solicito para que obtenhas
Um non obstante sobre a lei natural;
Estas são prerrogativas inerentes
A ti e aos teus; ninguém as deverá abjurar,
A não ser que fosse servo do Amor.
Dá-me
a tua fraqueza, faz-me duplamente cego
Como tu e os teus, de olhos e mente.
Amor, nunca me deixes saber que isto
É amor ou que o amor é pueril.
Não me deixes saber que outros sabem
Que ela sabe de minha dor: que essa terna afronta
Me não torne em minha própria nova dor.
Mesmo
se tu nada deres, ainda assim és justo,
Porque não confiei nos teus primeiros sinais.
As vilas que resistem até que forte artilharia
As sujeitem, pela lei da guerra não impõem condições.
Igual é o meu caso, na guerra do amor.
Não posso negociar o perdão após
Ter obrigado o amor a mostrar a sua face.
Esta face,
pela qual ele podia dominar
E mudar a idolatria de qualquer terra;
Esta face que, onde quer que chegue,
Retira frades dos claustros e mortos das tumbas,
E pode fundir ambos os pólos de uma vez, abastecer
Desertos com cidades, e abrir mais
Minas na Terra do que as pedreiras que já existem.
Por isto,
o Amor está irado comigo,
Mas não me mata. Se exemplo devo ser
Para futuros rebeldes, se os por nascer
Devem aprender com o retalhar e despedaçar de mim,
Mata-me e disseca-me, Amor, porque esta
Tortura vai contra teus próprios fins.
Carcaças supliciadas não servem para anatomia.
Podem
amar os pobres, os loucos e até mesmo os falsos, mas, não
os homens ocupados.
Seja
seu próprio palácio ou o mundo será sua prisão.
O
mar é sempre profundo, na calma e da tempestade.
Oh!,
quão insignificante se tornará o Coração, se
ele cair nas mãos do amor!
Se
vi qualquer beleza que eu queria e consegui, foi um sonho de ti.
Devolve
meus olhos desobedientes, pois, há muiyo tempo eles têm estado
sobre ti.
O
amor arrasta, e, sem mastigar, engole.
Meu
amor, apesar de ignorante, é mais audaz.
A
LLuz não tem linguagem.2
Ninguém
dorme no vagão que conduz da prisão à forca. No entanto,
todos nós dormimos, desde o ventre à sepultura. Ou não
estamos totalmente despertos.
Toda
a Humanidade é de um só Autor e se constitui de um só
volume.3
Quando alguém morre, parece que uma página foi arrancada.
Na verdade, esta página foi traduzida para uma língua melhor.
Algumas páginas são traduzidas por idade, outras, por motivo
de doença; algumas, pela guerra, outras, por acidente. Mas, a Mão
de Deus está em todas as traduções, e Sua Mão
encadernará novamente as folhas espalhadas, e o livro descansará
aberto naquela biblioteca, juntamente com muitos outros.
A
verdadeira alegria é um penhor que recebemos do céu, é
o tesouro da alma, e, portanto, deve ser guardada em um lugar seguro. Mas,
nada neste mundo é seguro para guardá-la.
Duas
vezes, três vezes, eu te amei, antes mesmo de ver o teu rosto ou de
saber o teu nome.
Eu
sou cada coisa morta... Cada ausência, cada escuridão, cada
morte; coisas que não são.4
Ausência,
ouve o meu protesto:
Contra a tua força
– Distância e tempo.
Faze o que puderes para que haja alteração.
Eu
gostaria de falar com o fantasma de alguma velha amante que morreu antes
que o deus do amor nascesse!
O
Sol está perdido...
A
arte é a orgia mais apaixonante ao alcance do homem.
Os
homens virtuosos passam suavemente à distância...
Eu
não faço nada contra mim, e, ainda assim, eu sou o meu próprio
carrasco.
Que
durmam, Senhor...
O
desespero é a umidade do inferno, como a alegria é a serenidade
do céu.
Pelo
amor de Deus, segure sua língua, e deixe seu amor.
Humildade
é o começo de santificação.
Observo
um médico com a mesma diligência que a doença.
Um
elefante é uma grande obra-prima da Natureza; é uma grande
coisa, mas, é inofensivo.
Nenhum
homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; todo homem é um pedaço
de um continente, uma parte do principal.
Se
não for diversificado, o prazer é nada.
Meu-consolo,
no boteco...
Repeteco...
Teco... Teco...
Hoje...
Amanhã, de novo...
Cozidinho,
dê aí um ovo...
Odia
não quebra, o que quebra é o meu coração.
Vá
e pegue uma estrela cadente... Ensine-me a ouvir as sereias cantando.
Horas...
Dias... Meses... São os trapos de tempo.
Eu
sou dois tolos, eu sei, por amar e por dizer isso. E por choramingar poesia.
Quem
é um pouco sábio o melhor dos tolos é.
Ontem
à noite, o Sol se pôs; mas, ainda está hoje aqui.
As
nossas duas almas são uma...
Os
mistérios do amor crescem na alma, mas, ainda assim, o corpo é
o seu livro.
Acautelai-vos
de me amar.
Quase
se poderia dizer que seu corpo pensava.
Nudez
completa! Todas as alegrias são devido a ti! Como almas sem carroceria,
os corpos devem estar nus, para provar alegrias inteiras.
Sou
um pequeno mundo feito ardilosamente de elementos e um duende angelical.
Um
sono curto, passado, e nós acordaremos eternamente. E não
haverá mais morte. Morte, tu morrerás.
E
se, ontem à noite, o presente estava no mundo?
Respire...
Brilhe... E procure consertar.
Mostre-me,
querido Cristo, vossa esposa, tão brilhante e tão clara.
O
próprio Deus teve um dia para descansar. A sepultura de um homem
bom é o seu Sabbath.
Se
eu perder no jogo, eu blasfemarei. Se o meu companheiro perder, ele blasfemará.
Então, Deus será sempre o perdedor.
Acalme-o
com tuas lágrimas, com teu suor ou com teu sangue.
Tu
és escravo do destino, do acaso, dos reis e dos homens desesperados.5
Carta
à sua esposa, ao ser demitido do emprego por seu sogro:
John Donne, Anne Donne, Un-done.
A
castidade não é castidade em um homem velho, mas, uma deficiência
em ser incasto.
Eu
negligencio Deus e seus anjos pelo barulho de uma mosca, pela gritaria de
um treinador, pelo rangido de uma porta.
O
bom não é bom, a menos que possuamos mil. Mas, não
devemos desperdiçar com imoderação.
Os
ricos não terão um reino dos céus maior do que aquele
que eles compraram dos pobres com suas esmolas.
A
um juiz incompetente, não devo mentir, mas, posso ficar em silêncio.
A um competente devo responder.
Amem
a todos...
A
poesia é uma criação artificial. Faz de coisas que
não são como se já fossem.6
A
distância do nada para um pouco é dez mil vezes maior do que
a partir dele ao mais alto grau nesta vida.7
Poderá
haver pior doença do que saber que não estamos bem nem poderemos
ficar?8
E
o pecado começou! Primeiro, pecaram os anjos; depois, pecaram os
demônios; e, só depois pecaram os homens.
O
sono é o restaurador mais fácil da dor.
Seja
mais do que um homem ou menos do que uma formiga.9
Se
a paz é toda a bondade, a guerra é toda a miséria.
A
razão é a mão esquerda de nossa alma e a fé
a mão direita. Por estes dois caminhos, chegarmos à Divindade.
Não
ser parte de nenhum corpo é não ser nada.
A
pulga, embora não mate ninguém, faz todo o mal que ela pode.
Não
há saúde; na melhor das hipóteses, desfrutamos de uma
neutralidade.
A
morte vem igualmente para todos, e, quando ela chega, faz de todos nós
iguais.
Amemos
nobremente... E vivamos!
Pobre
morte: não poderás me matar.
E
Insistem em Falar
o que Não Sabem!
Entre
mal-estares e ilusões,
apenas
representações.
e o
torto acabará direito.
Falam
do amor e da morte
como
reveses-sem-sorte.
E acham
que a vida e a dor
só
servem para indispor.
Para
cada vida – uma morte.
Para
cada sede – um corte.
Para
cada ofego – um zelador.
Para
cada mimo – um torpor.
luzirá
em cada Quadrado,
e o que
era demência e paixão
será
Verbum
no Coração!
Na
fronteira, dormitarão sonhos
e cadivos
dragões bisonhos.
E, então
– em outra Dimensão –
será
distinguida A Canção!
Definitivamente
Supra-homens
(e não
mais lupisomens)
pronunciaremos
o A.'.
U.'.
M.'.
–
e seremos todos Um!
O ente-aí
que quer,
pensa e faz,
com denodo, também desfaz.
Deixar
como está a ver como fica
é
coisa tão-só de tremelica!
O
Tremelica
______
Notas:
1. Por
Quem os Sinos Dobram (em inglês: For
Whom the Bell Tolls) é um romance, de 1940, do escritor
norte-americano Ernest Hemingway (Oak Park, 21 de julho de 1899 –
Ketchum, 2 de julho de 1961), considerado pela crítica uma das suas
melhores obras.
2. Será
a Palavra pronunciada ou apenas pensada?
3. Na
verdade, não há um só Autor, nem há apenas um
volume, ainda que sejamos todos um.
4. Se
fosse eu a escrever esta sentença, diria assim: Eu
sou cada coisa viva... Cada presença, cada brilho luminoso, cada
vida; coisas que são, que sempre serão.
5. Ora,
ninguém é escravo de ninguém; só de si mesmo.
6. Bem,
isto depende do poeta, da poesia e da coisa poetizada.
7. A
Bíblia diz isto de outra maneira:
Porque a todo o que tem dar-se-lhe-á e terá em abundância;
mas, o que não tem tirar-se-lhe-á até o que parece
ter. (Evangelho de Mateus, XXV: 29).
8. Não
estarmos bem é uma coisa. Não podermos ficar bem é
outra completamente diferente. Ora, poderemos ficar bem, sim; se quisermos.
Agora, no caso de uma doença, se ela for incurável, o jeito
é fazer logo o testamento e ir cuidando de preparar o enterro (ou
pedir para ser cremado, que é o melhor), para não dar chance
aos urubus de meter o pau na gente.
9. A
coisa é escolher entre o frio e o quente. Morno não leva a
nada.
Páginas
da Internet consultadas:
http://gifsoup.com/view/1155563/
adventure-time-ocean-of-fear.html
http://izquotes.com/author/john-donne/14
http://izquotes.com/author/john-donne/13
http://izquotes.com/author/john-donne/12
http://izquotes.com/author/john-donne/11
http://izquotes.com/author/john-donne/10
http://izquotes.com/author/john-donne/9
http://izquotes.com/author/john-donne/8
http://izquotes.com/author/john-donne/7
http://izquotes.com/author/john-donne/6
http://izquotes.com/author/john-donne/5
https://douglawrence.wordpress.com/page/104/
http://izquotes.com/author/john-donne/4
http://izquotes.com/author/john-donne/3
http://www.frog-life-cycle.com/3-animated-frog.html
http://izquotes.com/author/john-donne/2
http://izquotes.com/author/john-donne
http://pixgood.com/flipping-book-gif.html
http://es.wikiquote.org/wiki/John_Donne
http://www.frasesypensamientos.com.ar/autor/john-donne.html
http://www.proverbia.net/citasautor.asp?autor=301
http://www.wordsworth-editions.com/authors/donne-john
http://www.citador.pt/poemas/o-cambio-do-amor-john-donne
http://fog.ccsf.cc.ca.us/~srubin/h4N.html
http://pensador.uol.com.br/autor/john_donne/
http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/john-donne
http://www.citador.pt/poemas/infinitude-dos-amantes-john-donne
http://pt.wikiquote.org/wiki/John_Donne
http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Donne
Música
de fundo:
Por
Quem Os Sinos Dobram
Composição e interpretação: Raul Seixas
Fonte:
http://minhateca.com.br/natshout/M*c3*basicas/1-Raul+Seixas
+-+Por+Quem+Os+Sinos+Dobram,216924782.mp3(audio)
Direitos
autorais:
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as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
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o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos
de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para
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