O
homem não pode viver sem amor. Sem amor, torna-se um ser incompreensível
para si mesmo. [Na
Mater et Magistra, de 15 de maio de 1961, no septuagésimo
aniversário da Encíclica Rerum Novarum, o Papa João
XXIII – que tinha como norma pessoal e escolheu como lema episcopal
Obœdientia et Pax (Obediência e Paz) –
escreveu:
De modo que a Santa Igreja, apesar
de ter, como principal missão, a de santificar as almas e de as fazer
participar dos bens da ordem sobrenatural, não deixa de se preocupar,
ao mesmo tempo, com as exigências da vida cotidiana dos homens, não
só naquilo que diz respeito ao sustento e às condições
de vida, mas, também, no que se refere à prosperidade e à
civilização em seus múltiplos aspectos, dentro do condicionamento
de várias épocas.]
Não
é possível compreender o homem a partir de uma visão
econômica unilateral, e nem mesmo poderá ser definido de acordo
com a divisão de classes.
O
erro fundamental do Socialismo é de caráter antropológico.
De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula
do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente
subordinado ao funcionamento do mecanismo econômico-social, enquanto,
por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo
da livre opção, da sua única e exclusiva decisão
responsável em face do bem ou do mal. O homem é reduzido a
uma série de relações sociais, e desaparece o conceito
de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral, que constrói,
através dessa decisão, o ordenamento social. Desta errada
concepção da pessoa, deriva a distorção do direito,
que define o âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição
à propriedade privada. O homem, de fato, privado de algo que possa
«dizer seu» e da possibilidade de ganhar com que viver por sua
iniciativa, acaba por depender da máquina social e daqueles que a
controlam, o que lhe torna muito mais difícil reconhecer a sua dignidade
de pessoa e impede o caminho para a constituição de uma autêntica
comunidade humana. [Na
Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII:
Por tudo o que Nós acabamos de dizer, se compreende que a teoria
socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial
àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos
naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções
do Estado e perturbando a tranqüilidade pública. E
na Encíclica Quadragesimo Anno, de 15 de maio de 1931, o
Papa Pio XI escreveu: Socialismo religioso e socialismo católico
são termos contraditórios: ninguém pode ser, ao mesmo
tempo, bom católico e verdadeiro socialista.]
A
negação de Deus priva a pessoa do seu fundamento e, conseqüentemente,
induz a reorganizar a ordem social, prescindido da dignidade e da responsabilidade
da pessoa.
Luta
de classes, em sentido marxista e militarista, têm a mesma raiz: o
ateísmo e o desprezo da pessoa humana, que fazem prevalecer o princípio
da força sobre o da razão e do direito.
A
sociedade e o Estado devem assegurar níveis salariais adequados ao
sustento do trabalhador e da sua família, inclusive com uma certa
margem de poupança. Isto exige esforços para dar aos trabalhadores
conhecimentos e comportamentos melhores, capazes de tornar o seu trabalho
mais qualificado e mais produtivo; mas requer, também, uma vigilância
assídua e adequadas medidas legislativas para truncar fenômenos
vergonhosos de desfrute, com prejuízo, sobretudo, dos trabalhadores
mais débeis, imigrantes ou marginalizados. Decisiva, neste setor,
é a função dos sindicatos, que ajustam os mínimos
salariais e as condições de trabalho.
É
necessário garantir o respeito de horários «humanos»
de trabalho e de repouso, bem como o direito de exprimir a própria
personalidade no lugar de trabalho, sem serem violados, seja de que modo
for, a própria consciência ou dignidade. Faz-se apelo, de novo,
aqui, ao papel dos sindicatos não só como instrumentos de
contratação, mas também como «lugares»
de expressão da personalidade dos trabalhadores: aqueles servem para
o desenvolvimento de uma autêntica cultura do trabalho e ajudam os
trabalhadores a participar de modo plenamente humano na vida da empresa.
O
ódio e a injustiça só se apoderam de Nações
inteiras
e fazem-nas entrar em ação,
quando são legitimados e organizados por ideologias que se fundamentam
mais naqueles do que na verdade... [Na
Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: Pela
relevância pública do Evangelho e da fé e pelos efeitos
perversos da injustiça, vale dizer, do pecado, a Igreja não
pode ficar indiferente às vicissitudes sociais: Compete à
Igreja anunciar sempre e por toda parte os princípios morais, mesmo
referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer
questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa
humana ou a salvação das almas.]
Uma
corrida louca aos armamentos absorve os recursos necessários para
um equilibrado progresso das Economias internas e para auxílio às
Nações mais desfavorecidas. O progresso científico
e tecnológico, que deveria contribuir para o bem-estar do homem,
acaba transformado em um instrumento de guerra: ciência e técnica
são usadas para produzir armas cada vez mais aperfeiçoadas
e destrutivas, enquanto a uma ideologia, que não passa de uma perversão
da autêntica filosofia, se pede que forneça justificações
doutrinais para a guerra. E esta não é apenas temida e preparada,
mas é combatida, com enorme derramamento de sangue, em várias
partes do mundo. A lógica dos blocos ou impérios, já
denunciada nos diversos Documentos da Igreja, sendo o mais recente a 'Encíclica
Sollicitudo Rei Socialis', faz com que todas as controvérsias e discórdias,
que surgem nos países do Terceiro Mundo, sejam sistematicamente incrementadas
e aproveitadas para criar dificuldades ao adversário.
Sobre
todo o mundo grava a ameaça de uma guerra nuclear, capaz de levar
à extinção da Humanidade. A ciência, usada para
fins militares, pôs à disposição do ódio,
incrementado pelas ideologias, o instrumento decisivo. Mas a guerra pode
terminar sem vencedores nem vencidos, em um suicídio da Humanidade,
e, então, é necessário rejeitar a lógica que
a ela conduz, ou seja, a idéia de que a luta pela destruição
do adversário, a contradição e a própria guerra
são fatores de progresso e de avanço da história. Quando
se compreende a necessidade dessa rejeição, devem necessariamente
entrar em crise quer a lógica da «guerra total» quer
a da «luta de classes».
As
Nações Unidas ainda não conseguiram construir instrumentos
eficazes, alternativos à guerra, na solução dos conflitos
internacionais, e este parece ser o problema mais urgente que a comunidade
internacional tem para resolver.
A
verdadeira causa das mudanças está no vazio espiritual provocado
pelo ateísmo, que deixou as jovens gerações privadas
de orientação, e induziu-as, em diversos casos, devido à
irreprimível busca da própria identidade e do sentido da vida,
a redescobrir as raízes religiosas da cultura das suas Nações
e a própria Pessoa de Cristo, como resposta existencialmente adequada
ao desejo de bem, de verdade e de Vida que mora no Coração
de cada homem. Esta procura encontrou guia e apoio no testemunho de quantos,
em circunstâncias difíceis e até na perseguição,
permaneceram fiéis a Deus. O Marxismo tinha prometido desenraizar
do Coração do homem a necessidade de Deus, mas os resultados
demonstram que não é possível consegui-lo sem desordenar
o próprio Coração.
Não
é lícito, do ponto de vista ético nem praticável,
menosprezar a natureza do homem, que está feito para a liberdade.
Na sociedade onde a sua organização reduz arbitrariamente
ou até suprime a esfera em que a liberdade legitimamente se exerce,
o resultado é que a vida social progressivamente se desorganiza e
definha.
O
homem tende para o bem, mas é igualmente capaz do mal. Pode transcender
o seu interesse imediato, e, contudo, permanecer ligado a ele. A ordem social
será tanto mais sólida, quanto mais tiver em conta este fato
e não contrapuser o interesse pessoal ao da sociedade no seu todo,
mas procurar modos para a sua coordenação frutuosa.
Qualquer
sociedade política, que possui a sua própria autonomia e as
suas próprias leis, nunca poderá ser confundida com o Reino
de Deus. A parábola evangélica da boa semente e do joio (cf.
Mt. XIII, 24-30 e 36-43) ensina que apenas a Deus compete separar os filhos
do Reino e os filhos do Maligno, e que o julgamento terá lugar no
fim dos tempos. Pretendendo antecipar o Juízo para agora, o homem
substitui-se a Deus e opõe-se à Sua paciência.
São
necessários passos concretos para criar ou consolidar estruturas
internacionais, capazes de intervir em uma arbitragem conveniente dos conflitos
que se levantam entre as Nações, de modo que cada uma delas
possa fazer valer os próprios direitos e alcançar um acordo
justo e a pacífica composição com os direitos das outras.
Tudo isto se mostra particularmente necessário nas Nações
européias, unidas intimamente entre si pelo vínculo da cultura
comum e da história milenária. Impõe-se um grande esforço
para a reconstrução moral e econômica dos países
que abandonaram o Comunismo. Durante muito tempo, as relações
econômicas mais elementares foram distorcidas, e virtudes fundamentais
ligadas ao setor da Economia, tais como a veracidade, a confiança
e a laboriosidade foram descuradas. É preciso uma paciente renovação
material e moral, enquanto os povos, esgotados por longas privações,
pedem aos seus governantes resultados tangíveis e imediatos de bem-estar
e satisfação adequada das suas legítimas aspirações.
Os
pobres pedem o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de
fazer render a sua capacidade de trabalho, criando, assim, um mundo mais
justo e mais próspero para todos. A elevação dos pobres
é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural e
até econômico da Humanidade inteira. [Na
Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: É
necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio
dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela
maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria
imerecida.]
O
progresso não deve ser entendido de modo exclusivamente econômico,
mas num sentido integralmente humano. Não se trata apenas de elevar
todos os povos ao nível que hoje gozam somente os países mais
ricos, mas de construir no trabalho solidário uma vida mais digna,
de fazer crescer efetivamente a dignidade e a criatividade de cada pessoa,
a sua capacidade de corresponder à própria vocação
e, portanto, ao apelo de Deus. No ponto máximo do desenvolvimento,
está o exercício do direito-dever de procurar Deus, de O conhecer
e viver segundo tal conhecimento. Nos regimes totalitários e autoritários,
foi levado ao extremo o princípio do primado da força sobre
a razão. O homem foi obrigado a suportar uma concepção
da realidade imposta pela força, e não conseguida através
do esforço da própria razão e do exercício da
sua liberdade. É necessário abater aquele princípio
e reconhecer integralmente os direitos da consciência humana, apenas
ligada à verdade, seja natural ou revelada. No reconhecimento destes
direitos, está o fundamento principal de toda a ordenação
política autenticamente livre. É importante reafirmar este
princípio, por vários motivos:
a)
porque as antigas formas de totalitarismo e de autoritarismo não
foram ainda completamente debeladas, existindo mesmo o risco de ganharem
de novo vigor: isto apela a um renovado esforço de colaboração
e de solidariedade entre todos os países;
b)
porque nos países desenvolvidos, às vezes, é feita
uma excessiva propaganda dos valores puramente utilitários, com uma
solicitação desenfreada dos instintos e das tendências
ao prazer imediato, o que torna difícil o reconhecimento e o respeito
da hierarquia dos verdadeiros valores da existência humana;
c)
porque, em alguns Países, emergem novas formas de fundamentalismo
religioso que, velada ou até abertamente, negam aos cidadãos
de crenças diversas daquela da maioria o pleno exercício dos
seus direitos civis ou religiosos, impedem-nos de entrar no debate cultural,
restringem à Igreja o direito de pregar o Evangelho e o direito dos
ouvintes dessa pregação, de a acolher e de se converterem
a Cristo. Não é possível qualquer progresso autêntico
sem o respeito do direito natural e originário mais basilar: o de
conhecer a verdade e viver nela. A este direito está ligado, como
seu exercício e aprofundamento, o direito de descobrir e de escolher
livremente Jesus Cristo, que é o verdadeiro bem do homem. [Sim,
Jesus Cristo é o verdadeiro bem do homem; mas
não é exclusivo.]
A
Terra não dá os seus frutos sem uma peculiar resposta do homem
ao dom de Deus, isto é, sem o trabalho: é mediante o trabalho
que o homem, usando da sua inteligência e da sua liberdade, consegue
dominá-la e estabelecer nela a sua digna morada. Deste modo, ele
se apropria de uma parte da Terra, adquirida precisamente com o trabalho.
Está aqui a origem da propriedade individual. Obviamente, o homem
tem também a responsabilidade de não impedir que os outros
homens tenham igualmente a sua parte no dom de Deus; pelo contrário:
deve cooperar com eles para conjuntamente dominarem toda a Terra... O trabalho
é tanto mais fecundo e produtivo quanto mais o homem é capaz
de conhecer as potencialidades criativas da Terra e de ler profundamente
as necessidades do outro homem, para o qual é feito o trabalho.
A moderna Economia de empresa comporta
aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se exprime
no campo econômico e em muitos outros campos. A Economia, de fato,
é apenas um setor da multiforme atividade humana, e nela, como em
qualquer outro campo, vale o direito à liberdade, da mesma forma
que o dever de a usar responsavelmente. Mas é importante notar a
existência de diferenças específicas entre essas tendências
da sociedade atual e as do passado, mesmo se recente. Se outrora o fator
decisivo da produção era a terra e mais tarde o Capital, visto
como o conjunto de maquinaria e de bens instrumentais, hoje o fator decisivo
é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade
de conhecimento que se revela no saber científico, a sua capacidade
de organização solidária, a sua capacidade de intuir
e de satisfazer a necessidade do outro. [Na
Encíclica
Quadragesimo Anno, o Papa Pio XI escreveu: É
coisa manifesta, como nos nossos tempos não só se amontoam
riquezas, mas acumula-se um poder imenso e um verdadeiro despotismo econômico
nas mãos de poucos, que as mais das vezes não são senhores,
mas simples depositários e administradores de capitais alheios, com
que negociam a seu talante. Este despotismo torna-se intolerável
naqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro, são também
senhores absolutos do crédito, e, por isto, dispõem do sangue
de que vive toda a Economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma,
que ela não pode respirar sem sua licença.]
O
maior problema do desenvolvimento dos países mais
pobres parece ser a obtenção de acesso eqüitativo ao
mercado internacional, não fundado sobre o princípio unilateral
do aproveitamento dos recursos naturais, mas sobre a valorização
dos recursos humanos... Aspectos típicos do Terceiro Mundo emergem
também nos países desenvolvidos, onde a transformação
incessante das modalidades de produção e de consumo desvaloriza
certos conhecimentos já adquiridos e capacidades profissionais consolidadas,
exigindo um esforço contínuo de requalificação
e atualização. Aqueles que não conseguem acompanhar
os tempos podem facilmente ser marginalizados; juntamente com eles são-no
os anciãos, os jovens incapazes de se inserirem na vida social e,
de um modo geral, os sujeitos mais débeis e o denominado Quarto Mundo.
Nestas condições, também a situação da
mulher se apresenta muito difícil.
É
estrito dever de justiça e verdade impedir que as necessidades humanas
fundamentais permaneçam insatisfeitas e que pereçam os homens
por elas oprimidos. Além disso, é necessário que estes
homens carecentes sejam ajudados a adquirir os conhecimentos, a entrar no
círculo de relações, a desenvolver as suas aptidões,
para melhor valorizar as suas capacidades e recursos. Ainda antes da lógica
da comercialização dos valores equivalentes e das formas de
justiça, que lhe são próprias, existe algo que é
devido ao homem porque é homem, com base na sua eminente dignidade.
Esse algo que é devido comporta inseparavelmente a possibilidade
de sobreviver e de dar um contributo ativo para o bem comum da Humanidade.
É
correto falar de luta contra um sistema econômico,
visto como método que assegura a prevalência absoluta do Capital,
da posse dos meios de produção e da terra, relativamente à
livre subjetividade do trabalho do homem. Nesta luta contra um tal sistema,
não se veja, como modelo alternativo, o sistema socialista, que,
de fato, não passa de um Capitalismo de Estado, mas uma sociedade
do trabalho livre, da empresa e da participação. Esta não
se contrapõe ao livre mercado, mas requer que ele seja oportunamente
controlado pelas forças sociais e estatais, de modo a garantir a
satisfação das exigências fundamentais de toda a sociedade.
A
Igreja reconhece a justa função do lucro, como indicador do
bom funcionamento da empresa: quando esta dá lucro, isso significa
que os fatores produtivos foram adequadamente usados e as correlativas necessidades
humanas devidamente satisfeitas. [Será
que isto é mesmo assim? Penso que não. Não há
um beócio na Terra que não saiba que quando alguém
lucra (lucro, entre tantos outros, por exemplo, como um overhead),
que quando alguém ganha, alguém obrigatoriamente perde (ou
perde imediatamente ou perde um pouco mais adiante). A mais-valia (absoluta
ou relativa) é exatamente isto, ou seja: por definição,
é o aumento do valor de um bem ou de uma renda, após a sua
avaliação ou aquisição, em virtude de fatores
econômicos que independem de qualquer transformação
intrínseca desse bem ou dessa renda; é o aumento do valor
de um bem em razão de melhoria ou benfeitoria que lhe foi introduzida.
Karl Marx definia mais-valia como a diferença entre o valor produzido
pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base da
exploração no Sistema Capitalista. Logo, salvo melhor juízo,
tudo isto está inteiramente em desacordo com os Princípios
pregados por Jesus, que se teve alguma coisa, foi tão-só a
roupa que vestia. O homem só será realmente livre quando não
precisar e não quiser mais nada. Enquanto lutar para obter ou para
acumular, mesmo que licitamente, será prisioneiro de seus quereres.
Quando Jesus estava construindo seu Ministério, disse: — Se
alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Ora, ou pescadores de homens ou pilhantes de homens; ou lucratividade ou
solidariedade; ou espiritualidade ou mundanidade; ou sim ou sopas.]
Um
exemplo flagrante de consumo, contrário à saúde e à
dignidade do homem, certamente difícil de ser controlado, é
o da droga. A sua difusão é índice de uma grave disfunção
do sistema social, e subentende igualmente uma «leitura» materialista,
em certo sentido, destrutiva das necessidades humanas. Deste modo, a capacidade
de inovação da livre Economia termina atuando de modo unilateral
e inadequado. A droga, como também a pornografia e outras formas
de consumismo, explorando a fragilidade dos débeis, tentam preencher
o vazio espiritual que se veio a criar.
Na raiz da destruição
insensata do ambiente natural, há um erro antropológico, infelizmente
muito espalhado no nosso tempo. O homem, que descobre a sua capacidade de
transformar e, de certo modo, criar o mundo com o próprio trabalho,
esquece que este se desenrola sempre sobre a base da doação
originária das coisas por parte de Deus. Pensa que pode dispor arbitrariamente
da Terra, submetendo-a sem reservas à sua vontade, como se ela não
possuísse uma forma própria e um destino anterior que Deus
lhe deu, e que o homem pode, sim, desenvolver, mas não deve trair.
Em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação,
o homem substitui-se a Deus, e, deste modo, acaba por provocar a revolta
da Natureza, mais tiranizada do que por ele governada.
A
família é o santuário da vida. De fato, ela é
sagrada. É o lugar onde a vida – dom de Deus – pode ser
convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques
a que está exposta, e pode se desenvolver segundo as exigências
de um crescimento humano autêntico. Contra a denominada cultura da
morte, a família constitui a sede da cultura da vida.
A
liberdade econômica é apenas um elemento da liberdade humana.
Quando aquela se torna autônoma, isto é, quando o homem é
visto mais como um produtor ou um consumidor de bens do que como um sujeito
que produz e consome para viver, então ela perde a sua necessária
relação com a pessoa humana e acaba por a alienar e oprimir.
É
tarefa do Estado prover a defesa e a tutela de certos bens
coletivos como o ambiente natural e o ambiente humano, cujas salvaguardas
não podem ser garantidas pos simples mecanismos de mercado. Como
nos tempos do antigo Capitalismo, o Estado tinha o dever de defender os
direitos fundamentais do trabalho; assim, diante do novo Capitalismo, ele
e toda sociedade têm a obrigação de defender os bens
coletivos que, entre outras coisas, constituem o enquadramento dentro do
qual cada um poderá conseguir legitimamente os seus fins individuais.
Alienado é o homem que se
recusa a se transcender a si próprio e a viver a experiência
do dom de si e da formação de uma autêntica comunidade
humana, orientada para o seu destino último, que é Deus. Alienada
é a sociedade que, nas suas formas de organização social,
de produção e de consumo, torna mais difícil a realização
deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana.
Uma
autêntica Democracia só é possível em um Estado
de direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa
humana. Aquela exige que se verifiquem as condições necessárias
à promoção quer dos indivíduos através
da educação e da formação nos verdadeiros ideais,
quer da «subjetividade» da sociedade mediante a criação
de estruturas de participação e de co-responsabilidade. Hoje,
tende-se a afirmar que o agnosticismo e o relativismo cético constituem
a filosofia e o comportamento fundamental mais idôneos às formas
políticas democráticas, e que todos quantos estão convencidos
de conhecer a verdade e firmemente aderem a ela não são dignos
de confiança do ponto de vista democrático, porque não
aceitam que a verdade seja determinada pela maioria ou seja variável
segundo os diversos equilíbrios políticos. A este propósito,
é necessário notar que, se não existe nenhuma verdade
última que guie e oriente a ação política, então
as idéias e as convicções podem ser facilmente instrumentalizadas
para fins de poder. Uma Democracia sem valores converte-se facilmente em
um totalitarismo aberto ou dissimulado, como a história demonstra.
Em
um mundo sem verdade, a liberdade perde a sua consistência, e o homem
acaba exposto à violência das paixões e a condicionalismos
visíveis ou ocultos.
Para
superar a mentalidade individualista hoje difundida, requer-se um concreto
empenho de solidariedade e caridade que tem início no seio da família
com o apoio mútuo dos esposos, e depois com os cuidados que uma geração
presta à outra. Assim, a família se qualifica como comunidade
de trabalho e de solidariedade. Acontece, porém, que, quando ela
se decide a corresponder plenamente à própria vocação,
pode encontrar-se privada do apoio necessário por parte do Estado,
e não dispõe de recursos suficientes. É urgente promover
não apenas políticas para a família, mas também
políticas sociais, que tenham como principal objetivo a própria
família, ajudando-a, mediante a atribuição de recursos
adequados e de instrumentos eficazes de apoio, quer na educação
dos filhos, quer no cuidado dos anciãos, evitando o seu afastamento
do núcleo familiar e reforçando os laços entre as gerações.
A atenta e pressurosa solicitude
em relação ao próximo, na hora da necessidade, facilitada
hoje também pelos novos meios de comunicação que tornaram
os homens mais vizinhos entre si, é particularmente importante quando
se trata de encontrar os instrumentos de solução dos conflitos
internacionais alternativos à guerra. Não é difícil
afirmar que a terrível capacidade dos meios de destruição,
acessíveis já às médias e pequenas potências,
e a conexão cada vez mais estreita entre os povos de toda a Terra,
torna muito difícil ou praticamente impossível limitar as
conseqüências de um conflito.
O
amor ao homem – e em primeiro lugar ao pobre, no qual
a Igreja vê Cristo – concretiza-se na promoção
da justiça. Esta nunca se poderá realizar plenamente se os
homens não deixarem de ver no necessitado, que pede ajuda para a
sua vida, um importuno ou um fardo, para reconhecerem nele a ocasião
de um bem em si, a possibilidade de uma riqueza maior. Só esta consciência
dará a coragem para enfrentar o risco e a mudança implícita
em toda a tentativa de ir em socorro do outro homem. De fato, não
se trata apenas de «dar o supérfluo», mas de ajudar povos
inteiros, que dele estão excluídos ou marginalizados, a entrarem
no círculo do desenvolvimento econômico e humano. [Na
Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: A
usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento
da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens,
ávidos de ganância e de insaciável ambição.
A tudo isto, deve ser acrescentado o monopólio do trabalho e dos
papéis de crédito, que se tornaram um quinhão de um
pequeno número de ricos e de opulentos, que impõe, assim,
um julgo quase servil à imensa multidão dos operariados.]
O
corpo já não é mais visto como uma realidade propriamente
pessoal, um sinal, um lugar de relacionamento com os outros, com Deus e
com o mundo. Foi reduzido ao puro materialismo: é apenas um complexo
de órgãos, funções e energias a serem usadas
unicamente de acordo com os critérios do prazer e da eficiência.
O
Concílio Ecumênico Vaticano II quis ser um momento de reflexão
global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com
o mundo.
O
Concílio Ecumênico Vaticano II constitui uma verdadeira profecia
para a vida da Igreja; e continuará a sê-lo por muitos anos
do Terceiro Milênio há pouco iniciado. A Igreja, enriquecida
com as verdades eternas que lhe foram confiadas, ainda falará ao
mundo, anunciando que Jesus Cristo é o único verdadeiro Salvador
do mundo: ontem, hoje e sempre! [Que
me perdoe o Santo Padre já falecido, que me perdoem os católicos.
Mas eu jamais poderei concordar que
Jesus Cristo é o único verdadeiro Salvador do mundo.
Ora,
se salvação houvesse, no sentido emprestado ao conceito pelos
católicos, como classificar o esforço, por exemplo, de Akhnaton
e de Buddha; de Louis-Claude de Saint-Martin e de Harvey Spencer Lewis;
de Helena Petrovna Blavatsky e de Rudolf Steiner; de Ralph Maxwell Lewis
e de Paramahansa Yogananda; de Max Heindel e de Chico Xavier; do Papa João
XXIII e do próprio Papa João Paulo II?]
Não
excluam Cristo da História!
A vida humana deve ser respeitada
e protegida de maneira absoluta desde o momento da concepção.
A partir do primeiro momento de sua existência, o ser humano deve
ver reconhecido seus direitos de pessoa, entre os quais está o direito
inviolável de todo ser inocente à vida.
[Na Humanæ
Vitæ, publicada em 25 de julho de 1968, escreveu o Papa
Paulo VI: Em conformidade com estes pontos essenciais da visão
humana e cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar
que é absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação
dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo
já iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado,
mesmo por razões terapêuticas... É de excluir de igual
modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização
direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como
da mulher... É, ainda, de excluir toda a ação que –
ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização,
ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências
naturais –
se proponha, como fim ou como meio, tornar
impossível a procriação... Se, portanto, existem motivos
sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições
físicas, ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias
exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter
em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras,
para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e,
deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais
que acabamos de recordar...]
Se
Deus é brasileiro, então o Papa é carioca.
Que
ninguém se iluda de que a simples ausência de guerra, mesmo
sendo tão desejada, seja sinônimo de uma paz verdadeira. Não
há verdadeira paz sem vir acompanhada de igualdade, de verdade, de
justiça e de solidariedade.
Não
há paz sem justiça;, não há paz sem perdão.
A fé e a razão (fides
et ratio) são como as duas asas com as quais o espírito humano
se eleva à contemplação da verdade. Deus colocou no
Coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, definitivamente,
de conhecê-Lo para que, conhecendo-O e amando-O, possa alcançar
também a plena verdade sobre si mesmo.
A
sexualidade, pela qual homem e mulher se dão mutuamente através
de atos que são próprios e exclusivos de cônjuges, de
modo algum é algo puramente biológico; mas diz respeito ao
mais recôndito da pessoa humana como tal. Só se consuma de
um modo inteiramente humano se fizer parte integral do amor através
do qual um homem e uma mulher se comprometem totalmente um com o outro até
a morte.
Acreditar
na família é construir o futuro.
A
Igreja condena como grave ofensa à dignidade e à justiça
humana todas as atividades governamentais e de outras autoridades públicas
no sentido de limitar, de qualquer modo, a liberdade dos casais de decidirem
a respeito de terem filhos. Conseqüentemente, qualquer violência
aplicada por tais autoridades em favor da contracepção ou,
ainda pior, da esterilização e do aborto, deve ser condenada
e fortemente rejeitada.
Tudo aquilo foi testemunho da graça
divina... Agca sabia disparar bem, e disparou certamente para me eliminar.
Mas foi como se alguém tivesse guiado e desviado aquela bala...
Estupidez
também é um presente de Deus, mas não se pode abusar.
A
ciência pode purificar a religião de erros e superstições.
A religião pode purificar a ciência de idolatrias e erros absolutos.
Eu
tenho um lado bom para músicas e canções. Esse é
o meu pecado polonês.
A
liberdade não consiste em fazer o que queremos, mas
em ter o direito de fazer o que devemos.
A
sociedade moderna não encontrará solução para
o problema ecológico a menos que observe com seriedade os seus estilos
de vida.
A
Humanidade deve se questionar novamente sobre o absurdo e sempre injusto
fenômeno da guerra, em cujo palco de morte e dor só permanece
a mesa de negociações que poderia e deveria tê-la evitado.
A Organização das Nações
Unidas declarou 1979 o Ano da Criança. Será a corrida armamentista
uma herança necessária para passarmos às crianças?
[O
Papa João XXIII, conhecido como o Papa Bom, certa vez, em
um discurso, falou: Quando
vocês voltarem para casa, encontrarão suas crianças.
Dêem a elas um carinho e digam: este é o carinho do Papa.]
Os
jovens estão ameaçados pelo mau uso das técnicas de
propaganda, que estimulam a inclinação natural deles para
evitar o trabalho duro, ao prometer a satisfação imediata
de cada desejo.
A ciência pode purificar a
religião do erro e da superstição. A religião
pode purificar a ciência da idolatria e dos falsos absolutos.
Uma nação que mata
as suas próprias crianças é uma nação
sem esperança.
Sobre
o Holocausto: Neste local de lembrança solene, eu prego
ferventemente que o nosso sofrimento com a tragédia que o povo judeu
sofreu no século XX leve a uma nova relação entre cristãos
e judeus... Vamos construir um novo futuro em que não haja mais sentimento
antijudaico entre os cristãos ou sentimento anticristão entre
os judeus, mas, sim, o respeito mútuo que se espera daqueles que
adoram o único Criador e Pai, e que vêem Abraão como
nosso pai comum da fé.
Queridos
irmãos e irmãs: todos estamos ainda tristes com a morte do
querido Papa João Paulo I. E agora os eminentíssimos Cardeais
chamaram um novo Bispo de Roma. Chamaram-no de um país distante...
Distante, mas sempre muito próximo pela comunhão na fé
e na tradição cristã. Tive medo ao receber esta nomeação,
mas o fiz com espírito de obediência a Nosso Senhor e com a
confiança total na sua Mãe, a Virgem Santíssima.
Não
sei se posso me expressar bem na vossa... na nossa língua italiana.
Se eu errar, vocês me corrijam. E, assim, apresento-me diante de todos
vocês, para confessar a nossa fé comum, a nossa esperança,
a nossa confiança na Mãe de Cristo e na Igreja, e também
para começar de novo a andar por este caminho da História
e da Igreja, com a ajuda de Deus e com a ajuda dos homens.