JOÃO PAULO II

(Pensamentos e Reflexões)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Papa João Paulo II

 

 

 

Objetivo Deste Estudo

 

 

Este trabalho, agora despretensiosamente divulgado, é o resultado de um estudo pessoal que decidi fazer sobre uma parte restrita do pensamento de João Paulo II (em latim: Johannes Paulus PP. II), ou seja, a Encíclica Centesimus Annus [Centésimo Ano], assinada em 1º de maio de 1991 – ano comemorativo do centenário da primeira encíclica que trata do Magistério social da Igreja Católica: a Encíclica Rerum Novarum [Das Coisas Novas], do Papa Leão XIII, divulgada em 15 de maio de 1891, que aborda as questões fermentadas durante a Revolução Industrial1 e critica as sociedades democráticas do final do século XIX (época em que as classes trabalhadoras eram extremamente exploradas no ambiente cruel do 'laissez-faire'2 liberal e da economia de mercado), e que nas palavras de João Paulo II é um imortal Documento cuja seiva abundante, que sobe daquela raiz, não secou com o passar dos anos; pelo contrário, tornou-se mais fecunda. No décimo terceiro ano de seu pontificado – em memória de São José Operário e dedicada aos veneráveis Irmãos no Episcopado, ao clero, às famílias religiosas, aos fiéis da Igreja Católica e a todos os homens de boa vontade – João Paulo II divulgou esta Encíclica, que pretendeu examinar e responder ao grande desafio de mudança das estruturas mundiais, bem como reavaliar o papel da solidariedade humana, a defesa dos direitos dos despossuídos e os desafios morais da justiça social, olhando crítica e dialeticamente para as coisas novas do passado, para as coisas novas do presente e para as coisas novas do futuro. Em resumo, escreveu o Papa João Paulo II:

 

Desejo agora propor uma 'releitura' da Encíclica leonina, convidando a 'olhar para trás', ao próprio texto, para descobrir de novo a riqueza dos princípios fundamentais, nela formulados, sobre a solução da questão operária. Mas, convido também a 'olhar ao redor', às 'coisas novas', que nos circundam e em que nos encontramos como que imersos, freqüentemente muito diversas das 'coisas novas' que caracterizaram o último decênio do século passado. Enfim, convido a 'olhar ao futuro', quando já se entrevê o Terceiro Milênio da era cristã, carregado de incógnitas, mas também de promessas. Incógnitas e promessas que apelam à nossa imaginação e criatividade, estimulando também a nossa responsabilidade, como discípulos do 'único Mestre', Cristo (cf. Mt. XXIII, 8), de indicar o 'caminho', proclamar a 'verdade' e comunicar 'a vida' – que é Ele próprio.

 

Quanto a este estudo-rascunho, uma vez mais informo que fiz poucas e insignificantes edições nos fragmentos garimpados, apenas para adequá-los e acomodá-los a este tipo de texto, entretanto, absolutamente sem corromper ou interpolar o pensamento do Papa-autor, o que seria uma heresia injustificável. Em alguns fragmentos, entre colchetes, fiz alguns comentários, que podem ser desprezados, pois o que importa é o pensamento do Papa, e não o meu. Em outros, acrescentei algumas citações de outros autores, como, por exemplo, do Papa Leão XIII, do Papa Pio XI,, do Papa João XXIII3 e do Papa Paulo VI. Finalmente, para compor o trabalho, adicionei outros fragmentos muito interessantes do pensamento do próprio Papa João Paulo II que não fazem parte da Centesimus Annus. Também transcrevi um episódio emocionante de sua vida – uma característica notável de sua humildade. Enfim, o melhor mesmo é ler a Encíclica Centesimus Annus, objetivo basilar e catalisador deste rascunho. Um possível endereço direto para esta leitura é:

Centesimus Annus

 

E por que não? Sim, sempre: Gloria in altissimis Deo [In Corde loquitur nostro Vox Dei], et in Terra pax hominibus bonæ voluntatis! Glória a Deus nas alturas [Em nosso Coração fala a Voz de Deus], e, na Terra, paz aos homens de boa vontade. Mas, mais do que isto: Que a Consciência Cósmica possa se infundir em todos os seres do Universo, sem exceção, e transmutar maus pensamentos, más intenções, más palavras e maus atos em Paz, Amor, Beleza e Bem.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Brasão Pontifício de João Paulo II

 



Ordem: 264º Papa
Início do Pontificado: 16 de outubro de 1978
Fim do Pontificado: 2 de abril de 2005
Período do Pontificado: 26 anos
Data da Entronização: 22 de outubro de 1978
Predecessor: João Paulo I
Sucessor: Bento XVI
Data de nascimento: 18 de maio de 1920
Local de nascimento: Wadowice, Polônia
Data de falecimento: 2 de abril de 2005
Local de falecimento: Vaticano
Nome de batismo: Karol Józef Wojtyla
Cargo à data da eleição: Cardeal Arcebispo de Cracóvia, Polônia
Ordenado padre em: 1º de novembro de 1946
Sagrado bispo em: 28 de setembro de 1958
Criado cardeal em: 28 de junho de 1967

 

Karol Józef Wojtyla nasceu em Wadowice, uma pequena localidade ao sul da Polônia, a 50 quilômetros de Cracóvia. Era filho de um tenente do exército dos Habsburgos, de quem herdou o nome, também chamado Karol Wojtyla. Seu irmão Edmund, ao se formar em medicina, transformou-se na esperança de sustento da família, uma vez que o soldo do tenente Wojtyla era insuficiente para tal.

 

Em 1929, perderia a mãe, Emilia Kaczorowska, vitimada por uma doença nos rins. Em 1931, morreria o irmão, de escarlatina. Karol perderia o pai poucos dias antes de completar 22 anos. Nesta altura, a Polônia enfrentava, juntamente com grande parte da Europa, as conseqüências da invasão alemã da Segunda Guerra Mundial. Assistiu, portanto, ao assassinato de vários dos seus amigos e colegas.

 

Manifestando interesse pelo teatro – cuja participação potenciava apoios à resistência polonesa contra o Nazismo – pela música popular e pela literatura, a sua juventude foi marcada por intensos contatos com a então ameaçada comunidade judaica de Cracóvia, e pela experiência da ocupação alemã, durante a qual trabalhou numa fábrica de produtos químicos para evitar sua deportação para a Alemanha nazista. Atleta (chegou a atuar como goleiro de futebol numa equipe amadora de Wadowice) e, muito religioso, (foi fundador de uma Congregação Mariana em seu colégio), Karol Wojtyla foi ordenado sacerdote católico em 1º de novembro de 1946 pelo então cardeal-arcebispo de Cracóvia, Adam Stefan Sapieha, colocando, a partir de então, toda a sua vida sacerdotal sob a proteção da Virgem (Totvs Tvvs; sou todo teu, Maria).

 

Foi docente de Ética na Universidade Jaguelônica e posteriormente na Universidade Católica de Lublin. Em 1958, foi nomeado bispo auxiliar de Cracóvia e quatro anos depois chegou ao cargo máximo na sua diocese. Em 30 de dezembro de 1963, é apontado por Paulo VI como arcebispo de Cracóvia. Na qualidade de bispo e arcebispo, Wojtyla participou do Concílio Vaticano II, contribuindo para a redação de documentos que se tornariam a Declaração sobre a Liberdade Religiosa (Dignitatis Humanæ) e a Constituição Pastoral da Igreja no Mundo Moderno (Gaudium et Spes), dois dos historicamente mais importantes e influentes resultados do Concílio.

 

Foi elevado a cardeal pelo Papa Paulo VI em 1967 e eleito Papa em 16 de outubro de 1978. Adotou o nome de João Paulo II em homenagem ao seu antecessor (João Paulo I) e rapidamente se colocou ao lado da paz e da concórdia internacionais, com intervenções freqüentes em defesa dos direitos humanos e das nações.

 

Três anos depois de ter sido eleito Papa, foi vítima de grave atentado na Praça de São Pedro, no dia 13 de maio de 1981, por parte do turco Ali Agca. Mais tarde, o Papa comentaria: Na época do Natal e do Ano Sagrado da Redenção, pude encontrar a pessoa que vocês todos conhecem por nome, Ali Agca, que em 13 de maio de 1981 praticou um atentado contra a minha vida... Mas a Providência se encarregou das coisas, de uma forma que eu descreveria como extraordinária, para que hoje eu pudesse encontrar meu agressor e repetir o perdão que concedi a ele imediatamente. Nos anos 90, começou a manifestar sintomas de Parkinson, que se acentuaram cada vez mais. Em setembro de 2003, durante uma visita à Eslováquia, já são visíveis as dificuldades de João Paulo II para respirar e se mover. Já com a doença de Parkinson muito avançada, no dia 30 de março de 2005, surgiu na janela do seu escritório para tranqüilizar os católicos; era, na altura, já muito evidente o seu estado extremamente debilitado. No último Domingo de Páscoa, o Papa ainda abençoou os fiéis, mas pela primeira vez no seu pontificado não conseguiu pronunciar a tradicional 'Urbi et Orbi'.4 Às 21 horas e 37 minutos, hora de Roma, do dia 2 de abril de 2005, o mundo parou...

 

 

 

Opiniões Acerca do Papa

 

 


Outro aspecto é a maneira como o Papa se relaciona com a juventude... Você viu o que aconteceu em Paris? Jamais a Cidade tinha reunido tantos jovens... E aquilo quem fez não foi a Igreja da França... Aí é que percebemos a força do Papa. Ele convoca os jovens, e eles vêm. Porque ele acredita na juventude. (Dom Eugênio Sales, Brasil).


No mundo dominado pelo triunfalismo ideológico, o Papa João Paulo II tem a humildade de pedir perdão ao povo judeu e a outros povos injustiçados pela igreja no passado. Um gesto magnânimo, pedir perdão. É um líder de um imenso rebanho. Ele que é tão poderoso é também muito humilde e frágil. Mas espiritualmente muito forte. (rabino Henry Sobel, Brasil).


Na visão dos muçulmanos, o Papa buscou o diálogo inter-religioso, conversando em vários momentos com os líderes para uma aproximação. (xeque Ali Abdouni, representante da Comunidade Islâmica brasileira).


Sinto como quem perdeu um pai, um amigo, um irmão, um orientador muito sábio. (Dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, Brasil).

 

Superando as limitações físicas impostas pelo atentado sofrido em 1981, o Papa vem realizando notável atividade pastoral e cumprindo o que anunciou em 25 de janeiro de 1979, ao beijar o solo da República Dominicana para abençoar aquele país: 'Viajarei – disse o Papa por onde me chamarem as exigências da fé e dos valores humanos. (Marco Maciel, político brasileiro).


Um grande Papa — nosso maior e mais importante compatriota, o Santo Padre foi um bom pai para todos nós, para crentes e não-crentes, e para seguidores de diferentes religiões. (Aleksander Kwasniewski, presidente da Polônia).


Um bom e fiel servo de Deus foi chamado de volta para casa. O mundo perdeu um campeão da paz e da liberdade. (Presidente dos EUA, George W. Bush).


João Paulo II sempre esteve ao lado do mais pobre, do mais desprotegido, do mais desafortunado, daqueles que foram deixados para trás no processo de desenvolvimento. (José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal).


Até o fim da sua vida João Paulo II levou sua missão com energia e clareza. O sofrimento, que ele nunca escondeu nos últimos anos, jamais alterou a sua determinação. (Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil).


Neste momento, estou escrevendo um livro, no qual direi a verdade. Até agora contei cinqüenta histórias diferentes, mas são todas falsas. (Mehmet Ali Agca, turco que atirou no Papa João Paulo II, afirmando que toda a verdade só será contada no livro que está escrevendo).

 

 

 

 

O Mendigo e o Papa
(Uma lição de humildade)

 

 

Um sacerdote norte-americano, da Diocese de Nova York, certo dia, encontrou um mendigo na rua. Depois de observá-lo durante um momento, o sacerdote se deu conta de que conhecia aquele homem. Era um antigo companheiro do seminário, ordenado sacerdote no mesmo dia que ele. Agora, maltrapilho, mendigava pelas ruas.

O padre, depois de se identificar e de cumprimentá-lo, escutou dos lábios do mendigo como tinha perdido a sua fé e a sua vocação. Ficou profundamente enternecido. Despediu-se do velho amigo, mas ele não saía de sua cabeça.

No dia seguinte, o sacerdote teve a oportunidade de assistir à uma missa privada celebrada pelo Papa João Paulo II, e, como é costume, pôde cumprimentá-lo no final da celebração. Ao chegar a sua vez, sentiu o impulso de se ajoelhar em frente ao Santo Padre e de pedir que rezasse por seu antigo companheiro de seminário, descrevendo brevemente a situação ao Papa.

Um dia depois, recebeu um convite para cear com o Papa, com a recomendação de que levasse consigo o mendigo da paróquia. O sacerdote voltou à paróquia e contou ao seu amigo o desejo do Papa. Uma vez convencido, o mendigo foi levado à casa do sacerdote, que lhe ofereceu roupa limpa e a oportunidade de se assear para o encontro com o Papa.

O Pontífice, depois da ceia, solicitou ao sacerdote que os deixasse a sós, e pediu ao mendigo que escutasse a sua confissão. O homem, impressionado, respondeu:

Santo Padre, não posso. Já não sou mais sacerdote.

O Papa respondeu: — Uma vez sacerdote, sacerdote para sempre.

Mas estou fora de minhas faculdades de presbítero — insistiu o mendigo.

Eu sou o Bispo de Roma; posso me encarregar disso — disse o Papa.

E assim, o homem escutou a confissão do Santo Padre. Em seguida, pediu ao Papa que, por sua vez, escutasse sua própria confissão. Depois, chorou amargamente.

Ao final, João Paulo II lhe perguntou em que paróquia havia estado a mendigar, e o designou assistente do pároco da mesma e encarregado de dar atenção aos mendigos.

 

 

 

 

 

Pensamentos e Reflexões
do Papa João Paulo II

 

 

 

O homem não pode viver sem amor. Sem amor, torna-se um ser incompreensível para si mesmo. [Na Mater et Magistra, de 15 de maio de 1961, no septuagésimo aniversário da Encíclica Rerum Novarum, o Papa João XXIII – que tinha como norma pessoal e escolheu como lema episcopal Obœdientia et Pax (Obediência e Paz) escreveu: De modo que a Santa Igreja, apesar de ter, como principal missão, a de santificar as almas e de as fazer participar dos bens da ordem sobrenatural, não deixa de se preocupar, ao mesmo tempo, com as exigências da vida cotidiana dos homens, não só naquilo que diz respeito ao sustento e às condições de vida, mas, também, no que se refere à prosperidade e à civilização em seus múltiplos aspectos, dentro do condicionamento de várias épocas.]

 

Não é possível compreender o homem a partir de uma visão econômica unilateral, e nem mesmo poderá ser definido de acordo com a divisão de classes.

 

O erro fundamental do Socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social, de tal modo que o bem do indivíduo aparece totalmente subordinado ao funcionamento do mecanismo econômico-social, enquanto, por outro lado, defende que esse mesmo bem se pode realizar prescindindo da livre opção, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem ou do mal. O homem é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa como sujeito autônomo de decisão moral, que constrói, através dessa decisão, o ordenamento social. Desta errada concepção da pessoa, deriva a distorção do direito, que define o âmbito do exercício da liberdade, bem como a oposição à propriedade privada. O homem, de fato, privado de algo que possa «dizer seu» e da possibilidade de ganhar com que viver por sua iniciativa, acaba por depender da máquina social e daqueles que a controlam, o que lhe torna muito mais difícil reconhecer a sua dignidade de pessoa e impede o caminho para a constituição de uma autêntica comunidade humana. [Na Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: Por tudo o que Nós acabamos de dizer, se compreende que a teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranqüilidade pública. E na Encíclica Quadragesimo Anno, de 15 de maio de 1931, o Papa Pio XI escreveu: Socialismo religioso e socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista.]

 

A negação de Deus priva a pessoa do seu fundamento e, conseqüentemente, induz a reorganizar a ordem social, prescindido da dignidade e da responsabilidade da pessoa.

 

 

 

 

 

 

Luta de classes, em sentido marxista e militarista, têm a mesma raiz: o ateísmo e o desprezo da pessoa humana, que fazem prevalecer o princípio da força sobre o da razão e do direito.

 

A sociedade e o Estado devem assegurar níveis salariais adequados ao sustento do trabalhador e da sua família, inclusive com uma certa margem de poupança. Isto exige esforços para dar aos trabalhadores conhecimentos e comportamentos melhores, capazes de tornar o seu trabalho mais qualificado e mais produtivo; mas requer, também, uma vigilância assídua e adequadas medidas legislativas para truncar fenômenos vergonhosos de desfrute, com prejuízo, sobretudo, dos trabalhadores mais débeis, imigrantes ou marginalizados. Decisiva, neste setor, é a função dos sindicatos, que ajustam os mínimos salariais e as condições de trabalho.

 

É necessário garantir o respeito de horários «humanos» de trabalho e de repouso, bem como o direito de exprimir a própria personalidade no lugar de trabalho, sem serem violados, seja de que modo for, a própria consciência ou dignidade. Faz-se apelo, de novo, aqui, ao papel dos sindicatos não só como instrumentos de contratação, mas também como «lugares» de expressão da personalidade dos trabalhadores: aqueles servem para o desenvolvimento de uma autêntica cultura do trabalho e ajudam os trabalhadores a participar de modo plenamente humano na vida da empresa.

 

O ódio e a injustiça só se apoderam de Nações inteiras e fazem-nas entrar em ação, quando são legitimados e organizados por ideologias que se fundamentam mais naqueles do que na verdade... [Na Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: Pela relevância pública do Evangelho e da fé e pelos efeitos perversos da injustiça, vale dizer, do pecado, a Igreja não pode ficar indiferente às vicissitudes sociais: Compete à Igreja anunciar sempre e por toda parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas.]

 

Uma corrida louca aos armamentos absorve os recursos necessários para um equilibrado progresso das Economias internas e para auxílio às Nações mais desfavorecidas. O progresso científico e tecnológico, que deveria contribuir para o bem-estar do homem, acaba transformado em um instrumento de guerra: ciência e técnica são usadas para produzir armas cada vez mais aperfeiçoadas e destrutivas, enquanto a uma ideologia, que não passa de uma perversão da autêntica filosofia, se pede que forneça justificações doutrinais para a guerra. E esta não é apenas temida e preparada, mas é combatida, com enorme derramamento de sangue, em várias partes do mundo. A lógica dos blocos ou impérios, já denunciada nos diversos Documentos da Igreja, sendo o mais recente a 'Encíclica Sollicitudo Rei Socialis', faz com que todas as controvérsias e discórdias, que surgem nos países do Terceiro Mundo, sejam sistematicamente incrementadas e aproveitadas para criar dificuldades ao adversário.

 

Sobre todo o mundo grava a ameaça de uma guerra nuclear, capaz de levar à extinção da Humanidade. A ciência, usada para fins militares, pôs à disposição do ódio, incrementado pelas ideologias, o instrumento decisivo. Mas a guerra pode terminar sem vencedores nem vencidos, em um suicídio da Humanidade, e, então, é necessário rejeitar a lógica que a ela conduz, ou seja, a idéia de que a luta pela destruição do adversário, a contradição e a própria guerra são fatores de progresso e de avanço da história. Quando se compreende a necessidade dessa rejeição, devem necessariamente entrar em crise quer a lógica da «guerra total» quer a da «luta de classes».

 

As Nações Unidas ainda não conseguiram construir instrumentos eficazes, alternativos à guerra, na solução dos conflitos internacionais, e este parece ser o problema mais urgente que a comunidade internacional tem para resolver.

 

A verdadeira causa das mudanças está no vazio espiritual provocado pelo ateísmo, que deixou as jovens gerações privadas de orientação, e induziu-as, em diversos casos, devido à irreprimível busca da própria identidade e do sentido da vida, a redescobrir as raízes religiosas da cultura das suas Nações e a própria Pessoa de Cristo, como resposta existencialmente adequada ao desejo de bem, de verdade e de Vida que mora no Coração de cada homem. Esta procura encontrou guia e apoio no testemunho de quantos, em circunstâncias difíceis e até na perseguição, permaneceram fiéis a Deus. O Marxismo tinha prometido desenraizar do Coração do homem a necessidade de Deus, mas os resultados demonstram que não é possível consegui-lo sem desordenar o próprio Coração.

 

Não é lícito, do ponto de vista ético nem praticável, menosprezar a natureza do homem, que está feito para a liberdade. Na sociedade onde a sua organização reduz arbitrariamente ou até suprime a esfera em que a liberdade legitimamente se exerce, o resultado é que a vida social progressivamente se desorganiza e definha.

 

O homem tende para o bem, mas é igualmente capaz do mal. Pode transcender o seu interesse imediato, e, contudo, permanecer ligado a ele. A ordem social será tanto mais sólida, quanto mais tiver em conta este fato e não contrapuser o interesse pessoal ao da sociedade no seu todo, mas procurar modos para a sua coordenação frutuosa.

 

Qualquer sociedade política, que possui a sua própria autonomia e as suas próprias leis, nunca poderá ser confundida com o Reino de Deus. A parábola evangélica da boa semente e do joio (cf. Mt. XIII, 24-30 e 36-43) ensina que apenas a Deus compete separar os filhos do Reino e os filhos do Maligno, e que o julgamento terá lugar no fim dos tempos. Pretendendo antecipar o Juízo para agora, o homem substitui-se a Deus e opõe-se à Sua paciência.

 

São necessários passos concretos para criar ou consolidar estruturas internacionais, capazes de intervir em uma arbitragem conveniente dos conflitos que se levantam entre as Nações, de modo que cada uma delas possa fazer valer os próprios direitos e alcançar um acordo justo e a pacífica composição com os direitos das outras. Tudo isto se mostra particularmente necessário nas Nações européias, unidas intimamente entre si pelo vínculo da cultura comum e da história milenária. Impõe-se um grande esforço para a reconstrução moral e econômica dos países que abandonaram o Comunismo. Durante muito tempo, as relações econômicas mais elementares foram distorcidas, e virtudes fundamentais ligadas ao setor da Economia, tais como a veracidade, a confiança e a laboriosidade foram descuradas. É preciso uma paciente renovação material e moral, enquanto os povos, esgotados por longas privações, pedem aos seus governantes resultados tangíveis e imediatos de bem-estar e satisfação adequada das suas legítimas aspirações.

 

Os pobres pedem o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho, criando, assim, um mundo mais justo e mais próspero para todos. A elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural e até econômico da Humanidade inteira. [Na Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: É necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida.]

 

O progresso não deve ser entendido de modo exclusivamente econômico, mas num sentido integralmente humano. Não se trata apenas de elevar todos os povos ao nível que hoje gozam somente os países mais ricos, mas de construir no trabalho solidário uma vida mais digna, de fazer crescer efetivamente a dignidade e a criatividade de cada pessoa, a sua capacidade de corresponder à própria vocação e, portanto, ao apelo de Deus. No ponto máximo do desenvolvimento, está o exercício do direito-dever de procurar Deus, de O conhecer e viver segundo tal conhecimento. Nos regimes totalitários e autoritários, foi levado ao extremo o princípio do primado da força sobre a razão. O homem foi obrigado a suportar uma concepção da realidade imposta pela força, e não conseguida através do esforço da própria razão e do exercício da sua liberdade. É necessário abater aquele princípio e reconhecer integralmente os direitos da consciência humana, apenas ligada à verdade, seja natural ou revelada. No reconhecimento destes direitos, está o fundamento principal de toda a ordenação política autenticamente livre. É importante reafirmar este princípio, por vários motivos:

a) porque as antigas formas de totalitarismo e de autoritarismo não foram ainda completamente debeladas, existindo mesmo o risco de ganharem de novo vigor: isto apela a um renovado esforço de colaboração e de solidariedade entre todos os países;

b) porque nos países desenvolvidos, às vezes, é feita uma excessiva propaganda dos valores puramente utilitários, com uma solicitação desenfreada dos instintos e das tendências ao prazer imediato, o que torna difícil o reconhecimento e o respeito da hierarquia dos verdadeiros valores da existência humana;

c) porque, em alguns Países, emergem novas formas de fundamentalismo religioso que, velada ou até abertamente, negam aos cidadãos de crenças diversas daquela da maioria o pleno exercício dos seus direitos civis ou religiosos, impedem-nos de entrar no debate cultural, restringem à Igreja o direito de pregar o Evangelho e o direito dos ouvintes dessa pregação, de a acolher e de se converterem a Cristo. Não é possível qualquer progresso autêntico sem o respeito do direito natural e originário mais basilar: o de conhecer a verdade e viver nela. A este direito está ligado, como seu exercício e aprofundamento, o direito de descobrir e de escolher livremente Jesus Cristo, que é o verdadeiro bem do homem. [Sim, Jesus Cristo é o verdadeiro bem do homem; mas não é exclusivo.]

 

A Terra não dá os seus frutos sem uma peculiar resposta do homem ao dom de Deus, isto é, sem o trabalho: é mediante o trabalho que o homem, usando da sua inteligência e da sua liberdade, consegue dominá-la e estabelecer nela a sua digna morada. Deste modo, ele se apropria de uma parte da Terra, adquirida precisamente com o trabalho. Está aqui a origem da propriedade individual. Obviamente, o homem tem também a responsabilidade de não impedir que os outros homens tenham igualmente a sua parte no dom de Deus; pelo contrário: deve cooperar com eles para conjuntamente dominarem toda a Terra... O trabalho é tanto mais fecundo e produtivo quanto mais o homem é capaz de conhecer as potencialidades criativas da Terra e de ler profundamente as necessidades do outro homem, para o qual é feito o trabalho.

 

A moderna Economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se exprime no campo econômico e em muitos outros campos. A Economia, de fato, é apenas um setor da multiforme atividade humana, e nela, como em qualquer outro campo, vale o direito à liberdade, da mesma forma que o dever de a usar responsavelmente. Mas é importante notar a existência de diferenças específicas entre essas tendências da sociedade atual e as do passado, mesmo se recente. Se outrora o fator decisivo da produção era a terra e mais tarde o Capital, visto como o conjunto de maquinaria e de bens instrumentais, hoje o fator decisivo é cada vez mais o próprio homem, isto é, a sua capacidade de conhecimento que se revela no saber científico, a sua capacidade de organização solidária, a sua capacidade de intuir e de satisfazer a necessidade do outro. [Na Encíclica Quadragesimo Anno, o Papa Pio XI escreveu: É coisa manifesta, como nos nossos tempos não só se amontoam riquezas, mas acumula-se um poder imenso e um verdadeiro despotismo econômico nas mãos de poucos, que as mais das vezes não são senhores, mas simples depositários e administradores de capitais alheios, com que negociam a seu talante. Este despotismo torna-se intolerável naqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro, são também senhores absolutos do crédito, e, por isto, dispõem do sangue de que vive toda a Economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que ela não pode respirar sem sua licença.]

 

O maior problema do desenvolvimento dos países mais pobres parece ser a obtenção de acesso eqüitativo ao mercado internacional, não fundado sobre o princípio unilateral do aproveitamento dos recursos naturais, mas sobre a valorização dos recursos humanos... Aspectos típicos do Terceiro Mundo emergem também nos países desenvolvidos, onde a transformação incessante das modalidades de produção e de consumo desvaloriza certos conhecimentos já adquiridos e capacidades profissionais consolidadas, exigindo um esforço contínuo de requalificação e atualização. Aqueles que não conseguem acompanhar os tempos podem facilmente ser marginalizados; juntamente com eles são-no os anciãos, os jovens incapazes de se inserirem na vida social e, de um modo geral, os sujeitos mais débeis e o denominado Quarto Mundo. Nestas condições, também a situação da mulher se apresenta muito difícil.

 

É estrito dever de justiça e verdade impedir que as necessidades humanas fundamentais permaneçam insatisfeitas e que pereçam os homens por elas oprimidos. Além disso, é necessário que estes homens carecentes sejam ajudados a adquirir os conhecimentos, a entrar no círculo de relações, a desenvolver as suas aptidões, para melhor valorizar as suas capacidades e recursos. Ainda antes da lógica da comercialização dos valores equivalentes e das formas de justiça, que lhe são próprias, existe algo que é devido ao homem porque é homem, com base na sua eminente dignidade. Esse algo que é devido comporta inseparavelmente a possibilidade de sobreviver e de dar um contributo ativo para o bem comum da Humanidade.

 

É correto falar de luta contra um sistema econômico, visto como método que assegura a prevalência absoluta do Capital, da posse dos meios de produção e da terra, relativamente à livre subjetividade do trabalho do homem. Nesta luta contra um tal sistema, não se veja, como modelo alternativo, o sistema socialista, que, de fato, não passa de um Capitalismo de Estado, mas uma sociedade do trabalho livre, da empresa e da participação. Esta não se contrapõe ao livre mercado, mas requer que ele seja oportunamente controlado pelas forças sociais e estatais, de modo a garantir a satisfação das exigências fundamentais de toda a sociedade.

 

A Igreja reconhece a justa função do lucro, como indicador do bom funcionamento da empresa: quando esta dá lucro, isso significa que os fatores produtivos foram adequadamente usados e as correlativas necessidades humanas devidamente satisfeitas. [Será que isto é mesmo assim? Penso que não. Não há um beócio na Terra que não saiba que quando alguém lucra (lucro, entre tantos outros, por exemplo, como um overhead), que quando alguém ganha, alguém obrigatoriamente perde (ou perde imediatamente ou perde um pouco mais adiante). A mais-valia (absoluta ou relativa) é exatamente isto, ou seja: por definição, é o aumento do valor de um bem ou de uma renda, após a sua avaliação ou aquisição, em virtude de fatores econômicos que independem de qualquer transformação intrínseca desse bem ou dessa renda; é o aumento do valor de um bem em razão de melhoria ou benfeitoria que lhe foi introduzida. Karl Marx definia mais-valia como a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no Sistema Capitalista. Logo, salvo melhor juízo, tudo isto está inteiramente em desacordo com os Princípios pregados por Jesus, que se teve alguma coisa, foi tão-só a roupa que vestia. O homem só será realmente livre quando não precisar e não quiser mais nada. Enquanto lutar para obter ou para acumular, mesmo que licitamente, será prisioneiro de seus quereres. Quando Jesus estava construindo seu Ministério, disse: — Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Ora, ou pescadores de homens ou pilhantes de homens; ou lucratividade ou solidariedade; ou espiritualidade ou mundanidade; ou sim ou sopas.]

 

Um exemplo flagrante de consumo, contrário à saúde e à dignidade do homem, certamente difícil de ser controlado, é o da droga. A sua difusão é índice de uma grave disfunção do sistema social, e subentende igualmente uma «leitura» materialista, em certo sentido, destrutiva das necessidades humanas. Deste modo, a capacidade de inovação da livre Economia termina atuando de modo unilateral e inadequado. A droga, como também a pornografia e outras formas de consumismo, explorando a fragilidade dos débeis, tentam preencher o vazio espiritual que se veio a criar.

 

Na raiz da destruição insensata do ambiente natural, há um erro antropológico, infelizmente muito espalhado no nosso tempo. O homem, que descobre a sua capacidade de transformar e, de certo modo, criar o mundo com o próprio trabalho, esquece que este se desenrola sempre sobre a base da doação originária das coisas por parte de Deus. Pensa que pode dispor arbitrariamente da Terra, submetendo-a sem reservas à sua vontade, como se ela não possuísse uma forma própria e um destino anterior que Deus lhe deu, e que o homem pode, sim, desenvolver, mas não deve trair. Em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e, deste modo, acaba por provocar a revolta da Natureza, mais tiranizada do que por ele governada.

 

A família é o santuário da vida. De fato, ela é sagrada. É o lugar onde a vida – dom de Deus – pode ser convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode se desenvolver segundo as exigências de um crescimento humano autêntico. Contra a denominada cultura da morte, a família constitui a sede da cultura da vida.

 

A liberdade econômica é apenas um elemento da liberdade humana. Quando aquela se torna autônoma, isto é, quando o homem é visto mais como um produtor ou um consumidor de bens do que como um sujeito que produz e consome para viver, então ela perde a sua necessária relação com a pessoa humana e acaba por a alienar e oprimir.

 

É tarefa do Estado prover a defesa e a tutela de certos bens coletivos como o ambiente natural e o ambiente humano, cujas salvaguardas não podem ser garantidas pos simples mecanismos de mercado. Como nos tempos do antigo Capitalismo, o Estado tinha o dever de defender os direitos fundamentais do trabalho; assim, diante do novo Capitalismo, ele e toda sociedade têm a obrigação de defender os bens coletivos que, entre outras coisas, constituem o enquadramento dentro do qual cada um poderá conseguir legitimamente os seus fins individuais.

 

Alienado é o homem que se recusa a se transcender a si próprio e a viver a experiência do dom de si e da formação de uma autêntica comunidade humana, orientada para o seu destino último, que é Deus. Alienada é a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana.

 

Uma autêntica Democracia só é possível em um Estado de direito e sobre a base de uma reta concepção da pessoa humana. Aquela exige que se verifiquem as condições necessárias à promoção quer dos indivíduos através da educação e da formação nos verdadeiros ideais, quer da «subjetividade» da sociedade mediante a criação de estruturas de participação e de co-responsabilidade. Hoje, tende-se a afirmar que o agnosticismo e o relativismo cético constituem a filosofia e o comportamento fundamental mais idôneos às formas políticas democráticas, e que todos quantos estão convencidos de conhecer a verdade e firmemente aderem a ela não são dignos de confiança do ponto de vista democrático, porque não aceitam que a verdade seja determinada pela maioria ou seja variável segundo os diversos equilíbrios políticos. A este propósito, é necessário notar que, se não existe nenhuma verdade última que guie e oriente a ação política, então as idéias e as convicções podem ser facilmente instrumentalizadas para fins de poder. Uma Democracia sem valores converte-se facilmente em um totalitarismo aberto ou dissimulado, como a história demonstra.

 

Em um mundo sem verdade, a liberdade perde a sua consistência, e o homem acaba exposto à violência das paixões e a condicionalismos visíveis ou ocultos.

 

Para superar a mentalidade individualista hoje difundida, requer-se um concreto empenho de solidariedade e caridade que tem início no seio da família com o apoio mútuo dos esposos, e depois com os cuidados que uma geração presta à outra. Assim, a família se qualifica como comunidade de trabalho e de solidariedade. Acontece, porém, que, quando ela se decide a corresponder plenamente à própria vocação, pode encontrar-se privada do apoio necessário por parte do Estado, e não dispõe de recursos suficientes. É urgente promover não apenas políticas para a família, mas também políticas sociais, que tenham como principal objetivo a própria família, ajudando-a, mediante a atribuição de recursos adequados e de instrumentos eficazes de apoio, quer na educação dos filhos, quer no cuidado dos anciãos, evitando o seu afastamento do núcleo familiar e reforçando os laços entre as gerações.

 

A atenta e pressurosa solicitude em relação ao próximo, na hora da necessidade, facilitada hoje também pelos novos meios de comunicação que tornaram os homens mais vizinhos entre si, é particularmente importante quando se trata de encontrar os instrumentos de solução dos conflitos internacionais alternativos à guerra. Não é difícil afirmar que a terrível capacidade dos meios de destruição, acessíveis já às médias e pequenas potências, e a conexão cada vez mais estreita entre os povos de toda a Terra, torna muito difícil ou praticamente impossível limitar as conseqüências de um conflito.

 

O amor ao homem – e em primeiro lugar ao pobre, no qual a Igreja vê Cristo – concretiza-se na promoção da justiça. Esta nunca se poderá realizar plenamente se os homens não deixarem de ver no necessitado, que pede ajuda para a sua vida, um importuno ou um fardo, para reconhecerem nele a ocasião de um bem em si, a possibilidade de uma riqueza maior. Só esta consciência dará a coragem para enfrentar o risco e a mudança implícita em toda a tentativa de ir em socorro do outro homem. De fato, não se trata apenas de «dar o supérfluo», mas de ajudar povos inteiros, que dele estão excluídos ou marginalizados, a entrarem no círculo do desenvolvimento econômico e humano. [Na Rerum Novarum, escreveu o Papa Leão XIII: A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens, ávidos de ganância e de insaciável ambição. A tudo isto, deve ser acrescentado o monopólio do trabalho e dos papéis de crédito, que se tornaram um quinhão de um pequeno número de ricos e de opulentos, que impõe, assim, um julgo quase servil à imensa multidão dos operariados.]

 

O corpo já não é mais visto como uma realidade propriamente pessoal, um sinal, um lugar de relacionamento com os outros, com Deus e com o mundo. Foi reduzido ao puro materialismo: é apenas um complexo de órgãos, funções e energias a serem usadas unicamente de acordo com os critérios do prazer e da eficiência.

 

O Concílio Ecumênico Vaticano II quis ser um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo.

 

O Concílio Ecumênico Vaticano II constitui uma verdadeira profecia para a vida da Igreja; e continuará a sê-lo por muitos anos do Terceiro Milênio há pouco iniciado. A Igreja, enriquecida com as verdades eternas que lhe foram confiadas, ainda falará ao mundo, anunciando que Jesus Cristo é o único verdadeiro Salvador do mundo: ontem, hoje e sempre! [Que me perdoe o Santo Padre já falecido, que me perdoem os católicos. Mas eu jamais poderei concordar que Jesus Cristo é o único verdadeiro Salvador do mundo. Ora, se salvação houvesse, no sentido emprestado ao conceito pelos católicos, como classificar o esforço, por exemplo, de Akhnaton e de Buddha; de Louis-Claude de Saint-Martin e de Harvey Spencer Lewis; de Helena Petrovna Blavatsky e de Rudolf Steiner; de Ralph Maxwell Lewis e de Paramahansa Yogananda; de Max Heindel e de Chico Xavier; do Papa João XXIII e do próprio Papa João Paulo II?]

 

Não excluam Cristo da História!

 

A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta desde o momento da concepção. A partir do primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecido seus direitos de pessoa, entre os quais está o direito inviolável de todo ser inocente à vida. [Na Humanæ Vitæ, publicada em 25 de julho de 1968, escreveu o Papa Paulo VI: Em conformidade com estes pontos essenciais da visão humana e cristã do matrimônio, devemos, uma vez mais, declarar que é absolutamente de excluir, como via legítima para a regulação dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já iniciado, e, sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado, mesmo por razões terapêuticas... É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como da mulher... É, ainda, de excluir toda a ação que – ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação... Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas, ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes às funções geradoras, para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais que acabamos de recordar...]

 

Se Deus é brasileiro, então o Papa é carioca.

 

Que ninguém se iluda de que a simples ausência de guerra, mesmo sendo tão desejada, seja sinônimo de uma paz verdadeira. Não há verdadeira paz sem vir acompanhada de igualdade, de verdade, de justiça e de solidariedade.

 

Não há paz sem justiça;, não há paz sem perdão.

 

A fé e a razão (fides et ratio) são como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade. Deus colocou no Coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, definitivamente, de conhecê-Lo para que, conhecendo-O e amando-O, possa alcançar também a plena verdade sobre si mesmo.

 

A sexualidade, pela qual homem e mulher se dão mutuamente através de atos que são próprios e exclusivos de cônjuges, de modo algum é algo puramente biológico; mas diz respeito ao mais recôndito da pessoa humana como tal. Só se consuma de um modo inteiramente humano se fizer parte integral do amor através do qual um homem e uma mulher se comprometem totalmente um com o outro até a morte.

 

Acreditar na família é construir o futuro.

 

A Igreja condena como grave ofensa à dignidade e à justiça humana todas as atividades governamentais e de outras autoridades públicas no sentido de limitar, de qualquer modo, a liberdade dos casais de decidirem a respeito de terem filhos. Conseqüentemente, qualquer violência aplicada por tais autoridades em favor da contracepção ou, ainda pior, da esterilização e do aborto, deve ser condenada e fortemente rejeitada.

 

Tudo aquilo foi testemunho da graça divina... Agca sabia disparar bem, e disparou certamente para me eliminar. Mas foi como se alguém tivesse guiado e desviado aquela bala...

 

Estupidez também é um presente de Deus, mas não se pode abusar.

 

A ciência pode purificar a religião de erros e superstições. A religião pode purificar a ciência de idolatrias e erros absolutos.

 

Eu tenho um lado bom para músicas e canções. Esse é o meu pecado polonês.

 

A liberdade não consiste em fazer o que queremos, mas em ter o direito de fazer o que devemos.

 

A sociedade moderna não encontrará solução para o problema ecológico a menos que observe com seriedade os seus estilos de vida.

 

A Humanidade deve se questionar novamente sobre o absurdo e sempre injusto fenômeno da guerra, em cujo palco de morte e dor só permanece a mesa de negociações que poderia e deveria tê-la evitado.

 

A Organização das Nações Unidas declarou 1979 o Ano da Criança. Será a corrida armamentista uma herança necessária para passarmos às crianças? [O Papa João XXIII, conhecido como o Papa Bom, certa vez, em um discurso, falou: Quando vocês voltarem para casa, encontrarão suas crianças. Dêem a elas um carinho e digam: este é o carinho do Papa.]

 

 

 

 

Os jovens estão ameaçados pelo mau uso das técnicas de propaganda, que estimulam a inclinação natural deles para evitar o trabalho duro, ao prometer a satisfação imediata de cada desejo.

 

A ciência pode purificar a religião do erro e da superstição. A religião pode purificar a ciência da idolatria e dos falsos absolutos.

 

Uma nação que mata as suas próprias crianças é uma nação sem esperança.

 

Sobre o Holocausto: Neste local de lembrança solene, eu prego ferventemente que o nosso sofrimento com a tragédia que o povo judeu sofreu no século XX leve a uma nova relação entre cristãos e judeus... Vamos construir um novo futuro em que não haja mais sentimento antijudaico entre os cristãos ou sentimento anticristão entre os judeus, mas, sim, o respeito mútuo que se espera daqueles que adoram o único Criador e Pai, e que vêem Abraão como nosso pai comum da fé.

 

Queridos irmãos e irmãs: todos estamos ainda tristes com a morte do querido Papa João Paulo I. E agora os eminentíssimos Cardeais chamaram um novo Bispo de Roma. Chamaram-no de um país distante... Distante, mas sempre muito próximo pela comunhão na fé e na tradição cristã. Tive medo ao receber esta nomeação, mas o fiz com espírito de obediência a Nosso Senhor e com a confiança total na sua Mãe, a Virgem Santíssima.

 

Não sei se posso me expressar bem na vossa... na nossa língua italiana. Se eu errar, vocês me corrijam. E, assim, apresento-me diante de todos vocês, para confessar a nossa fé comum, a nossa esperança, a nossa confiança na Mãe de Cristo e na Igreja, e também para começar de novo a andar por este caminho da História e da Igreja, com a ajuda de Deus e com a ajuda dos homens.



Conselhos de João Paulo II:

1. O nascimento da nova Europa do espírito. Uma Europa fiel às suas raízes cristãs, não fechada sobre si mesma, mas aberta ao diálogo e à colaboração com os outros povos da Terra.

2. Desejo para cada um a paz que só Deus, por meio de Jesus Cristo, nos pode dar: a paz que é obra da justiça, da verdade, do amor, da solidariedade e da paz que os povos só atingem quando seguem os ditames da Lei de Deus – a paz que faz que os homens e os povos se sintam irmãos uns dos outros.

3. Os jovens estão chamados a serem os protagonistas dos novos tempos. Tenho plena confiança neles e estou certo de que têm a vontade de não defraudar nem a Deus, nem à Igreja, nem à sociedade da que provêm.

4. Quando falta o espírito contemplativo não se defende a vida e se degenera tudo o que é humano. Sem interioridade, o homem moderno põe em perigo a sua própria integridade.

5. Queridos jovens: ide com confiança ao encontro com Jesus! E, como os novos santos, não tenhais medo de falar dEle, pois Cristo é a resposta verdadeira a todas as perguntas sobre o homem e o seu destino. É preciso que vocês, jovens, se convertam em apóstolos dos seus coetâneos.

6. Surgirão outros frutos de santidade se as comunidades eclesiais mantiverem a sua fidelidade ao Evangelho que, de acordo com uma venerável tradição, foi pregado desde os primeiros tempos do Cristianismo e foi conservado através dos séculos. [Do Papa João XXIII: O Evangelho não muda; nós é que mudamos e aperfeiçoamos a nossa compreensão sobre ele.]

7. Recordai sempre que o distintivo dos cristãos é dar testemunho audaz e valente de Jesus Cristo, morto e ressuscitado pela nossa salvação.

 

Eu lhes rogo, queridos irmãos e irmãs, que não interrompam esta obra de amor pelo sucessor de São Pedro. Eu lhes peço mais uma vez: ajudem o Papa e a todos os que querem servir ao homem e à Humanidade inteira.

 

É o Amor que converte e dá paz!

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX. Ao longo do processo (que de acordo com alguns autores se registra até os nossos dias), a era agrícola foi superada, a máquina foi suplantando o trabalho humano, uma nova relação entre Capital e Trabalho se impôs, novas relações entre nações se estabeleceram e surgiu o fenômeno da cultura de massa, entre outros eventos. Essa transformação foi possível devido a uma combinação de fatores, como o Liberalismo Econômico, a acumulação de Capital e uma série de invenções, tais como o motor à vapor. O Capitalismo tornou-se o sistema econômico vigente. A primeira Revolução Industrial se caracterizou pelo avanço da mecanização. Já uma das marcas da segunda Revolução Industrial foi o crescimento da disponibilidade de aço. Pode-se, portanto, dizer que a energia elétrica está para a segunda Revolução Industrial assim como a máquina a vapor esteve para a primeira; e com a luz elétrica as taxas de lucratividade foram elevadas, permitindo o acelerado crescimento industrial.

2. Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente 'deixai fazer', 'deixai ir', 'deixai passar'. Esta frase é legendariamente atribuída ao comerciante Legendre, que a teria pronunciado em uma reunião com Colbert, no final do século XVII (— Que faut-il faire pour vous aider? — perguntou Colbert. — Nous laisser faire — teria respondido Legendre). Mas não resta dúvida de que o primeiro autor a usar a expressão laissez-faire, numa associação clara com sua doutrina, foi o Marquês de Argenson, por volta de 1751. A expressão refere-se a uma ideologia econômica que surgiu no século XVIII, no período do Iluminismo, através de Montesquieu, que defendia a existência do mercado livre nas trocas comerciais internacionais, ao contrário do forte protecionismo baseado em elevadas tarifas alfandegárias, típicas do período do mercantilismo.

3. Sobre o Papa João XXIII, disse o Papa João Paulo II: Do Papa João, permanece na memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços abertos em um abraço ao mundo inteiro. Quantas pessoas foram conquistadas pela simplicidade do seu ânimo, conjugada com uma ampla experiência de homens e de coisas! A rajada de novidade dada por ele não se referia decerto à doutrina, mas ao modo de a expor; era novo o estilo de falar e de agir, era nova a carga de simpatia com que se dirigia às pessoas comuns e aos poderosos da Terra.

4. Urbi et Orbi, ou seja 'à cidade (de Roma) e ao mundo', é a abertura padrão de proclamações papais, como as bênçãos, com as quais o Papa se dirige ao público em geral. A bênção ocorre, pelo menos, nas celebrações de Páscoa e Natal, na Praça de São Pedro.

 

Páginas da Internet e Websites consultados:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Jo%C3%A3o_XXIII

http://pt.wikipedia.org/wiki/Laissez-faire

http://www.ufv.br/DEE/evonir/46104.htm

http://www.ufv.br/dee/evonir/46103.htm

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C3%A7%C3%A3o_Industrial

http://gentedelisboa.blogspot.com/
2007/12/frica-europa-que-alternativa.html

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Quadragesimo_Anno

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Enc%
C3%ADclica_Rerum_Novarum

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http://www.presbiteros.com.br/doutrinasocial/A%20
DOUTRINA%20SOCIAL%20DA%20IGREJA.htm

http://v1.acton.org/por/pubs/index.php?article=12

http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0104.htm

http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?
doc=NOVIDADE1&id=ni11270

http://www.sacramusic.com/papa/

http://www.acidigital.com/juanpabloii/pensamento.htm

http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/
documents/hf_jp-ii_enc_01051991_centesimus-annus_po.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mais-valia

http://pt.wikipedia.org/wiki/papa_Jo%C3%A3o_Paulo_II

http://pt.wikiquote.org/wiki/papa_Jo%C3%A3o_Paulo_II

 

Fundo musical:

Ellens Dritter Gesang (Franz Peter Schubert)

Fonte:

http://www.damadanoite.adm.br/classicas.htm