Jorge
Luis Borges
(Fragmentos)
Jorge
Luis Borges
A
arte opta sempre pelo individual, o concreto; a arte não
é platônica.
Sempre
imaginei que o paraíso será uma espécie de
biblioteca.
Dá
o santo aos cães, atira tuas pérolas aos porcos; o
que importa é dar.
O
nacionalismo só permite afirmações, e toda
doutrina que descarte a dúvida, a negação,
é uma forma de fanatismo e de estupidez.
Lento
em minha sombra, com a mão exploro/Meus invisíveis
traços.
Parece-me fácil viver
sem ódio. Sem amor, acho impossível.
Publicamos para não
passar a vida a corrigir rascunhos. Quer dizer, a gente publica
um livro para se livrar dele.
De todos os instrumentos
do homem, o mais surpreendente é, sem dúvida nenhuma,
o livro.
Instantes
Se
eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima, trataria
de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito;
relaxaria mais. Seria mais tolo do que tenho sido; na verdade, bem
poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico;
correria mais riscos. Faria mais viagens, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde
nunca fui, tomaria mais sorvetes e comeria menos favas. Teria mais
problemas reais e menos problemas imaginários. Eu fui uma
dessas pessoas que viveram sensata e prolificamente cada minuto
de sua vida. Claro que tive momentos de alegria, mas se eu pudesse
voltar atrás, trataria de ter somente bons momentos. Porque,
se não sabem, disto é feita a vida: só de momentos.
Não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte
alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas. Se eu pudesse voltar a
viver, viveria mais descontraído. Se eu pudesse voltar a
viver, começaria a andar descalço no começo
da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria
mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria
mais com as crianças. Se eu tivesse outra vez uma vida pela
frente. Mas vejam: já tenho 85 anos e sei que estou morrendo.
[Na
verdade, a autoria do poema Instantes é questionada.]
Jorge
Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, Argentina,
24 de agosto de 1899 – Genebra, Suíça, 14 de
junho de 1986).