JARBAS VASCONCELOS
(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

Jarbas Vasconcelos

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Jarbas Vasconcelos tinha 12 anos quando ouviu do pai a frase que jamais esqueceria: — Nunca volte para casa com marcas de briga nem dizendo que achou dinheiro na rua. O menino, nascido e criado na Zona da Mata, como relata Augusto Nunes, entendeu o recado, mas assimilou a lição só pela metade. Agora com 65 anos, o Senador Jarbas Vasconcelos foi sempre um homem irretocavelmente honesto. Mas bom de briga também. Na década de 70, integrante do combativo grupo autêntico do velho MDB, o jovem deputado brigava pela restauração da Democracia no Brasil. As lembranças da guerra distendem o rosto sempre sóbrio, quase sisudo, do Senador pernambucano. Hoje, incorporado ao diminuto bloco dos decentes, Jarbas briga pela restauração da moralidade no Senado. Não posso deixar de comentar que a herança de qualquer ditadura é sempre corrupção, mandonismo, impunidade e desfaçatez. Lamentavelmente, o Brasil precisará, no mínimo, de uma geração para acertar o passo. Mas, para acertar, tudo vai depender de nós na hora de sufragar.

 

Enfim, é deste Senador da República – Jarbas Vasconcelos que este estudo trata. Garimpei aqui e ali algumas de suas reflexões e alguns de seus pensamentos. Concordar com estas reflexões e com estes pensamentos é o que menos importa; refletir sobre eles é o papel de todo brasileiro que não admite engolir prato feito e putrefeito, pestilencioso e sanioso. Como disse Jarbas, a mudança de postura que se faz necessária no Congresso Nacional só virá pela pressão de todos. Penso que, com os textos que tenho divulgado recentemente, eu esteja fazendo a minha parte.

 

 


 

 

 

Breve Biografia de Jarbas

 

 

 

Jarbas Vasconcelos

 

 

 

Jarbas de Andrade Vasconcelos (Vicência, 23 de agosto de 1942) é um advogado e político brasileiro. Na capital, deu início à sua vida escolar ingressando na Universidade Católica, em 1964, após dois anos servindo ao Exército. Uma vez no ambiente acadêmico, seguiu o rumo da militância política sendo um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no qual ingressou em 1966 e dois anos depois receberia o título de bacharel em Direito conciliando a advocacia e a política. Eleito deputado estadual em 1970 e deputado federal em 1974, preparou um ousado lance com vistas as eleições de 1978 quando foi candidato a Senador, disputando a vaga destinada à eleição pelo voto direto (a outra seria preenchida por meio de eleição indireta conforme emenda constitucional vigente) contra dois representantes da ARENA: Nilo Coelho, da sublegenda um e Cid Sampaio da sublegenda dois. Em uma eleição marcada por denúncias de irregularidades e cuja apuração se estendeu por quase um mês, o TRE divulgou o resultado dando vitória a Nilo Coelho, segundo o critério da sublegenda já que a sua votação e a de Cid Sampaio excediam a de Jarbas Vasconcelos por quase quarenta mil votos, embora o representante da oposição tenha sido o mais votado em termos individuais. O absurdo proporcionado por uma legislação eleitoral tão casuística repercutiu junto à grande imprensa, a ponto de a Folha de São Paulo estampar em manchete: Jarbas, o que perdeu mas ganhou. Extintos os cânones do bipartidarismo, Jarbas Vasconcelos ingressou no PMDB sendo reeleito deputado federal em 1982.

 

Na eleição de 1982, primeira direta para governador após o golpe militar de 1964, Jarbas Vasconcelos decide apoiar o Senador Marcos Freire. Pela primeira vez contraria o ex-governador Miguel Arraes, que gostaria de disputar o pleito como candidato a governador naquele ano. Miguel Arraes tinha sido o último governador eleito diretamente antes do golpe militar de 1964, tendo sido deposto e cassado depois disso, chegara do exílio em 1979 e ainda apresentava um forte legado popular, principalmente entre os trabalhadores rurais.

 

Jarbas Vasconcelos participou ativamente da campanha para as eleições democráticas à presidência da República – as Diretas Já, em 1984, porém não concordou com a eleição indireta à presidência, que ocorreu em 1985. No dia da eleição indireta, não compareceu ao Congresso Nacional, apesar de apoiar o candidato de seu partido, o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves. Este fato foi explorando intensivamente por seus adversário políticos nas eleições municipais de 1985. Jarbas Vasconcelos foi eleito Prefeito do Recife em 1985, nas primeiras eleições diretas para o cargo desde o fim do Regime Militar de 1964, entretanto seu triunfo foi precedido por um percalço que por pouco não inviabiliza a sua candidatura, já que fora derrotado pelo deputado federal Sérgio Murilo na convenção do PMDB e sem espaço na sua legenda buscou abrigo no PSB e formou a Frente Popular do Recife, uma coligação cujo esteio se baseava tanto em sua figura quanto no apoio da maior parte do PMDB e no apoio de legendas como o PT e o PC do B. Vitorioso nas urnas, retornou ao PMDB o mais rápido possível e ocupou a presidência nacional da legenda quando das eleições presidenciais de 1989, logo após findar o seu mandato de prefeito. Militante histórico da legenda, sua ascensão ao posto se deu em razão da candidatura de Ulysses Guimarães ao Palácio do Planalto. Candidato ao Governo do Estado em 1990, foi derrotado pelo candidato do PFL Joaquim Francisco, o mesmo que o antecedera na prefeitura e que derrotara seu candidato nas eleições municipais de 1988, quando retornou ao cargo pelo voto popular. Após essa eleição, rompe politicamente com Miguel Arraes por discordar de seu posicionamento durante o processo eleitoral. A imprensa local, na época, especulou que Jarbas Vasconcelos queria Arraes candidato a Senador em sua chapa, o que fortaleceria sua candidatura ao Governo estadual conquistando os votos dos simpatizantes de Miguel Arraes, que preferiu sair candidato à Câmara dos Deputados, para ampliar o número de parlamentares do PSB, partido ao qual se filiara ao deixar o PMDB. Em 1992, Jarbas Vasconcelos foi eleito para o seu segundo mandato como Prefeito do Recife, derrotando nomes como os de Eduardo Campos – o neto e herdeiro político de Miguel Arraes – e André de Paula, o candidato oficial do governador Joaquim Francisco. Em suas duas gestões como prefeito, Jarbas Vasconcelos incentivou um modelo de gestão com ampla participação da população através do programa Prefeituras nos Bairros. Muitos consideram esse programa como a base do orçamento participativo que seria implementado em muitos municípios do Brasil nas décadas seguintes.

 

Com Miguel Arraes de novo em evidência, as alianças políticas de Jarbas Vasconcelos se voltam para seus antigos adversários pefelistas, formando uma coligação partidária entre o PMDB e o PFL, chamada de União por Pernambuco. A nova coligação o consultou sobre uma possível candidatura ao Governo do Estado em 1994, porém o mesmo decide permanecer no cargo de prefeito. Nesta eleição, a União por Pernambuco lança o ex-governador e deputado federal Gustavo Krause que disputou a eleição pelo PFL, que perde a eleição para o ex-governador e deputado federal Miguel Arraes. Ciente quanto a necessidade de alterar os rumos do jogo político apóia a candidatura do também pefelista Roberto Magalhães à sua sucessão na prefeitura e assim mantém uma aliança com o então PFL (hoje DEM) nas eleições para o Governo do Estado tanto em 1998 (impedindo a reeleição de Arraes) quanto em 2002 (nesse ano chegou a ser cotado como candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, convite do qual declinou). Após sete anos no comando do Estado, renunciou ao mandato em 31 de março de 2006 para disputar, com sucesso, uma cadeira no Senado Federal. Apontado como a grande liderança política do Estado após a morte de Miguel Arraes em 2005, Jarbas Vasconcelos passou o Governo para Mendonça Filho que perdeu a reeleição para o então deputado federal Eduardo Campos. Este fato, bem como a perda da Prefeitura do Recife após as eleições do ano 2000 e a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2006, colocou o grupo político de Jarbas Vasconcelos na oposição aos dirigentes de Recife, do Estado de Pernambuco e também em relação à Presidência da República.

 

Jarbas Vasconcelos assumiu o cargo de Senador por Pernambuco no início de 2007 e se colocou no campo da oposição ao Governo Federal. No mesmo ano, se destacou como uma das principais lideranças políticas no senado, inclusive sendo uma das principais vozes a favor da renúncia ou cassação do mandato do Presidente do Senado, Renan Calheiros, que se envolveu em várias denúncias de corrupção. Mesmo não tendo tido êxito na tentativa de forçar a renúncia ou cassação do presidente, o movimento em prol pelo afastamento de Renan, acabou favorecendo positivamente a imagem de Jarbas Vasconcelos na opinião pública nacional.

 

No início de 2009, aceitou ser entrevistado pela revista Veja e expressou seu desencantamento com o PMDB e os rumos políticos dados pelo Governo do Presidente Lula. A entrevista teve grande repercussão política na imprensa nacional, uma vez que o Senador acusava seu próprio Partido de fazer parte de práticas de corrupção generalizadas com o Governo Federal.

 

 

 

 

Pensamentos e Reflexões Jarbianas

 

 

 

 

 

Jarbas Vasconcelos

 

 

 

O Presidente Lula está na contramão da sociedade ao defender a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado Federal: Um presidente da República que pensa única e exclusivamente em si mesmo e que subjugou, de maneira vexatória, seus companheiros, os Senadores do PT, que, majoritariamente, decidiram pelo afastamento do presidente Sarney e tiveram de voltar atrás, e, finalmente, o PMDB ou aquilo em que se transformou o partido de Ulysses Guimarães – mais preocupado em manter privilégios do que enfrentar os reais problemas de nosso País.

 

Que história é essa de o PMDB disputar Governo? Ele é Governo há dez anos, entra Governo, sai Governo... Não ocupa a cadeira que foi de FHC, que é de Lula, mas ocupa não sei quantas cadeiras ao redor dele.

 

Se alguém fala que o Senado está contaminado pela mediocridade e pela corrupção, eu não aceito nenhuma das duas carapuças.

 

 

 

 

Eu tento evitar misturar questão política com a questão pessoal. Mas, hoje, as pessoas não aceitam opinião contrária. Há uma tendência de criminalizar o exercício democrático da oposição. O atual Governo não se sente saciado com a maioria. O Governo quer a unanimidade. E eu concordo com Nelson Rodrigues de que toda unanimidade é burra.

 

O principal acerto do Governo Lula foi manter os preceitos da política econômica dos Governos Itamar e Fernando Henrique. Lula deixou de lado a política que o PT pregava antes de chegar ao poder. Teve sorte de pegar uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável, mas mesmo assim crescemos pouco. Na área social, começou com o Fome Zero, como viu que não daria certo, resolveu pegar os diversos programas sociais criados por FHC e apresentou o Bolsa-família. O maior erro do Governo Lula se deu na área política, em minha opinião. Nunca na história deste País, um presidente da República foi tão complacente e permissivo com as coisas erradas. Se quem cometeu o erro era da sua base política, Lula se apressava logo em relativizar a irregularidade, se apressava em dizer que sempre foi assim, que não era novidade. O fato de a corrupção sempre existir não quer dizer que a gente tenha de apoiar, de fazer vista grossa. Outro erro do Governo Lula foi o aparelhamento feito na máquina pública federal. Os petistas se encontram hoje infiltrados no setor público. Usam e abusam de recursos públicos e da estrutura de poder para cometer irregularidades as mais diversas. Daí o medo de que um candidato da oposição vença as eleições em 2010. Daí vem o terrorismo político, de que a oposição vai acabar o Bolsa-família, de que a oposição vai privatizar a Petrobrás, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Essas três empresas públicas têm uma longa história. São três patrimônios dos brasileiros. Existem para promover o desenvolvimento do País e não para servir aos interesses do PT e dos seus satélites – entre os quais, infelizmente, se encontra o PMDB. Quanto ao Bolsa-família, o programa será mantido. Em um país pobre como o Brasil, é necessária uma política compensatória. Tão necessária que começou a existir antes mesmo de o Lula virar presidente. O que vai deixar de existir é a manipulação política que existe no programa.

 

 

 

 

A Petrobras é uma empresa que vem obtendo resultados importantes há décadas. É uma empresa com um excelente quadro técnico. O ruim é quando o Governo tenta aparelhar, tenta influenciar politicamente e ideologicamente uma empresa pública. Mas Lula vive no palanque. Entra e sai eleição e ele mantém a mesma retórica palanqueira. Isto não é bom para o Governo e nem para a administração pública. Outra coisa: ele diz uma coisa numa semana e uma semana depois diz outra. Não importa para o Presidente a coerência e nem a conseqüência. O que importa é o discurso.

 

O exercício da política não pode ser transformado num balcão de negócios. O que se vê hoje em nosso País é um sentimento de descrença, com a impunidade corroendo as bases da Democracia.

 

Cobraram-me nomes, uma lista de políticos que não honram o
mandato popular conquistado. A meu ver, essa cobrança, em si, já é uma distorção do papel de um parlamentar, que deve ser o de lutar pela ética e por políticas públicas que façam o País avançar.

 

Sem infra-estrutura adequada, social e econômica, permaneceremos travados.

 

Acreditamos que tornar a educação o eixo primordial da ressocialização de presos e internados significará um grande avanço para o sistema prisional brasileiro. Haverá, assim, real possibilidade de retornar à sociedade cidadãos mais preparados, após a educação formal e profissional do preso. Por isso mesmo, a expectativa é que diminuam os índices de reincidência criminal.

 

A imprevisibilidade aludida pelo Presidente Lula não diz respeito ao Senado da República, mas sim ao seu projeto pessoal de continuidade no poder. Ele teme perder o domínio sobre a bancada do PMDB no Senado ameaça que, de forma sutil, foi levada por seus interlocutores.

 

Interferência de Lula no Senado: Uma ingerência sem limites vista anteriormente apenas durante a ditadura militar. Interveio para impor a permanência do Presidente Sarney. Constrangendo e ameaçando seus próprios partidários, decidiu que, contra todos os fatos, irá impor sua vontade imperial, sustentando um Presidente do Senado que não tem apoio interno para permanecer no cargo, um presidente que se transformou em uma rara unanimidade negativa frente à opinião pública.

 

Reforma Política: Engodo. Enganação. Isso só contribuirá para o aumento do desgaste pelo qual o Poder Legislativo passa desde o início do ano. É vergonhoso chamar esse arremedo de Reforma Política... Nos últimos anos, a Câmara se transformou, de forma assustadora, no cemitério da Reforma Política.... Para Jarbas, o financiamento público isolado significa jogar dinheiro fora colocar recursos públicos nas eleições sem uma contrapartida de mudanças na forma como os partidos se organizam... Jarbas Vasconcelos afirmou que não existe nenhum sistema melhor de representação parlamentar do que o voto distrital misto, pois ele consegue reunir as vantagens da eleição proporcional e da eleição majoritária.

 

Ao defender a instalação da CPI da Petrobras e rebater as críticas que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez à bancada de oposição no Senado Federal: O Governo precisa respeitar o papel da oposição. Se o Governo não cumpriu suas obrigações de administrar com correção e honestidade, a oposição tem a função de exercer seu papel fiscalizador. Sem medo de cara feia ou de ameaças. O Poder Legislativo é tão soberano quanto o Executivo. A oposição não vai compactuar com as irregularidades do Governo.

 

Sobre a proposta de um terceiro mandato para o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: É um golpe. O mais chocante de tudo isso é que a ressurreição do terceiro mandato chega na hora em que o Congresso Nacional enfrenta a maior crise de credibilidade da sua história... Os motivos que movem os que defendem esta iniciativa, para mim, são muito claros, e vão na direção do que venho afirmando reiteradamente. Estes senhores defendem, antes de qualquer coisa, seus próprios interesses; não pensam no Brasil. Pensam em se perpetuar no poder, usufruir eternamente de todas as benesses que isso possa significar.

 

Seria muito ruim para o Brasil se prosperasse essa ideia de um terceiro mandato para o presidente Lula. É ridícula a justificativa da popularidade para manter alguém no poder. Se for assim, trazemos de volta a Monarquia. A Democracia implica em alternância no poder. Se for aprovado um terceiro mandato, o que impediria um quarto, um quinto mandato?

 

O nível da tirania cresce quase sempre com a complacência dos atores da cena política.

 

 

 

 

A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do Senador José Sarney.

 

Eu entrei no MDB para combater a ditadura. O Partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um Partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

 

O nível dos debates aqui no Senado é inversamente proporcional à preocupação com benesses. É frustrante.

 

A maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os Governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.1

 

Quando Lula foi eleito, em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o Governo; mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade em promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez a reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então, eu acho que foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.

 

O 'marketing' de Lula mexe com o país. Ele optou pelo assistencialismo, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa-família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo. O Bolsa-família produz um benefício imediato e uma conseqüência futura nefasta, pois o Programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo Programa deixam o trabalho de lado; preferem viver de assistencialismo. Há um restaurante que eu freqüento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada, cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Este é um dos retratos do Bolsa-família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social permanece.

 

Eu fui oposição ao Governo Militar como deputado e me lembro de que o general Médici também era endeusado no Nordeste. Se Lula criou o Bolsa-família, naquela época havia o Funrural, que tinha o mesmo efeito. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura por isso. A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição. Temos aqui trinta Senadores contrários ao Governo. Sempre defendi que cada um de nós fiscalizasse um setor importante do Governo. Olhasse com lupa o Banco do Brasil, o PAC, a Petrobras, as licitações, o Bolsa-família, as pajelanças e as bondades do Governo. Mas ninguém faz nada. Na única vez em que nos organizamos, derrotamos a CPMF. Não é uma batalha perdida, mas a oposição precisa ser mais efetiva. Há um diagnóstico claro de que o Governo é medíocre e está comprometendo nosso futuro. A oposição tem de mostrar isto à população.

 

A classe política, hoje, é totalmente medíocre. E não é só em Brasília. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais também fazem o mais fácil, apelam para o clientelismo. Na política brasileira de hoje, em vez de se construir uma estrada, apela-se para o atalho. É mais fácil.

 

Já discursei num comício sem ninguém na platéia. Ninguém.

 

Um político sem partido é um homem sem direção.

 

Lula nunca tem nada a ver com nenhum problema; só é responsável por êxitos eventuais. Nos momentos de crise, Lula fala como se fosse o líder da oposição ou um brasileiro comum.

 

O assistencialismo rende votos, mas piora o Brasil e os brasileiros.

 

O pensamento típico do servidor desonesto é: 'Se o PT, que é o PT, mete a mão, por que eu não vou roubar?'. Sofri isto na pele quando governava Pernambuco.

 

A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema.

 

O grande mérito de Lula foi não ter mexido na Economia. Mas foi só. O País não tem infra-estrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do Governo é outra piada de mau gosto. Um Governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infra-estrutura, agora, tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um Governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do País. Não é à-toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do Governo dele leva a isto.

 

No sistema parlamentarista, o chefe do Governo permanece na função enquanto goza de respaldo político, e a lógica também funciona no caminho contrário: o Governo cai quando perde o respaldo popular.2

 

Como que ungido por uma força sobrenatural, o Presidente Lula planejou em detalhes todos os eventos políticos para os próximos meses, para que, ao final, eleja como sucessora na Presidência a sua candidata, a Ministra Dilma, de preferência de forma consagradora, não para ela, mas para si próprio. Nosso Presidente não tem pudor algum; tudo fará para permanecer no poder, inclusive comprometer seus correligionários e destruir o que ainda resta de dignidade no Congresso Nacional, especialmente no Senado Federal. Não tem compromisso com nada e com ninguém, a não ser consigo mesmo. Deslumbrado pelo poder e pelos índices de aprovação de seu Governo, considera-se acima das instituições.

 

A soberania popular não pode se basear na mera autoridade do número, pois a maioria é tão arbitrária quanto o arbítrio individual. A soberania não pode ser senão a soberania do Direito, de uma ordem jurídica racionalmente organizada. (Norberto Bobbio3, apud Jarbas Vasconcelos).

 

A verdade é sempre inconveniente para quem vive da mentira, da farsa e é beneficiário dessa realidade perversa.

 

Desconfio daqueles que querem sempre pairar acima dos demais.

 

O exercício da política não comporta espectadores. Quem não faz política verá outros fazê-la em seu lugar, para o bem e para o mal.

 

Tenho ojeriza à passividade e à omissão.

 

A população que paga seus impostos não compreende o porquê da disputa ferrenha entre grupos partidários, sempre envolvendo empresas de orçamentos bilionários.

 

O exercício da política não pode ser transformado em um balcão de negócios. O que se vê hoje, no nosso País, é um sentimento de descrença, com a impunidade corroendo as bases da Democracia. O poder pelo poder leva ao quadro político degenerado que hoje vivemos no nosso País, no qual a esperteza é mais valorizada do que a inteligência e a correção ética.

 

Uma reforma política séria deve, em minha opinião, incluir e aprovar pelo menos quatro pontos: 1º) Financiamento público de campanha; 2º) Fidelidade partidária; 3º) Fim das coligações em eleições proporcionais; e 4º) Implantação da cláusula de desempenho. O financiamento público de campanha é indispensável para evitar a interferência cada vez maior do poder econômico, que corrompe o processo eleitoral. A fidelidade partidária, por sua vez, é um instrumento para impedir o degradante festival de adesões fisiológicas. Não condeno quem esteja insatisfeito num lugar e queira ir para outro. Mas, no caso dos partidos políticos, isso deve ser a exceção e não a regra, que tem prevalecido há alguns anos. De todas as medidas de uma reforma política séria e objetiva, talvez a única que obteria um resultado extraordinário isoladamente é a proibição das coligações nas eleições proporcionais. Essas coligações são uma deformidade existente apenas no Brasil, onde se vota em Jose e se elege João.

 

A classe política – se tivesse bom senso – deveria ficar a quilômetros de distância de qualquer diretoria financeira.

 

No Brasil dos dias atuais, a certeza da impunidade dá uma força muito grande a quem não agiu com lisura e correção. As pessoas se agarram aos cargos como um marisco no casco de um navio – não caem nem nas maiores tempestades. A corrupção é um fator de desagregação política e social. Ela conduz ao desgaste e enfraquece profundamente a legitimidade do poder constituído.

 

Sugestões à Frente Parlamentar Anticorrupção: 1ª) criação de uma agência anticorrupção, com participação do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União e de representantes da sociedade civil, para detalhar um Plano Nacional Anticorrupção; e 2ª) retomada do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que pretende acompanhar, junto aos Tribunais Regionais Eleitorais e ao Tribunal Superior Eleitoral, todos os processos relativos às denúncias de compra de votos e uso eleitoral da máquina administrativa.

 

Seja qual for o desfecho da atual crise econômica mundial, o rescaldo vai existir, mas não sei o tamanho dele. O Brasil perdeu uma oportunidade rara de ter feito um investimento quando o contexto internacional assim permitia, para, agora, com esta crise, ter dificuldade de fazer isso.

 

Não tenho mais nenhuma vontade de disputar cargos. Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência. Se ele ganhar, vou me dedicar a reformas essenciais, principalmente a política, que é a mãe de todas as reformas. Mas não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes. Não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o Governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao Governo e me submeter a tudo isso que critico.4

 

A mudança de postura que se faz necessária no Congresso Nacional só virá pela pressão de todos.

 

O meu PMDB é decente, correto, sem safadezas.

 

 

 

 






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Notas:

1. A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos dos demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública – disse Ulysses Guimarães em seu discurso de 5 de outubro de 1988, ao promulgar a nova Constituição. Afirmou ainda: A Federação é a governabilidade. A governabilidade da Nação passa pela governabilidade dos Estados e dos Municípios. O desgoverno, filho da penúria, de recursos, acende a ira popular, que invade primeiro os paços municipais, arranca as grades dos palácios e acabará chegando à rampa do Palácio do Planalto.

2. Não consigo tomar partido por um sujeito, por um partido, por uma classe, por um país, por um filósofo ou mesmo por uma filosofia, por um poeta, por uma escola literária, por um regime político. Tenho horror ao um... (Alceu Amoroso Lima). Com todo respeito por Alceu, ter horror ao um eu também tenho, quando ele é retrógrado e sombrosamente esquerdificante. Mas, para que o UM se faça ou que tenha uma possibilidade de encaminhamento no sentido de se fazer, é exatamente com, no e sobre o um que se deve trabalhar. Eu sei que Alceu fez isto em toda a sua vida; o comentário é apenas genérico.

3. Norberto Bobbio (Turim, 18 de outubro de 1909 – Turim, 9 de janeiro de 2004) foi um filósofo político, historiador do pensamento político e Senador vitalício italiano.

4. Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado! (Rui Barbosa).

 

Páginas da Internet acessadas:

http://resumopolitico.blogspot.com/2009/07
/jarbas-vasconcelos-detona-renan-e.html

http://tocadasanta1.blogspot.com/2009/
03/veja-integra-do-discurso-de-jarbas.html

http://tribunapopular.wordpress.com

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jarbas_Vasconcelos

http://www.prosaepolitica.com.br/index.php?id=7662

http://robertoleite.assisfonseca.com.br/?p=240

http://durodrigues.wordpress.com/2009/07/10/
frases-a-perniciosa-relacao-de-jose-sarney-e-lula/

http://www.jornaldamidia.com.br/

http://www.cristovam.org.br/index2.php?
option=com_content&do_pdf=1&id=2570

http://video.aol.fr/video-detail/jarbas-vasconcelos-
comenta-efeitos-da-crise-financeira/4147573177

http://www.jorgetaleb.com.br/index.php?itemid=2629

http://colunas.g1.com.br/cristianalobo/2006/
11/30/tres-perguntas-a-jarbas-vasconcelos/

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
post.asp?cod_Post=161568&a=113

http://www.direito2.com.br/asen/2007/mar/1/jarbas-vasco
ncelos-analisa-conjuntura-nacional-e-declara-oposicao

http://tribunapopular.wordpress.com/

http://veja.abril.com.br/180209/entrevista.shtml

http://www.senado.gov.br/web/
senador/jarbasvasconcelos/index.asp

 

Fundo Musical:

Boneca Cobiçada (Biá & Bolinha)

Fonte:

http://www.beakauffmann.com/mpb_b.html