Jan Van Ruysbroeck

Jan Van Ruysbroeck

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo tem por objetivo apresentar para reflexão alguns pensamentos de Jan Van Ruysbroeck – chamado o Admirável e a Jóia de Bruxelas – um místico que viveu uma vida gentil e amigável, ensinando uma mensagem de grande dificuldade, precisamente porque era simples e sem qualificação. Embora suspeito de heresia e de panteísmo, Ruysbroeck entrou na mesma linha sagrada de heróis espirituais que oferecem ajuda e esperança a todos os seres humanos. Seja como for, Ruysbroeck admitia que Cristo é nosso noivo e Ele nos convida a vir a Ele.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Jan van Ruysbroeck nasceu em 1293 ou 1294, próximo a Bruxelas, ordenando-se padre em 1317. Avesso à degradação corrente no meio eclesial, formou com dois companheiros uma comunidade longe de Bruxelas, onde esperava se manter afastado das atividades sociais. Bem sucedido em sua empreitada, contou com novos adeptos, acabando por regularizar seu modo de vida adotando a Regra Agostiniana.

 

Sob sua influência, a comunidade cresceu e se tornou ponto de peregrinação, tendo sido visitada por Johannes Tauler e Gerard Groote, fundador da Fraternidade da Vida Comum, congregação que teria influência sobre Erasmus e Lutero, difundindo a chamada Devotio Moderna (a Devoção Moderna antecipou e acompanhou os movimentos de Reforma do século XVI – um Cristianismo simples, generoso e tolerante, que não se afastava da ortodoxia), que encontrou expressão maior em Tomás de Kempis, na Imitação de Cristo.

 

Ruysbroeck continuou sua obra escrita, no seio da comunidade, depois de já ter escrito em Bruxelas seu famoso Bodas Espirituais. Escreveu vários tratados espirituais em flamengo, que foram mais tarde traduzidos para o latim por Laurentius Surius.

 

Em suas obras seguiu sempre a idéia de uma divisão tripartite da espécie humana e do caminho espiritual, também em três estágios. O primeiro estágio, Vida Ativa, correspondendo ao homem exterior, volta-se para atos de virtude e boas obras. O segundo estágio, Vida Interior, é mais devocional e voltado para amar a Deus e para os movimentos da vida interior da graça. O terceiro estágio, Vida Contemplativa, dirige-se segundo o fluxo e os ritmos da Trindade.

 

Sorrindo, Ruysbroeck passou sem sofrimento para a existência desencarnada, com a idade de 88 anos, em 2 de dezembro de 1381.

 

 

 

Pensamentos Ruysbroeckianos

 

 

 

Minhas palavras podem ser estranhas, mas aqueles que amam entendem.

 

 

Sursum Corda!

 

Você será tão santo tanto quanto você desejar ser!

 

A boa vontade é o fundamento de todas as virtudes.

 

O primeiro fruto que nasce da boa vontade é a pobreza voluntária, que é o segundo degrau na escada da vida daquele que ama. Aquele que é pobre espontaneamente leva uma vida livre e desembaraçada da preocupação por todas as coisas temporais que não lhe são necessárias.

 

'Non potestis servire Deo et mammonæ.' Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

 

O Reino de Deus. O que é? O Reino de Deus é caridade e amor.

 

Tudo o que há é comum a Deus e a todos aqueles que pertencem a família de Deus.

 

Aquele que é avaro é estranhamente imprudente e insensato, pois troca o céu pela Terra, ainda que seja certo que ele deva perdê-la cedo. O avaro se precipita no Tártaro. Quem morre na avareza certamente perecerá.

 

Aquele que ama o ouro e é cúpido pelos bens da Terra não faz senão se alimentar de um veneno mortal e beber na fonte da eterna aflição. E quanto mais bebe, mais sua sede se torna ardente; e quanto mais fica repleto de bens, mais ele os deseja. E ainda que ele possua muitos bens, entretanto, ele não está contente: falta-lhe tudo o que não está com ele; mas o que ele tem lhe parece pouca coisa ou nada. E ele não é amado por ninguém, pois, como ele está à mercê do mal da avareza, ele não merece ser amado. O avaro se parece com os abraços de Satan. Pode-se comparar, não sem razão, aos abraços do demônio. Pois tudo de que se apodera, não quer mais largar, mas, retém na medida, até o último suspiro, tudo o que puder adquirir, até mesmo pela artimanha ou pela fraude. Então, queira ou não, perde todas as coisas. E a dor eterna logo se apodera dele, e isto é mais do que certo, como é semelhante ao inferno que, qualquer que seja o nome dos condenados que ele recebe, não diz jamais: é demasiado. E ainda que ele tenha tragado um grande número, não se sente melhor por isso. Mas, tudo o que ele agarrou retém fortemente, e sempre, com a goela escancarada, alcança novos hóspedes para o Tártaro.

 

A peste da avareza é a raiz de todos os vícios, de toda improbidade, e de toda malícia.

 

Oh!, Senhor! Ensina-me a fazer a Tua Vontade, pois Tu és o meu Deus.

 

'Gloria in excelsis Deo, et in Terra pax hominibus bonæ voltuntatis.' Glória a Deus nas alturas dos céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade.

 

 

 

 

Enquanto vivermos nas sombras, não poderemos ver o Sol, pois, como disse São Paulo, enxergamos obscuramente através de um espelho. Mesmo assim, a sombra é iluminada pelo Sol, de modo a percebermos a importância de todas as virtudes e de todas as verdades, que são de valor inestimável para nossa condição mortal. Mas, se havemos de nos tornar unos com a luz do Sol, devemos seguir o amor e esquecer de nós mesmos no sem-caminho, e, então, o Sol nos atrairá, com nossos olhos cegos, para dentro de seu fulgor, onde possuiremos a unidade com Deus... Em Sua benevolência, Ele quer ser todo nosso, para nos ensinar a viver nas riquezas das virtudes. Em Seu toque interno, todos os nossos poderes nos abandonam, e, assim, sentamos sob Sua sombra, e Seu fruto é doce para nossos sentidos, pois o fruto de Deus é o Filho de Deus, a Quem o Pai faz nascer em nosso espírito. Este Fruto é tão infinitamente doce aos nossos sentidos que não podemos nem engoli-lo e nem assimilá-lo, mas, antes, é Ele quem nos absorve em Si mesmo e nos assimila em Si mesmo.

 

O amor não pode ser inativo; sua vida é um incessante esforço de saber, de sentir e de perceber os tesouros infindáveis escondidos em suas profundezas. Este é o desejo insaciável do amor.

 

A vida real deve ser vivida nos planos internos.

 

Os negócios progridem, o dinheiro aflui, mas, as almas não são tocadas.

 

'Quicunque fecerit Voluntatem Patris mei ille meus frater et soror et mater.' Quem quer que faça a Vontade de meu Pai é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

 

Conservar-se-á puro quem não sofrer mais por se deixar arrastar, por se deixar se cativar e por se deixar acorrentar por ninguém, seja em virtude de palavras, de atos, de presenças, de convites, de obsequiosidades, de serviços, seja também sob os aspectos da santidade.

 

Faz-se necessário odiar e desprezar nosso corpo, como sendo o inimigo capital que deseja nos afastar de Deus, para nos arrastar para o pecado. E, também, devemos amar e estimar nosso corpo e a vida sensitiva, pelo fato de ser o instrumento pelo qual servimos a Deus.

 

Tendo provado a Carne e o Sangue, tudo o que é do mundo parece ser insípido.

 

A Vida Eterna jamais poderá ser atingida pela morte.

 

Para muitas pessoas, o mosteiro é uma prisão e o mundo é um paraíso. Eles não têm prazer em Deus ou na beatitude eterna.

 

Aqueles que seguem o caminho do amor são os mais ricos dos viventes. São ousados, francos e destemidos; não têm aflições nem preocupações, pois o Espírito Santo carrega todos os seus fardos. Eles não procuram aparências exteriores, nem desejam nada que o homem estima. Não ostentam uma conduta especial, e passariam por homens bons como quaisquer outros.

 

Um homem interiorizado e espiritual se torna um homem expansivo para com todos.

 

Requisitos para se tornar interiorizado: libertação do Coração em relação às imagens, libertação espiritual em relação aos desejos e desejar a união com Deus.

 

Deus é um Espírito de Quem ninguém poderá fazer para si mesmo uma imagem verdadeira.

 

Se considerarmos somente nossa própria honra e não a de Deus, nos enganaremos grandemente, pois nos falta a caridade.

 

A caridade é a raiz e a fonte de todas as virtudes e de todas as santidades.

 

Devemos nos resignar à livre potência de Deus sem consideração de nenhuma recompensa.

 

A Vida Interior, cheia de graça e caridade, deve estar exempta de toda simulação, dotada de intenção reta e rica de todas as virtudes.

 

Na Pureza, vivemos em Deus e Deus vive em nós. Na Pureza, a claridade é eterna. Lá, tudo é um. Só há uma a verdade e uma imagem no espelho da Eterna Sabedoria [ShOPhIa].

 

O homem deve mergulhar naquela nudez-sem-imagens que é Deus. Esta é a primeira condição e o fundamento de uma vida espiritual.

 

Requisitos para se ver Deus: 1º) sentimento de que a base do mundo é um abismo; 2º) desprover de fórmulas o exercício interior [abolimento do pensamento discursivo]; e 3º) o recolhimento deve ser uma fruição divina. Isto significa morrer para si mesmo e para o mundo.

 

No mais interno centro do próprio espírito, o homem encontra revelada uma LLuz Eterna, e nesta LLuz ele sente a eterna demanda pela Divina Unidade. O homem, então, sente ser ele mesmo um Eterno Fogo de Amor, que deseja, acima de tudo, ser uno com Deus. Quanto mais ele atende a esta demanda, mais a sente. E assim, é sentido que a Unidade interior com Deus não é nada mais do que o Amor insondável. Portanto, devemos todos alicerçar nossas vidas sobre o abismo insondável, para que possamos mergulhar eternamente no Amor e nos precipitarmos na Profundeza Insondável.

 

Tipos de pecadores: o primeiro tipo consiste daqueles que são mundanos e desprezam as boas obras; eles sofrem pela multiplicidade do coração. O segundo tipo realiza boas obras e ama a justiça, embora condescenda no erro voluntariamente. O terceiro grupo são os descrentes, os que têm uma fé pequena ou errônea (a fé deve ser no Divino e em sua própria natureza interna, e não nos dogmas). O quarto tipo são desavergonhados e desprovidos de sensibilidade moral. O quinto são externamente puros de modo que o mundo os julga santos, mas seu motivo é errado, pois buscam um fim efêmero. Nenhuma destas condições é predestinada ou inata, e assim todos os pecadores podem resgatar sua dignidade humana e um sentido de sagrado dentro de si mesmos.

 

A graça Divina é compaixão ilimitada, e, assim, o medo do inferno surge só em decorrência do amor-próprio. Este medo é justificado de um modo paradoxal e invertido, pois é o próprio amor-próprio quem produz o inferno. O servo fiel venceu este medo porque entregou tudo ao Divino, e, desta forma, entregou a sua própria individualidade, demonstrando o primeiro nível da genuína fé. Suas ações são resultado do amor por Deus.

 

O homem meditativo existe além da análise por padrões mundanos, mas ele não esquece suas obrigações para com a Humanidade. Fugir dos deveres para com a Humanidade, que podem todos ser reunidos sob a rubrica do Amor Divino e traduzidos em serviço altruísta, é iludir a si mesmo. O amigo secreto permanece um fiel servidor.

 

Preservar a imagem de si mesmos e da Deidade impede que se penetre na Nudez-sem-imagens. Ao manter algum fragmento de individualidade, é impossível passar para o Sem-caminho. E assim, os filhos ocultos de Deus – a suprema possibilidade de conquista para o homem – transcendem todas as imagens, incluindo qualquer imagem de si mesmo e do Divino.

 

Se pudéssemos renunciar a nós mesmos e a todo o egoísmo em nosso trabalho, deveríamos, com nosso espírito nu de imagens, transcender todas as coisas, e, sem intermediários, ser conduzidos pelo Espírito de Deus até a Nudez-sem-imagens. Quando transcendermos a nós mesmos e nos tornarmos, em nossa ascensão para Deus, tão simples quanto o amor nu das alturas possa nos tomar, onde o amor abraça o amor, acima do exercício de qualquer virtude – isto é, em nossa Origem, de Onde nascemos espiritualmente – então, cessamos, e nós e toda nossa individualidade morre em Deus. E, nesta morte, nos tornamos filhos ocultos de Deus, e descobrimos uma nova vida em nosso interior: e esta é a Vida Eterna.

 

O Brilho é tão grande que o amante contemplativo, sobre o chão em que repousa, não vê nem sente nada exceto uma LLuz incompreensível. E, apesar desta Nudez Simples – Nudez-sem-imagens – que engloba todas as coisas, ele se descobre e sente a si mesmo como sendo esta mesma LLuz, através da Qual ele vê e nada mais. Benditos os olhos que vêem assim, pois eles possuem a Vida Eterna.

 

 

 

 

Podemos encontrar Deus em cada trabalho feito, crescendo em Sua semelhança e possuindo mais nobremente nossa unidade beatifica com Ele. Cada bom trabalho, embora pequeno que seja, que é realizado em Deus com amor, justiça e intenção pura, nos aporta uma maior semelhança a Deus e vida eterna Nele. Uma intenção pura une os poderes dispersos da alma na unidade do espírito e orienta o espírito em direção a Deus. Uma intenção pura é o princípio, o fim e o adorno de toda virtude. Uma intenção pura oferece louvor, honra e toda virtude a Deus. Atravessa a si mesma, os céus e todas as coisas, e descobre Deus na pureza de seu fundamento. Esta intenção é pura quando guarda somente Deus e vê todas as coisas em relação a Deus.

 

Pela vida ativa e através da virtude, devemos viver na unidade de nossos espíritos na graça e na semelhança a Deus, encontrando Deus constantemente através da mediação da virtude e oferecendo nossa vida e toda nossa obra em pureza de intenção a Ele, para que possamos, a qualquer tempo e em todas nossas obras, nos tornarmos Sua semelhança. Assim, no fundamento de nossa pura intenção, transcendemos a nós mesmos e encontramos Deus sem intermediários, e ficamos com Ele no fundamento da simplicidade. Lá, devemos possuir a herança, que foi preservada para nós para toda a eternidade.

 

Da obediência, vem a renúncia de nossa vontade própria e das nossas próprias opiniões. Apenas aqueles que são obedientes podem negar sua vontade própria em todas as coisas pela vontade de outro, pois qualquer um pode fazer obras externas e, mesmo assim, agarrar-se à vontade própria... Renunciando à nossa vontade própria [fiat voluntas mea] na decisão do que deve ser feito e do que não deve ser feito e tendo banido o orgulho, a humildade é aperfeiçoada ao grau mais elevado. E Deus, assim, se torna o Mestre de todas as vontades pessoais, que se tornam tão unidas à Vontade de Deus, que o homem não pode querer ou desejar nada mais.

 

E, à medida que os dons que o Cristo acorda são mais íntimos, que a moção que exerce é mais sutil, nosso espírito assume exercícios mais profundos e mais saborosos... E isto é uma coisa que se renova sempre. Pois, Deus acorda dons sempre novos e nosso espírito volta sempre à unidade interior, segundo a maneira pela qual Deus o solicita e o cumula com seus dons; e, neste encontro, o homem recebe dons novos que são sempre mais elevados. É assim que se cresce sem cessar com vistas a atingir uma vida mais alta.

 

Ó Deus, arquejo em meu desejo, mas não posso comungar com o Senhor. Quanto mais eu como mais selvagem é a minha fome; quanto mais eu bebo, mais violenta é a minha sede. Persigo o que foge de mim e enquanto persigo, aumenta meu desejo.

 

Quando lerdes, cantardes ou rezardes, prestai atenção ao sentido das palavras que pronunciardes e às idéias que exprimem, porque estais executando um serviço sob o Olhar Divino.

 

Se, durante a recitação das Horas, fordes assaltados por pensamentos ou imaginações estranhas, fazei de modo a vos recolherdes novamente sem vos perturbardes, porque somos instáveis por natureza; mas, com intenção e com amor, apressai-vos em tornar a Deus.

 

Ó Deus, deseje o íntimo do meu espírito para que eu possa vê-Lo como o Senhor me vê, e possa amá-Lo como o Senhor me ama.

 

Ame o Amor que o ama duradouramente, pois quanto mais amá-Lo, mais Ele o amará. E, quanto mais a alma se rende à atração de Deus, mais ansiará por amá-Lo.

 

O Homem Interior entra em si de maneira simples, acima de toda a atividade e de todos os valores, a fim de se aplicar a um simples olhar no amor de fruição. E, ali, encontra Deus, sem intermediários.

 

Não poderemos contemplar Deus pelo próprio Deus, sem intermediários, se não nos perdermos na indeterminação sem-caminho e em uma obscuridade onde todos os contemplativos erram no prazer, sem nunca mais se voltarem a encontrar a si mesmos, segundo a forma da criatura.

 

Aqui, o espírito morre na beatitude da fruição e se dissolve na Nudez Essencial, onde todos os nomes de Deus, todas as condições e todas as imagens que se refletem no espelho da Verdade Divina mergulham na Simplicidade-sem-nome da Essência, no sem-caminho, onde nenhum raciocínio tem poder.

 

Nós contemplamos intensamente aquilo que somos; e aquilo que contemplamos isto mesmo somos. Assim, a nossa mente, a nossa vida e a nossa essência são elevadas e unidas à própria verdade – que é Deus. Nesta simples e intensa contemplação, somos uma única vida e um único espírito com Deus. Esta é a vida contemplativa.

 

Aquele que é dotado de boa vontade, promete-se a Deus próprio, e deseja ardentemente amá-Lo e servi-Lo, não somente nesta vida, mas por toda a eternidade.

 

As ordens mais altas (Querubins, Serafins e Tronos) não se unem em nossa luta contra os nossos vícios, mas, moram conosco apenas quando, acima de todo conflito, estamos em paz com Deus, em contemplação e em perene amor.1

 

O espírito possui Deus essencialmente na sua nua natureza, e Deus possui o espírito. O espírito vive em Deus e Deus vive nele. Esta unidade essencial reside em Deus; se ela faltasse, todas as criaturas seriam reduzidas ao nada.2

 

A segunda vinda de Cristo, nosso Esposo, tem lugar cada dia dentro dos homens de bem; geralmente e muitas vezes, com graças e dons novos, em todos aqueles que se aprestam a si mesmos por ela, cada um segundo seu poder.3

 

«Aí vem o esposo» (Evangelho de São Mateus, XXV: 6). Cristo, o nosso esposo, pronuncia esta palavra. Em latim, o termo «venit» contém, em si, dois tempos do verbo: o passado e o presente, o que não impede de visar também o futuro. É por isto que vamos considerar três vindas do nosso esposo – Jesus Cristo. Quando da primeira vinda, Ele se fez homem por causa do homem, por amor. A segunda vinda tem lugar todos os dias, freqüentemente e em muitas ocasiões, em todos os Corações que amam, acompanhada de novas graças e de novas dádivas, consoante a capacidade de cada um. A terceira vinda é aquela que terá lugar no Dia do Juízo ou na hora da morte. O motivo por que Deus criou os anjos e os homens foi a Sua bondade infinita e a Sua nobreza, uma vez que Ele quis fazê-lo para que a beatitude e a riqueza que Ele próprio é sejam reveladas às criaturas dotadas de razão, e para que estas possam saboreá-Lo no tempo e usufruí-Lo para lá do tempo, na eternidade. O motivo por que Deus Se fez homem foi o seu amor imenso e o infortúnio dos homens, pois eles estavam alterados pela queda do Pecado Original e eram incapazes de se curar deste Pecado. Mas, o motivo por que Cristo realizou todas as Suas obras na Terra, não apenas segundo a Sua Divindade mas também segundo a Sua Humanidade, é quádruplo, a saber: o Seu Amor Divino que não tem fim; o amor criado, ou caridade, que possuía na Sua alma, graças à união com o Verbo Eterno e graças à dádiva perfeita que Seu Pai Lhe fez; o grande infortúnio em que se encontrava a natureza humana; e, por fim, a honra de Seu Pai. Eis os motivos da vinda de Cristo, o nosso esposo, e de todas as Suas obras.

 

A última etapa da Via Mística equivale a um casamento da alma com o Bem Amado.

 

 

 

 

A medida de sua santidade é proporcional à bondade de sua vontade.

 

O conhecimento de nós mesmos nos ensina de onde viemos, onde estamos e para onde estamos indo. Nós viemos de Deus, estamos no exílio e estamos conscientes deste estado de exílio.4

 

Aqueles que seguem o Caminho do Amor são os mais ricos de todos os homens vivos.

 

Deus cria um mundo novo em cada momento.

 

Encontramos em Cristo, segundo a Sua Divindade, dois tipos de humildade. Primeira: Ele quis se fazer homem. Segunda: Ele escolheu uma pobre donzela, e não a filha de um rei, por sua mãe.

 

Cristo se curvou em reverência e adoração diante do poder mais alto do Pai. Operou todas as suas obras para louvor e para honra de seu Pai, e nunca e em nada buscou sua própria glória, de acordo com a Sua Humanidade.

 

Cristo, nosso Esposo, sempre estava pronto para atender todas as necessidades interiores e exteriores dos homens, como se ele fosse o servo de todo o mundo.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Isto adverte para o fato de que todo o esforço ascensional (e, na verdade, todo e qualquer esforço) é nosso, e será sempre exclusivamente nosso. Uma ajudinha aqui e outra ali são possíveis, mas o grosso do trabalho deverá ser executado por nós. Se assim não fosse, qual o sentido da encarnação? Então, precisamos parar com esse negócio de pedir, e tratar de fazer. Já! Você, que tem acompanhado o que tenho escrito, já reparou o quanto eu tenho repetido isto? É aquela coisa de água mole em pedra dura... Apesar de eu ter certeza de que as pessoas que apreciam este tipo de tema não sejam mesmo pedras duras. Como eu, estão mais para pedras bem molinhas.

 

 

 

 

2. Esta visão é puramente teológica. O nada não existe, e, por não existir, não pode, primeiro, dar origem ao que quer que seja, e, segundo, absorver o que quer que seja. O que vou acrescentar agora nada tem a ver com esta nota, mas tem tudo a ver com o tema que estamos estudando. Outro dia, assistindo pelas pontas o seriado ficcional Sessão de Terapia, em exibição no GNT e dirigido por Selton Mello, versão brasileira da série israelense Be Tipul, de Hagai Levi, sucesso de audiência e crítica em trinta países, o Breno (Sérgio Guizé) teve uma crise convulsiva de choro, por ter sido reprimido pelo pai a vida inteira, que dizia que chorar era coisa de mulherzinha. Bem, o que eu quero dizer é que o choro sincero, convulsivo ou não, é libertador. É mais ou menos como vomitar ou ter uma caganeira daquelas. Ninguém deveria ter vergonha de chorar e de expressar seus sentimentos, pois a repressão ou a contenção de um sentimento vai fazendo buracos na alma, e poderá desembocar em patologias as mais variadas. Melhor do que chorar uma vez é chorar mil vezes!

3. Na verdade, não creio que seja cada um segundo seu poder, mas, cada um segundo sua compreensão, a não ser que poder, nesta sentença, queira significar poder de compreensão.

4. Em termos, concordo com isto, mas, para onde iremos só depende de nós.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://hecatedemetersdatter.blogspot.com.br
/2006_07_30_archive.html

http://pt.dreamstime.com/

http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-index.ph
p?page=Ruysbroeck+Degraus+Escada+Amor

http://www.sacred-texts.com/
chr/asm/index.htm

http://franciscan-sfo.org/ap/Ruysbr01.htm

http://www.lifequoteslib.com/
authors/jan_van_ruysbroeck.html

http://theosophytrust.org/tlodocs/articlesTea
cher.php?d=JanVanRuysbroeck.htm&p=67

http://quotationsbook.com/quotes/author/6352/

http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?langu
age=PT&module=commentary&localdate=20091129

http://www.estudosdabiblia.net/200322.htm

http://www.flickr.com/photos/
jcassiano/6982345376/

http://www.clker.com/
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http://coracaomistico.blogspot.com.br/
2007/12/ruysbroeck.html

http://en.wikipedia.org/wiki/
John_of_Ruysbroeck

http://www.sophia.bem-vindo.net/tiki-
index.php?page=Jan+van+Ruysbroeck

http://www.levir.com.br/inst-046.php

 

Música de fundo:

Kyrie (The Name of the Rose)

Fonte:

http://www.mediafire.com/?5txxrxmj5ih

 

Páginas da Internet consultadas:

 

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