O
sábio fala assim: a alma, tendo uma vida dupla, uma em conjunção
com o corpo, mas, a outra separada de todo corpo, quando estamos
despertos empregamos, na maior parte, a vida que é comum
com o corpo, exceto quando nos separamos inteiramente dele através
de energias puramente intelectuais e dianoéticas [virtudes
do pensamento, da racionalização, ou seja, capacidades
de conhecimento possíveis à alma racional, que, de
acordo com Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas,
322 a.C.), são: a arte (technè),
a ciência (epistéme),
a sabedoria prática (frónesis),
a sapiência (sofia)
e o intelecto ou (nous)].
Todavia, quando dormimos, somos como que perfeitamente livres de
certas limitações, e usamos uma vida separada da geração.
O
Deus que comanda a Palavra, Hermes, foi considerado outrora, com
razão, como comum a todos os sacerdotes. Aquele que preside
a verdadeira Ciência dos Deuses é um e idêntico
a todos. É a Ele que nossos antepassados dedicavam todas
as descobertas de sua Sabedoria, dando o nome de Hermes a seus próprios
escritos.
Ignora
se o interlocutor é de caráter inferior ou superior,
mas, atenta para o que é dito, para estimular prontamente
a tua mente para descobrir se o que é dito é verdadeiro
ou falso.
A
alma é uma hipóstase [realidade
permanente, concreta e fundamental] auto-subsistente,
inferior ao e dependente do intelecto.
Antes
de verdadeiramente existirem seres e princípios universais,
existe uma Deidade, anterior ao primeiro Deus e regente, imóvel
e residindo na solidão1
de Sua própria Unidade.
Em
a Natureza, nada surge por saltos, mas, antes, por desdobramentos
graduais.
O
Um se torna muitos nos vários níveis.
Tudo
está em tudo, e o particular é um microcosmo do Macrocosmo.
Enquanto
cada entidade particular reflete dentro de si o todo da realidade,
o faz apenas de um modo consoante à sua própria natureza.
Cada entidade é, portanto, uma parte do todo e uma unidade
em si mesma.
O
objeto de pensamento precede os atos particulares de pensar; as
formas ideais são anteriores às mentes que as percebem;
e as distinções lógicas implicam representações
ontológicas.
O
Intelecto é um reflexo do Um.
Cada
nível de realidade contém, como que através
de irradiação, os princípios dinâmicos
inteligentes dos níveis superiores. Assim, os seres podem
descer para níveis cada vez mais heterogêneos através
destes reflexos, e podem ascender a níveis superiores ativando
os princípios superiores dentro do nível que é
deles.
O
Primeiro Intelectivo (o Primeiro Inteligível) deve ser adorado
somente através do Silêncio.
Alma
Elo entre a Inteligência
Pura Impessoal e Universal e o mundo sensível.
A
Ética é fundamental para a habilidade da alma de ser
um paradigma da Natureza.
Cada
alma tem sua própria peregrinação, mas, seu
destino é causalmente ligado ao destino de todas as outras
almas e de todos os seres.
A Sabedoria [ShOPhIa]
é Magia, embora nem toda magia seja Sabedoria. Quem desejar
comungar com o Divino deverá cultivar em si mesmo a Filosofia,
o Amor à Sabedoria, e não simplesmente o amor à
magia.
A
Magia é uma Divina e Sublime Ciência,
excedendo todas as outras. É o grande remédio para
tudo. Não tem sua fonte no corpo, não se limita às
suas paixões nem ao composto humano ou à sua constituição.
Por meio Dela, tudo nos vem dos nossos Deuses Superiores.
Magia
não é mais nem menos do que Iniciação
em Teurgia [magia
ritual (cerimonial)].
Os
atos que ordinariamente se executam na Teurgia têm uma causa
infalível e superior à razão.
Para
o exercício da Teurgia, é indispensável que
o homem tenha alma pura e casta e mais elevada moralidade.
Nossa
Alma Superior haverá de se unir com a Alma Universal.2
O
Universo é uma geometria viva – cada som, cada número,
cada cor e cada ação correspondendo a alguma ordem
de seres inteligentes.
Tetraktys
A
natureza do sacrifício e o estado da mente com que o religioso
se oferece determina o deus que ele invoca.
Devemos
ser muito cautelosos para que não ofereçamos nenhuma
oferenda indigna ou estranha aos deuses.
Na
ordem teúrgica, as naturezas secundárias sempre são
invocadas através das primárias.
O
selo da união inefável com os deuses leva a alma a
repousar na Deidade.
Com
os Seres Superiores coexistem a ordem mesma, a beleza mesma e a
causa mesma, enquanto à alma corresponde participar sempre
da Ordem Intelectual e da Beleza Divina.
A
perfeita realização da plenitude do Fogo Divino é
a consumação da busca filosófica e o ápice
da questão religiosa; é o nascimento da Sabedoria
e da Alta Magia.
O
Conhecimento dos Deuses é acompanhado de um Conhecimento
Transcendental e de uma Alquimia de nós mesmos.
Sabedoria
Libertação
do Renascimento Compulsório.
O
contínuo exercício da prece cultiva o vigor de nosso
intelecto e torna os receptáculos da alma muito mais capazes
para as comunicações dos Deuses. Igualmente é
a chave divina que abre aos homens a porta para os Deuses, e nos
acostuma aos esplêndidos rios de Luz Superna. Em um curto
período, ela aperfeiçoa nossos recessos mais íntimos,
e os dispõe para o abraço inefável e o contato
com os Deuses, e não desiste até nos levar ao topo
de tudo.
A
Teurgia nos une mais fortemente com a Natureza Divina. Esta Natureza
se forma por si mesma, atua por meio de seus próprios poderes,
é o suporte de tudo e é inteligente. Sendo o rolamento
do Universo, ela nos convida à verdade inteligível,
a aperfeiçoar-nos e a compartir esta perfeição
com os outros. Tão intimamente nos une a todos os atos criadores
dos Deuses, segundo a capacidade de cada um, que a alma, depois
de cumprir os sagrados ritos, se consolida em Suas ações
e inteligências, até que se identifica com elas e é
absorvida pela Essência Primordial e Divina. Tal é
a finalidade das Sagradas Iniciações Egípcias.
A
prática da oração nutre o intelecto, amplia
a receptividade da nossa alma aos Deuses, revela aos homens a vida
dos Deuses, acostuma os olhos para o brilho da LLuz Divina e, gradualmente,
conduz à perfeição a capacidade para fazer
contato com os Deuses, até nos levar ao mais alto nível
de consciência. Em uma palavra: torna aqueles que empregam
orações nos consortes familiares dos Deuses.
A
Mônada,3
em sentido estrito, é o Número Inteligível.
Mônada
Sabedoria Moral.
A
Díade foi quem primeiro se separou da Mônada.
Tríade
Beleza
Justiça.
Espere
a hora apropriada.
Causalmente,
Deus é todas as coisas,
e é capaz de afetar todas as coisas. Ele também produz
todas as coisas; não por Si, mas, em conjunto com os Poderes
Divinos que Dele germinam continuamente, a partir de uma Raiz Perene.
Desta forma, o Universo requer Sua cooperação para
a subsistência distinta dos seus diversos elementos e das
suas diferentes formas.
______
Notas:
1. Enquanto
prevalecer a admissibilidade de uma deidade solitária e todo-poderosa,
não poderemos jamais fazer contato com o Deus de nossos Corações.
É absolutamente necessário e imperioso que nos livremos
dessa idéia multimilenária e extravagante da existência
um deus exterior, criador, onipotente, ciumento, mandão e
sei lá mais o quê. Só assim, poderemos começar
a trilhar a Senda Luminosa da Iniciação Interior –
na qual seremos os nossos próprios Mestres. Ou fazemos decidida
e resolutamente isto ou continuaremos ajoelhados, lacrimosos e pedinchões
acreditando em totens fantasmagóricos criados pela boçalidade
tantalizante e amedrontante e alimentados pela ingenuidade lêntica
e inautêntica, cuja finalização será
sempre, sem exceção, a inconsciência e a morte.
2. Mas, para
que isto aconteça, é necessário que haja mérito.
E este mérito, oportunamente, haverá de nos fazer
compreender que
Om Mani Padme Hum, esotericamente, como ensinou
Madame Blavatsky em sua Doutrina Secreta, significa: Oh!,
meu Deus que estás em mim!
3. Em muitos
sistemas gnósticos (e heresiológicos), o Ser Supremo
é conhecido como Mônada, o Uno, o Absoluto Aion
Teleos (O Perfeito Aeon), Bythos
(Profundidade), Proarche
(Antes do Início), He
Arche (O Início) e Pai Inefável. O Uno
é a fonte primal do Pleroma, a região de LLuz.
As várias emanações do Uno são chamados
Aeons.
Em algumas variações do Gnosticismo, especialmente
as inspiradas pelo gnóstico árabe Monoimus 150 –
210), a Mônada era o mais alto Deus, que criou todas as demais
divindades inferiores ou os elementos (similares aos Aeons).
Algumas versões mais antigas do Gnosticismo, especialmente
as da Escola Valentiana, uma divindade inferior, chamada Demiurgo,
teve um papel central na criação do mundo material,
complementar ao papel da Mônada. Nestas tradições,
o Deus do Antigo Testamento é freqüentemente
considerado como sendo o Demiurgo e não a Mônada, sendo
que, em algumas passagens, Ele pode se referir a ambos.
Observação:
Jâmblico
(Síria, 245 – Apamea, 325) foi um filósofo neoplatônico
assírio e um Instrutor da Humanidade, Nada se sabe de sua
infância e juventude. Ele já era culto e maduro quando
ouviu pela primeira vez as palestras de Anatólio, um discípulo
de Porfírio. Completamente vencido diante dos ensinamentos
neoplatônicos de Plotino e dos seus sucessores, Jâmblico
viajou para Roma para estudar com o próprio Porfírio.
Por fim, ele voltou à Síria, mais provavelmente para
Calcis, e formou uma Escola de discípulos que estudava a
Filosofia Pitagórica (chamada Escola Neoplatônica Síria
ou Siríaca), onde expôs sua teurgia espiritual e revitalizou
a Academia. Jâmblico não transmitiu meramente os ensinamentos
de seus augustos predecessores; refinou suas doutrinas em todos
os níveis e as estendeu para áreas até então
deixadas no silêncio. Reconhecendo que os ensinamentos filosóficos
de Pitágoras e de Platão eram baseados em uma percepção
do interesse no destino de cada ser humano, Jâmblico entendeu
que a Natureza e as propriedades da alma, necessariamente ocultas
pelo véu da persona (na Teoria do psiquiatra e psicoterapeuta
suíço que fundou a Psicologia Analítica Carl
Gustav Jung (Kesswil, 26 de julho de 1875 – Küsnacht,
6 de junho de 1961), a persona é a personalidade
que o indivíduo apresenta aos outros como real, mas que,
na verdade, é uma variante às vezes muito diferente
da verdadeira) deviam ser cultivadas conscientemente. Isto, segundo
Jâmblico, requeria a ordenação da vida da pessoa
em relação aos outros seres humanos, ao ambiente social
e natural, e ao Universo como um todo. Para Jâmblico, eram
essenciais o pensamento e a ação éticos derivados
de princípios universais. Também é necessário
conhecer os poderes da alma, suas conexões orgânicas
com forças superiores e inferiores e seus potenciais para
comando e canalização destas energias. Isto requer
a teurgia. Assim como a conduta pode ser mal direcionada quando
baseada em princípios ambíguos ou inconsistentes,
as operações teúrgicas podem ser perigosas
quando conduzidas inadequadamente. No seu ensaio Sobre os Demônios,
Jâmblico advertiu contra toda sorte de intercurso com eles.
A incessante purificação da consciência é
um pré-requisito para a atividade filosófica ou para
a evolução autoconsciente da alma, conduzindo ao conhecimento
preciso e, finalmente, à Gnose Luminosa, através do
Umbral da Iniciação. Assim como Porfírio havia
interpretado os mitos clássicos à luz da razão
filosófica, do mesmo modo Jâmblico penetrou na essência
da Teurgia Oriental, lançando as fundações
para um frutífero casamento entre a Filosofia rigorosa e
a religião reflexiva. Seu sucesso na reunião destas
correntes de pensamento afins em uma harmonia consistente, projetou-o
como o primeiro filósofo escolástico, mas, o espírito
em que ele trabalhou distinguiu-o dos eruditos posteriores que procuraram
sistematizar a Teologia Cristã. Resumidamente, Jâmblico
procurou a união com o Bem através da Inteligência.