Jacques-Yves Cousteau

(Pensamentos e Ensinamentos)

 

 

 

 

 

Jacques Cousteau

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo do Texto

 

 

 

Calendário Maia

 

 

 

Não precisamos ficar esperando que se cumpram as profecias do Apocalipse de João ou do Calendário Maia, que prevê que algo de muito grave se passará no solstício1 de inverno, em 21 de dezembro, de 2012. Isto não quer dizer que o mundo acabará; quer simplesmente dizer que um grande acontecimento transformará o mundo. Será mesmo assim?

 

A partir da Segunda Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XIX (1850 – 1870), que foi uma segunda fase da Revolução Industrial e envolveu uma série de desenvolvimentos no âmbito das indústrias química, elétrica, de petróleo e de aço, mais notadamente, entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, o homem não parou mais de poluir a Terra e de comprometer seu próprio futuro. Expressões como poluição do solo, poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, derramamento de petróleo, consumo abusivo e desenfreado de água, fome e sede mundiais, necessidade de reciclagem, sustentabilidade e comunidades sustentáveis, hiperconsumo e dívidas crescentes, redução dos postos de trabalho, crise econômica mundial, lucros para os acionistas, investimentos para a obtenção de maiores lucros, novo Capitalismo, trocas de bens, muros e mais muros, fundo do poço, aumento/diminuição da pegada de carbono (valor total mensal ou anual de emissão de CO2), desmatamento da Amazônia, aquecimento global, limitação das temperaturas mundiais, mudanças climáticas (que é o principal fator de transformação global) et cetera se tornaram lugares-comuns nos meios de comunicação diários, que nem sequer damos mais bola para elas, porque, de maneira geral, não entendemos concertadamente nem os seus significados nem as implicações ambientais que produzem. Infelizmente e irresponsavelmente, vivemos mais por fora do que umbigo de vedete, cuidando apenas das nossas necessidades mais imediatas. É mais ou menos assim: está calor, vou ligar o ar-condicionado; está frio, vou ligar o aquecedor de ar.

 

Bem, que o pau vai comer na casa de noca, isto vai. Aliás, já está comendo; só não vê quem não quer. Só um exemplo: o gelo ártico do mar está desaparecendo rapidamente. O acúmulo de gases-estufa2 na atmosfera é o principal responsável pelo declínio. Este ano, em particular – como declarou recentemente o presidente mundial da Coca-Cola, Muhtar Kent, a Miriam Leitão, no Espaço Aberto – a formação do gelo ártico está cinco semanas atrasada, e todos os ursos estão esperando o gelo se formar, pois, do jeito que está – em novembro! – não podem caçar para sobreviver. Este ano, incrivelmente, segundo Muhtar Kent, dá até para surfar no Pólo Norte! Se isto, por um lado, é bom para as focas, que não são almoçadas pelos ursos, por outro, poderá dizimar os ursos-polares. E por aí vai... Para assistir a entrevista de Muhtar Kent a Miriam Leitão, que é muito educativa, dirija-se a:

http://oglobo.globo.com

 

Por tudo isto, este estudo, então, garimpa, aqui e ali, alguns alertas (pensamentos e ensinamentos) de Jacques-Yves Cousteau – amado por muitos, malquisto por alguns cientistas marinhos que costumavam torcer o nariz para o explorador francês – para que possamos refletir um pouco sobre estes temas que interessam a todos os seres viventes, em particular, e ao Universo, como um todo. Caralho! Só dizendo assim! Quando deixaremos de ser estúpidos e egoístas? Prick again!

 

 

Noca's House

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

 

Jacques Cousteau

Jacques Cousteau

 

 

 

Jacques-Yves Cousteau (Saint André de Cubzac, 11 de junho de 1910 – Paris, 25 de junho de 1997) foi um oficial da marinha francesa e oceanógrafo mundialmente conhecido por suas viagens de pesquisa a bordo do Calypso.

 

Jacques Cousteau foi um dos inventores, juntamente com Émile Gagnan, do aqualung, o equipamento de mergulho autônomo que substituiu os pesados escafandros, e também participou, como piloto de testes, da criação de aparelhos de ultra-som para levantamentos geológicos do relevo submarino e de equipamentos fotocinematográficos para trabalhos em grandes profundidades.

 

Em 1956, Jacques Cousteau conquistou o Oscar com o documentário O Mundo Silencioso (1955), filmado no Mediterrâneo e no Mar Vermelho, co-dirigido pelo cineasta Louis Malle, que ganhou o Oscar e a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Também produziu O Mundo Sem Sol (1964), também premiado com o Oscar. Mas o próprio Cousteau confessa que, em seus primeiros filmes, não tinha nenhum tipo de preocupação ecológica. No total, foram quatro longas-metragens e setenta documentários para a televisão.

 

Em 1974, ele formou a Cousteau Society, um grupo ambientalista sem fins lucrativos dedicado à conservação marinha.

 

Em 1982, durante um ano e meio, a equipe de Jacques Cousteau percorreu o rio Amazonas desde sua nascente na Cordilheira dos Andes a 5.500 metros de altura, no Peru, onde ele começa com o nome de Apurimac.3 A equipe de Cousteau foi desde a nascente até sua embocadura, no oceano Atlântico. Nesta viagem, o cientista pôde conhecer o famoso encontro das águas entre os rios Negro (com cor de Coca-Cola) e Solimões, cor de terra. As águas de ambos os rios não se misturam por mais de 80 quilômetros em razão da diferença de temperatura, de velocidade e de composição química entre eles. A equipe também conheceu o fenômeno da piracema (quando milhões de peixes sobem o rio para desovar) e o fenômeno da pororoca (nome indígena), que é o violento encontro das águas quando o Oceano Atlântico penetra na embocadura do rio Amazonas, causando ondas muito fortes que destroem as margens do rio e parte da floresta. O ruído da pororoca pode ser ouvido a muitos quilômetros de distância.

 

Em 1965, Cousteau criou uma casa submarina onde seis pessoas viveram por um mês, a cem metros de profundidade. Em 25 de junho de 1997, em Paris, o francês mais famoso do mundo sofreu um ataque cardíaco e morreu, juntando-se ao mundo do silêncio.

 

 

 

 

Pensamentos e Ensinamentos

 

 

 

 

 

 

Carta aos Mergulhadores
Jacques Cousteau

 



Como todos os seres humanos, nascemos no coração da mãe Terra. Temos braços e pernas, respiramos oxigênio que entra em pequenos pulmões. Passamos grande parte da nossa vida na posição vertical, que nos dá uma maior autonomia e conforto na Terra. Vistos superficialmente, somos iguais a todos os seres humanos.

 

Mas, analisando um pouco mais fundo, alguma coisa nos faz diferentes. Nascemos com os olhos acostumados ao azul das águas. Temos um corpo que anseia pelo braço do mar e um pulmão que aceita grandes privações de ar, apenas para prolongar a nossa vida no mundo azul.

 

Somos homens e mulheres de espírito inquieto. Buscamos, na nossa vida, mais do que nos foi dado. Passamos por grandes provas para nos aproximar dos peixes. Transformamos nossos pés em grandes nadadeiras, seguramos o calor do nosso corpo com peles falsas e chegamos até a levar um novo pulmão em nossas costas. E tudo isto para quê? Para podermos satisfazer uma paixão, um sonho. Porque nós, algum dia, de alguma forma, fomos apresentados a um mundo novo. Um mundo de silêncio, calma, mistério, respeito e amizade. E esta calma e este silêncio nos fizeram esquecer da bagunça e da agitação do nosso mundo natal. O mistério envolveu nosso coração sedento de aventura.

 

O respeito que aprendemos a ter pelos verdadeiros habitantes deste mundo, respeito esse que, só depois de ter sentido a inocência de um peixe, a inteligência de um golfinho, a majestade de uma baleia ou mesmo a força de um tubarão, podemos compreender.

 

E a amizade. Quando vamos até o fundo do mar, descobrimos que ali jamais poderíamos viver sozinhos. Então, levamos mais alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós. Porque, além de poder salvar nossa vida, passa a compartilhar tudo que vimos e sentimos. E em duplas, passamos a ter equipes, e estas passam a ser cada vez maiores e mais unidas. E assim entendemos que somos todos velhos amigos mesmo que não nos conheçamos. E este elo que nos une é maior do que todos os outros que já encontramos.

 

E isso faz com que nós, mais do que amigos, sejamos irmãos. Faz de nós, mergulhadores.


 

 

Os que decidem sobre o amanhã devem avaliar o impacto no futuro.

 

A sociedade consumista é a inimiga da Terra.

 

Queremos eliminar os sofrimentos, as doenças? A idéia é maravilhosa, mas talvez não seja de todo benéfica em longo prazo. Existe o perigo de comprometermos assim o futuro de nossa espécie.

 

Desde o nascimento, o homem carrega o peso da gravidade em seus ombros. É aparafusado à Terra. Mas, o homem só tem que afundar embaixo da superfície e estará livre.

 

Sobre a água, o homem pode voar em qualquer direção – para cima, para baixo, de lado – apenas sacudindo a sua mão. Sob a água, o homem se torna um arcanjo.

 

O mar é o esgoto universal.

 

 

O mar não é o esgoto universal!

 

 

A eliminação dos vírus é uma idéia nobre, mas acarreta enormes problemas. Entre o ano 1 e o ano 1400, a população praticamente não mudou. Por meio de epidemias, a Natureza compensou os excessos de natalidade com os excessos de mortalidade...

 

Quando um homem, pela razão que seja, tem a oportunidade de levar uma vida extraordinária, não tem o direito de guardá-la para si próprio.

 

Provavelmente, foi feito mais dano à Terra no século XX do que em toda a história anterior da Humanidade.

 

Se não morrêssemos, não apreciaríamos a vida como o fazemos.

 

Se formos lógicos, o futuro será deveras incerto. Mas nós somos mais do que lógicos. Somos seres humanos: temos fé, esperança, espiritualidade e podemos trabalhar.

 

Se quisermos salvar a Humanidade, teremos de salvar os oceanos.

 

A Terra é o único planeta do sistema solar no qual a água existe em quantidade apreciável, pois cobre cerca de sete décimos da superfície do Globo. Mas essa água, onde a vida surgiu pela primeira vez e da qual todos os organismos ainda dependem para sobreviver, foi-nos dada de uma vez por todas: não haverá mais. A História recordará a nossa água como um período de crise em que o homem, o principal causador de toda a poluição, pôs em perigo o meio ambiente, incluindo o mar, sustentáculo da vida. Ao permitir que os resíduos industriais sejam lançados aos oceanos e recusando-se a aceitar um rigoroso controle internacional dos direitos de pesca, o homem impede o aparecimento de gerações futuras. As ilhas, lugares que desde sempre fascinaram a espécie humana, também são afetadas. Elas têm salvaguardando e preservado uma extraordinária diversidade de vida vegetal e animal, tendo sido o seu isolamento o fator que as transformou em um último refúgio para numerosos peixes, corais e outras criaturas marinhas. Hoje em dia até estes oásis estão ameaçados. No entanto, apesar de ser acusada de causadora de todos os males do mundo moderno, a tecnologia é, na realidade, a melhor arma da Humanidade contra a poluição, que tantas vezes nos apresenta como preço do progresso. Na verdade, não são os avanços científicos e industriais que ameaçam o homem e a Natureza, mas, sim, a maneira errada e inconsciente como a Humanidade aplica as suas conquistas tecnológicas. Tenho esperanças de que um maior profundo conhecimento do mar, de que há milênios os homens recebem sabedoria, inspire mais uma vez os pensamentos e as ações que preservarão o equilíbrio da Natureza e permitirão a conservação da própria vida.

 

A realidade nunca está longe dos sonhos.

 

Não sei por que amo o mar. É físico. Quando você mergulha, começa a se sentir um anjo. É a liberação do peso.

 

O futuro da civilização depende da água. Imploro a todos: compreendam isto.

 

Ao falar da influência do homem sobre o meio ambiente, não podemos esquecer de que também fazemos parte dele.

 

H2O: dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Água. Uma substância muito comum na face da Terra, mas um raro líquido no resto do sistema solar. A solução salina do mar flui nas veias do homem e – é isto uma coincidência ou parte do plano da Natureza? – 70 por cento do corpo do homem é água, a mesma proporção que a superfície da Terra. Nós temos uma grande pergunta hoje: nosso Planeta pode sustentar em relativo conforto somente um ou dois bilhões de pessoas, mas existem mais de quatro bilhões de pessoas na Terra hoje! E a população do mundo continua acrescer todo dia. O mar pode ajudar o homem a sobreviver? Eu acredito que sim. O mar é vasto e tem muitos elementos essenciais para a vida: nossa comida, nossa energia, nossos minerais. Em nosso mundo fragmentado, o mar é o grande unificador. Ele é a única esperança do homem. O homem tem problemas sérios, e a palavra-chave para resolver estes problemas é unidade. Nós somos todos parte da pirâmide da vida e nós nos tornamos mais interdependentes todos os dias. Eu creio em cooperação universal. Nós estamos todos no mesmo barco. Este barco é a astronave Terra, uma jóia azul na noite do espaço, bonita e gloriosa com o fluído da vida – o mar.

 

O toque da água me fascina todo o tempo.

 

 

 

 

Na vida, há dois fluidos vitais: a água e o dinheiro. Você deve usar os dois.

 

Hoje em dia, o ser humano apenas tem ante si três grandes problemas que foram ironicamente provocados por ele próprio: a superpovoação, o desaparecimento dos recursos naturais e a destruição do meio ambiente. Triunfar sobre estes problemas, vistos sermos nós a sua causa, deveria ser a nossa mais profunda motivação.

 

Os mares são o cinto de segurança de vida neste Planeta. A vida nasceu no mar e está umbilicalmente ligada à água.

 

Ecologia não é política. Sua defesa deve fazer parte dos programas de todos os partidos, e não somente de um.

 

A visão de uma medusa – um delicado domo transparente de cristal pulsando – sugeriu-me, de forma irresistível, que a vida é água organizada.

 

 

Cristal de Água

 

 

 

 

HOMENAGEM À JACQUES COUSTEAU

José Lutzenberger
Folha de São Paulo, 1997
Publicado logo após seu falecimento

 

 

Durante a preparação da Conferência ECO-92, conversei longamente com Cousteau, em Brasília. Raras vezes em minha vida encontrei pessoa tão profundamente preocupada com as calamidades ecológicas que a atual cultura consumista prepara, já para as crianças e jovens de hoje, sem falar das gerações futuras. Preocupava-se com a cegueira da grande maioria e estava revoltado com o imediatismo dos poderosos em governos e tecnocracia. Sua avançada idade não o impedia se engajar com força e aceitar sacrifícios pessoais.

 

Em setembro de 1993 voltamos a nos encontrar, em Stuttgard, na Alemanha. Estávamos participando de um dos eventos mais lindos e comoventes que jamais presenciei. Era uma "Reunião de Cúpula de Crianças". Tinham entre 8 e 14 anos e vinham de toda a Europa, Leste e Oeste. Além de muitos jogos, esportes, canções em todos os idiomas, com o hino lema "Wir Sind Eine Welt" (Somos um Mundo só), as crianças, todas escolhidas entre as melhores de suas classes, convocavam e questionavam políticos e tecnocratras importantes, deles cobrando o cinismo, as omissões e o descaso ecológico. Era incrível o nível de informação, a perspicácia e o sarcasmo desta infância, mesmo de meninas e garotos de 8 anos.

 

Lá estava Cousteau entre os assessores convidados pelas crianças, adorado por elas. Ele armou barraca própria para promover a idéia que já lançara em 1992 e que não foi aceita pelos governos que participaram da Conferência. Para complementar a Declaração dos Direitos Humanos, aprovada quase unanimemente em 1948, com abstenção apenas da então União Soviética, da Arábia Saudita e da África do Sul, Cousteau queria uma nova declaração, uma Declaração dos Direitos das Gerações Futuras!

 

Desde a infância, Cousteau fazia parte daquelas pessoas, infelizmente tão raras, que mantêm diálogo intensivo com a Natureza. Entrou na Marinha porque gostava do mar, mas não conseguiu se satisfazer com as atividades meramente militares. Cedo abandonou a carreira para se dedicar de corpo e alma ao fascínio do mundo marinho.

 

Foi o primeiro a explorar o mundo submerso e soube mostrá-lo ao grande público. Inventou a máscara, 'snorkel' e pé-de-pato, desenvolveu o aqualung e câmaras especiais para fotografia subaquática. Com seu filho Philippe, que, tristemente, perdera em acidente aéreo, com seu Catalina, na embocadura do Tejo, em Lisboa, e que foi sepultado em abismo marinho, fez os primeiros grandes filmes que mostravam a profusão de vida nos recifes de corais dos mares tropicais. Estes estão entre os ecossistemas mais belos e preciosos deste castigado planeta vivo – um mundo de estonteante beleza, de colorido deslumbrante, com incrível riqueza de formas, comportamentos e multifacetadas complementações, com diversidade biológica comparável à das florestas tropicais úmidas e igualmente vulneráveis.

 

Aprofundou sempre mais as suas observações e descidas. Desenvolveu submarinos e equipamentos fotográficos e de TV até para as tremendas pressões das trincheiras abismais, onde se observa em ação os mecanismos da deriva dos continentes com suas erupções submarinas.

 

Com suas invenções conseguiu montar um império industrial com ramificações em vários continentes. Seus lucros sempre foram reinvestidos em novas observações e pesquisas. Desde a primeira ajuda financeira que lhe foi dada por um empresário britânico, o que lhe possibilitou adquirir o barco Calypso, ele quase sempre conseguiu se autofinanciar. Sempre viveu modestamente; seu grande gozo era a aventura do mar.

 

Com o passar dos anos, o que via em toda a parte levou-o a se preocupar sempre mais com os estragos ecológicos. Chegou mesmo a se arrepender de sua própria contribuição indireta a alguns destes estragos. Com a popularização dos equipamentos de mergulho surgiram no mundo milhões de caçadores submarinos. É triste ver como a maioria dos que mergulham só pensam em tirar troféu. Pessoalmente, fiz mergulho e fotografia debaixo d'água durante década e meia, quando vivia no Caribe. Nunca empunhei arpão, mas não me faltou vontade de fazê-lo, não contra as inocentes e encantadoras criaturas do coral, mas contra os caçadores que espetavam tudo o que viam pela frente.

 

Mas Cousteau chegou a se preocupar com a globalidade dos estragos que hoje cometemos na água, na terra e no ar; chegou à visão holística de nosso Planeta como sistema vivo, com sua bio-geo-fisiologia. Tornou-se um dos mais poderosos ambientalistas. Foi com este intento que fez sua famosa expedição à Amazônia. A expedição suscitou inicialmente protestos de alguns que suspeitavam fins escusos. São muito comuns, especialmente entre políticos, as pessoas que não conseguem entender que alguém possa agir de maneira desinteressada, simplesmente por idealismo.

 

Em um mundo em que já não se encontra praia limpa nem na mais remota das ilhas, onde recifes inteiros de corais estão hoje mortos, outros morrendo pela poluição, onde os que não estão sendo avariados pela contaminação, estão sendo vandalizados para a obtenção de 'souvenirs' para turistas, ou em que as espécies mais raras e peculiares são caçadas vivas para aquaristas, num mundo assim, em que nem o Pico do Everest escapa do lixo, em que até os oceanos árticos têm sua fauna dizimada pela pesca brutal e sem controle, é lógico que Cousteau tenha sofrido grande angústia e desespero, o que demonstrava claramente em suas conversas e publicações.

 

Ele refletia muito profundamente sobre quais as verdadeiras causas de nossa atual agressividade e do poder destruidor diante da Natureza. A campanha de assinaturas por uma Declaração dos Direitos das Gerações Futuras era apenas parte de seus esforços. Com os ecólogos de pensamento mais profundo compartilhava a convicção de que nosso atual desastre é de fundo filosófico-religioso. Dava-se conta que a atual forma de sociedade industrial é uma religião fanática, que no mundo vê apenas um repositório infinito de recursos, de matérias-primas e de espaços a serem conquistados, de sistemas vivos a serem dominados, demolidos ou eliminados. Esta religião precisa ser trocada, e muito rapidamente, por outra, por uma nova, na realidade muito velha, visão holística. Por uma atitude de veneração pelo grande processo da Sinfonia da Evolução Orgânica, da qual somos apenas parte, um processo estupendo que transformou nosso Planeta no maravilhoso sistema vivo que é, em contraste total com os demais planetas de nosso sistema solar, todos mortos.

 

Se a Humanidade conseguir atingir um desenvolvimento sustentável, se conseguir sobreviver ao próximo século, restabelecendo harmonia com a Criação, Cousteau será venerado como um dos grandes profetas que prepararam a transição.


 

 

 

 


 

 

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Nota:

1. Cada uma das duas datas do ano em que o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, no seu aparente movimento no céu, e que são 21 ou 23 de junho (solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte) e 21 ou 23 de dezembro (solstício de verão no hemisfério sul e de inverno, no hemisfério norte).

2. Os gases do efeito estufa são substâncias gasosas que absorvem parte da radiação infravermelha, emitida principalmente pela superfície terrestre, e dificultam seu escape para o espaço. Isto impede que ocorra uma perda demasiada de calor para o espaço, mantendo a Terra aquecida. O efeito estufa é um fenômeno natural que acontece desde a formação da Terra, e é necessário para a manutenção da vida no Planeta, pois sem ele a temperatura média da Terra seria 33°C mais baixa, impossibilitando a vida tal como a conhecemos hoje. O aumento dos gases estufa na atmosfera têm potencializado este fenômeno natural, causando um aumento da temperatura (fenômeno denominado mudança climática). O Protocolo de Kyoto estabelece que as emissões de sete gases devem ser reduzidas. São eles: CO2 (Dióxido de Carbono), N2O (Óxido Nitroso), CH4 (Metano), CFCs (Clorofluorcarbonetos), HFCs (Hidrofluorcarbonetos), PFCs (Perfluorcarbonetos) e SF6 (Hexafluoreto de Enxofre).

3. Nós não herdamos a Terra dos nossos pais; nós a emprestamos das nossas crianças. (Ditado indígena).

 

Páginas da Internet consultadas:

http://somostodosum.ig.com.br/
clube/produtos.asp?id=00943

http://www.cousteau.org/

http://www.fgaia.org.br/texts/t-cousteau.html

http://www.aqualandia.com.br/
site/aqualandia_cousteau.html

http://veja.abril.com.br/020797/p_110.html

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/
arquivos/449-2.pdf?PHPSESSID=2009071412071141

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gases_do_efeito_estufa

http://www.amora.cap.ufrgs.br/amadis_amora
_projetos/paginas/projeto_269/calend.htm

http://www.cienciahoje.pt/index.php?
oid=21960&op=all

http://www.ibc.gov.br/

http://pichacoesciberespaciais.blogspot.com/
2009/06/amazonia-por-jacques-cousteau-01.html

http://www.proverbia.net/
citasautor.asp?autor=1290

http://www.portalinho.com/
tags/Jacques%20Cousteau

http://www.dezpropaganda.com.br/
blog/?p=1618

http://pt.wikiquote.org/wiki/
Jacques-Yves_Cousteau

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jacques-Yves_Cousteau

http://www.leonardofialho.com/
wordpress/archives/300

http://www.marceloeiras.com.br/frases.htm

 

Música de fundo:

Ta Paidiá tou Peiraiá
Compositor: Manos Hadjidakis
Intérprete: Nana Mouskouri

Fonte:

http://www.charles50tao.com.br/
diversas_internacionais_IV.htm

 

Observação:

A música e a letra são de autoria de Manos Hadjidakis. O título original (Ta Paidiá tou Peiraiá), cuja tradução é As Crianças de Pireu, não faz qualquer menção ao domingo em nenhuma parte da canção. Pireu é uma cidade que inclui o principal porto da Grécia. Faz parte da região metropolitana de Atenas e situa-se na Baía de Falera.